O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão.
Doutrina espírita - 1ª parte.

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Revista espírita — Ano XII — Setembro de 1869.

(Idioma francês)

O Espiritismo em toda parte.

Pluralidade das existências, pluralidade dos mundos habitados e comunicação com os Espíritos, ensinadas pelos reverendos padres Gratry e Hyacinthe.

Lemos no Gaulois de 22 de julho de 1869:

“Não há grande distância entre as ideias que, sob uma espécie de iluminismo piedoso, se desprendem de certas passagens das Cartas sobre a Religiãon do padre Gratry, e as crenças enunciadas pelos espíritas contemporâneos.

“Não posso pensar nos habitantes dos outros mundos, diz o padre Gratry, sem que logo a minha razão e a minha fé retomem todo o seu vigor, todo o seu impulso… Muitas vezes me tenho perguntado se a fé indomável, que por vezes se apodera de nossos corações com uma força capaz de erguer o mundo, com uma força que leva a crer no triunfo absoluto do amor, da justiça, da beleza, da luz e da felicidade, não seria a inspiração vinda dos seres e dos mundos onde o triunfo já começou… Isto mesmo é a lei: Sperandarum substantia rerum, argumentum non apparentium.” ( † )

O Gaulois tem razão; eis aí o belo e o bom Espiritismo, pois não se pode expor com menos palavras e de maneira mais característica os ensinos fundamentais de nossa filosofia. A lei do progresso, consequência necessária da pluralidade das existências, a pluralidade dos mundos habitados, a comunicação pela inspiração entre os habitantes da Terra e os Espíritos mais avançados, tais são os princípios que o padre Gratry não teme apoiar com sua pena autorizada; aliás, não é o primeiro exemplo de sua simpatia pelas nossas crenças.

Sentimo-nos felizes por nos encontrar num terreno comum com homens que, como o padre Gratry, se consagraram ao estudo das ciências psicológicas, sem se deixarem dominar por visões estreitas e mesquinhas. Compreenderam, e nós os felicitamos vivamente, que o mais poderoso meio de reconduzir os espíritos desgarrados a uma sã aplicação das leis eternas era fazer que tocassem a verdade com o dedo e com o olho; era substituir o Deus vingativo e apaixonado, as concepções errôneas da Idade Média sobre os seus atributos e suas relações com a Humanidade pelos ensinos de uma filosofia mais vasta, mais liberal, mais tolerante e em harmonia com a influência emancipadora que dirige todas as grandes inteligências de nossa época.

Tais são os sentimentos do padre P. Hyacinthe,  †  que pensa, e com razão, que a filosofia deve marchar com os progressos do espírito humano, conforme testemunham os extratos seguintes do sermão por ele pronunciado em 11 de março de 1869 na igreja da Madalena,  †  em atenção ao terremoto ocorrido na América do Sul:

“Castigo, pecado, justiça! Mas, que fazer com essas palavras em face de uma dor que eles insultam, mas não explicam? Convém a um padre agarrar-se a esta superstição dos velhos tempos, julgada inapelável pela razão do sábio e pela consciência dos homens de bem? – Não, exclama a ciência moderna, o mundo não é joguete de vontades caprichosas! Ao contrário, tudo aí traz a marca majestosa da universalidade e da imutabilidade das leis. Assim, não é a Deus, mas à Natureza que convém pedir contas dessas perturbações físicas, que outrora eram chamadas de flagelos divinos. Saibamos penetrar lhe as causas; um dia, talvez saberemos governar seus efeitos!

“A Ciência tem razão, meus irmãos: o mundo não pertence ao milagre, mas à lei. Deixemos somente a lei à altura de si mesma. Não a confundamos, como fez Epicuro, com as combinações de um acaso feliz, nem, como Zenon, com as exigências de um cego necessitado. Que ela seja o que é: o pensamento soberano que criou a ordem porque a concebeu; que se respeite a si mesma, respeitando sua obra, e que não estabeleça por limite ao seu infinito poder senão a sua infinita sabedoria e sua infinita bondade! Então, em todos os mundos, nos dos espaços como nos dos Espíritos, a fórmula por excelência do reino de Deus será o império das leis!…

“Dizem que após a horrível catástrofe que acaba de atingir aquelas regiões, no cemitério de uma das cidades arrasadas, viram-se múmias indígenas arrancadas de seus túmulos pelos abalos do solo e pela invasão das ondas: pareciam erguer-se em fúnebre satisfação para assistirem à vingança tardia, mas fiel, dos filhos de seus opressores…

“…Para pagar tal resgate, teriam o Equador e o Peru uma parte mais larga na falta de Adão? Haviam acrescido esta dívida coletiva por prevaricações mais numerosas, por iniquidades mais gritantes? E, em cada uma das vinte mil vítimas desses países em luto, em vez de um infeliz atingido por um acidente, devo mostrar-vos um culpado escolhido por vingança?

“Deus me livre deste excesso de fanatismo e de crueldade! Pensais, dizia o Divino Mestre, que aqueles dezoito homens, sobre os quais caiu a torre de Siloé, fossem mais culpados do que o resto dos habitantes de Jerusalém? ( † )

“…E vós, seja qual for a posição e a fé a que pertençais, todos vós que viestes a esta festa da caridade, meus amigos e meus irmãos, esquecei o que nos desune. Socorrendo este grande infortúnio, trabalhemos em comum para acelerar o advento do Senhor, etc.…”



[1] [Lettres sur la religion. Par Auguste Gratry - Google books.]


[A. DESLIENS.]


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