Se Musset já falou, eu me calar não quero,
E solitária a voz em não deixá-la, espero,
Muda entre vós ficar.
Se esta noite eu tiver meu corpo, sob flores,
Meu Espírito terno, há de vir com louvores
A todos vos saudar.
Amigos meus, bom dia: eu volto à vida, e a aurora
Parece aos olhos meus, bem mais brilhante agora
Que um dia multicor;
E, para lá da tumba, ardente é a centelha.
O belo véu do azul, entreabrindo-se, espelha
Pleno de luz e amor.
É muito belo o céu! Bem doce é a pátria fida
Que este Espírito viu, e amou, terra querida,
Onde sua asa até
Em tomando seu voo, um santo pensamento
Atravessado foi de um raio de momento,
Vivo clarão da fé.
O que há além da tumba eu direi qualquer dia,
Onde, se não se crê, toda esperança esfria,
A alma pode entrever,
Quando tem, como vós, uma chama divina
O peito brilha em luz se a virtude o domina
Qual espelho a esplender.
Sem dúvida, sabeis, que todo esse luzeiro
Está na alma que crê; e que indica o roteiro
Ao Espírito em dor,
Que perscruta no céu, cada astro, cada estrela,
Buscando para si um bom guia, uma vela,
Um benfazejo amor.
A. de Lamartine. n |