Eu vos falo esta noite em versos, e a linguagem
Provavelmente vai vos espantar, senhores;
Linguagem da era antiga e dos deuses mensagem,
E os versos são talvez pouco merecedores.
Mas um dia virá da Musa entristecida
Que, em luz, os corações em breve aplaudirão
Acentos fraternais de uma lira sentida,
Dos dedos a vibrar de jovem alma então.
Tão logo se ouvirá a elevar-se da Terra
Num misterioso brado, um hino colossal
Cobrindo, com seu eco, um ribombar que encerra
Explosão de canhões a serviço do mal.
Esse brado há de ser: progresso, luz, amor!
Todos os homens, pois, enfim, se dando as mãos,
Sob a santa bandeira estarão; e em fervor,
Da liberdade a senda acharão como irmãos.
Graças, Deus! Liberdade! a um pai, a outra filha,
Porém ambos mortais; vos haveis libertado
Pobre família, então, do mal que a dor a encilha,
À Humanidade em pranto, ao coração magoado.
Esperança mostrais, enfim, ao proletário,
Porém lhe defendendo ante a revolução.
Vós fazeis triunfar o dogma igualitário
Pela bondade, o amor e pela abnegação.
Um só é o estandarte, e santa é-lhe a divisa.
Liberdade com amor, ação, fraternidade!
Que esses termos leais vibrem a fé precisa
Tocando o coração de toda a Humanidade!
Eis o ensino que agora eu vos posso ofertar
Por meu médium querido, ao dirigir-lhe a mão.
Se em versos eu lhe falo, ele me vá perdoar!
Contra ninguém versejo, é um versejar de irmão.
A. de Musset. n |