Venho esta noite, meus amigos, falar-vos por alguns instantes. Na última sessão não respondi; estava ocupado alhures. Nossos trabalhos como Espíritos são muito mais extensos do que podeis supor e os instrumentos de nossos pensamentos nem sempre estão disponíveis. Tenho ainda alguns conselhos a vos dar quanto à marcha que deveis seguir perante o público, com o objetivo de fazer progredir a obra a que devotei a minha vida corporal, e cujo aperfeiçoamento acompanho na erraticidade.
O que vos recomendo principalmente e antes de tudo, é a tolerância, a afeição, a simpatia de uns para com os outros e também para com os incrédulos.
Quando vedes um cego na rua, o primeiro sentimento que se impõe é a compaixão. Que assim seja, também, para com os vossos irmãos cujos olhos estão velados pelas trevas da ignorância ou da incredulidade; lamentai-os, em vez de os censurar. Mostrai, por vossa doçura, a vossa resignação em suportar os males desta vida, a vossa humildade em meio às satisfações, vantagens e alegrias que Deus vos envia; mostrai que há em vós um princípio superior, uma alma obediente a uma lei, a uma verdade também superior: o Espiritismo.
As brochuras, os jornais, os livros, as publicações de toda sorte são meios poderosos de introduzir a luz por toda parte, mas o mais seguro, o mais íntimo e o mais acessível a todos é o exemplo na caridade, a doçura e o amor.
Agradeço à Sociedade por ajudar os verdadeiros infortunados que lhe são indicados. Eis o bom Espiritismo, eis a verdadeira fraternidade. Ser irmãos: é ter os mesmos interesses, os mesmos pensamentos, o mesmo coração!
Espíritas, sois todos irmãos na mais santa acepção do termo. Pedindo que vos ameis uns aos outros, não faço senão lembrar a divina palavra daquele que, há mil e oitocentos anos, trouxe à Terra pela primeira vez o gérmen da igualdade. Segui a sua lei: ela é a vossa; nada fiz do que tornar mais palpáveis alguns de seus ensinamentos. Obscuro operário daquele mestre, daquele Espírito superior emanado da fonte de luz, refleti essa luz como o pirilampo reflete a claridade de uma estrela. Mas a estrela brilha nos céus e o pirilampo brilha na Terra, nas trevas. Tal é a diferença.
Continuai as tradições que vos deixei ao partir.
Que o mais perfeito acordo, a maior simpatia e a mais singular abnegação reinem no seio da Comissão. Espero que ela saiba cumprir com honra, fidelidade e consciência o mandato que lhe é confiado.
Ah! quando todos os homens compreenderem o que encerram as palavras amor e caridade, não mais haverá na Terra soldados e inimigos; só haverá irmãos; não mais haverá olhares irritados e selvagens; só haverá frontes inclinadas para Deus!
Até logo, caros amigos, e ainda obrigado, em nome daquele que não esquece o copo d’água ( † ) e o óbolo da viúva. ( † )
Allan Kardec.