O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão.
Doutrina espírita - 1ª parte.

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Revista espírita — Ano XII — Abril de 1869.

(Idioma francês)

VARIEDADES.


Os milagres de Bois-d’Haine.

(Sumário)


1. — O Progrès thérapeutique, jornal de Medicina, em seu número de 1º de março de 1869, dá conta de um fenômeno bizarro, tornado objeto de curiosidade pública no burgo de Bois-d’Haine,  †  na Bélgica. Trata-se de uma jovem de 18 anos, que todas as sextas-feiras, de 1:30 às 4:30; cai num estado de êxtase cataléptico; nesse estado fica deitada, braços estendidos, um pé sobre o outro, na posição de Jesus na cruz.

A insensibilidade e a rigidez dos membros foram constatadas por vários médicos. Durante a crise, cinco chagas se abrem nos mesmos lugares onde se localizavam as do Cristo, e deixam gotejar sangue verdadeiro. Depois da crise, o sangue para de correr, as chagas se fecham e são cicatrizadas em vinte e quatro horas. Durante os acessos, diz o Dr. Beaucourt, autor do artigo, o reverendo padre Serafim, presente às sessões, graças ao ascendente que tem sobre a doente, tem o poder de despertá-la de seu êxtase. Acrescenta: “Todo homem que não for ateu deve, para ser lógico, admitir que aquele que estabeleceu as leis admiráveis, tanto físicas quanto fisiológicas que regem a Natureza, também pode, à vontade, suspender ou mudar momentaneamente uma ou várias dessas leis.”

Como se vê, é um milagre em todas as suas regras, e uma repetição do das estigmatizadas. Como os milagres, segundo a Igreja, não são da alçada do Espiritismo, julgamos supérfluo levar mais longe a pesquisa das causas do fenômeno, e isto tanto mais quanto outro jornal disse, depois, que o bispo da diocese tinha interditado toda exibição.


[Revista de junho.]

2. OS MILAGRES DE BOIS-D’HAINE.


(Segundo artigo. – Vide a Revista de abril de 1869.)

Sob esse título publicamos no número precedente a análise de um artigo do Progrès thérapeutique, jornal de Medicina, dando conta de um fenômeno singular que excitava no mais alto grau a curiosidade pública em Bois d’Haine (Bélgica). Como se recordam, tratava-se de uma jovem de 18 anos, chamada Louise Lateau, que, todas as sextas-feiras, de uma hora e meia às quatro e meia, caía em estado de êxtase cataléptico.

Durante a crise ela reproduz, pela posição dos membros, a crucificação de Jesus, abrindo-se as cinco chagas nos lugares precisos onde se localizavam as do Cristo.

Diversos médicos examinaram atentamente esse curioso fenômeno, do qual, aliás, encontram-se vários exemplos nos anais da Medicina. Um deles o Dr. Huguet, enviou ao Petit Moniteur a carta seguinte, que reproduzimos sem comentários, apenas acrescentando que partilhamos sem reservas a opinião do Dr. Hugaet sobre as causas prováveis dessas manifestações.


“A explicação dos curiosos fenômenos observados em Louise Lateau e relatados em vosso estimável jornal (o Petit Moniteur universel du soir, de sábado, 10 de abril de 1869), necessita do conhecimento completo do componente humano.

“Todos esses elementos, como mui judiciosamente fazeis observar, são devidos à imaginação.

“Mas, o que se deve entender por isto, senão a faculdade de reter impressões imaginadas com o auxílio da memória?

“Como se recebem as impressões, e como, recebidas estas, explicar a representação fisiológica da crucificação?

“Eis, senhor, as explicações que tomo a liberdade de vos submeter.

“A substância humana é uma unidade ternária, composta de três elementos ou, melhor, de três modalidades substanciais: o espírito, o fluido nervoso e a matéria organizada; ou, se se quiser, de duas manifestações fenomenais solidárias: a alma e o corpo.

“O corpo é uma agregação séria e harmoniosamente disposta dos elementos do globo.

“O fluido nervoso é a ação em comum de todas as forças cósmicas e da força vital, recebida com a existência.

“Essas forças, elevadas ao mais alto grau, constituem a alma humana, que é da mesma natureza que todas as outras almas do mundo.

“Esta análise sucinta do homem, assim apresentada, busquemos explicar os fatos.

“Um estudo sério da catalepsia e do êxtase nos confirmou nesta teoria e nos permitiu emitir as seguintes proposições:

“1º A alma humana, espalhada em toda a economia [em todo o organismo], tem sua maior tensão no cérebro, ponto de chegada das impressões de toda sorte e ponto de partida de todos os movimentos ordenados.

“2º O fluido nervoso, resultado da organização de todas as forças cósmicas e nativas reunidas, é a alavanca de que se serve a alma para estabelecer suas relações com os órgãos e com o mundo exterior.

“3º A matéria é o estojo, a célula múltipla e engrandecida, que se molda sobre a forma fluídica determinada e especificada pela natureza mesma do homem.

“4º Os órgãos não passam de mediadores entre as forças orgânicas e as do meio ambiente.

“5º Os órgãos estão sob a influência da alma, que os pode modificar de diversas maneiras, segundo seus diversos estados, por intermédio do sistema nervoso.

“6º A alma é móvel, pode ir e vir, conduzir-se com mais ou menos força sobre tal ou qual ponto da economia [do organismo], conforme as circunstâncias e a necessidade.

“As migrações da alma em seu corpo determinam as migrações do fluido nervoso, que, por sua vez, determinam as do sangue.

“Ora, quando a alma da jovem Lateau estava em consonância similar, por sua fé, com a paixão do Cristo imaginada em seu sentimento, essa alma se lançava, por irradiação similar, sobre todos os pontos de seu corpo que, em sua memória, correspondiam aos do corpo do Cristo, por onde o sangue havia saído.

“O fluido nervoso, ministro fiel da alma, seguia a direção de seu guia, e o sangue, carregado de um dinamismo da mesma natureza que o do fluido nervoso, tomava a mesma direção.

“Havia, pois:

“a) Arrastamento do fluido nervoso pela radiação expansiva, centrífuga e especializada da alma;

“b) Arrastamento do sangue pela radiação similar, centrífuga e especializada do fluido nervoso.

“7º A alma, o fluido nervoso e o sangue então se põem em marcha consecutivamente a um fato de imaginação, tornando-se o ponto de partida de sua expansão centrífuga.

“Do mesmo modo se explicam a postura em cruz do corpo e de suas diversas atitudes.

“Abordemos agora os fatos contraditórios relativos à experiência do crucifixo de madeira ou de cobre e da chave.

“Para nós, a catalepsia é, seja qual for a sua causa, uma retração das forças vitais para os centros, assim como o êxtase é uma expansão dessas mesmas forças longe desses centros.

“Quando se punha um crucifixo na mão da jovem, esta centralizava suas forças para reter uma sensação afetiva em relação com sua fé, com seu amor pelo Cristo.

“Retiradas as forças para os centros, os membros não tinham mais a flexibilidade que lhes davam as forças no estado de expansão centrífuga; daí a catalepsia ou enrijecimento dos membros.

“Quando se substituía a cruz por outro objeto menos simbólico da ideia cristã, as forças voltavam aos membros e a flexibilidade retornava.

“Os fatos relativos à torção dos braços têm a mesma explicação.

“Quanto às infrutíferas tentativas de despertar por meio de gritos, pela movimentação dos braços, por agulhas perfurando a pele, ou pondo-se amoníaco sob o nariz, não passa de fisiologia experimental relativa às sensações.

“A insensibilidade se deve a uma solução de continuidade mais ou menos pronunciada, mais ou menos durável entre os centros perceptivos e os órgãos do corpo impressionados: solução de continuidade devida a uma exagerada retração centrípeta das forças vitais, ou a uma dispersão centrífuga muito forte dessas forças.

“Eis, senhor, a explicação racional desses fatos estranhos. Ela será, espero, acolhida favoravelmente por vós e por todos os que buscam compreender o jogo da vida nos fenômenos transcendentes da biologia.

“Todavia, há um fato notável, que se deve admirar, e é por ele que terminarei esta bem longa comunicação. Quero falar do funcionamento da memória, malgrado o estado de insensibilidade absoluta resultante da catalepsia, do êxtase e da presumível abolição, por isto mesmo, de todas as faculdades mentais.

“Eis, creio, a única explicação possível deste fenômeno estranho. Há casos, na verdade muito raros, e o que nos ocupa está neste número, em que o exercício de certas faculdades persiste, a despeito da catalepsia, sobretudo quando se trata de vivas impressões recebidas. Ora, aqui, o drama da cruz tinha, sem qualquer dúvida, produzido uma impressão de tal modo profunda sobre a alma da jovem, que esta impressão havia sobrevivido à perda da sensibilidade.”


Dr. H. Huguet, d.m.p.

(Petit Moniteur universel du soir, 13 de abril de 1869.)


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