O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão.
Doutrina espírita - 1ª parte.

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Revista espírita — Ano XI — Dezembro de 1868.

(Idioma francês)

SESSÃO ANUAL COMEMORATIVA DOS MORTOS.

(Sociedade de Paris,  †  1º de novembro de 1868.)

DISCURSO DE ABERTURA PELO SR. ALLAN KARDEC. n

O Espiritismo é uma religião?

(Sumário)


“Onde quer que se encontrem duas ou três pessoas reunidas em meu nome, aí estarei com elas.” (S. Mateus, 18:20.)


1. — Caros irmãos e irmãs espíritas,

Estamos reunidos, neste dia consagrado pelo uso à comemoração dos mortos, para darmos àqueles irmãos nossos que deixaram a Terra um testemunho particular de simpatia, para continuarmos as relações de afeição e de fraternidade que existiam entre eles e nós, quando eram vivos, e para invocarmos sobre eles a bondade do Todo-Poderoso. Mas, por que nos reunirmos? Não podemos fazer em particular o que cada um de nós propõe fazer em comum? Qual a utilidade de assim nos reunirmos num dia determinado?

Jesus no-lo indica pelas palavras que referimos acima. Esta utilidade está no resultado produzido pela comunhão de pensamentos que se estabelece entre pessoas reunidos com o mesmo objetivo.

Comunhão de pensamentos! Compreendemos bem todo o alcance desta expressão? Seguramente, até este dia, poucas pessoas dela tinham feito uma ideia completa. O Espiritismo, que nos explica tantas coisas pelas leis que revela, ainda vem explicar a causa e a força dessa situação do espírito.

Comunhão de pensamento quer dizer pensamento comum, unidade de intenção, de vontade, de desejo, de aspiração. Ninguém pode desconhecer que o pensamento é uma força; mas uma força puramente moral e abstrata? Não: do contrário não se explicariam certos efeitos do pensamento e, ainda menos, a comunhão de pensamento. Para compreendê-lo, é preciso conhecer as propriedades e a ação dos elementos que constituem nossa essência espiritual, e é o Espiritismo que no-las ensina.

O pensamento é o atributo característico do ser espiritual; é ele que distingue o espírito da matéria; sem o pensamento o espírito não seria espírito. A vontade não é um atributo especial do espírito; é o pensamento chegado a um certo grau de energia; é o pensamento transformado em força motriz. É pela vontade que o espírito imprime aos membros e ao corpo movimentos num determinado sentido. Mas, se tem a força de agir sobre os órgãos materiais, quanto maior não deve ser essa força sobre os elementos fluídicos que nos rodeiam! O pensamento atua sobre os fluidos ambientes, como o som age sobre o ar; esses fluidos nos trazem o pensamento, como o ar nos traz o som. Pode, pois, dizer-se com toda a verdade que há nesses fluidos ondas e raios de pensamentos que se cruzam sem se confundirem, como há no ar ondas e raios sonoros.


2. — Uma assembleia é um foco onde irradiam pensamentos diversos; é como uma orquestra, um coro de pensamentos, onde cada um produz a sua nota. Disto resulta uma imensidão de correntes e de eflúvios fluídicos, dos quais cada um recebe a impressão pelo sentido espiritual, como num coro musical cada um recebe a impressão dos sons pelo sentido da audição.

Mas, assim como há raios sonoros harmônicos ou discordantes, também há pensamentos harmônicos ou discordantes. Se o conjunto for harmônico, a impressão é agradável; se discordante, a impressão será penosa. Ora, para isto, não é necessário que o pensamento seja formulado em palavras; a irradiação fluídica não deixa de existir, quer seja ou não expressa. Se todas forem benéficas, os assistentes experimentarão um verdadeiro bem-estar e se sentirão à vontade; mas se se misturarem alguns pensamentos maus, produzirão o efeito de uma corrente de ar gelado num meio tépido.

Tal é a causa do sentimento de satisfação que se experimenta numa reunião simpática; aí reina uma espécie de atmosfera moral salubre, onde se respira à vontade; daí se sai reconfortado, porque aí nos impregnamos de eflúvios fluídicos salutares. Assim também se explicam a ansiedade e o mal-estar indefinível que se sente num meio antipático, onde os pensamentos malévolos provocam, a bem dizer, correntes fluídicas malsãs.

A comunhão de pensamentos produz, pois, uma sorte de efeito físico que reage sobre o moral; só o Espiritismo poderia fazê-lo compreender. O homem o sente instintivamente, já que procura as reuniões onde sabe encontrar essa comunhão. Nessas reuniões homogêneas e simpáticas haure novas forças morais; poder-se-ia dizer que aí recupera as perdas fluídicas perdidas diariamente pela irradiação do pensamento, como recupera pelos alimentos as perdas do corpo material.


31. — A esses efeitos da comunhão de pensamentos, junta-se um outro que é a sua consequência natural, e que importa não perder de vista: é o poder que adquire o pensamento ou a vontade, pelo conjunto dos pensamentos ou vontades reunidos. Sendo a vontade uma força ativa, esta força é multiplicada pelo número de vontades idênticas, como a força muscular é multiplicada pelo número dos braços.

Estabelecido este ponto, concebe-se que nas relações que se estabelecem entre os homens e os Espíritos, haja, numa reunião onde reine perfeita comunhão de pensamentos, uma força atrativa ou repulsiva, que nem sempre possui o indivíduo isolado. Se, até o presente, as reuniões muito numerosas são menos favoráveis, é pela dificuldade de obter uma homogeneidade perfeita de pensamentos, que se deve à imperfeição da natureza humana na Terra. Quanto mais numerosas as reuniões, mais aí se mesclam elementos heterogêneos, que paralisam a ação dos bons elementos, e que são como grãos de areia numa engrenagem. Não sucede assim nos mundos mais adiantados, e tal estado de coisas mudará na Terra à medida que os homens se tornarem melhores.

Para os espíritas, a comunhão de pensamentos tem um resultado ainda mais especial. Temos visto o efeito desta comunhão de homem a homem; prova-nos o Espiritismo que ele não é menor dos homens aos Espíritos, e reciprocamente. Com efeito, se o pensamento coletivo adquire força pelo número, um conjunto de pensamentos idênticos, tendo o bem por objetivo, terá mais força para neutralizar a ação dos maus Espíritos; também vemos que a tática destes últimos é levar à divisão e ao isolamento. Sozinho, um homem pode sucumbir, ao passo que se sua vontade for corroborada por outras vontades poderá resistir, conforme o axioma: A união faz a força, axioma verdadeiro, tanto do ponto de vista moral, quanto do físico.

Por outro lado, se a ação dos Espíritos malévolos pode ser paralisada por um pensamento comum, é evidente que a dos bons Espíritos será secundada; seus eflúvios fluídicos, não sendo detidos por correntes contrárias, espalhar-se-ão sobre os assistentes, precisamente porque todos os terão atraído pelo pensamento, não cada um em proveito pessoal, mas em benefício de todos, conforme a lei de caridade. Descerão sobre eles como línguas de fogo, para nos servirmos de uma admirável imagem do Evangelho.

Assim, pela comunhão de pensamentos os homens se assistem entre si e, ao mesmo tempo, assistem os Espíritos e são por estes assistidos. As relações entre os mundos visível e invisível não são mais individuais, mas coletivas e, por isto mesmo, mais poderosas em proveito das massas e dos indivíduos. Numa palavra, estabelecem a solidariedade, que é a base da fraternidade. Cada qual trabalha para todos, e não apenas para si; e trabalhando para todos, cada um aí encontra a sua parte. É o que o egoísmo não compreende.

Graças ao Espiritismo, compreendemos, então, o poder e os efeitos do pensamento coletivo; explicamo-nos melhor o sentimento de bem-estar que se experimenta num meio homogêneo e simpático; mas sabemos, igualmente, que se dá o mesmo com os Espíritos, porque eles também recebem os eflúvios de todos os pensamentos benevolentes que para eles se elevam, como uma nuvem de perfume. Os que são felizes experimentam maior alegria por esse concerto harmonioso; os que sofrem sentem maior alívio.


4. — Todas as reuniões religiosas, seja qual for o culto a que pertençam, são fundadas na comunhão de pensamentos; com efeito, é aí que podem e devem exercer a sua força, porque o objetivo deve ser a libertação do pensamento das amarras da matéria. Infelizmente, a maioria se afasta deste princípio à medida que a religião se torna uma questão de forma. Disto resulta que cada um, fazendo seu dever consistir na realização da forma, se julga quites com Deus e com os homens, desde que praticou uma fórmula. Resulta ainda que cada um vai aos lugares de reuniões religiosas com um pensamento pessoal, por sua própria conta e, na maioria das vezes, sem nenhum sentimento de confraternidade em relação aos outros assistentes; fica isolado em meio à multidão e só pensa no céu para si mesmo.


5. — Por certo não era assim que o entendia Jesus, ao dizer: “Quando duas ou mais pessoas estiverem reunidas em meu nome, aí estarei entre elas.” ( † ) Reunidos em meu nome, isto é, com um pensamento comum; mas não se pode estar reunido em nome de Jesus sem assimilar os seus princípios, sua doutrina. Ora, qual é o princípio fundamental da doutrina de Jesus? A caridade em pensamentos, palavras e ações. Mentem os egoístas e os orgulhosos, quando se dizem reunidos em nome de Jesus, porque Jesus não os conhece por seus discípulos.


6. — Chocados por esses abusos e desvios, há pessoas que negam a utilidade das assembleias religiosas e, em consequência, a das edificações consagradas a tais assembleias. Em seu radicalismo, pensam que seria melhor construir asilos do que templos, uma vez que o templo de Deus está em toda parte e em toda parte pode ser adorado; que cada um pode orar em casa e a qualquer hora, enquanto os pobres, os doentes e os enfermos necessitam de lugar de refúgio.

Mas, porque cometeram abusos, porque se afastaram do reto caminho, devemos concluir que não existe o reto caminho e que tudo quanto se abusa seja mau? Não, certamente. Falar assim é desconhecer a fonte e os benefícios da comunhão de pensamentos, que deve ser a essência das assembleias religiosas; é ignorar as causas que a provocam. Concebe-se que os materialistas professem semelhantes ideias, já que em tudo fazem abstração da vida espiritual; mas da parte dos espiritualistas e, melhor ainda, dos espíritas, seria um contrasenso. O isolamento religioso, assim como o isolamento social, conduz ao egoísmo. Que alguns homens sejam bastante fortes por si mesmos, largamente dotados pelo coração, para que sua fé e caridade não necessitem ser revigoradas num foco comum, é possível; mas não é assim com as massas, por lhes faltar um estimulante, sem o qual poderiam se deixar levar pela indiferença. Além disso, qual o homem que poderá dizer-se bastante esclarecido para nada ter a aprender no tocante aos seus interesses futuros? bastante perfeito para abrir mão dos conselhos da vida presente? Será sempre capaz de instruir-se por si mesmo? Não; a maioria necessita de ensinamentos diretos em matéria de religião e de moral, como em matéria de ciência. Incontestavelmente, tais ensinos podem ser dados em toda parte, sob a abóbada do céu, como sob a de um templo; mas por que os homens não haveriam de ter lugares especiais para as questões celestes, como os têm para as terrenas? Por que não teriam assembleias religiosas, como têm assembleias políticas, científicas e industriais? Aqui está uma bolsa onde se ganha sempre. Isto não impede as edificações em proveito dos infelizes. Dizemos, ademais, que haverá menos gente nos asilos, quando os homens compreenderem melhor seus interesses do céu.

Se as assembleias religiosas – falo em geral, sem aludir a nenhum culto – muitas vezes se têm afastado de seu objetivo primitivo principal, que é a comunhão fraterna do pensamento; se o ensino ali ministrado nem sempre tem acompanhado o movimento progressivo da Humanidade, é que os homens não progridem todos ao mesmo tempo. O que não fazem num período, fazem em outro; à proporção que se esclarecem, veem as lacunas existentes em suas instituições, e as preenchem; compreendem que o que era bom numa época, em relação ao grau de civilização, torna-se insuficiente numa etapa mais avançada, e restabelecem o nível. Sabemos que o Espiritismo é a grande alavanca do progresso em todas as coisas; marca uma era de renovação. Saibamos, pois, esperar, não exigindo de uma época mais do que ela pode dar. Como as plantas, é preciso que as ideias amadureçam, para que seus frutos sejam colhidos. Saibamos, além disso, fazer as necessárias concessões às épocas de transição, porque na Natureza nada se opera de maneira brusca e instantânea.


7. — Dissemos que o verdadeiro objetivo das assembleias religiosas deve ser a comunhão de pensamentos; é que, com efeito, a palavra religião quer dizer laço. Uma religião, em sua acepção larga e verdadeira, é um laço que religa os homens numa comunhão de sentimentos, de princípios e de crenças; consecutivamente, esse nome foi dado a esses mesmos princípios codificados e formulados em dogmas ou artigos de fé. É nesse sentido que se diz: a religião política; entretanto, mesmo nesta acepção, a palavra religião não é sinônima de opinião; implica uma ideia particular: a de fé conscienciosa; eis por que se diz também: a fé política. Ora, os homens podem filiar-se, por interesse, a um partido, sem ter fé nesse partido, e a prova é que o deixam sem escrúpulo, quando encontram seu interesse alhures, ao passo que aquele que o abraça por convicção é inabalável; persiste à custa dos maiores sacrifícios, e é a abnegação dos interesses pessoais a verdadeira pedra-de-toque da fé sincera. Todavia, se a renúncia a uma opinião, motivada pelo interesse, é um ato de desprezível covardia, é, não obstante, respeitável, quando fruto do reconhecimento do erro em que se estava; é, então, um ato de abnegação e de razão. Há mais coragem e grandeza em reconhecer abertamente que se enganou, do que persistir, por amor-próprio, no que se sabe ser falso, e para não se dar um desmentido a si próprio, o que acusa mais obstinação do que firmeza, mais orgulho do que razão, e mais fraqueza do que força. É mais ainda: é hipocrisia, porque se quer parecer o que não se é; além disso é uma ação má, porque é encorajar o erro por seu próprio exemplo.

O laço estabelecido por uma religião, seja qual for o seu objetivo, é, pois, essencialmente moral, que liga os corações, que identifica os pensamentos, as aspirações, e não somente o fato de compromissos materiais, que se rompem à vontade, ou da realização de fórmulas que falam mais aos olhos do que ao espírita O efeito desse laço moral é o de estabelecer entre os que ele une, como consequência da comunhão de vistas e de sentimentos, a fraternidade e a solidariedade, a indulgência e a benevolência mútuas. É nesse sentido que também se diz: a religião da amizade, a religião da família.


8. — Se é assim, perguntarão, então o Espiritismo é uma religião? Ora, sim, sem dúvida, senhores! No sentido filosófico, o Espiritismo é uma religião, e nós nos vangloriamos por isto, porque é a Doutrina que funda os vínculos da fraternidade e da comunhão de pensamentos, não sobre uma simples convenção, mas sobre bases mais sólidas: as próprias leis da Natureza.


9. — Por que, então, declaramos que o Espiritismo não é uma religião? Em razão de não haver senão uma palavra para exprimir duas ideias diferentes, e que, na opinião geral, a palavra religião é inseparável da de culto; porque desperta exclusivamente uma ideia de forma, que o Espiritismo não tem. Se o Espiritismo se dissesse uma religião, o público não veria aí mais que uma nova edição, uma variante, se se quiser, dos princípios absolutos em matéria de fé; uma casta sacerdotal com seu cortejo de hierarquias, de cerimônias e de privilégios; não o separaria das ideias de misticismo e dos abusos contra os quais tantas vezes a opinião se levantou.

Não tendo o Espiritismo nenhum dos caracteres de uma religião, na acepção usual da palavra, não podia nem devia enfeitar-se com um título sobre cujo valor inevitavelmente se teria equivocado. Eis por que simplesmente se diz: doutrina filosófica e moral.


10. — As reuniões espíritas podem, pois, ser feitas religiosamente, isto é, com o recolhimento e o respeito que comporta a natureza grave dos assuntos de que se ocupa; pode-se mesmo, na ocasião, aí fazer preces que, em vez de serem ditas em particular, são ditas em comum, sem que, por isto, sejam tomadas por assembleias religiosas. Não se pense que isto seja um jogo de palavras; a nuança é perfeitamente clara, e a aparente confusão não provém senão da falta de uma palavra para cada ideia.


11. — Qual é, pois, o laço que deve existir entre os espíritas? Eles não estão unidos entre si por nenhum contrato material, por nenhuma prática obrigatória. Qual o sentimento no qual se deve confundir todos os pensamentos? É um sentimento todo moral, todo espiritual, todo humanitário: o da caridade para com todos ou, em outras palavras: o amor do próximo, que compreende os vivos e os mortos, pois sabemos que os mortos sempre fazem parte da Humanidade.

A caridade é a alma do Espiritismo; ela resume todos os deveres do homem para consigo mesmo e para com os seus semelhantes, razão por que se pode dizer que não há verdadeiro espírita sem caridade.

Mas a caridade é ainda uma dessas palavras de sentido múltiplo, cujo inteiro alcance deve ser bem compreendido; e se os Espíritos não cessam de pregá-la e defini-la, é que, provavelmente, reconhecem que isto ainda é necessário.

O campo da caridade é muito vasto; compreende duas grandes divisões que, em falta de termos especiais, podem designar-se pelas expressões Caridade beneficente e caridade benevolente. Compreende-se facilmente a primeira, que é naturalmente proporcional aos recursos materiais de que se dispõe; mas a segunda está ao alcance de todos, do mais pobre como do mais rico. Se a beneficência é forçosamente limitada, nada além da vontade poderia estabelecer limites à benevolência.

O que é preciso, então, para praticar a caridade benevolente? Amar ao próximo como a si mesmo. Ora, se se amar ao próximo tanto quanto a si, amar-se-o-á muito; agir-se-á para com outrem como se quereria que os outros agissem para conosco; não se quererá nem se fará mal a ninguém, porque não quereríamos que no-lo fizessem.

Amar ao próximo é, pois, abjurar todo sentimento de ódio, de animosidade, de rancor, de inveja, de ciúme, de vingança, numa palavra, todo desejo e todo pensamento de prejudicar; é perdoar aos inimigos e retribuir o mal com o bem; é ser indulgente para as imperfeições de seus semelhantes e não procurar o argueiro no olho do vizinho, quando não se vê a trave no seu; é esconder ou desculpar as faltas alheias, em vez de se comprazer em as pôr em relevo, por espírito de maledicência; é ainda não se fazer valer à custa dos outros; não procurar esmagar ninguém sob o peso de sua superioridade; não desprezar ninguém pelo orgulho. Eis a verdadeira caridade benevolente, a caridade prática, sem a qual a caridade é palavra vã; é a caridade do verdadeiro espírita, como do verdadeiro cristão; aquela sem a qual aquele que diz: Fora da caridade não há salvação, pronuncia sua própria condenação, tanto neste quanto no outro mundo.


12. — Quantas coisas haveria a dizer sobre este assunto! Que belas instruções não nos dão os Espíritos incessantemente! Não fosse o receio de alongar-me em demasia e de abusar de vossa paciência, senhores, seria fácil demonstrar que, em se colocando no ponto de vista do interesse pessoal, egoísta, se se quiser, porque nem todos os homens estão ainda maduros para uma completa abnegação, para fazer o bem unicamente por amor do bem, digo que seria fácil demonstrar que têm tudo a ganhar em agir deste modo, e tudo a perder agindo diversamente, mesmo em suas relações sociais; depois, o bem atrai o bem e a proteção dos bons Espíritos; o mal atrai o mal e abre a porta à malevolência dos maus. Mais cedo ou mais tarde o orgulhoso será castigado pela humilhação, o ambicioso pelas decepções, o egoísta pela ruína de suas esperanças, o hipócrita pela vergonha de ser desmascarado; aquele que abandona os bons Espíritos por estes é abandonado e, de queda em queda, finalmente se vê no fundo do abismo, ao passo que os bons Espíritos erguem e amparam aquele que, nas maiores provações, não deixa de se confiar à Providência e jamais se desvia do reto caminho; aquele, enfim, cujos secretos sentimentos não dissimulam nenhum pensamento oculto de vaidade ou de interesse pessoal. Assim, de um lado, ganho assegurado; do outro, perda certa; cada um, em virtude do seu livre-arbítrio, pode escolher a sorte que quer correr, mas não poderá queixar-se senão de si mesmo pelas consequências de sua escolha.


13. — Crer num Deus Todo-Poderoso, soberanamente justo e bom; crer na alma e em sua imortalidade; na preexistência da alma como única justificação do presente; na pluralidade das existências como meio de expiação, de reparação e de adiantamento intelectual e moral; na perfectibilidade dos seres mais imperfeitos; na felicidade crescente com a perfeição; na equitativa remuneração do bem e do mal, segundo o princípio: a cada um segundo as suas obras; na igualdade da justiça para todos, sem exceções, favores nem privilégios para nenhuma criatura; na duração da expiação limitada à da imperfeição; no livre-arbítrio do homem, que lhe deixa sempre a escolha entre o bem e o mal; crer na continuidade das relações entre o mundo visível e o mundo invisível; na solidariedade que religa todos os seres passados, presentes e futuros, encarnados e desencarnados; considerar a vida terrestre como transitória e uma das fases da vida do Espírito, que é eterno; aceitar corajosamente as provações, em vista de um futuro mais invejável que o presente; praticar a caridade em pensamentos, em palavras e obras na mais larga acepção do termo; esforçar-se cada dia para ser melhor que na véspera, extirpando toda imperfeição de sua alma; submeter todas as crenças ao controle do livre-exame e da razão, e nada aceitar pela fé cega; respeitar todas as crenças sinceras, por mais irracionais que nos pareçam, e não violentar a consciência de ninguém; ver, enfim, nas descobertas da Ciência, a revelação das leis da Natureza, que são as leis de Deus: eis o Credo, a religião do Espiritismo, religião que pode conciliar-se com todos os cultos isto é com todas as maneiras de adorar a Deus. É o laço que deve unir todos os espíritas numa santa comunhão de pensamentos, esperando que ligue todos os homens sob a bandeira da fraternidade universal.

Com a fraternidade, filha da caridade, os homens viverão em paz e se pouparão males inumeráveis, que nascem da discórdia, por sua vez filha do orgulho, do egoísmo, da ambição, da inveja e de todas as imperfeições da Humanidade.

O Espiritismo dá aos homens tudo o que é preciso para a sua felicidade aqui na Terra, porque lhes ensina a se contentarem com o que têm. Que os espíritas sejam, pois, os primeiros a aproveitar os benefícios que ele traz, e que inaugurem entre si o reino da harmonia, que resplandecerá nas gerações futuras.

Os Espíritos que nos cercam aqui são inumeráveis, atraídos pelo objetivo que nos propusemos ao nos reunirmos, a fim de dar aos nossos pensamentos a força que nasce da união. Ofereçamos aos que nos são caros uma boa lembrança e o penhor de nossa afeição, encorajamentos e consolações aos que deles necessitem. Façamos de modo que cada um recolha a sua parte dos sentimentos de caridade benevolente, de que estivermos animados, e que esta reunião dê os frutos que todos têm o direito de esperar.


Allan Kardec.


14. — Depois deste discurso, procedeu-se à leitura de uma comunicação espontânea, ditada pelo Espírito do Sr. H. Dozon sobre a solenidade do Dia de Todos os Santos, em 1º de novembro de 1865, e que é lida todos os anos na sessão comemorativa.


O DIA DE TODOS OS SANTOS.


A festa de Todos os Santos, meus bons amigos, é uma festa que, para a maior parte dos que não possuem a verdadeira fé, os entristece e faz que derramem lágrimas, em vez de se regozijarem. Vede, desde a humilde choupana até o palácio, quando o dobre a finados lembra o nome do esposo ou da esposa, de um pai, de uma mãe, de um filho, de uma filha, choram; parece que tudo acabou, que nada mais têm a esperar aqui na Terra e, contudo, oram! Que é, então, essa prece? É um pensamento dado ao ser amado, mas sem esperança. As lágrimas abafam a prece; por quê? Ah! é que eles duvidam; não têm essa fé viva, que traz a esperança, que vos sustenta nas maiores lutas. É que não compreenderam que a vida terrena não é senão uma partida, uma separação momentânea; numa palavra, é porque os que lhes ensinaram a orar também não tinham a fé verdadeira, a fé que se apoia na razão.

Mas é chegada a hora em que estas belas palavras do Cristo serão, enfim compreendidas: “Meu Pai deve ser adorado, não mais apenas nos templos, mas em toda parte, em Espírito e em verdade.” Tempo virá em que elas se realizarão. Belas e sublimes palavras. Sim, meu Deus, não sois adorado somente nos templos, mas o sois nos montes e em toda parte. Sim, aquele que molhou os lábios na taça bendita do Espiritismo, ora não só neste dia, mas todo dia; o viajor ora em seu caminho, o operário durante o seu trabalho; aquele que pode dispor de seu tempo o emprega no alívio de seus irmãos que sofrem.

Meus irmãos, alegrai-vos, porque em muito pouco tempo vereis grandes coisas! Quando eu estava na Terra, via a doutrina grande e bela, mas estava muito longe de poder compreendê-la em toda a sua grandeza e em seu verdadeiro objetivo. Por isso vos direi: Redobrai de zelo; consolai os que sofrem, porque há seres que foram de tal modo afligidos durante a sua vida, que necessitam ser amparados e ajudados na luta. Sabeis quanto a caridade é agradável a Deus: praticai-a, pois, sob todas as formas; praticai-a em nome dos Espíritos cuja memória festejais neste dia, e eles vos bendirão!


H. Dozon.


15. — Depois das preces habituais (ver a Revista Espírita de novembro de 1865), trinta e duas comunicações foram obtidas pelos médiuns presentes, em número de dezoito. Considerando a impossibilidade de as publicar todas, a Sociedade escolheu as três seguintes, para serem anexadas ao discurso acima, cuja impressão ela pediu. As outras encontrarão lugar nas coletâneas especiais que serão publicadas ulteriormente.


I.


16. — Um grande Espírito, La Rochefoucauld, disse numa de suas obras, que se devia tremer diante da vida e diante da morte! Certamente, se se deve tremer, é por ver sua existência incerta, perturbada, completamente falha; é por ter realizado um trabalho estéril, inútil para si e para os outros; é por ter sido um falso amigo, um mau irmão, um conselheiro pernicioso; é por ser mau filho, pai irrefletido, cidadão injusto, desconhecedor de seus deveres, de seu país, das leis que vos regem, da sociedade e da solidariedade.

Quantos amigos eu vi, espíritos brilhantes, engenhosos, instruídos, faltarem muitas vezes ao objetivo profundo da vida! Construíam hipóteses mais ou menos absurdas: aqui a negação, ali a fé ardente; acolá se faziam neófitos de tal ou qual sistema de governo, de filosofia, e muitas vezes lançaram, ai! suas belas inteligências num fosso, de onde não podiam mais sair senão mortificadas e ofendidas para sempre.

A vida com suas asperezas, seus dissabores e suas incertezas, é, não obstante, uma coisa bela! Como! saís de um embrião, de um nada, e trazeis em torno de vós os beijos, os cuidados, o amor, o devotamento, o trabalho, e isto não seria nada senão a vida! Como é, então, que para vós, seres miseráveis [lede: insignificantes], sem força, sem linguagem, gerações inteiras tenham criado os campos, incessantemente explorados, da economia [organização] humana? Economia [Conquistas] de saber, de filosofia, de mecânica, de ciências diversas; milhares de cidadãos corajosos consumiram os seus corpos e dispuseram de suas vigílias para vos criar mil elementos diversos de vossa civilização. Desde as primeiras letras até uma definição sábia, encontra-se tudo o que pode guiar e formar o espírito; hoje se pode ver, porque tudo é luz. A sombra das idades sombrias desapareceu para sempre, e o adulto de dezesseis anos pode contemplar e admirar um nascer do Sol e analisar, pesar o ar e, com a ajuda da Química, da Física, da Mecânica e da Astronomia, se permitir mil gozos divinos. Com a pintura, reproduz uma paisagem; com a música, inscreve algumas dessas harmonias que Deus espalha em profusão nas harmonias infinitas!

Com a vida, pode-se amar, dar, espalhar muito; por vezes pode-se ser sol e iluminar o seu interior, sua família, a vizinhança, ser útil, cumprir sua missão. Oh! sim, a vida é uma bela coisa, palpitante, cheia de entusiasmo e de expansão, plena de fraternidade e desses deslumbramentos que atiram as nossas pequenas misérias para longe.

Ó vós todos, meus caros condiscípulos da rua Richelieu;  †  vós, meus fiéis do 14; vós todos que, tantas vezes, interrogastes a existência vos perguntando a palavra final; a vós que baixáveis a cabeça, incertos perante a última hora, diante da palavra Morte, que significa para vós: vazio, separação, desagregação, a vós venho dizer: Levantai a cabeça e esperai; nada de fraqueza, nada de terror; porque, se os vossos estudos conscienciosos e as religiões de nossos pais não vos deixaram senão o desgosto da vida, a incerteza e a incredulidade, é que, estéril em tudo, a ciência humana malconduzida só atingia o nada. Vós todos, que amais a Humanidade e resumis a esperança futura pelo estudo das ciências sociais, por sua aplicação séria, eu vos digo: Esperai, crede e procurai. Como eu, deixastes passar a verdade; nós a abandonávamos e ela batia à nossa porta, que obstinadamente lhe havíamos fechado. Doravante, amareis a vida, amareis a morte, esta grande consoladora; porque querereis, por uma vida exemplar, evitar recomeçar; querereis esperar no limiar da erraticidade todos aqueles que amais, não somente a vossa família, mas a geração inteira que guiastes, para lhes desejar as boas-vindas e a emigração em mundos superiores.

Como vedes, eu vivo e todos nós vivemos. A reencarnação, que tanto nos fez rir, é o problema resolvido que tanto procurávamos. Aí está este problema em vossas mãos, cheio de atrativos, de promessas ardentes; vossos pais, vossas mulheres, vossos filhos, a multidão de amigos vos querem responder; estão todos reunidos, esses caros desaparecidos aos vossos olhos; falarão ao vosso espírito, à vossa razão; dar-vos-ão verdades, e a fé é uma lei bem-amada; mas, interrogai-os com perseverança.

Ah! a morte nos causava medo e tremores! E, contudo, eis que eu, Guillaumin, um incrédulo, um inconstante, fui reconduzido à verdade. Milhares de Espíritos se apressam, esperando a vossa decisão; eles gostam da lembrança e da peregrinação aos cemitérios! É um ponto de referência esse respeito aos mortos; mas esses mortos estão todos vivos; em vez de urnas funerárias e de epitáfios mais ou menos verdadeiros, eles vos pedem uma troca de ideias, de conselhos, um doce comércio de espírito, essa comunhão de ideias que engendra a coragem, a perseverança, a vontade, os atos de devotamento e esse fortificante e consolador pensamento de que á vida se retempera na morte e que se pode, doravante, malgrado La Rochefoucault e outros grandes gênios, nem tremer diante da vida, nem diante da morte.

Deus é a exuberância, é a vida em tudo e sempre. Cabe a nós compreender a sua sabedoria nas diversas fases pelas quais ele purifica a Humanidade.


Guillaumin.

(Médium: Sr. Leymarie)


II.


17. — Escolher mal o meu momento sempre foi uma das minhas contínuas inabilidades; e vir neste dia, em meio a esta numerosa reunião de Espíritos e de encarnados, é realmente um ato de audácia, de que só a minha timidez pode ser capaz. Mas vejo em vós tanta bondade, doçura e amenidade; sinto tão bem que em cada um de vós posso encontrar um coração amante, compassivo, e sendo a indulgência a menor das qualidades que animam os vossos corações, a despeito de minha audácia, não me perturbo e conservo toda a presença de espírito que por vezes me falta, em circunstâncias menos importantes.

Mas, perguntareis, que vem então fazer, com sua verbosidade insinuante, esse desconhecido que, em vez e lugar de instrutor, vem monopolizar um médium útil? Quanto ao presente tendes razão; por isso me apresso em dar a conhecer meu desígnio, para não me apropriar por muito tempo de um lugar que usurpo.

Numa passagem do discurso hoje pronunciado por vosso presidente, uma reflexão vibrou-me ao ouvido, como só uma verdade pode vibrar e, confundido na multidão de Espíritos atentos, de súbito pus-me a descoberto. Ainda fui severamente julgado por uma imensidade de Espíritos que, baseando-se em suas recordações e na reputação de uma apreciação tida em outros tempos, subitamente reconheceram em mim o misantropo selvagem, o urso da civilização, o austero crítico das instituições em desacordo com seu próprio raciocínio. Ai! como um erro faz sofrer e há quanto tempo dura o mal feito às massas pela tola pretensão de um orgulhoso da humildade, de um louco do sentimento!

Sim, tendes razão: o isolamento em matéria religiosa e social não pode engendrar senão o egoísmo e, sem que muitas vezes dele se dê conta, o homem torna-se misantropo, deixando que seu egoísmo o domine. O recolhimento, produzido pelo efeito do silêncio grandioso da Natureza falando à alma, é útil, mas a sua utilidade não pode produzir seus frutos senão quando o ser que ouve a Natureza falar à sua alma, relata aos homens a verdade de sua moral; mas, se aquele que sente, em face da criação, sua alma levantar voo para as regiões de uma era pura e virtuosa, não se serve de suas sensações, ao despertar, no meio das instituições de sua época, senão para censurar os abusos que a sua natureza sensitiva lhe exagera, porque ela sofre com isto, se ele não encontra, para corrigir os erros dos humanos, senão fel e ressentimento, sem lhes mostrar docemente o verdadeiro caminho, tal qual o descobriu na própria Natureza, oh! então, infeliz dele, se só servir de sua inteligência para açoitar, em vez de pensar as feridas da sociedade!

Sim, tendes razão: viver só no meio da Natureza é ser egoísta e ladrão, porque o homem foi criado para a sociabilidade; e isto é tão verdadeiro que eu, o selvagem, o misantropo, o indomável eremita, venho aplaudir esta passagem do discurso aqui pronunciado: O isolamento social e religioso conduz ao egoísmo.

Uni-vos, pois, nos esforços e nos pensamentos; sobretudo amai. Sede bons, doces, humanos; dai à amizade o sentimento da fraternidade; pregai pelo exemplo dos vossos atos, os salutares efeitos de vossas crenças filosóficas; sede espíritas de fato, e não apenas de nome, e logo os loucos do meu gênero, os utopistas do bem não mais terão necessidade de queixar se dos defeitos de uma legislação sob a qual devem viver, porque o Espiritismo, compreendido e sobretudo praticado, reformará tudo, em benefício dos homens.


J.-J. Rousseau. n

(Médium: Sr. Morin)


III.


18. — [Comunicações diversas.]


1. O perfume que se exala de todos os bons sentimentos é uma prece constante que se eleva a Deus, e todas as boas ações são ações de graças ao Eterno.

Sra. Victor Hugo.


2. A dedicação pelo reconhecimento é um impulso do coração; o devotamento pelo amor é um impulso da alma.

Sra. Dauban.


3. O reconhecimento é um benefício que recompensa aquele que o merece. A gratidão é um ato do coração que dá, ao mesmo tempo, o prazer do bem àquele a quem se deve ser reconhecido e àquele que o é.

Vézy.


4. A ingratidão é punida como ação má pelo abandono de que é objeto, como a gratidão é recompensada pela alegria que proporciona.

Lerclerc.


5. O dever da mulher é trazer ao homem todas as consolações e os encorajamentos necessários à sua vida de vicissitudes e penosos trabalhos. A mulher deve ser o seu sustentáculo, o seu guia, o facho que ilumina o seu caminho e deve impedi-lo de falir; se faltar à sua missão será punida; mas se, apesar do seu devotamento, o homem repele os impulsos de seu coração, ela é duplamente recompensada por ter persistido no cumprimento de seus deveres.

Delfina de Girardin. n


6. A dúvida é o veneno lento que a alma faz a matéria absorver e da qual recebe o primeiro castigo. A dúvida é o suicídio da alma, que leva imediatamente à morte do corpo. – Uma alma suicidar-se é difícil de compreender; mas não é morrer o viver na sombra, quando se sente a luz em volta de si? Afastai, pois, do vosso Espírito, o véu que vos oculta os esplendores da vida, e vede esses sois radiosos que vos dão o dia: aí está a verdadeira luz; aí está o objetivo a que deveis chegar pela fé.

Jobard.


7. O egoísmo é a paralisação de todos os bons sentimentos. O egoísmo é a deformidade da alma, que trespassa a matéria, fazendo-vos amar tudo o que a ela se dirige e repelir tudo o que se dirige aos outros. O egoísmo é a negação da sublime sentença do Cristo, sentença alterada ignominiosamente: “Fazei aos outros o que gostaríeis que vos fizessem.”

Plácido. n


8. A susceptibilidade, eis o defeito para uso de todos, e cada um – não digais o contrário – dele está um pouco carregado. Irra! se soubésseis quanto é ridículo ser susceptível e quanto esse defeito se torna desagradável, eu vos asseguro que ninguém mais queria ser por ele atingido, porque se gosta de ser belo.

Gay. n


9. O orgulho é o guarda-chuva social de todos e que cada um rejeita sobre o gracioso amor-próprio; certo! é preciso ter amor-próprio e orgulho, é o que dá a ambição do bem (sem jogo de palavras), mas demasiado, isto estraga o Espírito e corrompe o coração.

Mangin.


10. A ambição, ele acaba de dizer! mas sabeis qual a ambição que não impede a alma de elevar-se para os esplendores do infinito? Pois bem! é a que vos leva a fazer o bem. Todas as outras ambições vos levam ao orgulho e ao egoísmo, flagelos da Humanidade.

Bonnefon. n


11. Meus caros amigos, os Espíritos que acabam de vos falar, não só estavam felizes por manifestar sua presença, mas têm a alegria de pensar que cada um de vós se esforçará para se corrigir e pôr em prática as sábias lições que vos deram e as que vos trazem em cada uma de vossas sessões. Crede, os Espíritos são para vós o que vossos pais foram ou deveriam ter sido. Eles vos admoestam, aconselhando e vos ajudando; e quando não os escutais, dizem que vos abandonam; revoltam-se contra vós; depois, tão logo vos falaram duramente, voltam a vós para vos encorajar, e se esforçam para impelir constantemente os vossos pensamentos para o bem. Sim, os Espíritos vos amam como o bom pai ama a seus filhos; compadecem-se de vós, cuidam de vossos dias e afastam de vós todo mal que vos pode acontecer, como a mãe cerca o filho de todos os cuidados mais delicados, de todas as atenções necessárias à sua fragilidade. Deus lhes deu uma missão; deu-lhes a coragem para a cumprir e nenhum desses bons Espíritos, seja qual for o seu grau na hierarquia espiritual, falhará na sua tarefa; compreendem, sentem, veem esses esplendores divinos que devem ser a sua recompensa; vão adiante e queriam vos levar em sua companhia, vos impelir à frente deles, se o pudessem. Eis por que vos admoestam, eis por que vos aconselham. Por vossa vez, orai por eles, a fim de que a vossa indocilidade não os impeça de continuar seus benefícios por vós, e que Deus continue a lhes dar a força de vos ajudar.


São Luís. n

(Médium: Sr. Bertrand.)



[1] A primeira parte deste discurso é tirada de uma publicação anterior sobre a Comunhão de pensamentos, mas que era preciso relembrar, por causa de sua ligação com a ideia principal.


[2] [v. J.-J. .Rousseau.]


[3] [v. Delfina de Girardin.]


[4] [v. Plácido.]


[5] [v. Gay.]


[6] [v. Bonnefon.]


[7] [v. São Luís.]


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