O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão.
Doutrina espírita - 1ª parte.

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Revista espírita — Ano X — Março de 1867.

(Idioma francês)

DISSERTAÇÕES ESPÍRITAS.


A comédia humana.

(Paris,  †  Grupo Desliens, 29 de novembro de 1866. – Médium: Sr. Desliens.)

A vida do Espírito encarnado é como um romance, ou antes, como uma peça teatral, da qual cada dia se percorre uma folha contendo uma cena. O autor é o homem; as personagens são as paixões, os vícios e as virtudes, a matéria e a inteligência, disputando a posse do herói, que é o Espírito. O público é o mundo em geral durante a encarnação, os Espíritos na erraticidade, e o censor que examina a peça para a julgar em última instância e proferir uma censura ou um louvor é Deus.

Fazei, pois, de modo que sejais aplaudido o maior número de vezes possível e que só raramente cheguem aos vossos ouvidos o barulho desagradável dos assobios. Que a intriga seja sempre simples, e não busqueis interesse senão nas situações naturais, que possam servir para fazer triunfar a virtude, desenvolver a inteligência e moralizar o público.

Durante a execução da peça, a cabala posta em movimento pela inveja, pode tentar criticar as melhores passagens e só incensar as que são medíocres ou más. Fechai os ouvidos a essas bajulações e lembrai-vos de que a posteridade vos apreciará no vosso justo valor! Deixareis um nome obscuro ou ilustre, manchado de vergonha ou coberto de glória, conforme o mundo; mas, quando a peça estiver terminada e a cortina, caída sobre a última cena, vos puser em presença do regente universal, do diretor infinitamente poderoso do teatro onde se passa a comédia humana, não haverá bajuladores, nem cortesãos, nem invejosos, nem ciumentos: estareis sós com o juiz supremo, imparcial, equitativo e justo.

Que a vossa obra seja séria e moralizadora, porque é a única que tem algum peso na balança do Todo-Poderoso.

É preciso que cada um dê à sociedade ao menos o que dela recebe: Aquele que, tendo recebido a assistência corporal e espiritual, que lhe permite viver, se vai sem ao menos restituir o que gastou, é um ladrão, porque desperdiçou uma parte do capital inteligente e nada produziu.

Nem todo o mundo pode ser homem de gênio, mas todos podem e devem ser honestos, bons cidadãos, e devolver à sociedade o que a sociedade lhes emprestou.

Para que o mundo esteja em progresso, é preciso que cada um deixe uma lembrança útil de sua personalidade, uma cena a mais nesse número infinito de cenas úteis que os membros da Humanidade deixaram, desde que a vossa Terra serve de lugar de habitação dos Espíritos.

Fazei, pois, que leiam com interesse cada uma das folhas de vosso romance, e que não o percorram apenas com o olhar, para o fechar com enfado, depois de o ter lido pela metade.


Eugène Sue. n



[1] [v. Eugène Sue.]


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