Um dos nossos correspondentes de Maine-et-Loire † transmite-nos o fato seguinte, que se passou aos seus olhos, como prova de identidade.
Desde algum tempo o Sr. X… estava gravemente enfermo em C…, na Touraine, † e sua morte era esperada a qualquer momento. No dia 23 de abril último, tínhamos por alguns dias em nosso grupo uma senhora médium, a quem devemos comunicações muito interessantes. Veio ao pensamento de um dos assistentes, que conhecia o Sr. X…, perguntar a um Espírito familiar do nosso grupo, Espírito leviano, mas não mau, se aquele senhor tinha morrido. – Sim, foi-lhe respondido. – Mas, é bem verdade, já que às vezes falas tão levianamente? – O Espírito respondeu de novo afirmativamente. No dia seguinte, o Sr. A. C…, que até então tinha sido pouco crente, e que também conhecia particularmente o Sr. X…, quis ele próprio tentar evocá-lo, se, de fato, ele tivesse morrido. O Espírito veio imediatamente ao seu apelo e disse: “Por favor, não me esqueçais. Orai por mim.” – Desde quanto tempo estais morto? perguntou o Sr. A. C. – Um dia. – Quando sereis enterrado? Esta tarde, às quatro horas. – Sofreis? – Tudo que uma alma pode sofrer. – Guardais rancor de mim? – Sim. – Por quê? Sempre fui muito rígido convosco.
As relações desses dois senhores sempre tinham sido frias, embora perfeitamente polidas. Rogado a assinar, o Espírito deu as três iniciais de seu prenome e de seu nome. No mesmo dia o Sr. A. C. recebeu uma carta, anunciando-lhe a morte do Sr. X… À noite, após o jantar, ouviram-se pancadas. O Sr. A. C. tomou a pena e escreveu o ditado sob a batida do Espírito:
Fui ambicioso; sem dúvida todo homem o é;
Mas nunca rei, pontífice, chefe ou cidadão
Concebeu um projeto tão grande quanto o meu.
As batidas eram fortes, acentuadas, quase imperiosas, como vindas de um Espírito iniciado há muito tempo nas relações do mundo invisível com os homens. O Sr X… tinha exercido altas funções administrativas; talvez nos lazeres da aposentadoria e sob a influência da lembrança de suas antigas ocupações, seu Espírito tivesse elaborado algum grande projeto. Uma carta recebida há dois dias confirma todos os detalhes acima.
Observação. – Sem dúvida o fato nada tem de extraordinário e que não se encontre muitas vezes; mas esses fatos íntimos nem sempre são os menos instrutivos e convincentes; causam mais impressão nos círculos onde se passam do que o fariam fenômenos estranhos, que seriam olhados como excepcionais. O mundo invisível aí se revela em condições de simplicidade que o aproximam de nós e melhor convencem da continuidade de suas relações com o mundo visível. Numa palavra, os mortos e os vivos aí estão mais em família e se reconhecem melhor. Os fatos deste gênero, por sua multiplicidade e pela facilidade de os obter, contribuíram mais à propagação do Espiritismo do que as manifestações que têm as aparências do maravilhoso. Um incrédulo ficará muito mais tocado por uma simples prova de identidade, dada espontaneamente, na intimidade, por algum parente, amigo ou conhecido, do que por prodígios que mal o tocam e nos quais não acredita.