O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão.
Doutrina espírita - 1ª parte.

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Revista espírita — Ano X — Agosto de 1867.

(Idioma francês)

DISSERTAÇÕES ESPÍRITAS.


Os espiões.

(Sociedade de Paris,  †  12 de julho de 1867. – Médium: Sr. Morin, em sono espontâneo.)
(Sumário)

1. — Quando, em consequência de uma terrível convulsão humanitária, a sociedade inteira se movia lentamente, oprimida, esmagada, e ignorando a causa de sua opressão, alguns seres privilegiados, alguns velhos veteranos do bem, pondo à disposição de todos sua experiência da dificuldade de o reproduzir, e juntando a isto o respeito que devia provocar sua conduta e sua posição, resolveram procurar aprofundar as causas dessa crise geral, que fere cada um em particular.

Começa a era nova e, com ela, o Espiritismo (esta palavra foi criada; não resta senão torná-la compreendida, e cada um aprender a sua significação). O tempo impassível marcha sempre, e o Espiritismo, que não é mais uma simples palavra, já não tem que se fazer compreender: é compreendido!… Mas, alguns veteranos espíritas, essas criaturas, esses missionários estão sempre à testa do movimento… Seu pequeno batalhão é muito fraco em número; mas, paciência!… pouco a pouco ganha aderentes, e logo será um exército: o exército dos veteranos do bem! Porque, em geral, em seu começo e em seus primeiros anos, o Espiritismo quase só tocou os corações já consumidos pelos conflitos da vida, os corações que sofreram e pagaram, os que traziam em germe os princípios do belo, do bem, do bom, do grande.

Descendo sucessivamente do velho à idade madura, da idade madura à idade viril e da idade viril à adolescência, o Espiritismo infiltrou-se em todas as idades, como em todos os corações, em todas as religiões, em todas as seitas, em toda parte! A assimilação foi lenta, mas segura!… E hoje não temais que caia essa bandeira espírita, sustentada desde o início por uma mão firme e segura; porque hoje, as jovens falanges dos batalhões espíritas não vociferam, como seus adversários: “Lugar aos jovens.” Não, eles não dizem: “Saí, velhos, para deixar subirem os jovens.” Eles não pedem senão um lugar no banquete da inteligência, senão o direito de se sentarem ao lado de seus antecessores, trazendo seu óbolo ao grande todo. Hoje, a juventude se viriliza; traz sua contribuição à idade madura, em troca da experiência desta última, em razão da grande lei de reciprocidade e das consequências do trabalho coletivo para a Ciência, a moralidade, o bem, porque, em última análise, se a Ciência progride, em benefício de quem progride? Não são os corpos humanos que aproveitam todas as elucidações, todos os problemas resolvidos, todas as invenções realizadas? e isto aproveita a todos, assim como se progredirdes em moralidade, isto aproveita a todos os Espíritos. Hoje, portanto, jovens e velhos são iguais ante o progresso e devem combater lado a lado por sua realização.


2. — O batalhão tornou-se um exército, exército invulnerável, mas que deve combater não um, mas milhares de adversários coligados contra ele. Assim, jovens, trazei com confiança o entusiasmo de vossas convicções, e vós, velhos, vossa sabedoria, vosso conhecimento dos homens e das coisas, vossa experiência sem ilusões.

O exército está na frente de batalha. Vossos inimigos são numerosos, mas não estão em vossa frente, face a face, peito contra peito; estão em toda parte, ao vosso lado, na frente, atrás, no meio de vós, no próprio seio do vosso coração e, para os combater, não tendes senão vossa boa vontade, vossas consciências leais e vossas tendências ao bem. Desses exércitos coligados, um tem nome: o orgulho; os outros: ignorância, fanatismo, superstição, preguiça, vícios de toda natureza.

E vosso exército, que deve combater de frente, também deve saber lutar em particular, porque não sereis um contra um, mas um contra dez!… Bela vitória a conquistar!… Pois bem!… se combaterdes todos em massa, com a esperança de triunfar, inicialmente combatei contra vós mesmos, dominai as más tendências. Hipócritas, conquistai a sinceridade; preguiçosos, tornai-vos trabalhadores; orgulhosos, sede humildes, estendei a mão à lealdade vestida com uma blusa em farrapos, e todos, solidariamente, tomai e sustentai o compromisso de fazer a outrem o que gostaríeis que vos fosse feito. Assim, não gritemos: Lugar aos jovens, mas lugar a tudo o que belo, bom, a tudo o que tende a aproximar da Divindade.


3. — Hoje, começa-se a tomar em consideração esse pobre Espiritismo, que diziam natimorto; nele veem um inimigo sério. E por quê?… Não o temiam em seu começo: a criança era frágil; riam-se de seus esforços impotentes. Mas hoje, que a criança tornou-se homem, temem-no, porque tem a força da idade viril. É que reuniu em torno de si homens de todas as idades, de todas as posições sociais, de todos os graus de inteligência, que compreendem que a sabedoria, a ciência adquirida podem tão bem residir no coração de um jovem de vinte anos quanto no cérebro de um homem de sessenta.

Hoje, portanto, esse pobre Espiritismo é temido; não ousam vir de frente, medir-se com ele; tomam os atalhos, o caminho dos covardes!… Não vêm dizer-lhe à luz do dia: Tu não existes; vêm em meio de seus partidários dizer como eles, fazer como eles, aplaudir a aprovar tudo quanto fazem, quando estão com eles, para os combater e os trair quando estão de costas. Sim, eis o que fazem hoje! No começo diziam de cara o que pensavam da criança mirrada, mas hoje não ousam mais, porque ela cresceu e, contudo, jamais mostrou os dentes.

Se me dizem para vos dizer isto, embora me seja sempre penoso, é que isto tinha a sua utilidade; nada, nem uma palavra, um gesto, uma inflexão de voz se efetuam sem que haja uma razão de ser e que não tragam seu contingente para o equilíbrio geral. A administração dos correios lá do Alto é muito mais inteligente e mais completa que a da vossa Terra; toda palavra vai ao seu objetivo, ao seu endereço, sem sobrescrito, ao passo que entre vós a carta que não o traz não chega nunca.

[Sem nome.]   


Observação. – Como se vê, a comunicação acima é uma aplicação do que foi dito na precedente [v. item 7 e observação de Allan Kardec, no artigo precedente], sobre o efeito da faculdade de vidência, e não é a única vez que nos foi dado constatar os serviços que essa faculdade é chamada a prestar. Não significa que seja preciso juntar uma fé cega a tudo quanto pode ser dito em casos semelhantes; haveria tanta imprudência em crer sem reservas no primeiro que aparecesse, quanto desprezar os avisos que podem ser dados por essa via. O grau de confiança que se pode a isso permitir depende das circunstâncias; essa faculdade precisa ser estudada; antes de tudo há que se agir com circunspeção e guardar-se de um julgamento precipitado.

Quanto ao fundo da comunicação, sua coincidência com a que foi dada cinco meses antes, por outro médium, e em outro meio [ver artigo precedente], é um fato digno de nota, e sabemos que instruções análogas são dadas em diferentes centros. É, pois, prudente manter-se em reserva com as pessoas sobre cuja sinceridade não se tem certeza para se ficar edificado. Sem dúvida os espíritas só têm princípios altamente confessáveis; nada têm a ocultar; mas o que têm a temer é ver suas palavras desnaturadas e suas intenções mascaradas; são as armadilhas estendidas à sua boa-fé, por pessoas que defendem o falso para saber a verdade; que, sob as aparências de um zelo muito exagerado para ser sincero, tentam arrastar os grupos por um caminho comprometedor, seja para lhes suscitar embaraços, seja para lançar o descrédito sobre a Doutrina.


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