Sobre esta obra o Evénement de 19 de fevereiro traz o seguinte artigo, assinado, como o precedente, por Zola:
“Decididamente, os romancistas de curta imaginação nestes tempos de produção incessante, vão recorrer ao Espiritismo para encontrar assuntos novos e bizarros. Em meu último artigo falei do Espírita, de Théophile Gautier; hoje venho anunciar o lançamento, pela casa Lemer, da Mulher do Espírita, por Ange de Kéranion.
“Talvez o Espiritismo venha fornecer ao gênio francês o maravilhoso necessário a toda epopeia bem condicionada.
“Os Davenport nos terão assim trazido um dos elementos do poema épico que a literatura francesa ainda espera.
“O livro do Sr. Kéraniou é um tanto verboso; não se sabe se ridiculariza ou fala sério; mas é cheio de detalhes curiosos que dele fazem uma obra interessante para folhear.
“O Conde Humbert de Luzy, um espírita emérito, uma espécie de Anticristo, que faz as mesas dançar, casou-se com uma jovem a quem, naturalmente, inspira um medo horrível.
“A jovem mulher, era de esperar, quer arranjar um amante. É aqui que a história se torna verdadeiramente original. Os Espíritos assumem o papel de guarda de honra do marido e, em duas ocasiões, em circunstâncias desesperadoras, salvam essa honra com o auxílio de aparições e tremores de terra.
“Se eu fosse casado, tornar-me-ia espírita.”
Decididamente a ideia espírita faz sua entrada na imprensa pelo romance. Aí entra enfeitada: a verdade nua e crua chocaria esses senhores. Só conhecemos esta nova obra pelo artigo acima e, assim, nada podemos dizer. Apenas constataremos que o autor desta crítica, talvez sem lhe ter visto o alcance, enuncia uma grande e fecunda verdade, a de que a literatura e as artes encontrarão no Espiritismo uma rica mina a explorar. Nós o dissemos há muito tempo: um dia haverá a arte espírita, como houve a arte pagã e a arte cristã. Sim, o poeta, o literato, o pintor, o escultor, o músico, o próprio arquiteto colherão a mancheias, nesta nova fonte, temas de sublime inspiração quando tiverem explorado alhures, e não no fundo de um armário. Théophile Gautier foi o primeiro a entrar na liça por uma obra capital, cheia de poesia; sem dúvida terá imitadores.
“Talvez o Espiritismo vá fornecer os elementos do poema épico que a
literatura francesa ainda espera.” Já não seria um resultado tão forte
para desdenhar. (Vide Revista Espírita de dezembro de 1860:
A arte espírita, a arte pagã e arte cristã.)