Breve, criança, irás deixar
O teto que te viu nascer,
Pra correr mundo e enfrentar
Seus riscos, e talvez morrer
Sem ter chegado ao teu destino.
Ante o fugir à nossa instância,
Tal como outrora, escuto o trino
Da voz que te guiou na infância.
Ai, ai! meu filho, em teu caminho
Logo talvez dificuldade
Te ferirá a mão com espinho,
Que venenoso de verdade
Fará coxear teu pé ferido,
Mais de uma vez em tua sina.
Que importa, então!
Mais longe erguido,
Seguirás luz que te ilumina,
A marchar sempre, sempre avante;
Sem tua pátria achar perdida,
Teu lugarejo, o lar distante,
E morrer sem chorar a vida,
Se tinhas que perdê-la um dia,
Pregando a todos por doutrina
A caridade, a fé mais pia,
Deveres só da lei divina;
Em toda parte erradicando
Falso saber, orgulho, egoísmo,
Que amortalhar estão tentando
O berço-luz do Espiritismo;
Em repetindo isso que a voz
De todos invisíveis mundos
Parece revelar-te a sós
Em seus murmúrios tão profundos;
Sofrendo um século grosseiro,
Que junta o insulto à injúria forte
Quando te chama feiticeiro,
Simples ledor da boa sorte;
Em perdoando-lhe o desdém,
Vai procurando, pela prece,
Os seus amigos pô-los bem
Em sua santa e humilde messe.
E eu disse: Parte, filho, adeus;
Tua tarefa é dificílima,
Mas crê e espera em teu bom Deus,
Ele a fará talvez facílima.
Um Espírito Poeta. |