Paciente, a trabalhar num ramo de jasmim,
Tremia uma lagarta, ao ver chegar-lhe o fim,
Dizia: “Eu estou bem adoentada,
Já nem digiro a folha de salada;
Que pena tanta couve e apetite não tendo;
E a pouco e pouco eu morrendo;
Como é triste morrer! Bem melhor não nascer.
Convém sem queixas me submeter;
Outras depois de mim sulcarão terra preta.
— Mas tu não morrerás, diz-lhe uma borboleta;
Pois se me lembro bem, na mesma plantação
Contigo já vivi, sou tua irmã então;
Prepara-te o futuro um destino feliz;
Talvez um mesmo amor unir-nos Deus o quis.
Espera!… pois do sono é rápida a passagem.
Crisálida serás como eu em branda aragem;
Como eu poderás, com tão brilhantes cores,
Sorver o perfume das flores.”
A velha respondeu: “Impostura, impostura!
Nada fará mudar, eu sei, leis da Natura;
O espinheiro jamais poderá ser jasmim.
Em meus pobres anéis, juntas frágeis assim,
Que artista poderá neles asas fixar?
Louca, segue o teu caminhar.
— Lagarta, tens razão; limitado é o possível,
Exclama um caracol, em seus cornos, prazível.”
Zomba um sapo. Um vespão, cujo dardo se avulta,
A bela borboleta insulta.
Não; nem sempre é verdade o que ostenta luz farta
Sois cegos por obstinação,
Negando aos mortos alma, ó doutos sem razão,
Assemelhai-vos à lagarta. |