O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão.
Doutrina espírita - 1ª parte.

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Revista espírita — Ano IX — Junho de 1866.

(Idioma francês)

QUESTÕES E PROBLEMAS.


Está no ar.

(Paris,  †  13 de maio de 1866. – Médium: Sr. Tail…)

P. – Quando alguma coisa é pressentida pelas massas, geralmente se diz que está no ar. Qual a origem desta expressão?

Resposta. – Sua origem, como a de uma porção de coisas de que não nos damos conta e que o Espiritismo vem explicar, está no sentimento íntimo e intuitivo da realidade. A expressão é mais verdadeira do que se pensa.

Esse pressentimento geral à aproximação de algum acontecimento grave tem duas causas: a primeira vem das massas inumeráveis de Espíritos que incessantemente percorrem o espaço e que têm conhecimento das coisas que se preparam; em consequência de sua desmaterialização estão mais aptos a seguir o seu curso e lhe prever o desfecho. Esses Espíritos roçam incessantemente a Humanidade, comunicando-lhe os seus pensamentos pelas correntes fluídicas que ligam o mundo corporal ao mundo espiritual. Embora não os vejais, seus pensamentos vos chegam como o aroma das flores ocultas na folhagem, e vós os assimilais sem perceber. O ar está literalmente rasgado por essas correntes fluídicas, que por toda parte semeiam a ideia, de tal sorte que a expressão está no ar não só é uma figura, mas positivamente verdadeira. Certos Espíritos são mais especialmente encarregados pela Providência de transmitir aos homens o pressentimento das coisas inevitáveis, com vistas a lhes dar um secreto aviso, e eles cumprem essa missão espalhando-se entre as criaturas. São como vozes íntimas, que retinem no seu foro interior.

A segunda causa deste fenômeno está no desprendimento do Espírito encarnado durante o repouso do corpo. Nesses momentos de liberdade ele se mistura aos Espíritos semelhantes, àqueles com os quais tem mais afinidade; penetra-se de seus pensamentos, vê o que não pode ver com os olhos do corpo, relata a sua intuição ao despertar, como de uma ideia que lhe é toda pessoal. Isto explica como a mesma ideia surge ao mesmo tempo em cem lugares diferentes e em milhares de cérebros.

Como sabeis, certos indivíduos são mais aptos que outros para receber o influxo espiritual, quer pela comunicação direta dos Espíritos estranhos, quer pelo desprendimento mais fácil de seu próprio Espírito. Muitos gozam, em graus diversos, da segunda vista, ou visão espiritual, faculdade muito mais comum do que pensais, e que se revela de mil maneiras; outros conservam uma lembrança mais ou menos nítida do que viram nos momentos de emancipação da alma. Em consequência desta aptidão, têm noções mais precisas das coisas; não é neles um simples pressentimento vago, mas a intuição, e nalguns o conhecimento da própria coisa, cuja realização preveem e anunciam. Se se lhes pergunta como sabem, a maior parte não saberia explicar; uns dirão que uma voz interior lhes falou, outros que tiveram uma visão reveladora, e outros, enfim, que o sentem sem saber como. Nos tempos de ignorância, e aos olhos das pessoas supersticiosas, passam por adivinhos e feiticeiros, quando são apenas pessoas dotadas de mediunidade espontânea e inconsciente, faculdade inerente à natureza humana, e que nada tem de sobrenatural, mas que são incapazes de compreender os que nada admitem fora da matéria.

Essa faculdade existiu em todos os tempos, mas é de notar que se desenvolve e se multiplica sob o império de circunstâncias que incrementam a atividade do espírito, nos momentos de crise e quando da aproximação dos grandes acontecimentos. As revoluções, as guerras, as perseguições de partidos e de seitas sempre fizeram nascer um grande número de videntes e inspirados, que foram qualificados de iluminados.


Dr. Demeure.


Observação. – As relações do mundo corporal com o mundo espiritual nada têm de surpreendente, se se considerar que esses dois mundos são formados dos mesmos elementos, isto é, dos mesmos indivíduos, que passam alternadamente de um ao outro. Tal qual é hoje entre os encarnados da Terra, será amanhã entre os desencarnados do espaço, e reciprocamente. O mundo dos Espíritos, portanto, não é um mundo à parte, é a própria Humanidade despojada de seu invólucro material, e que continua sua existência sob uma nova forma e com mais liberdade.

As relações desses dois mundos, em contato incessante, fazem parte, pois, das leis naturais. A ignorância da lei que os rege foi a pedra de tropeço de todas as filosofias; é por falta de seu conhecimento que tantos problemas ficaram insolúveis. O Espiritismo, que é a ciência dessas relações, nos dá a única chave que os pode resolver. Graças a ele, quantas coisas já não são mistérios!


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