Ó amados mortos, que esta terra
Vos vê, conosco misturados,
Mostrai-nos que mistério encerra:
Aonde viveis, mortos amados?
Globos que brilhais a povoar o espaço,
Irmãs desta terra, estrelas dos céus,
Qual de vós me dá no além um regaço,
Destino de sombra ou de glória véus?
E qual de vós tem recebido as almas
Daqueles que amava e os tenho perdido?
De vós branco raio e de luzes calmas,
Sobre o meu ser a sonhar tem descido?
Ligados, então, à sorte da terra
Quer pelo destino ou seu bem-estar,
São eles levados ao que ela encerra
De justo no instante de retornar?
Ou mais perto ainda, Almas invisíveis,
Que estando entre nós buscais nos servir,
Concórdia pregando aos seres sensíveis,
Chorando por quem é surdo em ouvir?
Mistério profundo o da alma infinita!
Já faz quanto tempo eu te busco em vão.
De pálida fronte a vida me agita
Sem poder achar de Deus a razão.
Ó mortos queridos, onde estejais!
Vinde vós a mim perto ou longe até;
Vossa oculta voz já cedi demais;
E vosso calor aqueceu-me a fé.
Ó amados mortos, que esta terra
Vos vê, conosco misturados,
Mostrai-nos que mistério encerra:
Aonde viveis, mortos amados? |