O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão.
Doutrina espírita - 1ª parte.

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Revista espírita — Ano VIII — Julho de 1865.

(Idioma francês)

DISSERTAÇÕES ESPÍRITAS.


O Cardeal Wiseman.

(Sumário)

1. — O Patrie de 18 de março de 1865 relatava o seguinte:

“O Cardeal Wiseman, que acaba de morrer na Inglaterra, acreditava no Espiritismo. É o que prova o fato seguinte, citado pelo Spiritualist magazine.

“Um bispo tinha interditado a atuação de dois membros de sua Igreja, por causa de sua tendência ao Espiritismo. O Cardeal suspendeu essa interdição e permitiu que os dois sacerdotes prosseguissem seus estudos e servissem como médiuns, dizendo-lhes: “Eu mesmo creio firmemente no Espiritismo, e não poderia ser um bom membro da Igreja se tivesse a menor dúvida a respeito”.”


2. — Este artigo tinha sido lido e comentado numa reunião espírita em casa do Sr. Delanne, mas hesitavam em fazer a evocação do cardeal quando este se manifestou espontaneamente pelas duas comunicações seguintes:


I.


Vosso desejo de me evocar me trouxe a vós e estou contente por vir dizer-vos, meus irmãos bem-amados, que na Terra eu era, sim, um espírita convicto. Tinha vindo com essas aspirações, que não pudera desenvolver, mas me sentia feliz por vê-las desenvolvidas por outros. Eu era espírita porque o Espiritismo é o caminho reto que conduz ao verdadeiro objetivo e à perfeição; eu era espírita porque reconhecia no Espiritismo a realização de todas as profecias, desde o começo do mundo até os nossos dias; eu era espírita porque esta doutrina é o desenvolvimento da religião, o esclarecimento dos mistérios e a marcha da Humanidade inteira para Deus, que é a unidade; eu era espírita porque compreendi que esta revelação vinha de Deus e que todos os homens sérios deviam ajudar sua marcha, a fim de um dia todos poderem se dar as mãos socorristas; enfim eu era espírita porque o Espiritismo não lança anátema sobre ninguém e que, a exemplo do Cristo, nosso divino modelo, estende os braços a todos, sem distinção de classes e de culto. Eis por que eu era espírita cristão.

Ó meus irmãos bem-amados! que graça imensa concede o Senhor aos homens em lhes enviando esta luz divina, que lhes abre os olhos e lhes faz ver de maneira irrecusável que além do túmulo existe mesmo uma outra vida e que, em vez de temer a morte, quando se viveu segundo os desígnios de Deus, deve-se abençoá-la quando vem libertar um de nós das pesadas cadeias da matéria.

Sim, essa vida, que se prega constantemente de maneira tão assustadora, existe; mas nada tem de penosa para as almas que, na Terra, observaram as leis do Senhor. Sim, lá se encontram aqueles a quem amamos na Terra; é a mãe bem-amada, uma terna mãe que vos vem felicitar e receber; são amigos que vos vêm ajudar a vos reconhecerdes em vossa verdadeira pátria, e que vos mostram todos os encantos da vida verdadeira, em relação aos quais os da Terra não passam de tristes imagens.

Perseverai, meus irmãos bem-amados, em marchar na via abençoada do Espiritismo; que para vós ele não seja uma palavra vã; que as manifestações que recebeis vos ajudem a subir o rude calvário da vida, a fim de que, chegados ao cume, possais colher os frutos de vida que vos tiverdes preparado.

É o que desejo a vós todos, que me escutais, e a todos os meus irmãos em Deus. Aquele que foi o Cardeal


Wiseman. n

(Médium: Sra. Delanne.)


II.


Meus amigos, por que eu não viria a vós? Os sentimentos expressos quando eu estava em vossa Terra e que devem ser os de todos os servos de Deus e da verdade, devem ser para todo espírita convicto a garantia de que usarei da graça que o Senhor me concede, de vir instruir e guiar meus irmãos.

Oh! sim, meus amigos, é com satisfação e reconhecimento por aquele a quem tudo devemos, que vos venho exortar, vós que tendes a felicidade de ser admitidos entre os Obreiros do Senhor, de perseverar na via em que estais empenhados; se não é a única, pelo menos é a melhor, porque se uma parte da Humanidade pode alcançar a sua salvação com a fé cega, sem cair nas ciladas e nos perigos que ela oferece, com mais forte razão aqueles cuja fé tem por base a razão e o amor de Deus, que vos fazemos conhecer tal qual é, devem chegar a conquistar a vida eterna no seio desse mesmo Deus.

Filhos, inclinai-vos, curvai a cabeça, porque o vosso Deus, vosso pai, vos abençoa. Glorificai-o e amai-o na eternidade!

Oremos juntos.

Wiseman,

assistido por Santo Agostinho.

(Médium: Sr. Erambert, de Aix.)


3. — Estas duas comunicações [anteriores] foram ditadas simultaneamente, o que explica a assistência de Santo Agostinho na última. Enquanto Wiseman fazia um dos médiuns escrever, Santo Agostinho fazia escrever o outro, ao qual transmitia o pensamento do cardeal. Muitas vezes veem-se Espíritos pouco adiantados, ou ainda perturbados, que não podem exprimir-se sem a ajuda de um Espírito mais elevado; mas aqui não é o caso: Wiseman é bastante desprendido para exprimir suas próprias ideias.

As duas comunicações a seguir foram obtidas no dia 24 de março, na Sociedade de Paris, sem evocação, após a leitura das precedentes. A quarta é uma apreciação dos fatos acima, pelo Espírito Lamennais:


III.


4. — Meus amigos: venho confirmar minha comunicação de segunda-feira. Estou feliz por vir a um meio onde teria muito a dizer e onde estou certo de ser compreendido. Oh! sim, será uma grande felicidade para mim ver desenvolver-se, sob os olhos do mestre, os progressos da doutrina santa e regeneradora, que deve conduzir o mundo inteiro a seu destino divino.

Amigos, uni vossos esforços na obra que nos é confiada e sede reconhecidos pelo papel que o Criador de todas as coisas vos conferiu. Jamais poderíeis fazer bastante para reconhecer a graça que ele vos concede; mas ele levará em conta a vossa boa vontade, a vossa fé, a vossa caridade e o vosso amor pelos vossos irmãos. Bendizei-o, amai-o, e tereis a vida eterna.

Oremos juntos, meus caros amigos.

WISEMAN.

(Médium: Sr. Erambert, de Aix.)


IV.


5. — A religião espiritualista — é preciso não esquecer — é a alma do Cristianismo. Em meio do materialismo, do culto protestante e católico, o cardeal Wiseman ousou proclamar a alma antes do corpo, o espírito antes da letra. Esses tipos de audácia são raros nos dois cleros e, com efeito, é um espetáculo insólito o ato de fé do cardeal Wiseman. Aliás, seria estranho que um Espírito tão culto, tão elevado quanto o do eminente cardeal tivesse visto no Espiritismo uma fé rebelde aos ensinos da mais pura moral cristã; nós, espíritas, nunca aplaudiríamos bastante a essa confiança afastada de todo respeito humano, de todo escrúpulo mundano. Não é um encorajamento a voz de um agonizante tão distinto? Não é um aviso para o futuro? Uma promessa de que, com a boa vontade tão pregada pelo Evangelho, só há uma verdade contida na prática da caridade e na crença na imortalidade da alma? Outras vozes não menos sagradas proclamam diariamente nossa verdade imortal. É um hosana sublime que cantam os homens visitados pelo Espírito, hosana tão puro, tão entusiasta quanto o das almas visitadas por Jesus.

Nós mesmos, almas em sofrimento, não afastamos de nós a lembrança que nos chega, e no purgatório que padecemos, escutemos as vozes dos que nos fazem ver o além.


Lamennais. n

(Médium: Sr. A. Didier.)



[1] [v. Nicholas Wiseman.]


[2] [v. Lamennais.]


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