O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão.
Doutrina espírita - 1ª parte.

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Revista espírita — Ano VIII — Fevereiro de 1865.

(Idioma francês)

Perpetuidade do Espiritismo.

(Sumário)


1. Num artigo precedente, falamos dos incessantes progressos do Espiritismo. Tais progressos serão duráveis ou efêmeros? É um meteoro que reluz com brilho passageiro, como tantas outras coisas? É o que vamos examinar em poucas palavras.

Se o Espiritismo fosse uma simples teoria, uma escola filosófica baseada numa opinião pessoal, nada lhe garantiria a estabilidade, porque poderia agradar hoje e não agradar amanhã; num dado tempo poderia não estar mais em harmonia com os costumes e o desenvolvimento intelectual, caindo, então, como todas as coisas fora de moda, que ficam a reboque do movimento; enfim, poderia ser substituído por algo melhor. Dá-se o mesmo com todas as concepções humanas, todas as legislações, todas as doutrinas puramente especulativas.

O Espiritismo apresenta-se em condições inteiramente diversas, como tantas vezes temos feito observar. Repousa sobre um fato, o da comunicação entre o mundo visível e o invisível. Ora, um fato não pode ser anulado pelo tempo, como uma opinião. Sem dúvida ainda não é admitido por todos; mas, que importam as negações de alguns, quando ele é constatado todos os dias por milhões de indivíduos, cujo número cresce incessantemente, e que não são nem mais tolos nem mais cegos do que os outros? Chegará, pois, o momento em que não encontrará mais negadores do que os agora existentes para o movimento da Terra.


2. — Quantas oposições não levantaram este último fato! Por muito tempo não faltaram aos incrédulos aparentes boas razões para o contestar. Diziam eles: “Como crer na existência dos antípodas,  †  caminhando de cabeça para baixo? E se a Terra gira, como pretendem, como acreditar que nós mesmos estejamos, de vinte e quatro em vinte e quatro horas, nessa posição incômoda, sem nos apercebermos? Nesse estado, não mais poderíamos ficar ligados à Terra, a não ser que quiséssemos marchar contra um teto, com os pés no ar, à guisa de moscas. E, depois, em que se tornariam os mares? A água não derrama quando se inclina o vaso? A coisa é simplesmente impossível, portanto é absurda, e Galileu é um louco.”

Sendo, porém, um fato essa coisa absurda triunfou de todas as razões contrárias e de todos os anátemas. Que faltava para admitir a sua possibilidade? o conhecimento da lei natural sobre a qual repousa. Se Galileu se tivesse contentado em dizer que a Terra gira, até agora ainda não acreditariam nele. Mas as negações caíram ante o conhecimento do princípio.

Dar-se-á o mesmo com o Espiritismo. Já que repousa sobre um fato material, existente em virtude de uma lei explicada e demonstrada, que lhe tira todo caráter sobrenatural e maravilhoso, é imperecível. Os que negam a possibilidade das manifestações estão no mesmo caso dos que negavam o movimento da Terra. A maioria nega a causa primeira, isto é, a alma, sua sobrevivência ou sua individualidade, não sendo, pois, surpreendente que neguem o efeito. Julgam pelo simples enunciado do fato e o declaram absurdo, como outrora declaravam absurda a crença nos antípodas. Mas, que pode sua opinião contra um fenômeno constatado pela observação e demonstrado por uma lei da Natureza? Sendo o movimento da Terra um fato puramente científico, sua constatação não estava ao alcance do vulgo; foi preciso aceitá-lo sobre a fé nos cientistas. Mas o Espiritismo tem, além disso, o poder de ser constatado por todo o mundo, o que explica a sua tão rápida propagação.

Toda descoberta nova de alguma importância tem consequências mais ou menos graves; a do movimento da Terra e da lei de gravitação que rege esse movimento teve resultados incalculáveis. A Ciência viu abrir-se à sua frente um novo campo de exploração e não se poderiam enumerar todas as descobertas, invenções e aplicações que lhes foram a consequência. O progresso da Ciência ensejou o da indústria, e o progresso da indústria mudou a maneira de viver, os hábitos, numa palavra todas as condições de ser da Humanidade. O conhecimento das relações do mundo visível e do mundo invisível tem consequências ainda mais diretas e mais imediatamente práticas, porque está ao alcance de todas as individualidades e a todos interessa. Devendo cada homem necessariamente morrer, ninguém pode ficar indiferente àquilo que acontecerá depois de sua morte. Pela certeza que o Espiritismo dá do futuro, muda a maneira de ver e influi sobre a moralidade.

Sufocando o egoísmo, modificará profundamente as relações sociais de indivíduo a indivíduo e de povo a povo.

Muitos reformadores de pensamentos generosos formularam doutrinas mais ou menos sedutoras; mas, em sua maioria, elas só triunfaram como seitas, temporárias e circunscritas. Foi assim e sempre será assim com as teorias puramente sistemáticas, porque, na Terra, não é dado ao homem conceber alguma coisa completa e perfeita. O Espiritismo, ao contrário, apoiando-se não numa ideia preconcebida, mas sobre fatos patentes, está protegido contra essas flutuações e não poderá senão crescer, à medida que esses fatos forem vulgarizados, mais bem conhecidos e melhor compreendidos. Ora, nenhuma potência humana poderia impedir a vulgarização de fatos que cada um pode constatar; constatados os fatos, ninguém poderá impedir as consequências deles resultantes. Estas consequências são aqui uma revolução completa nas ideias e na maneira de ver as coisas deste mundo e do outro. Antes que o século tenha passado ela será realizada.


3. — Mas, dirão, ao lado dos fatos tendes uma teoria, uma doutrina; quem vos diz que essa teoria não sofrerá variações? que em alguns anos a de hoje será a mesma?

Sem dúvida ela pode sofrer modificações em seus detalhes, em consequência de novas observações; mas, uma vez adquirido, o princípio não pode variar e, menos ainda, ser anulado; eis o essencial. Desde Copérnico e Galileu tem-se calculado melhor o movimento da Terra e dos astros, mas o fato do movimento ficou com o princípio.

Dissemos que o Espiritismo é, antes de tudo, uma ciência de observação; é o que faz sua força contra os ataques de que é objeto e dá aos seus adeptos uma fé inquebrantável. Todos os raciocínios que lhe opõem caem diante dos fatos, e esses raciocínios têm tanto menos valor aos seus olhos quanto mais os sabem interessados. Em vão lhe dizem que isto não é, ou é outra coisa. Respondem: Não podemos negar a evidência. Se apenas existisse uma, poder-se-ia pensar numa ilusão; mas quando milhões de indivíduos veem a mesma coisa, em todos os países, conclui-se logicamente que são os negadores que se iludem.

Se os fatos espíritas não tivessem como resultado senão satisfazer à curiosidade, por certo só causariam uma preocupação momentânea, como tudo o que é inútil; mas as consequências que deles decorrem tocam o coração, tornam felizes, satisfazem as aspirações, preenchem o vazio minado pela dúvida, projetam luz sobre a temível questão do futuro; ainda mais, neles se vê uma causa poderosa de moralização para a sociedade; elas têm, pois, um grande interesse. Ora, não se renuncia facilmente ao que é uma fonte de felicidade. Certamente não é com a perspectiva do nada, nem com a das chamas eternas que afastarão os espíritas de suas crenças.

O Espiritismo não se apartará da verdade e nada terá a temer das opiniões contraditórias, enquanto sua teoria científica e sua doutrina moral forem uma dedução dos fatos escrupulosa e conscienciosamente observados, sem preconceitos nem sistemas preconcebidos. É diante de uma observação mais completa, que todas as teorias prematuras e arriscadas, surgidas na origem dos fenômenos espíritas modernos, caíram e vieram fundir-se na imponente unidade que hoje existe, e contra a qual não se obstinam senão raras individualidades, que diminuem dia a dia. As lacunas que a teoria atual pode ainda conter encher-se-ão da mesma maneira. O Espiritismo está longe de haver dito a última palavra, quanto às suas consequências, mas é inquebrantável em sua base, porque esta base está assentada nos fatos.

Que os espíritas, pois, nada receiem: o futuro lhes pertence; que deixem os adversários se debaterem sob a opressão da verdade, que os ofusca, porque toda denegação é impotente contra a evidência que, inegavelmente, triunfa pela própria força das coisas. É uma questão de tempo, e neste século o tempo marcha a passos de gigante, sob o impulso do progresso.


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