O Moniteur de 6 de agosto estampa o seguinte artigo, que o Siècle reproduziu no dia seguinte:
“Ontem, quinta-feira, às duas horas da tarde, um jovem de apenas dezenove anos, filho de um médico, suicidou-se em seu domicílio, na Rua dos Mártires, † com um tiro de pistola na boca.
“A bala fraturou-lhe a cabeça. A morte, porém, não foi instantânea: conservou a razão por alguns momentos e, às perguntas que lhe eram feitas, respondia que, salvo o desgosto que ia causar ao pai, não sentia nenhum pesar pelo que havia feito. Depois foi tomado de delírio e, a despeito dos cuidados de que o rodearam, morreu na mesma noite, depois de uma agonia de cinco horas.
“Dizem que desde algum tempo esse infeliz rapaz nutria ideias de suicídio, presumindo-se, com ou sem razão, que o estudo do Espiritismo, ao qual se entregara com ardor, não tinha sido estranho à sua fatal resolução.”
Por certo esta notícia fará o seu passeio nos jornais, como outrora a dos quatro supostos loucos de Lyon, † repetida cada vez com o acréscimo de um zero, ntamanha a avidez com que os nossos adversários buscam as ocasiões para criticar o Espiritismo. A verdade não tarda a ser conhecida, mas, que importa! espera-se que de uma pequena calúnia espalhada, sempre reste alguma coisa. Sim, dela algo resta: uma mancha sobre os caluniadores. Quanto à Doutrina, não se nota que tenha sofrido por isto, já que prossegue sua marcha ascendente.
Nossos cumprimentos ao diretor do Avenir, Sr. d’Ambel, por seu empenho em informar-se da verdadeira causa do acontecimento. Eis o que diz ele a respeito, no número de 11 de agosto de 1864:
“Confessamos que a leitura dessa pasquinada mergulhou-nos na mais profunda estupefação. É impossível não protestar contra a leviandade com que o órgão oficial acolheu semelhante acusação. O Espiritismo é completamente estranho ao ato desse moço infeliz. Nós, que somos vizinhos do local do sinistro, sabemos perfeitamente que tal não foi a causa desse espantoso suicídio. É com a maior reserva que devemos indicar a verdadeira causa dessa catástrofe. Mas, enfim, a verdade é a verdade, e nossa doutrina não pode permanecer sob o golpe de tal imputação.
“Desde muito tempo esse jovem, que apresentam como ardoroso estudioso de nossa doutrina, tinha fracassado várias vezes nos exames de proficiência exigidos ao fim do curso secundário. n O estudo lhe era tão antipático quanto a profissão paterna; em breve ele deveria submeter-se a novo exame. Mas foi em consequência de uma viva discussão com o pai que, temendo ser reprovado mais uma vez, tomou e executou a fatal resolução.
“Acrescentamos que se realmente tivesse conhecido o Espiritismo, nossa doutrina o teria detido na queda fatal, ao mostrar-lhe todo o horror que nos inspira o suicídio e todas as consequências terríveis que tal crime arrasta consigo. (Vide O Livro dos Espíritos, pág. 406 e seguintes).”
[1] [No artigo: Pastoral do Sr. bispo de Argel contra o Espiritismo, Kardec escreveu: Um primeiro jornal falou de quatro casos, ao que se dizia, constatados num hospício (Vide: A loucura espírita); outro jornal, citando o primeiro elevou o número para quarenta; um terceiro, citando o segundo, elevou-o para quatrocentos e acrescenta que vão aumentar o hospício.]
[2] N. do T.: Grifos nossos. No original: baccalauréat.