1. — Venho junto a vós para que tenhais a bondade de me recomendar a Deus em vossas preces, porque sofro e desejo que as caridosas almas encarnadas tenham compaixão de um pobre Espírito que pede perdão a Deus. Por muito tempo entreguei-me ao mal; hoje, porém, venho dizer aos Espíritos que o fazem: Cessai, almas impuras, as vossas iniquidades; cessai de ser incrédulas e de levar uma vida errante, tal qual a vossa; cessai de fazer o mal, porque Deus diz aos bons Espíritos: “Ide e purificai essas almas perversas, que jamais conheceram o bem; é preciso que cesse o mal, porque estão próximos os tempos em que a Terra deve ser melhorada. Para que ela seja melhor, é preciso que as almas maculadas, que diariamente vêm povoá-la, se purifiquem, a fim de habitar novamente a Terra, melhores e mais caridosas.”
É o que disse Deus a seus bons Espíritos. E eu, que era um dos mais cruéis na obsessão, hoje venho dizer aos que fazem o que eu fazia: Almas transviadas, segui-me; pedi perdão a Deus e a essas almas puras que vos estendem o braço; implorai, e Deus vos perdoará; mas perdoai também, e arrependei-vos. O perdão é tão doce! Ah! se o conhecêsseis, não demoraríeis um instante em vos retirardes do lodaçal do mal onde vos atolais; voaríeis imediatamente aos braços dos anjos que estão junto de vós. Cessai, cessai, irmãos, arrependei-vos.
Meus amigos, permiti que eu vos dê esse nome, embora não me conheçais. Sou um desses Espíritos que tudo fizeram, exceto o bem; mas a cada pecado, misericórdia; e, já que Deus me concede o perdão e os anjos me chamam de irmão, espero que vós, que praticais a caridade, orareis por mim, pois tenho de passar por provas muito duras; mas elas são merecidas.
P. – Há muito tempo que enveredaste pelo bem?
Resposta. – Não, meus amigos; há pouco tempo, pois sou o Espírito obsessor da menina de Marmande. Sou Jules; venho pedir às almas caridosas que orem por mim e dizer aos meus antigos companheiros: “Parai! Não façais mais mal, porque Deus perdoa aos pecadores arrependidos; arrependei-vos e sereis absolvidos. Venho trazer-vos as palavras de paz; recebei do anjo aqui presente o santo batismo, como eu o recebi.”
Eu vos deixo, caros amigos, recomendando não me esqueçais em vossas boas preces. Adeus.
Jules.
2. — Tendo perguntado ao Espírito se o da Pequena Cárita, sua protetora, o acompanhava, respondeu afirmativamente. Pedimos a esse bom Espírito que dissesse algumas palavras a respeito das obsessões que há tanto tempo combatemos. Eis o que nos disse:
“Meus amigos, as obsessões que atormentam essas pobres almas encarnadas são muito dolorosas, sobretudo para os médiuns, que desejam servir-se de suas faculdades para fazer o bem, e não o podem, porque Espíritos malvados se abateram sobre eles e não lhes dão paz; mas é preciso esperar que essas obsessões cheguem a seu termo. Orai muito, pedi a Deus, a própria bondade, se digne abreviar vossos sofrimentos e vossas provações. Evocai, almas queridas, esses Espíritos transviados; orai por eles; moralizai-os; pedi conselhos aos bons Espíritos. Estais bem acompanhados; não tendes junto a vós diversas dessas almas etéreas, que velam por vós, vos protegem e procuram fazer-vos progredir, a fim de que chegueis perto de Deus? Nisto está a sua tarefa; trabalham incessantemente para vos preparar o caminho, que jamais acaba. Se não estais libertos, meus caros amigos, talvez ainda não estejais bastante purificados para a tarefa que vos impusestes. Escolheste livremente a vossa provação e deveis vos esforçar por levá-la a bom termo, porque os Espíritos vos guiam e vos sustentam para vos ajudar a terminar a vida terrestre santamente, depurando-vos pela expiação do sofrimento e pela caridade.
“Adeus, caros amigos. Deixo-vos, pedindo a Deus por vós e por esses pobres obsedados e lhe peço que sejais sempre protegidos pelos Espíritos purificados do vosso grupo. (Vide a Revista de fevereiro, março e junho de 1864: Cura da jovem obsedada de Marmande).”
Pequena Cárita. n
3. — Eis dois Espíritos que violaram a ordem e transpuseram os Pirineus sem permissão, não levando em conta a pastoral do Monsenhor Pantaleão e, mais ainda, sem terem sido chamados ou evocados. É verdade que a pastoral ainda não tinha aparecido; agora veremos se eles serão menos audaciosos. Poder-se-ia dizer que, se não os chamaram nessa reunião, estavam habituados a fazê-lo em outras e que, encontrando a porta aberta, aproveitaram para entrar; mas não tardará, se é que já não o fizeram, a vê-los se introduzirem, lá como alhures, como em Poitiers, por exemplo, entre pessoas que jamais ouviram falar de Espiritismo e mesmo entre os que, escrupulosos observadores da pastoral, lhes fechem a entrada de suas casas, a despeito dos manda-chuvas.
Já que tais Espíritos se permitiram essa afronta, perguntaremos ao Sr. Bispo o que há de ridículo no fato e onde o cinismo imundo que, em sua opinião, é fruto do Espiritismo: uma jovem de Marmande, que nem ela, nem os pais pensavam nos Espíritos, que, talvez, nem neles acreditassem, é acometida, de um ano para cá, de uma doença terrível, bizarra, ante a qual a Ciência é impotente. Alguns espíritas creem reconhecer a ação de um Espírito mau; tentam sua cura sem medicamentos, pela prece e pela evocação desse mau Espírito. Em cinco dias, não só lhe restabelecem a saúde, mas conduzem o mau Espírito ao bem. Onde está o mal? onde o absurdo? Depois, esse mesmo Espírito vem a Barcelona, sem que o chamem, pedir preces para completar a sua purificação; dá-se como exemplo e exorta seus antigos companheiros a renunciarem ao mal; o bom Espírito que o acompanha prega a moral evangélica. Ainda aí, que há de ridículo e de imundo? O que é ridículo, dizeis, é acreditar na manifestação dos Espíritos. Mas, que são esses dois seres que acabam de comunicar-se? Um efeito da imaginação? Não, pois não pensavam neles, nem no fato de que acabam de falar. Quando tiverdes morrido, monsenhor, vereis as coisas de outro modo e rogaremos a Deus que vos esclareça; como fez com o vosso predecessor, hoje um dos protetores do Espiritismo em Barcelona.
Entre as comunicações por ele dadas à Sociedade Espírita de Paris,
eis a primeira que, não obstante já publicada nesta Revista, será reproduzida
para a edificação dos que não a conhecem. (Vide a Revista de agosto
de 1862: Morte
do Bispo de Barcelona; e, quanto aos detalhes
do auto-de-fé, os números de novembro e dezembro de 1861.)
“Auxiliado pelo vosso chefe espiritual (São Luís) pude vir ensinar-vos com o meu exemplo e vos dizer: Não repilais nenhuma das ideias anunciadas, porque um dia, um dia que durará e pesará como um século, essas ideias amontoadas clamarão como a voz do anjo: Caim, que fizestes de teu irmão? Que fizestes de nosso poder, que devia consolar e elevar a Humanidade? O homem que voluntariamente vive cego e surdo de espírito, como outros o são do corpo, sofrerá, expiará e renascerá para recomeçar o labor intelectual que a sua preguiça e o seu orgulho o levaram a evitar; e essa voz terrível me disse: Queimaste as ideias, e as ideias te queimarão. Orai por mim. Orai, porque é agradável a Deus a prece que lhe é dirigida pelo perseguido em benefício do perseguidor.
“Aquele que foi bispo e que não passa de um penitente.”
Os Espíritos não se detêm em Barcelona; † Madri, † Cadiz, † Sevilha, † Múrcia † e muitas outras cidades recebem suas comunicações, às quais deu o auto-de-fé um novo impulso, aumentando o número de adeptos. Sem ter o dom de profecia, podemos dizer com certeza que, em menos de meio século, toda a Espanha será espírita.
(Múrcia, †
(Espanha), 28 de junho de 1864.)
4. — Pergunta a um Espírito protetor – Poderíeis falar do estado das almas encarnadas em mundos superiores ao nosso?
Resposta – Como ponto de comparação com o vosso, tomo um mundo sensivelmente mais adiantado, onde a crença em Deus, na imortalidade da alma, na sucessão das existências para alcançar a perfeição, são outras tantas verdades reconhecidas e compreendidas por todos, onde a comunicação dos seres corpóreos com o mundo oculto é, por isso mesmo, muito fácil. Ali os seres são menos materiais que em vossa Terra, e não se acham sujeitos a todas as necessidades que vos pesam; formam a transição entre os corpóreos e os incorpóreos. Lá não há barreiras separando os povos, nem guerras; todos vivem em paz, praticando entre si a caridade e a verdadeira fraternidade; as leis humanas ali são inúteis; cada um traz consigo a consciência, que é o seu tribunal. O mal é raro e mesmo esse mal seria quase o bem para vós. Em relação a vós eles seriam perfeitos, mas ainda estão bem longe da perfeição divina; necessitam, ainda, de várias encarnações em diversos orbes, para completarem a purificação. Aquele que na Terra vos parece perfeito seria considerado como um revoltado e um criminoso no mundo de que vos falo. Vossos grandes sábios ali seriam os últimos ignorantes.
Nos mundos superiores as produções da Natureza nada têm de comum com as do vosso globo; tudo ali é apropriado à organização menos material dos habitantes. Não é pelo suor do rosto e pelo trabalho manual que tiram o alimento. O solo produz naturalmente o que lhes é necessário. Contudo não estão inativos, mas suas ocupações são bem diferentes das vossas. Não tendo que prover às necessidades do corpo acodem às do Espírito; compreendendo cada um por que foi criado, estão positivamente seguros de seu futuro e trabalham sem trégua o seu próprio melhoramento e a purificação de sua alma.
Ali a morte é considerada um benefício. O dia em que a alma deixa o seu invólucro é um dia feliz. Sabe-se aonde se vai; passa-se primeiro, para ir mais longe esperar os pais, os amigos e os Espíritos simpáticos, deixados para trás.
Terra de paz, morada feliz, onde as vicissitudes da vida material são desconhecidas, onde a tranquilidade da alma não é perturbada pela ambição, nem pela sede de riquezas, felizes os que te habitam! Eles alcançam o fim que perseguem há tantos séculos; veem, sabem, compreendem; regozijam-se em pensar no futuro que os espera e trabalham com mais ardor para chegar mais prontamente.
Um Espírito Protetor.
5. — Esta comunicação nada oferece que já não tenha sido dito sobre os mundos adiantados; mas não é menos interessante ver a concordância que se estabelece no ensino dos Espíritos nos diversos pontos do globo. Com tais elementos, como não se haveria de dar a unidade da doutrina?
Até agora, estando constituídos os pontos fundamentais da doutrina, os Espíritos têm pouca coisa nova a dizer; não os podem senão repetir em outros termos, desenvolver e comentar os mesmos assuntos, o que estabelece certa uniformidade em seus ensinos. Antes de abordar novas questões, deixam às que estão resolvidas o tempo de se identificarem com o pensamento. Mas, à medida que o momento é propício para dar um passo à frente, vemo-los abordar novos assuntos que, mais cedo, teriam sido prematuros.
[1]
[v. Cárita.]