Em vários jornais franceses e estrangeiros lê-se o artigo seguinte:
“Os espíritas acabam de recrutar novos adeptos na Alemanha. Um certo médico de Zittau, † chamado Berthelen, autor de um opúsculo sobre as mesas girantes, organizou uma sociedade que se intitula: Associação dos pesquisadores de tesouros, e que tem por objetivo explorar o solo das localidades passíveis de conter tesouros enterrados. As operações da empresa são conduzidas por uma sonâmbula das mais lúcidas, Sra. Louise Ebermann, e começaram por escavações cotidianas, executadas em hora fixa, em meio a uma plantação de fumo, onde se acharia oculta a soma de 400.000 táleres (1.500.000 francos). A sociedade conta apenas sete ou oito membros participantes dos trabalhos e, até o momento, suas operações se limitam a fazer preces em comum e a revolver, com certo cerimonial, a terra retirada do solo, onde esperam descobrir o bendito tesouro.”
É realmente curioso ver o empenho de certos jornais em reproduzir tudo quanto, em sua opinião, possa lançar descrédito sobre o Espiritismo. O menor acontecimento infeliz ou ridículo, e ao qual, com ou seu razão, se acha associada a palavra espírita, é imediatamente repetida por toda parte, com variantes mais ou menos engenhosas, sem preocupação com a verdade. Até as pasquinadas mais inverossímeis são aceitas com uma seriedade verdadeiramente cômica. Com a aparição dos espectros nos teatros, todos repetem sem trégua que o Espiritismo foi a pique [Vide Aparições simuladas no teatro], e que os seus maiores truques foram, enfim, descobertos; é só um charlatão, um saltimbanco ou um ledor de buena-dicha julgarem por bem enfarpelar-se com o nome de espíritas e logo os adversários os assinalam como um dos representantes da doutrina. Que resultou de tudo isto? Repercussão do nome; daí o desejo de conhecer a coisa; ridículo para os gracejadores, que falam levianamente do que não sabem; ódio caído sobre os caluniadores e, em consequência, aumento do número de adeptos sérios, os únicos que contam entre os espíritas.
O artigo acima pertence à categoria de que acabamos de falar. O autor a si mesmo se desmente, dizendo que as pesquisas são feitas com o auxílio de uma sonâmbula das mais lúcidas; não é, pois, com o auxílio dos Espíritos. Em que se baseia para dizer que é uma associação de espíritas? Porque o fundador da sociedade escreveu um opúsculo sobre as mesas girantes, segue-se que seja espírita? De modo algum, porquanto, à época das mesas girantes ainda se estava no á-bê-cê da ciência; e, aliás, se ele conhecesse o Espiritismo, saberia que os Espíritos não podem favorecer nenhuma pesquisa de tal natureza.
Desde que se conhece o sonambulismo as criaturas o têm empregado na descoberta de tesouros, mas, até agora, ninguém conseguiu senão gastar dinheiro em escavações inúteis, como outrora os que procuravam a pedra filosofal. Predizemos a mesma sorte à nova empresa. Quando se soube que os Espíritos podiam comunicar-se, um primeiro pensamento, aliás muito natural, foi o de que eles pudessem servir utilmente às especulações de toda natureza; mas não tardou a se reconhecer que, neste ponto, só se obtinham mistificações. Para isto havia uma causa: foram os próprios Espíritos que a indicaram. Assim, não há hoje um só espírita esclarecido que perca seu tempo em perseguir tais quimeras, porque todos sabem que Deus não dá aos homens semelhante meio de enriquecer e, por esta razão, não permite aos Espíritos revelações deste gênero.
É, pois, abusivamente, que o autor do artigo colocou a associação alemã dos pesquisadores de ouro sob o patrocínio do Espiritismo. Não é entre os que só veem nos Espíritos servos da ambição, da cupidez e dos interesses materiais que a doutrina recruta seus adeptos, mas entre os que a consideram como uma causa de melhoramento moral.
Para mais ampla instrução a respeito, remetemos o leitor a O Livro dos Médiuns, capítulo XXVI, Das perguntas que se podem fazer aos Espíritos; nº 291, Perguntas sobre os interesses morais e materiais; nº 294, Perguntas sobre as invenções e descobertas; nº 295, Perguntas sobre tesouros ocultos. [Vide também: Como e porque me tornei espírita? pelo Sr. Borreau.]