O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão.
Doutrina espírita - 1ª parte.

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Revista espírita — Ano VII — Dezembro de 1864.

(Idioma francês)

NOTAS BIBLIOGRÁFICAS.


Como e por que me tornei espírita.

Por J.-B. Borreau, de Niort. n
(Sumário)

O autor conta como foi levado a crer na existência dos Espíritos, em suas manifestações e em sua intervenção nas coisas deste mundo, e isto muito tempo antes que se cogitasse do Espiritismo. Foi conduzido por uma série de acontecimentos, quando de maneira alguma pensava neles. Nas experiências que fazia com objetivo muito diverso, o mundo dos Espíritos se lhe apresentou pelo seu lado pior, é verdade, mas, enfim, apresentou-se como parte ativa. O Sr. Borreau o encontrou sem querer, absolutamente como os que, buscando a pedra filosofal, encontraram no fundo de suas retortas novos corpos que não procuravam, e que enriqueceram a Ciência, se não se enriqueceram eles próprios.

O relato detalhado e circunstanciado do Sr. Borreau é, ao mesmo tempo interessante, porque verdadeiro, e muito instrutivo pelos ensinamentos que ressaltam para quem quer que, não se detendo na superfície das coisas, busque as deduções e as consequências que podem ser tiradas dos fatos.

O Sr. Borreau é um grande magnetizador. Por si mesmo tinha constatado a força do agente magnético e a espantosa lucidez de certos sonâmbulos, que veem a distância com tanta precisão quanto com os olhos, e cuja visão não é detida nem pela obscuridade, nem pelos corpos opacos. Para ele tais fenômenos tinham sido a prova palpável da existência, no homem, de um princípio inteligente independente da matéria. Seu desejo ardente era propagar esta Ciência nova; mas, desesperançado de vencer a incredulidade, teve a ideia de ferir as imaginações por um fato retumbante, ante o qual poderiam cair todas as denegações e as mais obstinadas dúvidas.

Diz ele: desde que a visão dos sonâmbulos tudo penetra, pode penetrar as camadas terrestres. A descoberta ostensiva de algum tesouro enterrado seria um fato patente, que não deixaria de fazer muito ruído e imporia silêncio aos zombadores, porque não se zomba diante de tesouros.

É a história de suas tentativas que os R. Borreau conta na sua brochura, tentativas penosas, perigosas, que muitas vezes lhe fizeram crer na vitória e que, após vinte anos, só levaram a decepções e mistificações. Um dos episódios mais comoventes é o da cena terrível que ocorreu, quando, fazendo escavações num campo da Vandeia, numa noite escura, ao pé de pedras druídicas, e em meio a sombrias giestas, no momento em que julgava tocar o objetivo, a sonâmbula, no paroxismo do êxtase e da superexcitação, caiu inanimada, como que fulminada por um raio, não dando mais sinal de vida e apresentando rigidez cadavérica. Julgaram-na morta e tiveram de a transportar, com muitas dificuldades, através de ravinas e rochas, numa noite escura. Só depois de várias léguas daí é que ela começou a voltar a si, sem ter consciência do que se havia passado. Este insucesso não desencorajou o perseverante pesquisador, a despeito de uma porção de outros incidentes, não menos dramáticos, que muitas vezes surgiam de permeio, como que para adverti-lo da inutilidade e do perigo de suas tentativas. [Sobre esse assunto, vide o artigo: Don Peyra, prior de Amilly.]

Foi, entretanto, no curso de suas experiências que a existência dos Espíritos lhe foi revelada de maneira patente, quer pela sonâmbula, que os via e se entretinha com eles, quer por mais de cinquenta casos de escrita direta, cuja origem não podia ser duvidosa. Esses Espíritos tanto se apresentavam sob aspectos pavorosos e provocavam na sonâmbula crises terríveis, que toda a força magnética do Sr. Borreau não conseguia acalmar, tanto sob a aparência de Espíritos benevolentes, que vinham encorajá-lo a continuar suas pesquisas, sempre prometendo sucesso, mas cujo termo sempre afastavam. Persistir em tais condições, devemos dize-lo, era um jogo muito perigoso e incorrer em grave responsabilidade. Acrescentemos que os Espíritos prescreviam grande quantidade de novenas, das quais o Sr. Borreau acabou por se cansar, achando que ficava muito caro, o que o levou a esta reflexão: as preces ditas por ele próprio podiam ter toda a eficácia e nada custariam.

Foi durante o curso de suas experiências que a existência dos Espíritos lhe foi revelada de maneira patente, quer pela sonâmbula, que os via e conversava com eles, quer por mais de cinquenta casos de escrita direta, cuja origem não podia ser posta em dúvida. Esses Espíritos se apresentavam ora sob aspectos pavorosos, provocando na sonâmbula crises terríveis, que a força magnética do Sr. Borreau não conseguia acalmar, ora sob a aparência de Espíritos benevolentes que vinham encorajá-lo a continuar suas pesquisas, sempre prometendo sucesso, mas cujo termo sempre retardavam. Persistir em tais condições, devemos dizê-lo, era representar um jogo muito perigoso e incorrer em grave responsabilidade. Acrescentemos que os Espíritos prescreviam muitas novenas, das quais o Sr. Borreau acabou por se cansar, achando que ficava muito caro, o que o levou a esta reflexão: as preces ditas por ele mesmo podiam ser igualmente eficazes e nada custariam.

Hoje, que o Espiritismo veio esclarecer todas essas questões, cada um dos parágrafos da brochura poderia dar lugar a um comentário instrutivo, mas dois números inteiros de nossa Revista não seriam suficientes. Talvez um dia empreendamos esse trabalho. Enquanto isto, qualquer pessoa versada no conhecimento dos princípios do Espiritismo poderá tirar suas próprias conclusões. Para tanto, remetemos o leitor ao capítulo XXVI de O Livro dos Médiuns e, notadamente, aos §§ 294 e 295, bem como às reflexões que acompanham o artigo sobre a sociedade alemã dos pesquisadores de tesouros, publicada na Revista de outubro de 1864.

Diz o Sr. Borreau que o seu único objetivo era vencer a incredulidade a respeito do magnetismo. Contudo, embora não tenha tido sucesso, o magnetismo e o sonambulismo não deixaram de fazer o seu caminho. A despeito da oposição sistemática de alguns cientistas, os fenômenos dessa ordem hoje passaram ao estado de fatos e são aceitos pela massa e por grande número de médicos; as curas magnéticas são admitidas até no mundo oficial; algumas pessoas, por espírito de oposição, ainda os contestam, mas já não riem, tanto é certo que o que é verdade mais cedo ou mais tarde deve triunfar.

O êxito das tentativas do Sr. Borreau não era, pois, necessário. Ele não atingiu o objetivo a que se propunha, porque um fato isolado não pode fazer lei, e aos incrédulos não teriam faltado razões para o atribuir a qualquer outra causa que não a verdadeira. Dizemos mais: o êxito teria sido deplorável para o magnetismo.

Um princípio novo só se torna aceito pela multiplicidade dos fatos. Ora, a possibilidade para alguém descobrir um tesouro implicaria tal possibilidade para todo o mundo. Para melhor se convencer, cada um teria querido experimentar. Nada mais natural, pois teriam podido enriquecer tão fácil e tão prontamente! Os preguiçosos aí teriam achado o seu salário e os ladrões também, já que a lucidez não se deteria ante o direito de propriedade. A cupidez, já chegada ao estado de flagelo, não precisava desse novo estimulante. A Providência não o quis; mas como o magnetismo é uma lei da Natureza, triunfou pela força das coisas. Sua propagação se deve, sobretudo, à sua força curativa, o que denota um fim humanitário, e não egoísta, como o é necessariamente o atrativo do ganho. Os inúmeros fatos de cura, que se repetem em todos os pontos do globo, fizeram mais para acreditá-lo do que o teria feito a descoberta do maior tesouro, ou mesmo as mais curiosas experiências, já que todo o mundo pode aproveitar os seus benefícios, ao passo que não há tesouros para todos e a própria curiosidade se cansa. Jesus fez mais prosélitos curando doentes do que pelo milagre das bodas de Caná. Dá-se o mesmo com o Espiritismo: aqueles que ele traz a si pela consolação estão para os que recruta pela curiosidade na proporção de 100 para 1.

Essas tentativas, embora infrutíferas do ponto de vista material, deixaram de ter proveito para o Sr. Borreau? Eis o que ele mesmo diz a respeito:

“Todas essas reflexões de tal modo haviam ensombrado o meu Espírito, habitualmente tão alegre, que me tornei, durante o resto da viagem, triste, pensativo e injusto, a ponto de lamentar ter dado guarida, no pensamento, a essa ideia fixa que me tinha lançado em todas as tribulações desses caminhos desconhecidos. Que ganhei com isto? perguntava-me com amargura. O conhecimento, é verdade, de um mundo que ignorava e a possibilidade de me pôr em contato com os seres que o compõem. Mas, depois de tudo, esse mundo, assim como o nosso, deve ter seus bons e seus maus Espíritos. Quem me dá a certeza de que, malgrado o interesse que parece nos trazer, e todas as suas belas e benevolentes palavras, aquele que parece ter-se imposto a nós só tenha boas intenções e o poder, como o diz, de nos conduzir ao brilhante êxito que sonhei e que, talvez, não me tenha inspirado senão para me seduzir e me induzir em erro?”

Então nada representa a constatação do mundo invisível, a coisa que interessa no mais alto grau o futuro da Humanidade inteira, pois toda ela deve chegar aí? Não é um imenso resultado a descoberta dessa pedra angular de todos os problemas, contra os quais a filosofia se tem chocado até hoje? Não é um insigne favor ter sido um dos primeiros chamados a esse conhecimento? Não é um grande serviço prestado à causa do magnetismo, involuntariamente é verdade, ter fornecido à sua custa uma nova prova, entre mil outras, da impossibilidade de ter êxito em semelhantes casos e de desviar os que fossem tentados a fazer tais ensaios e alimentar esperanças quiméricas? Foi a esse resultado que chegaram as laboriosas pesquisas do Sr. Borreau; se não encontrou um tesouro para esta vida, encontrou outro mil vezes mais precioso para a outra, porquanto, o que tivesse encontrado na Terra, forçosamente o deixaria, quando dela partisse, ao passo que levará consigo um tesouro imperecível. Está satisfeito com isto? Nós o ignoramos.

Seja como for, não podemos deixar de estabelecer um paralelo entre este fato e o velho da fábula, que disse aos seus três filhos que havia um tesouro oculto no campo que lhes deixava de herança. Então dois deles se puseram a cavar, cada um sua porção; mas nada de tesouro. O terceiro, mais sábio, lavrou a sua com cuidado, tão bem que ao cabo de um ano ela lhe rendeu muito. Daí a máxima: “Trabalhai, envidai esforços; o essencial é o que menos falta.” O Espírito fez como o velho e, em nossa opinião, o Sr. Borreau encontrou o verdadeiro tesouro.

Nossa crítica em nada atinge a pessoa do Sr. Borreau, que conhecemos de longa data, e temos como digno de estima em todos os sentidos. Simplesmente quisemos mostrar a moralidade que ressalta de suas experiências, em proveito da Ciência e de cada um em particular. Desse ponto de vista, sua brochura é eminentemente instrutiva e, ao mesmo tempo, interessante, pelos notáveis fenômenos que constata. Daí por que a recomendamos aos nossos leitores.



[1] Brochura in-8º Preço: 2 fr. – Niort: todas as livrarias; Paris: Didier & Cie, 35, quai des Augustins;  †  Ledoyen, Palais-Royal.  †  [Comment et pourquoi je suis devenu spirite, par J.-B. Borreau…  — Google Books.]


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