O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão.
Doutrina espírita - 1ª parte.

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Revista espírita — Ano VI — Agosto de 1863.

(Idioma francês)

DISSERTAÇÕES ESPÍRITAS.


O Espírito de Jean Reynaud.

(Sociedade Espírita de Paris.  †  – Médium: Sra. Costel.)

(Sumário)


1. — Meus amigos, como esta nova vida é magnífica! Semelhante a uma torrente luminosa, arrasta no seu curso imenso as almas sequiosas do infinito! Após a ruptura dos laços carnais, meus olhos abarcaram os novos horizontes que me cercam e pude fruir das esplêndidas maravilhas do infinito. Passei das sombras da matéria à aurora deslumbrante que anuncia o Todo-Poderoso. Estou salvo, não pelo mérito de minhas obras, mas pelo conhecimento do princípio eterno, que me fez evitar as máculas impressas pela ignorância na própria Humanidade. Minha morte foi abençoada; meus biógrafos a julgaram prematura. Ah! os cegos! Lamentarão alguns escritos nascidos da poeira e não compreenderão o quanto é útil, para a santa causa do Espiritismo, o pouco ruído que se faz em torno de meu túmulo semifechado. Minha obra estava terminada; meus antecessores abriram o caminho; eu havia alcançado este ponto culminante em que o homem deu o que tinha de melhor e onde não faz mais que recomeçar. Minha morte desperta a atenção dos letrados sobre a minha obra capital, que interessa à grande questão espírita, que eles fingem desconhecer e que em breve os enleará. Glória a Deus! Ajudado pelos Espíritos superiores, que protegem a nova doutrina, serei um dos batedores que assinalam a vossa estrada. [v. Jean Reynaud e os precursores do Espiritismo.]


(Numa reunião familiar. – Médium: Sr. Charles V…)

2. — O Espírito responde a esta reflexão: Vossa morte inesperada, em idade tão pouco avançada, surpreendeu a muita gente.


“Quem me diz que minha morte não foi um benefício para o Espiritismo, para o seu futuro, para as suas consequências? Notastes, meu amigo, a marcha que segue o progresso, o caminho que toma a fé espírita? Deus, primeiramente, deu provas materiais: dança das mesas, batidas e toda sorte de fenômenos; era para chamar a atenção; era um preâmbulo divertido. Para crer, os homens necessitam de provas palpáveis. Agora a coisa é completamente diferente. Após os fatos materiais, Deus fala à inteligência, ao bom-senso, à razão fria; já não se trata de manifestações de força, mas de coisas racionais, que devem convencer e até congraçar os incrédulos mais obstinados. E isto é apenas o começo. Notai bem o que vos digo: toda uma série de fatos inteligentes, irrefutáveis, vão seguir-se, e o número dos adeptos da fé espírita, já tão grande, vai aumentar ainda mais. Deus vai conquistar as inteligências de escol, as sumidades do espírito, do talento e do saber. Será um raio luminoso a espalhar-se por toda a Terra, como um fluido magnético irresistível, impelindo os mais recalcitrantes à busca do infinito, ao estudo dessa admirável ciência, que nos ensina máximas tão sublimes. Todos vão agrupar-se em torno de vós e, abstração feita do diploma de gênio que lhes havia sido dado, vão fazer-se humildes e pequenos, para que aprendam e se convençam. Depois, mais tarde, quando estiverem bem instruídos e bem convencidos, servir-se-ão de sua autoridade e da notoriedade de seus nomes para impelir ainda mais longe e atingir os últimos limites da meta a que todos vos propusestes: a regeneração da espécie humana pelo conhecimento raciocinado e aprofundado das existências passadas e futuras. Eis a minha sincera opinião sobre o estado atual do Espiritismo.”


Jean Reynaud. n


(Bordeaux.  †  – Médium: Sra. C…)

3. — Rendo-me com prazer ao vosso apelo, senhora. Sim, tendes razão: a bem dizer, a confusão espírita não existiu para mim (isto respondia ao pensamento da médium). Exilado voluntariamente em vossa Terra, onde deveria lançar a primeira semente séria das grandes verdades que, atualmente, envolvem o mundo, sempre tive consciência da pátria e logo me reconheci em meio aos meus irmãos.


1. P. – Agradeço-vos por terdes vindo. Mas não acreditava que meu desejo de conversar tivesse influência sobre vós. Deve haver, necessariamente, tão grande diferença entre nós, que só penso nisto com respeito.

Resposta. – Obrigado, minha filha, por este bom pensamento. Mas, deveis saber também, seja qual for a distância que entre nós se possa estabelecer quanto às provas acabadas, mais ou menos prontamente, mais ou menos felizmente, há sempre um laço poderoso a nos unir: a simpatia; e este laço vós o apertastes pelo vosso pensamento constante.


2. P. – Apesar de muitos Espíritos terem explicado suas primeiras sensações ao despertar, teríeis a bondade de me dizer o que experimentastes ao vos reconhecer, e como se operou a separação entre o Espírito e o corpo?

Resposta. – Como para todos. Senti o momento da separação aproximar-se; contudo, mais feliz que muitos, não me causou angústia, posto que lhe conhecia os resultados, embora fossem ainda maiores do que eu pensava. O corpo é um entrave às faculdades espirituais e, sejam quais forem as luzes que se tenha conservado, são sempre mais ou menos abafadas pelo contato da matéria. Adormeci esperando um despertar feliz; o sono foi curto, a admiração imensa! Desdobrados aos meus olhos, os esplendores celestes brilhavam com toda a sua magnificência. Meu olhar maravilhado mergulhava nas imensidades desses mundos, cuja existência e habitabilidade eu afirmara. Era uma miragem que me confirmava a verdade de meus sentimentos. Por mais seguro que se julgue o homem ao falar, às vezes tem no fundo do coração momentos de dúvida, de incerteza; desconfia, se não da verdade que proclama, pelo menos dos meios imperfeitos que emprega para a demonstrar. Convencido da verdade que queria que admitissem, muitas vezes tive de combater contra mim mesmo, contra o desânimo de ver, de tocar, por assim dizer, a verdade, e de não poder torná-la palpável aos que teriam tanta necessidade de nela crer para marchar com segurança na estrada que devem seguir.


3. P. – Em vida professáveis o Espiritismo?

Resposta. – Entre professar e praticar há uma grande diferença. Muita gente professa uma doutrina que não pratica; eu praticava e não professava. Assim como todo homem que segue as leis do Cristo é cristão, ainda que não as conhecesse, também todo homem pode ser espírita, contanto que creia em sua alma imortal, em suas preexistências, em sua marcha progressiva incessante, em suas provas terrestres e nas abluções necessárias para se purificar. Eu acreditava nisto; era, pois, espírita. Compreendi a erraticidade, este laço intermediário entre as encarnações, esse purgatório onde o Espírito culpado se despoja de suas vestes sujas para se revestir de uma outra, em que o Espírito em progresso tece com cuidado a túnica que vai usar novamente e que deseja conservar pura. Como vos disse, compreendi e, sem professar, continuei a praticar.


Observação. – Estas três comunicações foram obtidas por três médiuns diferentes, completamente estranhos entre si. Não temos nenhuma prova material da identidade do Espírito que se manifestou, mas, pela analogia dos pensamentos, pela forma da linguagem, podemos admitir, ao menos, a presunção de identidade. A expressão tece com cuidado a túnica que vai usar novamente é uma encantadora figura que pinta a solicitude com a qual o Espírito em progresso prepara a nova existência que o deve fazer progredir mais. Os Espíritos atrasados são menos cautelosos e, por vezes, fazem escolhas infelizes que os forçam a recomeçar.



[1] [v. Jean Reynaud.]


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