O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão.
Doutrina espírita - 1ª parte.

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Revista espírita — Ano V — Setembro de 1862.

(Idioma francês)

POESIAS ESPÍRITAS.


Peregrinações da alma.

À maneira do sangue, em gotas pequeninas

Que sai do coração por nossas veias finas,

Nossa vida a emanar da luz da Divindade

Gravita ao infinito em busca à Eternidade


Nosso globo é local de prova e sofrimento;

É aí que estão o choro, os rangeres de dentes;

O inferno está aí, sim, e dele o livramento

Está na proporção dos males precedentes.


É assim que cada ser que deixa um mundo umbroso,

Mais ou menos se eleva a um outro mais etéreo.

Conforme puro então ou menos maculoso,

Seu ser se desenvolva ou ache outro critério. n


Dos eleitos ninguém pode ao posto chegar

Sem que tenha expiado enfim seus malefícios,

Se com remorso, prece e constante pesar,

Seus males não cobrir um véu de benefícios.


O Espírito imperfeito ou alma em punição

Vem tomar novo corpo, aqui, para sofrer,

Renascer em família a cujo exemplo então

Depurar-se no bem, e de novo morrer.


Sua santa missão uma vez terminada,

Logo Deus o transporta a celeste esplendor,

E, progressivamente, é sua alma elevada

Ao infinito lar do oceano do amor.


Se em nossa marcha ocorre o término da prova,

Elevados com amor às santas regiões,

Iremos com triunfo, em harmonia nova,

Dos eleitos fazer crescer as legiões.


Para maior ventura e cúmulo de graça,

Aos que caros nos são Deus, lá, nos reunirá;

E unidos na afeição que santifica e enlaça,

No seu tão puro céu nos abençoará.


No bem, no belo, o modo enfim de ser mudando,

Alçar-nos-emos nós à sagrada cidade,

Onde veremos mais bem-estar alcançando,

Um tesouro sem fim de alta felicidade.


Desses mundos de luz galgando a escada imensa,

Mais depurados sempre e transpondo os confins,

Iremos terminar no ponto de nascença,

A renascer do amor radiosos serafins.


E de uma nova raça os primeiros seremos,

Os anjos guardiães dos homens que hão de vir,

Mensageiros de Deus dos ensinos que iremos

Enriquecer então os mundos do porvir.


De Deus tal é, eu creio, o seu real querer,

No imenso caminhar de nossa Humanidade,

Curvemo-nos, irmãos, sua ordem é poder;

Cantemos: “Glória a Deus por toda a Eternidade!”,


B. Joly, ervanário de Lyon.  † 


Observação. – Procurando bem, os críticos meticulosos talvez possam encontrar alguns defeitos nesses versos. Deixamos-lhes o encargo e consideramos apenas a ideia, cuja justeza, do ponto de vista espírita, ninguém pode ignorar. É bem a alma em suas peregrinações para chegar, pelo trabalho depurador, à felicidade infinita. Um verso, entretanto, parece dominar esse fragmento, aliás muito ortodoxo e não o poderíamos admitir; é o que está expresso na quadra da epígrafe: “Gravita ao infinito em busca à eternidade” Se por isto entende o autor que a alma sobe incessantemente, resulta que jamais chegaria à felicidade perfeita. Diz a razão que a alma, sendo um ser finito, sua ascensão para o bem absoluto deve ter um limite; que, chegada a um certo ponto, não ficará em perpétua contemplação, aliás, pouco atraente e que seria uma perpétua inutilidade, mas terá uma atividade incessante e bem-aventurada, como auxiliar da Divindade.



[1] Errata:  Nº 9, setembro de 1862, Peregrinações da alma, no quarto verso da segunda quadra:

Son être se dégage ou se trouve attiré.

lede: atterré.

A quadra a seguir foi omitida após a quarta:


No tempo certo Deus permite que almas puras

Encarnem entre nós só por dedicação;

Pois são ministros Seus, trazendo-nos venturas,

Que a lei do amor pregar é deles a missão.


Esta omissão, ocorrida durante a impressão, tira o sentido da estrofe seguinte, que começa por: “Sua santa missão”, etc., e que se torna a sexta. [Obs: Na Revista impressa essa Errata foi publicada no último artigo do mês de novembro, transferimo-la para cá para que o leitor possa usufruir a estrofe que faltou.]


Allan Kardec.


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