Um burro, sim, – não confundir,
Eu nunca digo mal de alguém de qualidade, –
Um Asno bem peludo, um burro de verdade, Bem arreiado, é bom convir
Ralhava na estação com uma locomotiva.
O seu olhar brilhava a uma palavra viva.
“És tu, gritava então, tu que estás em repouso!
“Do carneiro vizinho ouvi atencioso,
“Que andas tu sem cavalo, ou asno, sem manobra;
“Que ruges a arrastar qual uma imensa cobra
“Esses caixotes, como aldeia de madeira;
“Um milagre que outrora eu crera, uma besteira!
“Chegados finalmente os tempos são! sem troça!
“Eu por trigo não tomo a alfafa de uma roça;
“Sei o cardo deixar por feixe de capim.
“Ninguém tão longe vai com os pés de ferro assim.
“Eu tenho a minha regra; e na razão confio.
“Sem cavalos marchar? Só tu? Eu desafio.”
Um asno, vede vós, invocava a razão,
Chama que, muita vez, ao néscio faz perder.
Ah! quantos sábios que como um jerico são!
Doutores, vós negais do Espírito o poder;
Negai o movimento, a força do motor.
Do nada o homem tirou a elétrica energia?
Toda locomotiva exige, enfim, vapor;
Aos mortos evocar… só à prece que irradia De um coração pleno de amor. |