Um pobre ouriço ao ser posto fora da toca,
Rolava pelo campo em meio aos espinheiros,
De algum petiz aos golpes mais certeiros,
Que em sangue o abandona e quase que o sufoca.
Ele eriça, tremendo, a armadura espinhenta,
Espicha-se, lançando em volta oculto olhar,
E sem perigo já, lamenta
Numa voz débil, a chorar:
Para onde vou?… Fugir?… Voltar ao velho abrigo
Acima está do meu querer.
Já nem posso prever qual o perigo
Pior que me ameaça… É forçoso morrer?…
Preciso de um refúgio e um pouco de repouso
Para sarar minhas feridas;
Mas, aonde achar quaisquer guaridas?
Quem de meus males é piedoso?
Num coelho que habitava entre lascas de rocha
E para quem a caridade,
Não sendo um termo vão, sensível desabrocha
E lhe diz – Meu amigo, aceitai a metade
De meu modesto abrigo; estou bem nesse asilo,
Nele estareis seguro; é difícil, já vi,
De achar o vosso rastro, com maldade.
Podeis aqui estar tranquilo:
Atenção junto a mim sempre tereis, ali.
Ante essa oferta tão graciosa,
O ouriço segue a passo lento,
Quando uma pega obsequiosa,
Faz um sinal ao coelho: – Esperai um momento,
Eu peço… uma palavra… é um breve caso…
E depois ao ouriço: – É um pequeno segredo…
Perdoai-me, quando nada pelo atraso!
E o bom coelho, todo quedo,
- As orelhas a erguer pede a ela fale baixo.
Como! Levardes vós a casa uma tal gente!…
Sede prudente mais no trato com os de baixo!
Nunca eu faria tal tolice tão patente!
Eu… Mas não receais de vos arrepender?
Uma vez com saúde e forças redobradas,
Quem sabe sejais vós o primeiro a sofrer
Com o seu mau coração e as farpas aceradas;
E a que meios, então, tereis a recorrer?
O coelho respondeu: – Nenhuma inquietação
Não nos deve afastar de impulsos benfeitores;
Vale bem mais expor-se a uma ingratidão,
Do que faltar aos sofredores!
C. Dombre. |