O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão.
Doutrina espírita - 1ª parte.

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Revista espírita — Ano IV — Novembro de 1861.

(Idioma francês)

Opinião de um jornalista

sobre O Livro dos Espíritos.

Como se sabe, a imprensa não morre de amores por nós, o que não impede o Espiritismo de avançar rapidamente, prova evidente de que é bastante forte para marchar sozinho. Se a imprensa é muda ou hostil, seria erro acreditarmos tenha ele contra si todos os seus representantes. Muitos, ao contrário, são-lhes muito simpáticos, mas tolhidos por considerações pessoais, porque todos querem dar o exemplo. Neste tempo a opinião pública se pronuncia cada vez mais. A ideia se generaliza e, quando tiver invadido as massas, a imprensa progressista será mesmo forçada a segui-la, sob pena de ficar com os que jamais avançam. Fá-lo-á sobretudo quando compreender que o Espiritismo é o mais poderoso elemento de propagação para todas as ideias grandiosas, generosas e humanitárias, que não cessa de pregar; sem dúvida suas palavras não ficam perdidas; mas quantos golpes de picareta não devem ser dados na rocha dos preconceitos antes de a encetar! O Espiritismo lhes abre um terreno fecundo e aplana as últimas barreiras que lhe detinham a marcha. Eis o que compreenderão os que se derem ao trabalho de o estudar a fundo, medir-lhe o alcance e ver suas consequências, que já se manifestam por resultados positivos; mas para isto precisamos de observadores sérios e não superficiais, homens que não escrevam por escrever, mas que façam de seus princípios uma religião. Eles serão encontrados, não duvidemos disso; e, mais cedo do que se pensa, ver-se-á à cabeça da propagação das ideias espíritas alguns desses nomes que, por si sós, são autoridades e cuja memória o futuro guardará, como havendo concorrido para a verdadeira emancipação da Humanidade.

O artigo a seguir, publicado pelo Akhbar, jornal de Argel,  †  de 15 de outubro de 1861 é, nesse sentido, um primeiro passo, que por certo terá imitadores. Sob o modesto pseudônimo de Ariel, nossos leitores talvez reconheçam a pena exercitada de um dos nossos eminentes jornalistas.

“A imprensa da Europa tem se ocupado bastante com esta obra. Depois de a ter lido, compreende-se o porquê, seja qual for a opinião que se tenha da colaboração das inteligências ultramundanas, que o autor diz ter obtido. Com efeito, suprimindo algumas páginas de introdução que expõem as vias e os meios da dita colaboração — a parte contestável para os profanos — resta um livro de alta filosofia, de uma moral eminentemente pura e, principalmente, de um efeito muito consolador para a alma humana, assediada entre os sofrimentos do presente e o medo do futuro. Assim, mais de um leitor deve ter dito a si mesmo, ao chegar à ultima página: Não sei se tudo isto é verdade, mas bem que gostaria que fosse!

“Quem não ouviu falar, desde alguns anos, das estranhas comunicações de que certos privilegiados eram intérpretes entre o nosso mundo material e o mundo invisível? Cada um tomou partido na questão e, como sói acontecer habitualmente, a maioria dos que se colocaram sob a bandeira dos crentes, ou que se entrincheiraram no campo dos incrédulos, não se deu ao trabalho de verificar os fatos, cuja realidade era admitida por uns e negada por outros.

“Mas estes não são assuntos para serem discutidos num jornal da natureza do nosso. Assim, sem contestar nem atestar a autenticidade das assinaturas póstumas de Platão, Sócrates, Santo Agostinho, Júlio César, Carlos Magno, São Luís, Napoleão, etc., que se acham na parte inferior de vários parágrafos do livro do Sr. Allan Kardec, concluímos que se esses grandes homens voltassem ao mundo para nos dar explicações sobre os problemas mais interessantes da Humanidade, não se exprimiriam com mais lucidez, com um senso moral mais profundo, mais delicado, com maior elevação de vistas e de linguagem do que o fazem na excêntrica obra, da qual tentaremos dar uma ideia. São coisas que não se leem sem emoção e não são daquelas que logo se esquece depois de as haver lido. Neste sentido, O Livro dos Espíritos não passará, como tantos outros, em meio à indiferença do século: terá ardentes detratores, zombadores impiedosos, mas não nos surpreenderíamos se, em compensação, também tivesse partidários sinceros e entusiastas.

“Não podendo, em consciência, por falta de uma verificação prévia, colocar-nos entre uns e outros, ficamos no humilde ofício de relator e dizemos: Lede esta obra, pois ela sai completamente dos atalhos repisados da banalidade contemporânea. Se não estiverdes seduzido, subjugado, talvez vos irriteis, mas, com toda a certeza, nem ficareis frio nem indiferente.

“Recomendamos, sobretudo, a passagem relativa à morte. Eis um tema sobre o qual ninguém gosta de fixar a atenção, mesmo aquele que se julga espírito forte e intrépido. Pois bem! depois de ter lido e meditado, a gente se sente muito admirada por não mais encontrar essa crise suprema tão aterradora; sobre o assunto, chega-se ao ponto mais desejável, aquele em que não tememos nem desejamos a morte. Outros problemas de não menor importância têm soluções igualmente consoladoras e inesperadas. Em suma, o tempo que se consagra à leitura desse livro será bem empregado para a curiosidade intelectual e não será perdido para o melhoramento moral.”


Ariel.


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