O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão.
Doutrina espírita - 1ª parte.

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Revista espírita — Ano IV — Março de 1861.

(Idioma francês)

ENSINOS E DISSERTAÇÕES ESPÍRITAS.


A lei de Moisés e a lei do Cristo.

(Comunicação obtida pelo Sr. R…, de Mulhouse.)

(Sumário)


1. — Um de nossos assinantes de Mulhouse  †  nos envia a carta e a comunicação seguintes:


“…Aproveito a ocasião que se apresenta de vos escrever, para vos informar sobre uma comunicação que recebi, como médium, de meu Espírito protetor, e que me parece interessante e instrutiva por todos os títulos. Se assim entenderdes, eu vos autorizo a fazer dela o uso que julgardes mais útil. Eis qual foi o princípio. Inicialmente devo dizer-vos que professo o culto israelita  †  e, naturalmente, sou levado às ideias religiosas nas quais fui educado. Eu tinha notado que, em todas as comunicações dadas pelos Espíritos, não se tratava senão da moral cristã, pregada pelo Cristo, e que nunca se falava da lei de Moisés. No entanto, eu dizia a mim mesmo que os mandamentos de Deus, revelados por Moisés, me pareciam ser o fundamento da moral cristã; que o Cristo poderia ter ampliado o quadro e desenvolvido suas consequências, mas que o germe estava na lei ditada no Sinai.  †  Então me perguntei se a menção, tantas vezes repetida, da moral do Cristo, embora a de Moisés não lhe fosse estranha, não provinha do fato de que a maior parte das comunicações recebidas emanavam de Espíritos que tinham pertencido à religião dominante, e se elas não seriam uma lembrança das ideias terrenas. Dominado por tais pensamentos, evoquei meu Espírito protetor, que foi um dos meus parentes próximos e se chamava Mardoché R… Eis as perguntas que lhe dirigi e as respostas dadas por ele, etc.… n


2. [COMUNICAÇÃO DO ESPÍRITO PROTETOR, MARDOQUEU.]


1. Em todas as comunicações feitas à Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, cita-se Jesus como sendo o que ensinou a mais bela moral. Que devo pensar disto?

Resposta. – Sim, o Cristo foi o iniciador da moral mais pura, a mais sublime; a moral evangélica cristã, que deve renovar o mundo, aproximar os homens e os tornar a todos irmãos; a moral que deve fazer jorrar de todos os corações humanos a caridade, o amor do próximo; que deve criar entre todos os homens uma solidariedade comum; enfim, uma moral que deve transformar a Terra e dela fazer uma morada para Espíritos superiores aos que hoje a habitam. É a lei do progresso, à qual está submetida a Natureza; e o Espiritismo é uma das forças vivas de que Deus se serve para fazer a Humanidade avançar na via do progresso moral. São chegados os tempos em que as ideias morais devem desenvolver-se para realizar o progresso que está nos desígnios de Deus; elas devem seguir a mesma rota percorrida pelas ideias de liberdade, das quais eram precursoras. Mas não se deve crer que esse desenvolvimento se fará sem lutas. Não; para chegar à maturidade, elas necessitam de abalos e discussões, a fim de que possam atrair a atenção das massas; mas, uma vez fixada a atenção, a beleza e a santidade da moral impressionarão os Espíritos e estes se ligarão a uma ciência que lhes dá a chave da vida futura e lhes abre as portas da felicidade eterna.

Deus é único e Moisés é o Espírito que Ele enviou em missão para torná-lo conhecido não só dos hebreus, como também dos povos pagãos. O povo hebreu foi o instrumento de que se serviu Deus para o revelar por Moisés e pelos profetas, e as vicissitudes por que passou esse povo tão notável destinavam-se a chamar a atenção geral e fazer cair o véu que ocultava aos homens a divindade.


2. Em que, pois, a moral de Moisés é inferior à do Cristo?

Resposta. – A moral que Moisés ensinou era apropriada ao estado de adiantamento em que se encontravam os povos que ele se propunha regenerar, e esses povos, semiselvagens quanto ao aperfeiçoamento da alma, não teriam compreendido que se pudesse adorar a Deus de outro modo que não por meio de holocaustos, nem que se devesse perdoar a um inimigo. Notável do ponto de vista da matéria e mesmo do das artes e ciências, a inteligência deles muito atrasada se achava em moralidade e não se houvera convertido sob o império de uma religião inteiramente espiritual. Era-lhes necessária uma representação semimaterial, qual a que apresentava então a religião hebraica. Os holocaustos lhes falavam aos sentidos, ao passo que a ideia de Deus lhes falava ao espírito.

Os mandamentos de Deus, dados por intermédio de Moisés, contêm os germes da mais ampla moral cristã. Os comentários da Bíblia, porém, restringiam-lhe o sentido, porque, praticada em toda a sua pureza, não na teriam então compreendido. Mas, nem por isso os dez mandamentos de Deus deixavam de ser um como frontispício brilhante, qual farol destinado a clarear a estrada que a Humanidade tinha de percorrer. Moisés abriu o caminho; Jesus continuou a obra; o Espiritismo a concluirá.


3. O Sábado  †  é um dia consagrado?

Resposta. – Sim. O Sábado é um dia consagrado ao repouso, à prece. É o emblema da felicidade eterna, a que aspiram todos os Espíritos e ao qual não chegarão senão depois de se haverem aperfeiçoado pelo trabalho e se despojado, pelas encarnações, de todas as impurezas do coração humano.


4. Como se explica que cada seita tenha consagrado um dia diferente?

Resposta. – Cada seita, é verdade, consagrou um dia diferente, mas isto não é motivo para nos pormos em desacordo. Deus aceita as preces e as formas de cada religião, desde que os atos correspondam aos ensinamentos. Seja qual for a forma pela qual seja invocado, a prece lhe é agradável, se a intenção é pura.


5. Pode-se esperar o estabelecimento de uma religião universal?

Resposta. – Não; não no nosso planeta, ou, pelo menos, não antes que tenha feito progressos. Por enquanto, milhares e milhares de gerações ainda não o verão.

Mardoché R…



[1] N. do T.: Parte considerável das respostas obtidas neste questionário foi transcrita por Allan Kardec em O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo I, item 9 – Instruções dos Espíritos: A nova era.


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