Nota. – Tendo sido feitas algumas observações críticas sobre a comunicação ditada na sessão anterior, dada pela Sra. de Girardin, esta as responde espontaneamente. Faz alusão às circunstâncias que acompanharam aquela comunicação.
“Venho agradecer ao associado que houve por bem apresentar a minha defesa e minha reabilitação moral perante vós. Com efeito, em vida eu amava e respeitava as leis do bom-gosto, que são as da delicadeza – diria mais – do coração, para o sexo a que pertencia; depois de minha morte, permitiu Deus que eu fosse bastante elevada para praticar fácil e simplesmente os deveres da caridade, que nos ligam a todos, Espíritos e homens. Dada esta explicação, não insistirei sobre a comunicação assinada com meu nome, desde que a crítica e a censura não convêm nem a meu médium, nem a mim. Assim, crede que virei quando for evocada, mas jamais me intrometerei nos incidentes fúteis. Eu vos falei das crianças. Deixai-me retomar este assunto, que foi a chaga dolorosa de minha vida. A mulher necessita da dupla coroa do amor e da maternidade, para preencher o mandato de abnegação que Deus lhe confiou, ao lançá-la na Terra. Infelizmente eu jamais conheci essa doce e suave preocupação, que na alma imprimem esses frágeis depósitos. Quantas vezes segui, com os olhos rasos de lágrimas amargas, as crianças que, brincando, vinham se roçar no meu vestido; e sentia a angústia e a humilhação de minha decadência. Eu tremia, esperava, escutava, e minha vida, cheia dos sucessos do mundo, frutos repletos de cinza, não me deixou senão um gosto amargo e decepcionante.”
Delphine de Girardin. n
Observação. – Há neste trecho uma lição que não deve passar despercebida. A Sra. de Girardin, fazendo alusão a certas passagens de sua comunicação anterior [A publicação referida não foi encontrada na Revista, pois a anterior a esta trata da reencarnação e não das crianças], que levantara algumas objeções, disse que em vida amava e respeitava as leis do bom-gosto, que são as da delicadeza, e que conservou esse sentimento depois da morte. Repudia, em consequência, tudo o que, nas comunicações que levam o seu nome, se afaste do bom-gosto. Após a morte, a alma reflete as qualidades e os defeitos que tinha durante a vida corpórea, salvo os progressos que possa ter feito no bem, porque pode ter-se melhorado, mas jamais se mostra inferior ao que era. Assim, na apreciação das comunicações de um Espírito muitas vezes há matizes de extrema delicadeza a observar, para distinguir o que realmente é dele, ou o que poderia ser uma substituição. Os Espíritos verdadeiramente elevados não se contradizem nunca e podemos corajosamente rejeitar tudo quanto desminta o seu caráter. Muitas vezes esta apreciação é tanto mais difícil quanto a uma comunicação perfeitamente autêntica pode misturar-se um reflexo, seja do próprio Espírito do médium, que não exprime exatamente o pensamento, seja de um Espírito estranho, que se interpõe, insinuando seu próprio pensamento no do médium. Deve-se, pois, considerar como apócrifas as comunicações que, em todos os pontos, e pelo mesmo fundo das ideias, desmintam o caráter do Espírito cujo nome levam. Mas seria injusto lhes condenar o conjunto, por algumas nódoas parciais, que podem ter a causa que acabamos de assinalar.
[1]
[v.
Delphine de Girardin.]