As ocupações dos Espíritos de segunda ordem consistem em se prepararem para as provas que terão de suportar, por meditações sobre suas vidas passadas e observações sobre os destinos dos homens, seus vícios, suas virtudes, aquilo que os pode aperfeiçoar ou levá-los a falir. Os que, como eu, têm a felicidade de ter uma missão, ocupam-se dela com tanto mais zelo e amor, quanto o progresso das almas que lhes são confiadas lhes é contado como mérito. Assim, esforçam-se por lhes sugerir bons pensamentos, ajudam os seus bons impulsos e afastam os Espíritos maus, opondo sua doce influência às influências nocivas. Essa ocupação interessante, sobretudo quando se é bastante feliz para dirigir um médium e ter comunicações diretas, não afasta o cuidado e o dever de aperfeiçoar-se.
Não creiais que o tédio possa atingir um ser que só vive pelo espírito e cujas faculdades tendem, todas, para um objetivo, que ele sabe distante, mas certo. O tédio resulta do vazio da alma e da esterilidade do pensamento. O tempo, tão pesado para vós, que o medis por vossos temores pueris ou vossas frívolas esperanças, não faz sentir sua marcha aos que não estão sujeitos nem às agitações da alma, nem às necessidades do corpo. Ele passa ainda mais depressa para os Espíritos puros e superiores que Deus encarrega da execução de suas ordens e que percorrem as esferas em voo muito rápido.
Quanto aos Espíritos inferiores, especialmente os que têm pesadas faltas a expiar, o tempo se mede por seus pesares, seus remorsos e seus sofrimentos. Os mais perversos dentre eles buscam escapar fazendo o mal, isto é, sugerindo a maldade. Então experimentam essa áspera e fugidia satisfação do doente que coça a sua ferida, não fazendo senão aumentar a dor. Assim, seus sofrimentos aumentam de tal sorte que acabam fatalmente por procurar o remédio, que outra coisa não é que o retorno ao bem.
Os pobres Espíritos, que apenas foram culpados pela fraqueza ou pela ignorância, sofrem a sua inanidade, o seu isolamento. Lamentam o seu envoltório terreno, seja qual for a dor que lhes tenha causado; revoltam-se e se desesperam até o momento em que percebem que só a resignação e a vontade firme de volver ao bem podem aliviá-los; acalmam-se e compreendem que Deus não abandona nenhuma de suas criaturas.
Marcillac. n
Espírito familiar.
[1]
[v. Marcillac.]