Sob esse título, o Herald of Progress, de Nova Iorque, † jornal consagrado a assuntos espiritualistas e dirigido por Andrew Jackson Davis, contém a seguinte narrativa:
“Em 22 de novembro último, o Dr. Hallock, juntamente com outras pessoas, foi convidado à casa da Sra. French, 4ª Avenida, nº 8, para testemunhar diversas manifestações espíritas e ver as evoluções de um lápis de grafite. Por volta das oito horas a Sra. French deixou o cômodo onde o grupo estava reunido e sentou-se num canapé, localizado em gabinete contíguo. Não abandonou esse lugar durante toda a reunião. Pouco depois de sentar-se, pareceu entrar numa espécie de êxtase, com os olhos fixos e desvairados. Pediu ao Dr. Hallock e ao professor Britton que examinassem o quarto. Eles encontraram sobre o leito, defronte do lugar onde ela estava sentada, uma pasta amarrada com uma fita de seda e uma garrafa de vinho para servir à experiência. O papel que seria utilizado para fazer os desenhos estava na pasta. Fomos convidados – diz o Dr. Hallock – a não tocar na pasta, nem na garrafa. Vários lápis e dois pedaços de goma elástica encontravam-se igualmente sobre o leito, mas no resto do aposento não havia desenhos, nem papel. Após esta pesquisa a Sra. French pediu ao Sr. Cuberton que tomasse a pasta e a levasse para a sala ocupada pelos convidados, abrisse-a e tirasse o conteúdo. Havia papel comum, do qual seis folhas de diferentes tamanhos foram tomadas das mãos do Sr. Cuberton pela Sra. French e postas sobre uma mesa situada diante dela. Esta pediu alfinetes e, tomando uma tira de papel de 5 ou 6 polegadas de comprimento, que colocou na borda inferior do papel, prendeu as duas bordas deste à tira. Feito isto, alguém foi solicitado a tomar o papel e fazer fosse ele examinado pelos assistentes, segurasse a tira e os alfinetes e lhe devolvesse a folha. A mesma coisa foi feita com as outras folhas, e cada vez os alfinetes eram postos em número e em locais diferentes; as folhas eram entregues, uma a uma, a outra pessoa, com vistas a reconhecer o papel por meio dos traços, que deviam corresponder aos das tiras. Depois de examinadas todas as folhas e devolvidas à Sra. French, o Sr. Cuberton pegou o vinho e lho entregou. Ela pôs as folhas sobre a mesa e derramou, sobre cada uma delas, uma quantidade de vinho suficiente para molhá-la completamente, espalhando-o com a palma da mão. Em seguida tratou de secá-las, pressionando uma por uma das folhas, enrolando-as, soprando acima e as agitando no ar. Isto durou alguns minutos; depois baixou o pavio do lampião e mandou os convidados se aproximarem. É preciso dizer que durante a operação de molhagem, uma das folhas de papel tinha ficado muito seca, sendo necessário recomeçar o trabalho. (O vinho era uma simples mistura de suco de uvas e açúcar, autorizado pelo Estado e produzido na Nova Inglaterra). † Então a Sra. French fez restabelecer a luz e pediu às pessoas que viessem sentar-se junto à porta onde ela estava: o Sr. Gurney, o professor Britton, o Dr. Warner e o Dr. Hallock estavam a seis pés dela e os outros em plena vista.
“Pondo uma das folhas sobre a mesa à sua frente, ela colocou vários lápis entre os dedos; o Dr. Hallock não a perdeu de vista, como houvera prometido. Estando tudo pronto, a Sra. French, para advertir que a experiência ia começar, exclamou: Time (tempo); então foi visto um movimento rápido da mão e, durante certo momento, das duas mãos; ouviu-se um ruído vivamente repetido sobre o papel; os lápis e o papel foram atirados a alguma distância no assoalho, por uma espécie de movimento nervoso; tudo isso durou vinte e um segundos. O desenho representa um buquê de flores, composto de jacintos, lírios, tulipas, etc.
“Operaram sucessivamente em outras folhas. O nº 2 é também um grupo de flores. O nº 3 é um belo cacho de uvas, com seu talo, folhas, etc.; foi feito em vinte e um segundos. O nº 4 é um talo e folhas com cinco grupos de frutas parecidas com damascos; as folhas são uma espécie de musgo. Quando se preparou para esta folha, a Sra. French perguntou quanto tempo lhe davam para a execução; uns disseram dez segundos; outros, menos. Bem, disse a Sra. French, quando eu disser: um, olhai vossos relógios; à palavra quatro o desenho estará terminado. Atenção! um, dois, três, quatro: o desenho foi feito, isto é, em quatro segundos. O nº 5 representa um ramo de groselheira, do qual partem doze cachos de groselhas verdes, com flores e folhas, cercadas de folhas de uma outra espécie. O desenho foi apresentado pela Sra. French, em êxtase, ao Sr. Bruckmaster, de Pittsburgh, † como vindo do Espírito de sua irmã, em cumprimento da promessa que ela lhe havia feito. O tempo gasto foi de dois segundos. O nº 6, que pode ser considerado como a obra-prima da série, é um desenho de nove polegadas por quatro; consiste em flores e folhagens brancas sobre fundo escuro, isto é, o desenho é da cor natural do papel, os contornos marcados e os interiores coloridos a lápis. Exceto dois outros desenhos produzidos da mesma maneira em outra ocasião, são sempre a lápis sobre fundo branco. No centro desse grupo de flores e na parte inferior da página existe uma mão segurando um livro aberto, de uma polegada e um quarto por três quartos; os cantos não são exatamente em ângulos retos; mas o que é muito curioso, os furos dos alfinetes, feitos anteriormente para reconhecer o papel, marcam os quatro cantos do livro. No alto da página esquerda está escrito: Galatians VI e, a seguir, os seis primeiros versículos e uma décima sexta parte deste capítulo, cobrindo quase as duas páginas inteiras, em caracteres muito legíveis, com boa luz, a olho nu ou com uma lupa. Conta-se mais de cem palavras bem escritas. O tempo gasto foi de treze segundos. Quando se constatou a coincidência dos furos do papel com os da tira, a Sra. French, ainda em êxtase, pediu aos presentes que certificassem por escrito o que acabavam de ver. Então foi escrito à margem do desenho o seguinte: “Executado em treze segundos em nossa presença, pela Sra. French; certificado pelos abaixo-assinados. 22 de novembro de 1860, 4ª Avenida, nº 8. Seguem-se dezenove assinaturas.”
Não temos nenhum motivo para duvidar da autenticidade do fato, nem suspeitar da boa-fé da Sra. French, que não conhecemos. Mas é de convir que essa maneira de proceder teria algo de pouco convincente para os nossos incrédulos, que não deixariam de fazer objeções e de dizer que todos os preparativos teriam um ar de familiaridade com a prestidigitação, que faz as mesmas coisas, aparentemente sem tantos embaraços. Confessamos estar um pouco de acordo com eles. Que os desenhos tenham sido feitos, é incontestável; somente a origem não nos parece provada de maneira autêntica. Seja como for, admitindo-se que não tenha havido nenhuma fraude, é, sem a menor dúvida, um dos mais curiosos fatos de escrita e de desenhos diretos, dos quais a teoria nos explica a possibilidade. Sem essa teoria semelhantes fatos seriam, à primeira vista, relegados como fábulas ou manobras de prestidigitação. Mas, pelo fato mesmo de nos dar a conhecer as condições nas quais os fenômenos podem produzir-se, ela deve tornar-nos tanto mais circunspetos para não os aceitar senão com conhecimento de causa.
Decididamente os médiuns americanos têm uma especialidade para a produção de fenômenos extraordinários, pois os jornais do país estão cheios de uma porção de fatos do gênero, de que nossos médiuns europeus estão longe de se aproximarem. Assim, do outro lado do Atlântico, dizem que ainda estamos muito atrasados em Espiritismo. Quando perguntamos aos Espíritos a razão dessa diferença, eles responderam: “A cada um o seu papel”, o vosso não é o mesmo, e Deus não vos reservou a menor parte na obra de regeneração.” A considerar o mérito dos médiuns pelo ponto de vista da rapidez da execução, pela energia e pelo poder dos efeitos, os nossos são apagados ao lado daqueles; entretanto, conhecemos muitos que não trocariam as simples e consoladoras comunicações que recebem, pelos prodígios dos médiuns americanos. Elas bastam para lhes dar a fé, e eles preferem o que toca a alma ao que lhes fere os olhos; a moral que consola e torna melhor, aos fenômenos que impressionam. Por um instante, na Europa, preocuparam-se com os fatos materiais; mas logo os deixaram de lado pela Filosofia, que abre um campo mais vasto ao pensamento e tende para o objetivo final e providencial do Espiritismo: a regeneração social. Cada povo tem seu gênio particular e suas tendências especiais e cada um, nos limites que lhe são assinalados, concorre para os planos da Providência [v. A reencarnação na América]. O mais adiantado será aquele que marchar mais depressa na via do progresso moral, porquanto é este que mais se aproximará dos desígnios de Deus.