Nota. – A médium escreve num caderno antigo, que
antes servira a outro médium, no qual se achava uma comunicação escrita
há muito tempo, assinada por Delphine de Girardin. Tal circunstância
explica o início da comunicação seguinte:
“Encontro traçado justamente o meu nome, e ele me servirá de assinatura antes de haver começado.
“Quero falar aqui a todos em geral e vos provar que sois espiritualistas; por isso, basta que me dirija ao vosso raciocínio. Que ireis fazer num cemitério no dia primeiro de novembro, desde que ele não conserva senão os despojos dos seres que perdestes? Por que perder tempo em levar-lhes um buquê de flores, um pensamento de amizade e uma doce lembrança? Por que evocar a sua memória, se eles não vivem mais? Por que derramar lágrimas e lhes pedir que as enxuguem ou que vos levem com eles? Respondei, vós todos que dizeis — porque os que não dizem em voz alta, pensam baixinho — que dizeis: a matéria é a única coisa que existe em nós; depois de nós, nada. Dizei: não estais em desacordo convosco mesmo? Mas rejubilai-vos, pois tendes mais fé do que imaginais. Deus, que vos criou imperfeitos, quis vos dar confiança, mau grado vosso, e sem querer compreender, sem disso ter consciência, falais a esses seres queridos, pedi-lhes que cheirem as flores que lhes ofertais, implorai-lhes amizade e proteção. Mãe! chamas a tua filha de anjo e lhe pedes preces. Filha! pedes a proteção de tua mãe e os seus conselhos. Muitos entre vós dizem: Sinto no coração a verdade do que dizeis, mas estava em desacordo com o que meus pais me ensinaram e, Espíritos timoratos que sois! vos fechais em vossa ignorância. Agi, pois, sem medo, porquanto a fé espírita está de acordo com todas as religiões, desde que diz o que todas repetem: Amor, caridade, humildade. Vede que se isto só resulta de vossa hesitação, deveis crer.”
Delphine de Girardin. n
Observação. – A contradição de que fala o Espírito, no começo,
é vista a cada instante, entre as próprias pessoas que mais fortemente
negam a vida futura. Se tudo acabasse com a vida corpórea, de que serviria,
com efeito, a comemoração dos seres que choramos, se eles não nos ouvem
mais? Falaram-nos de um senhor imbuído ao último ponto das ideias materialistas
mais absolutas; acaba de perder o filho único e o pesar que sentiu foi
tal que queria suicidar-se para ir juntar-se a ele. Ora, para ir juntar-se
a quem? Aos ossos, que não são mais ele, porque os ossos não pensam.
[1]
[v. Delphine
de Girardin.]