O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão.
Doutrina espírita - 1ª parte.

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Revista espírita — Ano II — Novembro de 1859.

(Idioma francês)

O Espírito e o jurado.

Um de nossos correspondentes, homem de grande saber e portador de títulos científicos oficiais, o que não o impede de ter a fraqueza de acreditar que temos uma alma e que esta alma sobrevive ao corpo, que depois da morte fica errante no espaço e ainda pode comunicar-se com os vivos — tanto mais quanto ele próprio é um bom médium e mantém numerosas conversas com os seres de além-túmulo — dirige-nos a seguinte carta:


“Senhor,

“Talvez julgueis acertado acolher na vossa interessante revista o fato seguinte:

“Há algum tempo eu era jurado. O Tribunal devia julgar um rapaz, apenas saído da adolescência, acusado de ter assassinado uma senhora idosa em horríveis circunstâncias. O acusado confessava e contava os detalhes do crime com uma impassibilidade e um cinismo que faziam estremecer a assembleia.

“Entretanto, era fácil prever que, em virtude de sua idade, de sua absoluta falta de educação e das excitações que recebera em família, invocariam para ele circunstâncias atenuantes, tanto mais que ele lançava culpa na cólera de que se viu tomado, agindo contra uma provocação por injúrias.

“Eu quis consultar a vítima sobre o grau de sua culpabilidade. Chamei-a durante uma sessão, por uma evocação mental. Ela me fez saber que estava presente e eu lhe dei a mão. Eis a conversação que tivemos: eu, mentalmente; ela, pela escrita:


P. Que pensais do vosso assassino?

Resposta. – Não serei eu a acusá-lo.


P. Por quê?

Resposta. – Porque ele foi impelido ao crime por um homem que me fez a corte há cinquenta anos e que, nada havendo obtido de mim, jurou vingar-se. Conservou na morte o desejo de vingança, aproveitando-se das disposições do acusado para inspirar-lhe o desejo de matar-me.


P. Como o sabeis?

Resposta. – Porque ele próprio mo disse, quando cheguei ao mundo em que hoje habito.


P. Compreendo vossa reserva diante da excitação que vosso assassino não repeliu, como devia e podia. Entretanto, não pensais que a inspiração criminosa, à qual tão voluntariamente obedeceu, não teria sobre ele o mesmo poder, caso não houvesse nutrido ou entretido, durante muito tempo, sentimentos de inveja, de ódio e de vingança, contra vós e vossa família?

Resposta. – Seguramente. Sem isso ele teria sido mais capaz de resistir. Eis por que afirmei que aquele que quis se vingar aproveitou-se das disposições deste rapaz; havereis de convir que ele não se teria dirigido a alguém que se dispusesse a resistir.


P. Ele goza com a sua vingança?

Resposta. – Não, porquanto vê que lhe custará caro. Além disso, ao invés de me fazer mal, ele me prestou um serviço, fazendo-me entrar mais cedo no mundo dos Espíritos, onde sou mais feliz; foi, pois, uma ação má, sem proveito para ele.


“Circunstâncias atenuantes foram admitidas pelo júri com base nos motivos acima indicados, e a pena de morte foi afastada.

“A respeito do que acabo de contar, há uma observação moral de alta importância a ser feita. É necessário concluir, com efeito, que o homem deve vigiar os seus menores pensamentos, até os seus maus sentimentos, aparentemente os mais fugidios, já que estes têm a propriedade de atrair para ele Espíritos maus e corrompidos, e oferecê-lo, fraco e desarmado, às suas inspirações culposas: é uma porta que ele abre ao mal, sem compreender o perigo. Foi, pois, com um profundo conhecimento do homem e do mundo espiritual que Jesus Cristo disse: “Qualquer que olhar para uma mulher com intenção impura, no coração, já adulterou com ela.” (Mateus, capítulo V, versículo 28.)

“Tenho a honra, etc.

Simon M…”


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