O Sr. J…, um de nossos colegas da Sociedade, por diversas vezes tinha visto chamas azuis passeando sobre o seu leito. Certo de que se tratava de uma manifestação, no dia 20 de janeiro último tivemos a ideia de evocar um desses Espíritos, a fim de nos instruirmos sobre a sua natureza.
1. Evocação.
Resposta. – Que queres de mim?
2. Com que objetivo te manifestaste na casa do Sr. J…?
Resposta. – Que te importa?
3. A mim pouco importa, é verdade; mas para ele é diferente.
Resposta. – Ah! Bela razão!
Observação. – Essas primeiras perguntas foram feitas pelo
Sr. Kardec. O Sr. J… prosseguiu com o interrogatório.
4. É que não recebo de bom grado qualquer pessoa em minha casa.
Resposta. – Não tens razão; sou muito bom.
5. Dize, então, por favor o que vinhas fazer em minha casa?
Resposta. – Por acaso acreditas que, pelo fato de ser bom, eu te deva obedecer?
6. Disseram-me que és um Espírito muito leviano.
Resposta. – Julgaram-me muito mal a esse respeito.
7. Se é uma calúnia, prova-o.
Resposta. – Não me incomodo.
8. Eu poderia empregar um meio para obrigar-te a dizer quem és.
Resposta. – Palavra de honra, isso não poderia senão me divertir um pouco.
9. Intimo-te a dizer-me o que vens fazer em minha casa.
Resposta. – Não tinha senão um propósito: divertir-me.
10. Isso não tem relação com o que me foi dito pelos Espíritos superiores.
Resposta. – Fui mandado à tua casa e já conheces a razão. Estás satisfeito?
11. Mentiste, pois?
Resposta. – Não.
12. Não tinhas, então, más intenções?
Resposta. – Não; disseram-te o mesmo que eu.
13. Poderias dizer-nos qual é a tua posição entre os Espíritos?
Resposta. – Tua curiosidade me agrada.
14. Pois que pretendes ser bom, por que me respondes de maneira tão pouco conveniente?
Resposta. – Acaso eu te insultei?
15. Não; entretanto, por que respondes de maneira evasiva, recusando-te a dar as informações que te peço?
Resposta. – Sob o comando de certos Espíritos, sou livre para fazer o que quiser.
16. Ora, ora, vejo que começas a ficar mais razoável e imagino que iremos ter relações mais amigáveis.
Resposta. – Deixa de palavreado: será muito melhor.
17. Sob que forma te apresentas aqui?
Resposta. – Não tenho mais forma.
18. Sabes o que é o perispírito?
Resposta. – Não; a menos que seja o vento.
19. Que poderia eu fazer para te ser agradável?
Resposta. – Já te disse: cala-te.
20. A missão que vieste cumprir em minha casa fez que avançasses como Espírito?
Resposta. – Isto é outra coisa; não me faças tais perguntas. Já sabes que obedeço a certos Espíritos; dirige-te a eles. Quanto a mim, peço para ir embora.
21. Acaso teríamos tido más relações em outra existência e seria isso a causa do teu mau humor?
Resposta. – Não te lembras de quanto disseste mal de mim, a quem quisesse ouvir? Cala-te, digo-te eu.
22. De ti não falei senão o que foi dito pelos Espíritos superiores a teu respeito.
Resposta. – Disseste também que eu te havia obsidiado.
23. Ficaste satisfeito com o resultado que obtiveste?
Resposta. – Isso não é contigo.
24. Preferes então que eu conserve de ti uma má impressão?
Resposta. – É possível. Vou-me embora.
Observação. – Pelas conversas relatadas podemos constatar
a extrema diversidade que existe na linguagem dos Espíritos, conforme
o seu grau de elevação. A dos Espíritos desta natureza é quase sempre
caracterizada pela grosseria e pela impaciência. Quando são chamados
às reuniões sérias sentimos que não comparecem de bom grado; têm pressa
de partir porque não se sentem à vontade no meio de seus superiores
e das pessoas que os embaraçam com perguntas. Não se dá o mesmo nas
reuniões frívolas, onde nos divertimos com as suas facécias: estão no
seu próprio ambiente e o aproveitam com alegria. [v. interessante
relato de um outro Espírito: Cenas
da vida particular.]