Um homem soberbo possuía alguns hectares de boa terra; sentia-se envaidecido pelas grandes espigas que cobriam o seu campo e olhava com desdém o campo estéril do humilde. Este se levantava ao cantar do galo e permanecia o dia todo curvado sobre o solo ingrato; recolhia pacientemente os seixos e os lançava à beira do caminho; revolvia profundamente a terra e arrancava com dificuldade os espinheiros que a cobriam. Ora, seu suor fecundou o campo e ele colheu o melhor trigo.
Entretanto, o joio crescia no campo do homem soberbo e sufocava o trigo, enquanto o dono se vangloriava de sua fecundidade, olhando com ar de piedade os esforços silenciosos do humilde.
Em verdade vos digo que o orgulhoso é semelhante ao joio que abafa o bom grão. Aquele dentre vós que acredita valer mais que seu irmão e que disso se vangloria, é insensato; sábio, porém, é o que trabalha por si mesmo, como o humilde em seu campo, sem se envaidecer de sua obra.
Havia um homem rico e poderoso que desfrutava o poder do príncipe; morava em palácios, e numerosos serviçais esmeravam-se por lhe adivinhar os desejos.
Um dia suas matilhas acossavam os cervos nas profundezas da floresta quando percebeu um pobre lenhador que caminhava com muita dificuldade, sob o peso de um feixe de lenha. Chamou-o e disse-lhe:
— Vil escravo! Por que passas teu caminho sem te inclinares diante de mim? Sou igual aos senhores da terra: nos conselhos minha voz decide a paz ou a guerra, e os maiorais do reino curvam-se em minha presença. Fica sabendo que sou sábio entre os sábios, poderoso entre os poderosos, grande entre os grandes, e minha posição elevada é obra de minhas mãos.
— Senhor! – respondeu o pobre homem – temi que minha humilde saudação fosse uma ofensa para vós. Sou pobre e não possuo outro bem senão meus braços; mesmo assim, não desejo vossas grandezas enganosas. Durmo a sono solto e não receio, como vós, que o prazer do mestre me faça cair em minha obscuridade.
Ora, o príncipe se aborreceu com o orgulho do soberbo; os grandes humilhados apoderaram-se dele e o precipitaram das culminâncias de seu poder, como a folha seca que o vento varre do alto de uma montanha; mas o humilde continuou tranquilamente seu rude trabalho, sem se preocupar com o dia seguinte.
Soberbo, humilha-te, porquanto a mão do Senhor dobrará teu orgulho até que se reduza a pó!
Escuta! Nasceste onde te lançou a sorte; saíste do seio de tua mãe, fraco e despido como o último dos homens. Por que elevas mais alto a fronte do que os teus semelhantes, tu que, como eles, nasceste para a dor e para a morte?
Ouve! Tuas riquezas e tuas grandezas, vaidade das vaidades, escaparão de tuas mãos quando vier o Grande Dia, como as águas errantes da torrente que o sol faz evaporar. De tuas riquezas só levarás contigo as tábuas do caixão; e os títulos gravados na lápide sepulcral serão palavras vazias de sentido.
Escuta! O cão do coveiro brincará com teus ossos, e eles serão misturados aos dos indigentes, confundindo-se tuas cinzas com as deles, porque um dia ambos sereis reduzidos a pó. Amaldiçoarás, então, os dons que recebeste, quando vires o mendigo revestido na sua glória, e chorarás o teu orgulho.
Humilha-te, soberbo, porquanto a mão do Senhor curvará o teu orgulho até o pó.
São Luís. n
1. — Por que São Luís nos fala em parábolas?
Resposta. — O Espírito humano ama o mistério; a lição se grava melhor no coração quando a procuramos.
2. — Não parece que atualmente a instrução nos deva ser dada de maneira mais direta, sem que precisemos recorrer à alegoria?
Resposta. — Encontrá-la-eis no desenvolvimento. Desejo ser lido, e a moral necessita ser disfarçada sob a atração do prazer.
[1]
[v. São
Luís.]