O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão.
Doutrina espírita - 1ª parte.

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Revista espírita — Ano I — Janeiro de 1858.

(Idioma francês)

Respostas dos Espíritos a algumas perguntas.

(Sumário)


1.P. Como os Espíritos podem agir sobre a matéria? Isso parece contrário a todas as ideias que fazemos da natureza dos Espíritos.

Resposta. – “Segundo vós, o Espírito nada é; e isso é um erro. Já vos dissemos que o Espírito é alguma coisa, daí porque pode agir por si mesmo. Vosso mundo, porém, é muito grosseiro para que ele possa fazê-lo sem um intermediário, isto é, sem o laço que une o Espírito à matéria.”


Observação. – Sendo imaterial o próprio laço que une o Espírito à matéria ou, pelo menos, impalpável, essa resposta não resolveria a questão se não tivéssemos o exemplo de forças igualmente imponderáveis agindo sobre a matéria: é assim que o pensamento é a causa primeira de todos os nossos movimentos voluntários; que a eletricidade derruba, levanta e transporta massas inertes. Do fato de não se conhecer o motor, seria ilógico concluir que ele não existe. O Espírito pode, pois, ter alavancas que nos são desconhecidas; a Natureza prova diariamente que o seu poder não se detém no testemunho dos sentidos. Nos fenômenos espíritas, a causa imediata é, incontestavelmente, um agente físico; mas a causa primeira é uma inteligência que age sobre esse agente, como o nosso pensamento age sobre nossos membros. Quando queremos bater, é nosso braço que age; não é o pensamento que bate, ele dirige o braço.


2.P. Entre os Espíritos que produzem efeitos materiais, os que se chamam de batedores formam uma categoria especial, ou são os mesmos que produzem os movimentos e os ruídos?

Resposta. – “O mesmo Espírito, certamente, pode produzir efeitos muito diversos; mas há os que se ocupam mais particularmente de certas coisas, como entre vós tendes os ferreiros e os que fazem trabalhos pesados.”


3.P. O Espírito que age sobre corpos sólidos, seja para movê-los, seja para bater, encontra-se na própria substância do corpo ou fora dela?

Resposta. – “Uma coisa e outra; dissemos que a matéria não é um obstáculo para os Espíritos; eles penetram tudo.”


4.P. As manifestações materiais, tais como os ruídos, o movimento dos objetos e todos esses fenômenos que nos apraz provocar frequentemente, são produzidos indistintamente pelos Espíritos superiores e inferiores?

Resposta. – “Apenas os Espíritos inferiores se ocupam dessas coisas. Por vezes os Espíritos superiores servem-se deles, como farias com um carregador, a fim de levar a escutá-los. Podeis crer que os Espíritos de uma ordem superior estejam às vossas ordens para vos divertir com pasquinadas? É como se perguntásseis se, em vosso mundo, são os homens sábios e sérios que fazem os papéis de malabaristas e bufões.”


Observação. – Os Espíritos que se revelam por efeitos materiais são, em geral, de ordem inferior. Divertem ou espantam aqueles para quem os espetáculos visuais têm mais atrativos que o exercício da inteligência; são, de alguma sorte, os saltimbancos do mundo espírita. Algumas vezes agem espontaneamente; outras vezes, por ordem dos Espíritos superiores.

Se as comunicações dos Espíritos superiores oferecem um interesse mais sério, as manifestações físicas têm igualmente utilidade para o observador. Revelam-nos forças desconhecidas da Natureza e nos oferecem o meio de estudar o caráter e, se assim nos podemos exprimir, os costumes de todas as classes da população espírita.


5.P. Como provar que o poder oculto que age nas manifestações espíritas está fora do homem? Não se poderia pensar que reside nele mesmo, isto é, que age sob o impulso de seu próprio Espírito?

Resposta. – “Quando uma coisa é feita contra tua vontade e o teu desejo, é claro que não és tu quem a produz; porém, frequentemente és a alavanca de que se serve o Espírito para agir e tua vontade lhe vem em auxílio; podes ser um instrumento mais ou menos cômodo para ele.”


Observação – É sobretudo nas comunicações inteligentes que a intervenção de um poder estranho torna-se patente. Quando essas comunicações são espontâneas e estão fora do nosso pensamento e controle; quando respondem a perguntas cuja solução é ignorada pelos assistentes, faz-se necessário procurar sua causa fora de nós. Isso se torna evidente para quem quer que observe os fatos com atenção e perseverança; os matizes de detalhes escapam ao observador superficial.


6.P. Todos os Espíritos são capazes de dar manifestações inteligentes?

Resposta. – “Sim, visto que todos são inteligentes; porém, como os há de todos os graus, tal qual ocorre entre vós, uns dizem, coisas insignificantes ou estúpidas, outros coisas sensatas.


7.P. Todos os Espíritos estão aptos a compreender as perguntas que se lhes fazem?

Resposta. – “Não; os Espíritos inferiores são incapazes de compreender certas perguntas, o que não os impede de responder bem ou mal; é ainda como entre vós.”


Nota: Por aí se vê o quanto é essencial pôr-se em guarda contra a crença no saber ilimitado dos Espíritos. Dá-se com eles, o que se dá com os homens; não basta interrogar o primeiro que aparece para ter uma resposta sensata. É preciso saber a quem se dirigir.

Quem quer que deseje conhecer os costumes de um povo, deve estudá-lo desde a base até ao cume da escala; ver somente uma classe é dele fazer uma ideia falsa, pois se julga o todo pela parte. A população dos Espíritos é como a nossa; há de tudo: o bom, o mau, o sublime, o trivial, o saber e a ignorância. Quem não os tiver observado seriamente em todos os graus não se pode gabar de conhecê-los. As manifestações físicas fazem-nos conhecer os Espíritos de baixa evolução: são a rua e a cabana. As comunicações instrutivas e sábias põem-nos em relação com os Espíritos elevados: são a elite da sociedade, o castelo e o Instituto.


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