Nota: A senhorita Clary D…, interessante mocinha, morta em 1850, aos 13 anos de idade, desde então ficou como o gênio da família, onde é evocada com frequência e à qual deu um grande número de comunicações do mais alto interesse. A conversa que relataremos a seguir ocorreu entre nós no dia 12 de janeiro de 1857, por intermédio de seu irmão, médium.
1. Tendes uma lembrança precisa de vossa existência corporal?
Resposta. – O Espírito vê o presente, o passado e um pouco do futuro, conforme sua perfeição e sua proximidade de Deus.
2. Essa condição de perfeição é relativa apenas ao futuro, ou se refere igualmente ao presente e ao passado?
Resposta. – O Espírito vê o futuro mais claramente à medida que se aproxima de Deus. Depois da morte a alma vê e abarca de relance todas as suas passadas migrações, mas não pode ver o que Deus lhe prepara; para isso, é preciso que esteja inteiramente em Deus, desde muitas existências.
3. Sabeis em que época reencarnareis?
Resposta. – Em 10 ou 100 anos.
4. Será na Terra ou em outro mundo?
Resposta. – Num outro.
5. Em relação à Terra, o mundo para onde ireis terá condições melhores, iguais ou inferiores?
Resposta. – Muito melhores que as da Terra; lá se é feliz.
6. Visto que estais aqui entre nós, ocupais um lugar determinado; qual é?
Resposta. – Estou com aparência etérea; posso dizer que meu Espírito, propriamente dito, estende-se muito mais longe; vejo muitas coisas e me transporto para bem longe daqui com a rapidez do pensamento; minha aparência está à direita de meu irmão e guia-lhe o braço.
7. O corpo etéreo de que estais revestida vos permite experimentar sensações físicas, como o calor e o frio, por exemplo?
Resposta. – Quando me lembro muito de meu corpo, sinto uma espécie de impressão, como quando se tira um manto e se fica com a sensação de ainda estar com ele por algum tempo.
8. Acabais de dizer que podeis transportar-vos com a rapidez do pensamento; o pensamento não é a própria alma que se desprende de seu envoltório?
Resposta. – Sim.
9. Quando vosso pensamento se transporta para algum lugar, como se dá a separação de vossa alma?
Resposta. – A aparência se desvanece; o pensamento segue sozinho.
10. É, pois, uma faculdade que se destaca; onde fica o ser restante?
Resposta. – A forma não é o ser.
11. Mas, como age esse pensamento? Não agirá sempre por intermédio da matéria?
Resposta. – Não.
12. Quando vossa faculdade de pensar se destaca, não agis, então, por intermédio da matéria?
Resposta. – A sombra se dissipa; reproduz-se onde o pensamento a guia.
13. Visto que só tínheis 13 anos quando morrestes, como se explica que podeis nos dar, sobre perguntas tão abstratas, respostas que estão fora do alcance de uma criança de vossa idade?
Resposta. – Minha alma é tão antiga!
14. Podeis citar-nos, entre vossas existências anteriores, uma das que mais elevaram os vossos conhecimentos?
Resposta. – Estive no corpo de um homem, que tornei virtuoso; após sua morte estive no corpo de uma menina cujo semblante retratava a própria alma; Deus me recompensa.
15. A nós poderia ser concedido vos ver aqui, tal qual estais atualmente?
Resposta. – A vós poderia.
16. Como o poderíamos? Depende de nós, de vós ou de pessoas mais íntimas?
Resposta. – De vós.
17. Que condições deveríamos satisfazer para isso?
Resposta. – Recolher-vos algum tempo, com fé e fervor; serdes menos numerosos, isolar-vos um pouco e providenciardes um médium do gênero de Home.
[1] Este título de seção anteriormente denominado “Evocações particulares” foi renomeado por Allan Kardec “Conversas de além-túmulo” e posterior e definitivamente recebeu o título de “Conversas familiares de além-túmulo”.