1. — Os fenômenos realizados pelo Sr. Home produziram tanta sensação como vieram confirmar os maravilhosos relatos chegados de além-mar, a cuja veracidade se ligava uma certa desconfiança. Mostrou-nos ele que, deixando de lado a mais larga margem possível devido ao exagero, ainda ficava bastante para atestar a realidade de fatos que se cumpriam fora de todas as leis conhecidas.
Tem-se falado do Sr. Home, e de várias maneiras; confessamos que seria exigir demais que todo o mundo lhe fosse simpático, uns por espírito de sistema, outros por ignorância. Queremos até admitir, nestes últimos, uma opinião conscienciosa, visto que por si mesmos não puderam constatar os fatos; mas se, em tal caso, é permitida a dúvida, uma hostilidade sistemática e apaixonada é sempre inconveniente. Em toda relação de causa, julgar o que não se conhece é falta de lógica, e difamar sem provas é esquecer as conveniências. Por um instante, façamos abstração da intervenção dos Espíritos e não vejamos, nos fatos relatados, senão simples fenômenos físicos; quanto mais estranhos forem, mais atenção merecem. Explicai-os como quiserdes, mas não os contesteis a priori, se não quiserdes que ponham em dúvida o vosso julgamento. O que deve espantar, o que nos parece ainda mais anormal que os próprios fenômenos em questão, é ver esses mesmos que deblateram, sem cessar, contra a oposição de certos núcleos acadêmicos, em relação às ideias novas que continuamente lhes são lançadas na face — e isso em termos pouco comedidos — os dissabores experimentados pelos autores das mais importantes descobertas, como Fulton, Jenner e Galileu, que citam a todo momento, eles mesmos caírem em erro semelhante, logo eles que dizem, e com razão, que até poucos anos atrás teria passado por insensato quem houvesse falado em corresponder-se de um extremo a outro da Terra em alguns segundos. Se acreditam no progresso, do qual se dizem apóstolos, que sejam, pois, coerentes consigo mesmos e não atraiam para si a censura que dirigem aos outros, negando o que não compreendem.
Voltemos ao Sr. Home. Chegado a Paris † no mês de outubro de 1855, achou-se, desde o início, lançado no mundo mais elevado, circunstância que deveria ter imposto mais circunspeção no julgamento que lhe fazem, porque, quanto mais elevado e esclarecido é esse mundo, menor é a suspeita de se deixar benevolamente enganar por um aventureiro. Essa mesma posição suscitou comentários. Pergunta-se quem é o Sr. Home. Para viver neste mundo, para fazer viagens dispendiosas, diz-se, é necessário ter fortuna. Se não a tem, deve ser sustentado por pessoa poderosa. Sobre esse tema levantou-se um sem-número de suposições, cada qual mais ridícula. O que não se disse de sua irmã, que ele foi buscar há cerca de um ano! Comentava-se que era um médium mais poderoso que ele; que ambos deviam realizar prodígios de fazer empalidecer os de Moisés. Várias vezes nos dirigiram perguntas a esse respeito; eis a nossa resposta.
Vindo à França, o Sr. Home não se dirigiu ao público; ele não gosta e nem procura a publicidade. Se tivesse vindo com propósitos especulativos, teria corrido o país, lançando mão da propaganda em seu auxílio; teria procurado todas as ocasiões de se promover, enquanto as evita; teria estabelecido um preço às suas manifestações, contudo, nada pede a ninguém. Malgrado a sua reputação, o Sr. Home não é, pois, de forma alguma, o que se pode chamar de um homem do mundo; sua vida privada pertence-lhe exclusivamente. Desde que nada pede, ninguém tem o direito de indagar como vive, sem cometer uma indiscrição. É mantido por pessoas poderosas? Isso não nos diz respeito; tudo quanto podemos dizer é que, nesta sociedade de escol ele conquistou amizades reais e fez amigos devotados, ao passo que, com um prestidigitador, a gente paga, diverte-se e ponto final. Não vemos, pois, no Sr. Home, mais que uma coisa: um homem dotado de uma faculdade notável. O estudo dessa faculdade é tudo quanto nos interessa e tudo quanto deve interessar a quem quer que não seja movido apenas pela curiosidade. Sobre ele a História ainda não abriu o livro de seus segredos; até lá ele pertence à Ciência. Quanto à sua irmã, eis a verdade: É uma menina de onze anos, que ele trouxe a Paris para sua educação, de que está encarregada ilustre pessoa. Sabe apenas em que consiste a faculdade do irmão. É bem simples, como se vê, bem prosaico para os amantes do maravilhoso.
Agora, por que o Sr. Home teria vindo à França? Certamente não foi para procurar fortuna, como acabamos de provar. Para conhecer o país? Mas ele não o percorre; pouco sai e não tem absolutamente hábitos de turista. O motivo patente é o conselho dos médicos, que acreditam ser o ar da Europa necessário à sua saúde, mas os fatos mais naturais são por vezes providenciais. Pensamos, pois, que, se veio aqui é porque deveria vir. A França, ainda em dúvida no que diz respeito às manifestações espíritas, necessitava que lhe fosse aplicado um grande golpe; foi o Sr. Home que recebeu essa missão e, quanto mais alto foi o golpe, maior a sua repercussão. A posição, o crédito, as luzes dos que o acolheram e que foram convencidos pela evidência dos fatos, abalaram as convicções de uma multidão de pessoas, mesmo entre aquelas que não puderam ser testemunhas oculares. A presença do Sr. Home terá sido, portanto, um poderoso auxiliar para a propagação das ideias espíritas; se não convenceu a todos, lançou sementes que frutificarão tanto mais quanto mais se multiplicarem os próprios médiuns. Como dissemos alhures, essa faculdade não constitui um privilégio exclusivo; existe em estado latente e em diversos graus entre muita gente, não aguardando senão uma ocasião para desenvolver-se; o princípio está em nós, por efeito mesmo da nossa organização; está na Natureza; dele todos temos o germe, não estando longe o dia em que veremos os médiuns surgirem em todos os pontos, em nosso meio, em nossas famílias, entre os pobres como entre os ricos, a fim de que a verdade seja de todos conhecida, pois, segundo nos anunciaram, trata-se de uma nova era, de uma nova fase que começa para a Humanidade. A evidência e a vulgarização dos fenômenos espíritas imprimirão novo curso às ideias morais, como o fez o vapor em relação à indústria.
Se a vida privada do Sr. Home deve estar fechada às investigações de uma indiscreta curiosidade, há certos detalhes que podem, com toda razão, interessar ao público, e que são de utilidade para a apreciação dos fatos.
O Sr. Daniel Dunglas Home nasceu perto de Edimburgo † no dia 15 de março de 1833. Tem, pois, hoje 24 anos. Descende de antiga e nobre família dos Dunglas da Escócia, outrora soberana. É um rapaz de estatura mediana, louro, cuja fisionomia melancólica nada tem de excêntrica; é de compleição muito delicada, de maneiras simples e suaves, de caráter afável e benevolente, sobre o qual o contato com os poderosos não lançou arrogância nem ostentação. Dotado de excessiva modéstia, jamais faz alarde de sua maravilhosa faculdade, nunca fala de si mesmo e se, numa expansão de intimidade, conta coisas pessoais, é com simplicidade que o faz e jamais com a ênfase própria das pessoas com as quais a malevolência procura compará-lo. Diversos fatos íntimos, de nosso conhecimento pessoal, provam seus sentimentos nobres e uma grande elevação de alma; nós o constatamos com tanto maior prazer quanto se conhece a influência das disposições morais sobre a natureza das manifestações.
Os fenômenos dos quais o Sr. Home é instrumento involuntário por vezes têm sido contados por amigos muito zelosos com um entusiasmo exagerado, do qual se apoderou a malevolência. Tais como são, não necessitam de amplificação, mais nociva do que útil à causa. Sendo nosso fim o estudo sério de tudo quanto se liga à ciência espírita, fechar-nos-emos na estrita realidade dos fatos por nós mesmos constatados ou por testemunhas oculares mais dignas de fé. Podemos, assim, comentá-los com a certeza de não estar raciocinando sobre coisas fantásticas.
O Sr. Home é um médium do gênero dos que produzem manifestações ostensivas, sem, por isso, excluir as comunicações inteligentes; contudo, as suas predisposições naturais lhe dão para as primeiras uma aptidão mais especial. Sob sua influência, ouvem-se os mais estranhos ruídos, o ar se agita, os corpos sólidos se movem, levantam-se, transportam-se de um lugar a outro no espaço, instrumentos de música produzem sons melodiosos, seres do mundo extracorpóreo aparecem, falam, escrevem e, frequentemente, vos abraçam até causar dor. Na presença de testemunhas oculares, muitas vezes ele mesmo se viu elevado no ar, sem qualquer apoio e a vários metros de altura.
Do que nos foi ensinado sobre a classe de Espíritos que em geral produzem esses tipos de manifestações, não se deve concluir que o Sr. Home esteja em contato somente com a classe ínfima do mundo espírita. Seu caráter, bem como as qualidades morais que o distinguem, devem, ao contrário, granjear-lhe a simpatia dos Espíritos superiores; para estes últimos, ele não passa de um instrumento destinado a abrir os olhos dos cegos de maneira enérgica, sem que, para isso, seja privado das comunicações de ordem mais elevada. É uma missão que aceitou, missão que não está isenta de tribulações nem de perigos, mas que cumpre com resignação e perseverança, sob a égide do Espírito de sua mãe, seu verdadeiro anjo da guarda.
A causa das manifestações do Sr. Home lhe é inata; sua alma, que parece prender-se ao corpo somente por fracos liames, tem mais afinidade com o mundo dos Espíritos que com o mundo corpóreo; eis por que se desprende sem esforços, entrando mais facilmente que os outros em comunicação com os seres invisíveis. Essa faculdade se lhe revelou desde a mais tenra infância. Com a idade de seis meses, seu berço se balançava sozinho, na ausência da ama de leite, e mudava de lugar. Em seus primeiros anos ele era tão débil que mal podia se sustentar; sentado sobre um tapete, os brinquedos que não podia alcançar deslocavam-se por si mesmos e vinham pôr-se ao alcance de suas mãos. Aos três anos teve suas primeiras visões, não lhes conservando, porém, a lembrança. Tinha nove anos quando sua família fixou-se nos Estados Unidos; ali, os mesmos fenômenos continuaram com intensidade crescente, à medida que avançava em idade, embora sua reputação como médium não se tenha estabelecido senão em 1850, época em que as manifestações espíritas começaram a popularizar-se naquele país. Em 1854 veio à Itália, como dissemos, por motivos de saúde; surpreendeu Florença † e Roma † com verdadeiros prodígios. Convertido à fé católica nesta última cidade, viu-se obrigado a romper relações com o mundo dos Espíritos. Com efeito, durante um ano, seu poder oculto pareceu havê-lo abandonado; mas, como esse poder está acima de sua vontade, findo esse tempo, conforme lhe anunciara o Espírito de sua mãe, as manifestações reapareceram com nova energia. Sua missão estava traçada; deveria distinguir-se entre aqueles que a Providência escolheu para revelar-nos, por meio de sinais patentes, o poder que domina todas as grandezas humanas.
Se o Sr. Home, como o pretendem certas pessoas que julgam sem haver visto, fosse apenas um hábil. prestidigitador, sem dúvida teria sempre à sua disposição, em sua sacola, algumas peças com que pudesse simular suas mágicas, ao passo que não é senhor de produzi-las à vontade. Ser-lhe-ia impossível dar sessões regulares, pois muitas vezes, justamente no momento em que tivesse necessidade de sua faculdade, esta lhe faltaria. Algumas vezes os fenômenos se manifestam espontaneamente, no momento em que menos se espera, enquanto que, em outras, é incapaz de os provocar, circunstância pouco favorável a quem quisesse fazer exibições. em horas certas. O fato seguinte, tomado entre mil, é disso uma prova. Desde mais de quinze dias o Sr. Home não havia obtido nenhuma manifestação, quando, almoçando em casa de um de seus amigos, com mais duas ou três pessoas de seu conhecimento, de repente ouviram-se golpes nas paredes, nos móveis e no teto. Parece que voltam, disse ele. Nesse momento o Sr. Home estava sentado num canapé com um amigo. Um doméstico trouxe a bandeja de chá e preparava-se para colocá-la sobre a mesa, situada no meio do salão; embora bastante pesada, a mesa se elevou subitamente, destacando-se do solo a uma altura de 20 a 30 centímetros, como se fora atraída pela bandeja. Apavorado, o criado deixou-a escapar e a mesa, de um pulo, lançou-se em direção ao canapé, vindo cair diante do Sr. Home e de seu amigo, sem que nada do que estava em cima se tivesse desarrumado. Esse fato não é, absolutamente, o mais curioso dentre aqueles que temos para relatar, mas apresenta essa particularidade digna de nota: a de ter-se produzido espontaneamente, sem provocação, em um círculo íntimo, do qual nenhum dos assistentes, cem vezes testemunhas de fatos semelhantes, necessitava de novas provas; e, seguramente, não era o caso para o Sr. Home exibir suas habilidades, se habilidades existem.
No próximo artigo citaremos outras manifestações.
[Revista de março de 1858.]
(Segundo artigo. — Ver o número de fevereiro de 1858.)
2. — Como dissemos, o Sr. Home é um médium do gênero daqueles sob cuja influência se produzem, mais especialmente, fenômenos físicos, sem por isso excluir as manifestações inteligentes. Todo efeito que revela a ação de uma vontade livre é, por isso mesmo, inteligente, ou seja, não é puramente mecânico e nem poderia ser atribuído a um agente exclusivamente material; mas, daí às comunicações instrutivas de elevado alcance moral e filosófico há uma distância muito grande, e não é de nosso conhecimento que o Sr. Home as obtenha de tal natureza. Não sendo médium escrevente, a maior parte das respostas é dada por pancadas, indicativas das letras do alfabeto, meio sempre imperfeito e bastante lento, que dificilmente se presta a desenvolvimentos de uma certa extensão. Entretanto, ele também obtém a escrita, mas por outro processo de que falaremos dentro em pouco.
Digamos, primeiro, como princípio geral, que as manifestações ostensivas, as que impressionam os sentidos, podem ser espontâneas ou provocadas. As primeiras são independentes da vontade; por vezes, ocorrem mesmo contra a vontade daquele que lhes é objeto e ao qual nem sempre são agradáveis. São frequentes os fatos desse gênero e, sem remontar aos relatos mais ou menos autênticos dos tempos recuados, deles a história contemporânea oferece numerosos exemplos, cuja causa, ignorada em seu princípio, é hoje perfeitamente conhecida: tais são, por exemplo, os ruídos insólitos, o movimento desordenado dos objetos, as cortinas puxadas, as cobertas arrancadas, certas aparições, etc. Algumas pessoas são dotadas de uma faculdade especial que lhes dá o poder de provocar esses fenômenos, pelo menos em parte, por assim dizer, à vontade. Essa faculdade não é muito rara e, de cem pessoas, cinquenta pelo menos a possuem em maior ou menor grau. O que distingue o Sr. Home é que nele a faculdade está desenvolvida, como entre os médiuns de sua espécie, de uma maneira a bem dizer excepcional. Alguns não obterão senão golpes leves, ou o deslocamento insignificante de uma mesa, enquanto que, sob a influência do Sr. Home os ruídos mais retumbantes fazem-se ouvir e todo o mobiliário de um quarto pode ser revirado, os móveis amontoando-se uns sobre os outros. Por mais estranhos sejam esses fenômenos, o entusiasmo de alguns admiradores muito zelosos ainda encontrou jeito de os amplificar por meio de pura invenção. Por outro lado, os detratores não ficaram inativos; a seu respeito, contaram todo tipo de anedotas, que só existiram em sua imaginação. Eis um exemplo:
O Sr. Marquês de…, uma das personagens que mais interesse demonstraram pelo Sr. Home, e em cuja residência o médium era recebido na intimidade, achava-se um dia na ópera com este último. Na plateia superior estava o Sr. de P.., um de nossos assinantes, e que conhece a ambos pessoalmente. Seu vizinho entabula conversação com ele; o assunto é o Sr. Home. “Acreditais — disse ele — que aquele pretenso feiticeiro, aquele charlatão, encontrou meio de introduzir-se na casa do Sr. Marquês de…? Seus artifícios, porém, foram descobertos e ele foi posto no olho da rua a pontapés, como um vil intrigante. — Estais bem certo disso? pergunta o Sr. de P.. Conheceis o Sr. Marquês de…? — Certamente, responde o interlocutor — Nesse caso, diz o Sr. de P.., olhai naquele camarote; podereis vê-lo em companhia do próprio Sr. Home, ao qual não parece que queira dar pontapés.” Diante disso, nosso melancólico falador, não julgando conveniente continuar a conversa, pegou seu chapéu e não apareceu mais. Por aí se pode julgar do valor de certas afirmações. Seguramente, se certos fatos divulgados pela maledicência fossem verdadeiros, ter-lhe-iam fechado mais de uma porta; mas como as casas mais respeitáveis sempre lhe estiveram abertas, deve-se concluir que sempre e por toda parte ele se conduziu como um cavalheiro. Basta, aliás, haver conversado algumas vezes com o Sr. Home para ver que, com a sua timidez e a sua simplicidade de caráter, seria o mais desajeitado de todos os intrigantes; insistimos nesse ponto pela moralidade da causa. Voltemos às suas manifestações. Sendo o nosso objetivo fazer conhecer a verdade, no interesse da Ciência, tudo quanto relatamos é colhido em fontes de tal maneira autênticas que podemos garantir-lhes a mais escrupulosa exatidão; temos testemunhas oculares muito sérias, muito esclarecidas e altamente colocadas para que sua sinceridade possa ser posta em dúvida. Se dissessem que essas pessoas puderam, de boa-fé, ser vítimas de uma ilusão, responderíamos que há circunstâncias que escapam a toda suposição desse gênero; aliás, tais pessoas estavam muito interessadas em conhecer a verdade para não se precaverem contra toda falsa aparência.
Geralmente o Sr. Home começa suas sessões pelos fatos conhecidos: pancadas em uma mesa ou em qualquer outra parte do apartamento, procedendo como já dissemos alhures. Segue-se o movimento da mesa, que se opera, primeiro, pela imposição das mãos, dele somente ou de várias das pessoas reunidas, depois, a distância e sem contato; é uma espécie de ensaio. Muito frequentemente ele nada mais obtém além: vai depender da disposição em que se encontra e algumas vezes também da dos assistentes; há pessoas perante as quais jamais produziu coisa alguma, mesmo sendo seus amigos. Não nos alongaremos sobre esses fenômenos, hoje tão conhecidos, e que só se distinguem por sua rapidez e energia. Muitas vezes, após várias oscilações e balanços, a mesa se destaca do solo, eleva-se gradualmente, lentamente, por pequenas sacudidelas, não mais alguns centímetros somente, mas até o teto e fora do alcance das mãos. Após permanecer suspensa no espaço por alguns segundos, desce como havia subido, lenta e gradualmente.
Sendo um fato conhecido a suspensão de um corpo inerte e de peso específico incomparavelmente maior que o do ar, concebe-se que o mesmo se possa dar com um corpo animado. Não nos consta que o Sr. Home tivesse agido sobre alguma pessoa além dele mesmo e, ainda assim, o fato não se produziu em Paris, † mas verificou-se diversas vezes, tanto em Florença † como na França, especialmente em Bordeaux, † na presença das mais respeitáveis testemunhas, que poderíamos citar, se necessário. Como a mesa, ele se elevou até o teto, descendo do mesmo modo. O que há de bizarro nesse fenômeno é que não se produz por um ato de sua vontade, e ele mesmo nos disse que dele não se apercebe, acreditando estar sempre no solo, a menos que olhe para baixo; apenas as testemunhas o veem elevar-se; quanto a ele, experimenta nesse momento a sensação produzida pelo sacolejo de um navio sobre as ondas. De resto, o fato que relatamos não é de forma alguma peculiar ao Sr. Home. A História cita vários exemplos autênticos que relataremos posteriormente.
De todas as manifestações produzidas pelo Sr. Home, a mais extraordinária, sem dúvida, é a das aparições, razão por que nelas insistiremos mais, tendo em vista as graves consequências daí decorrentes e a luz que elas lançam sobre uma multidão de outros fatos. O mesmo acontece com os sons produzidos no ar, instrumentos de música que tocam sozinhos, etc. No próximo número examinaremos detalhadamente esses fenômenos.
Retornando de uma viagem à Holanda, onde produziu forte sensação na corte e na alta sociedade, o Sr. Home acaba de partir para a Itália. Sua saúde, gravemente alterada, exigia um clima mais ameno.
Confirmamos, com prazer, o que certos jornais relataram, de um legado de 6.000 francos de renda que lhe foi feito por uma dama inglesa, convertida por ele à Doutrina Espírita e em reconhecimento da satisfação que ela experimentou. Sob todos os aspectos, merecia o Sr. Home esse honroso testemunho. Esse ato, de parte da doadora, é um precedente que terá o aplauso de todos quantos partilham de nossas convicções; esperamos tenha a Doutrina, um dia, o seu Mecenas: a posteridade inscreverá seu nome entre os benfeitores da Humanidade. A religião nos ensina a existência da alma e sua imortalidade; o Espiritismo dá-nos a sua prova viva e palpável, não mais pelo raciocínio, mas pelos fatos. O materialismo é um dos vícios da sociedade atual, porque engendra o egoísmo. O que há, com efeito, fora do eu, para quem tudo liga à matéria e à vida presente? Intimamente vinculada às ideias religiosas, esclarecendo-nos sobre nossa natureza, a Doutrina Espírita mostra-nos a felicidade na prática das virtudes evangélicas; lembra ao homem os seus deveres para com Deus, a sociedade, e para consigo mesmo. Colaborar na sua propagação é desferir um golpe mortal na chaga do cepticismo que nos invade como um mal contagioso; honra, pois, aos que empregam nessa obra os bens com que Deus os favoreceu na Terra!
[Revista de abril de 1858.]
(Terceiro artigo. — Vide os números de fevereiro e março de 1858.)
3. — Não é de nosso conhecimento que o Sr. Home tenha feito aparecer, pelo menos visivelmente a todos, outras partes do corpo além das mãos. Cita-se, entretanto, um general, morto na Crimeia, † que teria aparecido à sua viúva e visível somente a ela; mas não pudemos constatar a realidade do fato, sobretudo no que diz respeito à intervenção do Sr. Home em tal circunstância. Limitar-nos-emos apenas àquilo que pudermos afirmar. Por que mãos, de preferência a pés ou a uma cabeça? É o que não sabemos e ele próprio ignora. Interrogados a respeito, os Espíritos responderam que outros médiuns poderiam fazer aparecer o corpo inteiro; aliás, não é isso o ponto mais importante; se só as mãos aparecem, as demais partes do corpo não são menos evidentes, como se verá dentro em pouco.
A aparição de uma mão geralmente se manifesta, em primeiro lugar, sob a toalha da mesa, através de ondulações produzidas ao percorrer toda a sua superfície; depois se mostra à borda da toalha, que ela levanta; algumas vezes vem postar-se sobre a toalha, bem no meio da mesa; frequentemente, toma um objeto e o leva para baixo da toalha. Essa mão, visível para todo o mundo, não é vaporosa, nem translúcida; tem a cor e a opacidade naturais; no punho, termina de maneira vaga, mal definida; se é tocada com precaução, confiança e sem segunda intenção hostil, oferece a resistência, a solidez e a impressão de uma mão viva; seu calor é suave, úmido e comparável ao de um pombo morto há cerca de meia hora. Não é de forma alguma inerte, porquanto age, presta-se aos movimentos que se lhe imprime, ou resiste, acaricia-vos ou vos aperta. Se, ao contrário, quiserdes pegá-la bruscamente e de surpresa, somente encontrareis o vazio. Uma testemunha ocular narrou-nos o seguinte fato que com ela se passou. Tinha entre os dedos uma campainha de mesa; uma mão, a princípio invisível, pouco depois perfeitamente visível, veio pegá-la, fazendo esforços para arrancá-la; não o tendo conseguido, passou por cima para fazê-la escorregar; o esforço da tração era muito sensível, qual se fora mão humana. Tendo querido segurar violentamente essa mão, a sua só encontrou o ar; havendo retirado os dedos, a campainha ficou suspensa no espaço e veio pousar lentamente no assoalho.
Algumas vezes há várias mãos. A mesma testemunha contou-nos o fato que se segue. Várias pessoas estavam reunidas em torno de uma dessas mesas de sala de jantar que se separam em duas. Golpes são batidos; a mesa se agita, abre-se por si mesma e, através da fenda, aparecem três mãos, uma de tamanho natural, muito grande outra, e uma terceira completamente felpuda; toca-se nelas, apalpa-se-lhes, elas vos apertam a mão, depois se esvanecem. Na casa de um de nossos amigos, que havia perdido um filho de tenra idade, é a mão de um recém-nascido que aparece; todos a podem ver e tocar; essa criança acomoda-se no colo da mãe, que sente distintamente a impressão de todo o seu corpo sobre os joelhos.
Frequentemente, a mão vem pousar sobre vós. Então a vedes ou, se não o conseguis, percebeis a pressão de seus dedos; algumas vezes ela vos acaricia, em outras vos belisca até provocar dor. Na presença de várias pessoas, o Sr. Home sentiu que lhe pegavam o pulso, e os assistentes puderam ver-lhe a pele puxada. Um instante depois ele sentiu que o mordiam e a marca da impressão de dois dentes ficou visivelmente assinalada durante mais de uma hora.
A mão que aparece também pode escrever. Algumas vezes ela se coloca no meio da mesa, pega o lápis e traça letras sobre um papel especialmente colocado para esse fim. Na maioria das vezes leva o papel para debaixo da mesa e o traz de volta todo escrito. Se a mão permanece invisível, a escrita parece produzir-se por si mesma. Obtêm-se, por esse meio, respostas às diversas perguntas que se quer fazer.
Um outro gênero de manifestações não menos notável, mas que se explica pelo que acabamos de dizer, é o dos instrumentos de música que tocam sozinhos. Em geral são pianos ou acordeões. Nessas circunstâncias, vê-se distintamente as teclas se agitarem e o fole mover-se. A mão que toca ora é visível, ora invisível; a ária que se ouve pode ser conhecida e executada a pedido de alguém. Se o artista invisível é deixado à vontade, produz acordes harmoniosos, cujo efeito lembra a vaga e suave melodia da harpa eólica. † Na residência de um de nossos assinantes, onde tais fenômenos se produziram muitas vezes, o Espírito que assim se manifestava era o de um rapaz, falecido há algum tempo, amigo da família e que, quando vivo, possuía notável talento como músico; a natureza das árias que preferia tocar não deixava nenhuma dúvida quanto à sua identidade às pessoas que o haviam conhecido.
O fato mais extraordinário desse gênero de manifestações não é, em
nossa opinião, o da aparição. Se fosse sempre vaporosa, concordaria
com a natureza etérea que atribuímos aos Espíritos; ora, nada se oporia
a que essa matéria etérea se tornasse perceptível à vista por uma espécie
de condensação, sem perder sua propriedade vaporosa. O que há de mais
estranho é a solidificação dessa mesma matéria, bastante resistente
para deixar uma impressão visível em nossos órgãos. Daremos, em nosso
próximo número, a explicação desse singular fenômeno, conforme o ensinamento
dos próprios Espíritos. [v. Teoria
das manifestações físicas.] Limitar-nos-emos, hoje, a deduzir-lhe
uma consequência relativa ao toque espontâneo dos instrumentos de música.
Com efeito, desde que a tangibilidade temporária dessa matéria eterizada
é um fato constatado; que, nesse estado, uma mão, aparente ou não, oferece
bastante resistência para exercer pressão sobre os corpos sólidos, nada
há de espantoso em que possa exercer pressão suficiente para mover as
teclas de um instrumento. Por outro lado, fatos não menos positivos
atestam que essa mão pertence a uma inteligência; nada, pois, de admirar
que tal inteligência se manifeste por sons musicais, como o pode fazer
pela escrita ou pelo desenho. Uma vez entrados nessa ordem de ideias,
as pancadas, o movimento dos objetos e todos os fenômenos espíritas
de ordem material se explicam naturalmente. [v. também:
Calúnias
contra o Sr. Home e, O falso Home.]