1,
2. Deus, Espírito e matéria.
3
– 5. O Espírito, sua individualidade, sua criação.
6.
O livre arbítrio soberano nos Espíritos.
7.
Deus não criou o mal; estabeleceu leis.
8.
Os Espíritos são agentes do poder divino.
9.
Encarnação dos Espíritos.
10.
A humanidade.
11.
A alma. O homem e os animais.
12.
O aperfeiçoamento do Espírito.
13,
14. As existências corpóreas do Espírito.
15,
16. A vida espiritual. A erranticidade.
17.
Punição para o Espírito culpado.
18.
Mundos apropriados aos diferentes graus de avanço dos Espíritos.
19. Os mundos onde
encarnam Espíritos culpados.
20.
Como devemos entender a eternidade das penas.
21.
A herança do Espírito. O verdadeiro pecado original.
22.
O esquecimento das existências anteriores.
23.
Uma explicação lógica à teoria do pecado original cometido por Adão.
24. A diversidade
das aptidões inatas.
25,
26. Se a existência atual fosse única e devesse decidir sozinha
sobre o futuro da alma para a eternidade, qual seria o destino das crianças
que morrem em tenra idade? Pelo mesmo motivo, qual seria a sorte dos
cretinos, idiotas?
27.
As existências corpóreas terão um fim?
28.
Guias da humanidade. Espíritos protetores. Moisés e o Cristo.
29, 30. O Espiritismo
e sua missão.
31,
32. Origem dos males que afligem a humanidade. Como destruir
o egoísmo e o orgulho, que parecem inatos no coração do homem? (o seu
pecado original.)
33,
34. O expurgo prometido. A tarefa dos Espíritos que serão exilados.
A nova geração e o Espiritismo cristão.
1. — Deus é a inteligência suprema, causa primeira de todas as coisas. É eterno, único, imaterial, imutável, todo poderoso, soberanamente justo e bom. Há que ser infinito em todas as suas perfeições, porquanto, supondo imperfeito um só de seus atributos, Ele já não seria Deus.
2. — Deus criou a matéria, que constitui os mundos. Também criou seres inteligentes, que chamamos Espíritos, encarregados de administrar os mundos materiais, segundo as leis imutáveis da criação, e que são perfectíveis por natureza. Aperfeiçoando-se, eles se aproximam da Divindade.
3. — O Espírito, propriamente dito, é o princípio inteligente. Sua natureza íntima nos é desconhecida. Para nós, é imaterial, porque não tem qualquer analogia com o que chamamos matéria.
4. — Os Espíritos são seres individuais. Têm um invólucro etéreo, imponderável, chamado perispírito, espécie de corpo fluídico, tipo da forma humana. Povoam o espaço e o percorrem com a rapidez do relâmpago. Constituem o mundo invisível.
5. — A origem e o modo de criação dos Espíritos nos são desconhecidos. Sabemos apenas que são criados simples e ignorantes, isto é, sem ciência e sem conhecimento do bem e do mal, mas com igual aptidão para tudo, porquanto Deus, em sua justiça, não podia isentar a uns do trabalho que impusesse a outros para chegarem à perfeição. No princípio, eles se acham numa espécie de infância, sem vontade própria e sem consciência perfeita de sua existência.
6. — O livre-arbítrio se desenvolve nos Espíritos ao mesmo tempo que as ideias. Deus lhes diz: “Podeis todos aspirar à suprema felicidade, quando houverdes adquirido os conhecimentos que vos faltam e desempenhado a tarefa que vos imponho. Trabalhai, pois, pelo vosso adiantamento: essa é a meta. Alcançá-la-eis seguindo as leis que gravei na vossa consciência”. Em consequência do livre-arbítrio, uns tomam o caminho mais curto, que é o do bem; outros o mais longo, que é o do mal.
7. — Deus não criou o mal. Estabeleceu leis e estas são sempre boas, porque Ele é soberanamente bom. Aquele que as observasse fielmente seria perfeitamente feliz; mas, dotados do livre-arbítrio, os Espíritos nem sempre as observam, sendo o mal o resultado de sua desobediência. Pode, pois, dizer-se que o bem é tudo o que é conforme à lei de Deus e o mal tudo o que é contrário a essa mesma lei.
8. — Para concorrerem, como agentes da potência divina, na obra dos mundos materiais, os Espíritos se revestem, temporariamente, de um corpo material. Pelo trabalho necessário à sua existência corporal, eles aperfeiçoam a inteligência e adquirem, pela observância da lei de Deus, os méritos que os devem conduzir à felicidade eterna.
9. — A encarnação não foi imposta ao Espírito, no princípio, como punição. Ela é necessária ao seu desenvolvimento e à execução das obras de Deus, e todos devem sofrê-la, quer tomem o caminho do bem ou o do mal. Simplesmente os que seguem o do bem avançam mais depressa, gastam menos tempo para chegar ao fim e o alcançam em condições menos penosas.
10. — Os Espíritos encarnados constituem a Humanidade, que não se circunscreve à Terra, mas que povoa todos os mundos disseminados no espaço.
11. — A alma do homem é um Espírito encarnado. Para secundá-lo no desempenho de sua tarefa, Deus lhe deu, como auxiliares, os animais que lhe estão submetidos e cuja inteligência e caráter são compatíveis com as suas necessidades.
12. — O aperfeiçoamento do Espírito é fruto do seu próprio trabalho. Não podendo, numa só existência corporal, adquirir todas as qualidades morais e intelectuais que o hão de conduzir ao objetivo, ele o alcança por uma sucessão de existências, em cada uma das quais dá alguns passos para frente, no caminho do progresso.
13. — Em cada existência corporal, o Espírito deve desempenhar uma tarefa proporcionada ao seu desenvolvimento; quanto mais rude e laboriosa, tanto maior o mérito em realizá-la. Assim, cada existência é uma prova, que o aproxima do fim. O número dessas existências é indeterminado. Depende da vontade do Espírito que esse número seja reduzido, trabalhando ativamente pelo seu progresso moral, assim como depende da vontade do operário, obrigado a realizar certo trabalho, reduzir o número de dias que empregue em executá-lo.
14. — Quando uma existência foi mal-empregada, fica sem proveito para o Espírito, que tem de recomeçá-la em condições mais ou menos penosas, em razão de sua negligência e má vontade. É assim que, na vida, podemos ser constrangidos a fazer no dia seguinte o que não fizemos na véspera.
15. — A vida espiritual é a vida normal do Espírito: é eterna. A vida corporal é transitória e passageira: não passa de um instante na eternidade.
16. — No intervalo de suas existências corporais, o Espírito é errante. A erraticidade não tem duração determinada. Nesse estado, o Espírito é feliz ou desgraçado, conforme o bom ou mau uso que fez da sua última existência; estuda as causas que apressaram ou retardaram o seu adiantamento; toma as resoluções que procurará pôr em prática na sua próxima encarnação e escolhe as provas que lhe pareçam mais apropriadas ao seu adiantamento. Entretanto, algumas vezes se engana, ou sucumbe, não levando em conta as resoluções que tomou como Espírito.
17. — O Espírito culpado é punido por meio de sofrimentos morais no mundo dos Espíritos e, na vida corporal, pelos sofrimentos físicos. Suas aflições são a consequência de suas faltas, isto é, das suas infrações à lei de Deus, de sorte que constituem, ao mesmo tempo, uma expiação do passado e uma prova para o futuro. É assim que o orgulhoso poderá vir a ter uma existência de humilhação, o tirano uma de servidão, o mau rico uma de miséria.
18. — Há mundos apropriados aos diferentes graus de adiantamento dos Espíritos e onde a existência corporal se apresenta em condições muito diferentes. Quanto menos adiantado é o Espírito, tanto mais pesado e material é o corpo que o reveste. À medida que se purifica, passa para mundos superiores, moral e fisicamente. A Terra não é o primeiro, nem o último, porém um dos mais atrasados.
19. — Os Espíritos culpados encarnam nos mundos menos adiantados, onde expiam suas faltas pelas tribulações da vida material. Para eles, esses mundos são verdadeiros purgatórios, deles dependendo deixá-los mais cedo ou mais tarde, conforme trabalhem pelo seu próprio aperfeiçoamento moral. A Terra é um desses mundos.
20. — Sendo soberanamente justo e bom, Deus não condena suas criaturas a castigos perpétuos por faltas temporárias; a todos sempre oferece os meios de progredirem e repararem o mal que fizeram. Deus perdoa, mas exige o arrependimento, a reparação e o retorno ao bem, de sorte que a duração do castigo é proporcionada à persistência do Espírito no mal. Por conseguinte, o castigo só seria eterno para aquele que eternamente permanecesse no mau caminho; desde, porém, que um lampejo de arrependimento penetre o coração do culpado, Deus estende sobre ele a sua misericórdia. A eternidade das penas deve, pois, entender-se num sentido relativo e não em sentido absoluto.
21. — Ao encarnarem, os Espíritos trazem consigo o que adquiriram em suas precedentes existências. Essa a razão pela qual os homens mostram instintivamente aptidões especiais, pendores bons ou maus, que neles parecem inatos. Os maus pendores naturais são resquícios das imperfeições de que o Espírito ainda não se despojou; são também indícios das faltas que cometeu, o verdadeiro pecado original. Em cada existência, tem ele que se lavar de algumas impurezas.
22. — O esquecimento das existências anteriores é um beneficio concedido por Deus que, em sua bondade, quis poupar ao homem recordações quase sempre penosas. Em cada nova existência, o homem é o que ele mesmo se fez: para ele cada uma delas é um novo ponto de partida; conhece seus defeitos atuais, sabe que esses defeitos são a consequência dos que tinha antes e daí conclui o mal que possa ter cometido. Isto é suficiente para que trabalhe por se corrigir. Se outrora teve defeitos de que já se livrou, não tem mais que se preocupar com eles; bastam as suas imperfeições presentes.
23. — Se a alma não viveu antes, é que foi criada ao mesmo tempo que o corpo. Nessa hipótese, nenhuma relação pode haver entre ela e as que a precederam. Pergunta-se, então, como é que Deus, que é soberanamente justo e bom, a tenha responsabilizado pela falta do pai do gênero humano, maculando-a com um pecado original que ela não cometeu. Dizendo-se, ao contrário, que traz ao renascer o gérmen das imperfeições de suas existências inferiores, que sofre, na existência atual, as consequências de suas faltas passadas, dá-se do pecado original uma explicação lógica, que todos podem compreender e admitir, porque a alma só é responsável por suas próprias obras.
24. — A diversidade das aptidões inatas, morais e intelectuais, é a prova de que a alma já viveu. Se houvesse sido criada ao mesmo tempo que o seu corpo atual, não estaria conforme a bondade de Deus o tê-las feito umas mais adiantadas do que outras. Por que selvagens e homens civilizados, bons e maus, tolos e inteligentes? Dizendo-se que uns têm vivido mais do que outros e adquiriram mais do que estes, tudo se explica.
25. — Se a existência atual fosse única e só ela devesse decidir do futuro da alma na eternidade, qual seria a sorte das crianças que morrem em tenra idade? Não tendo feito bem, nem mal, não merecem recompensas, nem punições. Sendo cada um recompensado segundo suas obras, conforme palavras do Cristo, elas não têm direito à perfeita felicidade dos anjos, nem merecem ficar privadas dessa felicidade. Dizei que poderão, noutra existência, realizar o que não puderam fazer na que foi abreviada e não mais haverá exceções.
26. — Pelo mesmo motivo, qual seria a sorte dos cretinos e dos idiotas? Não tendo nenhuma consciência do bem e do mal, também não têm nenhuma responsabilidade de seus atos. Deus seria justo e bom se tivesse criado almas estúpidas para votá-las a uma existência miserável e sem compensação? Admiti, ao contrário, que a alma do cretino e do idiota é um Espírito em punição num corpo impróprio a transmitir o seu pensamento, no qual se acha como um homem comprimido por fortes laços, e nada aí tereis que não seja conforme à justiça de Deus.
27. — Mediante essas encarnações sucessivas, o Espírito, tendo-se despojado pouco a pouco de suas impurezas e se aperfeiçoado pelo trabalho, chega ao termo de suas existências corporais. Passa então a pertencer à ordem dos Espíritos puros ou anjos, e goza ao mesmo tempo da visão completa de Deus e de uma felicidade sem mescla, por toda a eternidade.
28. — Sendo os homens Espíritos em expiação na Terra, Deus, como bom pai, não os deixou entregues a si mesmos, sem guias. Em primeiro lugar, eles têm os seus Espíritos protetores, ou anjos da guarda, que por eles velam e se esforçam por conduzi-los ao bom caminho; têm ainda os Espíritos em missão na Terra, Espíritos Superiores que de vez em quando encarnam entre eles para, pelos seus trabalhos, lhes iluminarem a estrada, fazendo avançar a Humanidade. Embora Deus haja gravado sua lei na consciência, julgou por bem formulá-la explicitamente. Primeiro lhes enviou Moisés; mas as leis de Moisés eram apropriadas aos homens de seu tempo; ele não lhes falou senão da vida terrena, de penas e recompensas temporais. Veio em seguida o Cristo completar a lei de Moisés, por meio de um ensino mais elevado: a pluralidade das existências, n a vida espiritual, as penas e recompensas morais. Moisés os conduziu pelo temor, o Cristo pelo amor e pela caridade.
29. — O Espiritismo, melhor compreendido hoje, acrescenta, para os incrédulos, a evidência à teoria. Prova o futuro por fatos patentes; diz em termos claros e inequívocos o que o Cristo disse por parábolas; explica as verdades desconhecidas ou falsamente interpretadas; revela a existência do mundo invisível ou dos Espíritos e inicia o homem nos mistérios da vida futura; vem combater o materialismo, que é uma revolta contra o poder de Deus. Vem, finalmente, estabelecer entre os homens o reinado da caridade e da solidariedade, anunciado pelo Cristo. Moisés lavrou, o Cristo semeou, o Espiritismo vem colher.
30. — O Espiritismo não é uma luz nova, mas uma luz mais brilhante, porque surge de todos os pontos do globo, por intermédio dos que viveram. Tornando evidente o que era obscuro, põe termo às interpretações errôneas e deve ligar os homens a uma única crença, porque só há um Deus e porque suas leis são as mesmas para todos. Enfim, assinalará a era predita pelo Cristo e pelos profetas.
31. — Os males que afligem os homens na Terra têm por causa o orgulho, o egoísmo e todas as más paixões. Pelo contato de seus vícios, os homens se tornam reciprocamente desgraçados e se punem uns aos outros. Se a caridade e a humildade substituírem o egoísmo e o orgulho, eles não mais buscarão prejudicar-se mutuamente. Respeitarão os direitos de cada um e farão que reinem entre si a concórdia e a justiça.
32. — Mas, como destruir o egoísmo e o orgulho, que parecem inatos no coração do homem? — O egoísmo e o orgulho existem no coração do homem, porque estes são Espíritos que desde o princípio seguiram o caminho do mal e foram exilados para a Terra, punidos por aqueles mesmos vícios; é esse ainda o pecado original de que muitos ainda não se despojaram. Pelo Espiritismo, Deus vem fazer um último apelo à prática da lei ensinada pelo Cristo: a lei de amor e de caridade.
33. — Tendo a Terra chegado ao tempo marcado para que se torne morada de
paz e felicidade, Deus não quer que os maus Espíritos encarnados continuem
a causar-lhe perturbação, em prejuízo dos bons; é por isso que deverão
desaparecer. Irão expiar o endurecimento de seus corações em mundos
menos adiantados, onde trabalharão novamente pelo próprio aperfeiçoamento,
numa série de existências ainda mais desgraçadas e mais penosas do que
na Terra. Formarão nesses mundos uma nova raça mais esclarecida e cuja
tarefa será fazer que progridam os seres atrasados que os habitam, auxiliados
pelos conhecimentos que já adquiriram. De lá só sairão para um mundo
melhor quando o houverem merecido e assim por diante, até que tenham
alcançado a completa purificação. Se a Terra, para eles, era um purgatório,
esses mundos serão seus infernos, mas infernos donde a esperança jamais
é banida. [Vide “A
Caminho da Luz” de Emmanuel.]
34. — Ao passo que a geração proscrita vai desaparecer rapidamente, uma
nova geração surge, cujas crenças se fundarão no Espiritismo cristão.
Assistimos à transição que se opera, prelúdio da renovação moral, cujo
advento o [advento] do Espiritismo marca.
[1] Nota de A. K.: Evangelho de Mateus, 17.10 e seguintes. — João, 3.3 e seguintes.