Comunicações grosseiras. (134.)
— Frívolas. (135.)
— Sérias. (136.)
— Instrutivas. (137.)
— Meios de comunicação. (138.)
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133.
Dissemos que todo efeito, que revela, na sua causalidade, um ato, ainda
que insignificantíssimo, de livre vontade, atesta, por essa circunstância,
a existência de uma causa inteligente. 2
Assim, um simples movimento de mesa, que responda ao nosso pensamento,
ou manifeste caráter intencional, pode ser considerado uma manifestação
inteligente. 3
Se a isso houvesse de ficar circunscrito o resultado, só muito secundário
interesse nos despertaria. Contudo, já seria alguma coisa o dar-nos
a prova de que, em tais fenômenos, há mais do que uma ação puramente
material. 4
Nula, ou, pelo menos, muito restrita seria a utilidade prática que daí
decorreria. O caso, porém, muda inteiramente de figura, quando essa
inteligência ganha um desenvolvimento tal, que permite regular a contínua
troca de ideias. 5
Já não há então simples manifestações inteligentes, mas verdadeiras
comunicações. Os meios de que hoje dispomos permitem que as obtenhamos
tão extensas, tão explícitas e tão rápidas, como as que mantemos com
os homens.
6 Quem estiver bem compenetrado, segundo a escala espírita (O Livro dos Espíritos, n.º 100), da variedade infinita que apresentam os Espíritos, sob o duplo aspecto da inteligência e da moralidade, facilmente se convencerá de que há de haver diferença entre as suas comunicações; 7 que estas hão de refletir a elevação, ou a baixeza de suas ideias, o saber e a ignorância deles, seus vícios e suas virtudes; que, numa palavra, elas não se hão de assemelhar mais do que as dos homens, desde os selvagens até o mais ilustrado europeu. 8 Em quatro categorias principais se podem grupar os matizes que apresentam. Segundo seus caracteres mais acentuados, elas se dividem em: grosseiras, frívolas, sérias e instrutivas.
[Comunicações grosseiras.]
134. — Comunicações grosseiras são as concebidas em termos que
chocam o decoro. 2
Só podem provir de Espíritos de baixa estofa, ainda cobertos de todas
as impurezas da matéria, e em nada diferem das que provenham de homens
viciosos e grosseiros. 3
Repugnam a quem quer que não seja inteiramente baldo de toda a delicadeza
de sentimentos, pela razão de que, acordemente com o caráter dos Espíritos,
elas serão triviais, ignóbeis, obscenas, insolentes, arrogantes, malévolas
e mesmo ímpias.
[Comunicações frívolas.]
135. — As comunicações frívolas emanam de Espíritos levianos,
zombeteiros, ou brincalhões, antes maliciosos do que maus, e que nenhuma
importância ligam ao que dizem. 2
Como nada de indecoroso encerram, essas comunicações agradam a certas
pessoas, que com elas se divertem, porque encontram prazer nas confabulações
fúteis, em que muito se fala para nada dizer. 3
Tais Espíritos saem-se às vezes com tiradas espirituosas e mordazes
e, por entre facécias vulgares, dizem não raro duras verdades, que quase
sempre ferem com justeza. 4
Em torno de nós pululam os Espíritos levianos, que de todas as ocasiões
aproveitam para se intrometerem nas comunicações. 5
A verdade é o que menos os preocupa; daí o maligno encanto que acham
em mistificar os que têm a fraqueza e mesmo a presunção de neles crer
sob palavra. 6
As pessoas que se comprazem nesse gênero de comunicações naturalmente
dão acesso aos Espíritos levianos e falaciosos. Delas se afastam os
Espíritos sérios, do mesmo modo que na sociedade humana os homens sérios
evitam a companhia dos doidivanas.
[Comunicações sérias.]
136. — As comunicações sérias são ponderosas quanto ao assunto
e elevadas quanto à forma. 2
Toda comunicação que, isenta de frivolidade e de grosseria, objetiva
um fim útil, ainda que de caráter particular, é, por esse simples fato,
uma comunicação séria. 3
Nem todos os Espíritos sérios são igualmente esclarecidos; há muita
coisa que eles ignoram e sobre que podem enganar-se de boa-fé. 4
Por isso é que os Espíritos verdadeiramente superiores nos recomendam
de contínuo que submetamos todas as comunicações ao crivo da razão e
da mais rigorosa lógica.
5
No tocante a comunicações sérias, cumpre se distingam as verdadeiras
das falsas, o que nem sempre é fácil, porquanto, exatamente
à sombra da elevação da linguagem, é que certos Espíritos presunçosos,
ou pseudo-sábios, procuram conseguir a prevalência das mais falsas ideias
e dos mais absurdos sistemas. 6
E, para melhor acreditados se fazerem e maior importância ostentarem,
não escrupulizam de se adornarem com os mais respeitáveis nomes e até
com os mais venerados. 7
Esse um dos maiores escolhos da ciência prática; dele trataremos mais
adiante, com todos os desenvolvimentos que tão importante assunto reclama,
ao mesmo tempo que daremos a conhecer os meios de premonição contra
o perigo das falsas comunicações. [Item
303.]
[Comunicações instrutivas.]
137. — Instrutivas são as comunicações sérias cujo principal
objeto consiste num ensinamento qualquer, dado pelos Espíritos, sobre
as ciências, a moral, a filosofia, etc. 2
São mais ou menos profundas, conforme o grau de elevação e de desmaterialização
do Espírito. 3
Para se retirarem frutos reais dessas comunicações, preciso é que elas
sejam regulares e continuadas com perseverança. 4
Os Espíritos sérios se ligam aos que desejam instruir-se e lhes secundam
os esforços, deixando aos Espíritos levianos a tarefa de divertirem
os que em tais manifestações só veem passageira distração. 5
Unicamente pela regularidade e frequência daquelas comunicações se pode
apreciar o valor moral e intelectual dos Espíritos que as dão e a confiança
que eles merecem. 6
Se, para julgar os homens, se necessita de experiência, muito mais ainda
é esta necessária, para se julgarem os Espíritos.
7 Qualificando de instrutivas as comunicações, supomo-las verdadeiras, pois o que não for verdadeiro não pode ser instrutivo, ainda que dito na mais imponente linguagem. 8 Nessa categoria, não podemos, conseguintemente, incluir certos ensinos que de sério apenas têm a forma, muitas vezes empolada e enfática, com que os Espíritos que os ditam, mais presunçosos do que instruídos, contam iludir os que os recebem. Mas, não podendo suprir a substância que lhes falta, são incapazes de sustentar por muito tempo o papel que procuram desempenhar. A breve trecho, traem-se, pondo a nu a sua fraqueza, desde que alguma sequência tenham os seus ditados, ou que eles sejam levados aos seus últimos redutos.
[Meios de comunicação.]
138.
São variadíssimos os meios de comunicação. 2
Atuando sobre os nossos órgãos e sobre todos os nossos sentidos, podem
os Espíritos manifestar-se à nossa visão, por meio das aparições; 3
ao nosso tato, por impressões tangíveis, visíveis ou ocultas; 4
à audição pelos ruídos; 5
ao olfato por meio de odores sem causa conhecida. 6
Este último modo de manifestação, se bem muito real, é, incontestavelmente,
o mais incerto, pelas múltiplas causas que podem induzir em erro. Daí
o nos não demorarmos em tratar dele. 7
O que devemos examinar com cuidado são os diversos meios de se obterem
comunicações, isto é, uma permuta regular e continuada de pensamentos.
8
Esses meios são: as pancadas, a palavra e a escrita. Estudá-los-emos
em capítulos especiais.