O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão.
Doutrina espírita - 1ª parte.

Índice |  Princípio  | Continuar

O Livro dos Médiuns — 2ª Parte.

(Idioma francês)

Capítulo IV.


TEORIA DAS MANIFESTAÇÕES FÍSICAS.

Sobre o fluido universal. (74.1-7.) — Movimentos e suspensões. (8-21.) — Ruídos. (22-24.) — Fenômenos aparentemente contrários às leis conhecidas da Natureza. (25.) — O fluido universal é o principal agente das manifestações. (75-78.) — Aumento e diminuição de peso dos corpos. (79-81.)

72. Demonstrada, pelo raciocínio e pelos fatos, a existência dos Espíritos, assim como a possibilidade que têm de atuar sobre a matéria, trata-se agora de saber como se efetua essa ação e como procedem eles para fazer que se movam as mesas e outros corpos inertes.

2 Uma ideia se apresenta muito naturalmente e nós a tivemos. 3 Dando-nos outra explicação muito diversa, pela qual longe estávamos de esperar, os Espíritos a combateram, constituindo isto uma prova de que a teoria deles não era efeito da nossa opinião. 4 Ora, essa primeira ideia todos a podiam ter, como nós; 5 quanto à teoria dos Espíritos, não cremos que jamais haja acudido à mente de quem quer que seja. 6 Sem dificuldade se reconhecerá quanto é superior à que esposávamos, se bem que menos simples, porque dá solução a inúmeros outros fatos que, com a nossa, não encontravam explicação satisfatória.


73. Desde que se tornaram conhecidas a natureza dos Espíritos, sua forma humana, as propriedades semimateriais do perispírito, a ação mecânica que este pode exercer sobre a matéria; desde que, em casos de aparição, se viram mãos fluídicas e mesmo tangíveis tomar dos objetos e transportá-los, julgou-se, como era natural, que o Espírito se servia muito simplesmente de suas próprias mãos para fazer que a mesa girasse e que à força de braço é que ela se erguia no espaço. 2 Mas, então, sendo assim, que necessidade havia de médium? Não pode o Espírito atuar só por si? Porque, é evidente que o médium, que as mais das vezes põe as mãos sobre a mesa em sentido contrário ao do seu movimento, ou que mesmo não coloca ali as mãos, não pode secundar o Espírito por meio de uma ação muscular qualquer. Deixemos, porém, que primeiro falem os Espíritos a quem interrogamos sobre esta questão.


[Sobre o fluido universal.]


74. As respostas seguintes nos foram dadas pelo Espírito São Luís. Muitos outros, depois, as confirmaram:


Será o fluido universal uma emanação da divindade?

“Não.”


Será uma criação da divindade?

“Tudo é criado, exceto Deus.”


O fluido universal será ao mesmo tempo o elemento universal?

“Sim, é o princípio elementar de todas as coisas.”


Alguma relação tem ele com o fluido elétrico, cujos efeitos conhecemos?

“É o seu elemento.”


Em que estado o fluido universal se nos apresenta, na sua maior simplicidade?

“Para o encontrarmos na sua simplicidade absoluta, precisamos ascender aos Espíritos puros. 2 No vosso mundo, ele sempre se acha mais ou menos modificado, para formar a matéria compacta que vos cerca. 3 Entretanto, podeis dizer que o estado em que se encontra mais próximo daquela simplicidade é o do fluido a que chamais fluido magnético animal.”


Já disseram que o fluido universal é a fonte da vida. Será ao mesmo tempo a fonte da inteligência?

“Não, esse fluido apenas anima a matéria.”


Pois que é desse fluido que se compõe o perispírito, parece que, neste, ele se acha num como estado de condensação, que o aproxima, até certo ponto, da matéria propriamente dita?

“Até certo ponto, como dizes, porquanto não tem todas as propriedades da matéria. É mais ou menos condensado, conforme os mundos.”


[Movimentos e suspensões.]


Como pode um Espírito produzir o movimento de um corpo sólido?

“Combinando uma parte do fluido universal com o fluido, próprio àquele efeito, que o médium emite.”


Será com os seus próprios membros, de certo modo solidificados, que os Espíritos levantam a mesa?

“Esta resposta ainda não te levará até onde desejas. 2 Quando, sob as vossas mãos, uma mesa se move, o Espírito haure no fluido universal o que é necessário para lhe dar uma vida factícia. 3 Assim preparada a mesa, o Espírito a atrai e move sob a influência do fluido que de si mesmo desprende, por efeito da sua vontade. 4 Quando quer pôr em movimento uma massa por demais pesada para suas forças, chama em seu auxílio outros Espíritos, cujas condições sejam idênticas às suas. 5 Em virtude da sua natureza etérea, o Espírito, propriamente dito, não pode atuar sobre a matéria grosseira, sem intermediário, isto é, sem o elemento que o liga à matéria. 6 Esse elemento, que constitui o que chamais perispírito, vos faculta a chave de todos os fenômenos espíritas de ordem material. Julgo ter-me explicado muito claramente, para ser compreendido.”


7 NOTA. Chamamos a atenção para a seguinte frase, primeira da resposta acima: Esta resposta AINDA te não levará até onde desejas. O Espírito compreendera perfeitamente que todas as questões precedentes só haviam sido formuladas para chegarmos a esta última e alude ao nosso pensamento que, com efeito, esperava por outra resposta muito diversa, isto é, pela confirmação da ideia que tínhamos sobre a maneira por que o Espírito obtém o movimento da mesa.


10º Os Espíritos, que aquele que deseja mover um objeto chama em seu auxílio, são-lhe inferiores? Estão-lhe sob as ordens?

“São-lhe iguais, quase sempre. Muitas vezes acodem espontaneamente.”


11º São aptos, todos os Espíritos, a produzir fenômenos deste gênero?

“Os que produzem efeitos desta espécie são sempre Espíritos inferiores, que ainda se não desprenderam inteiramente de toda a influência material.”


12º Compreendemos que os Espíritos superiores não se ocupam com coisas que estão muito abaixo deles. Mas, perguntamos se, uma vez que estão mais desmaterializados, teriam o poder de faze-lo, dado que o quisessem?

“Os Espíritos superiores têm a força moral, como os outros têm a força física. 2 Quando precisam desta força, servem-se dos que a possuem. Já não se vos disse que eles se servem dos Espíritos inferiores, como vós vos servis dos carregadores?”


3 NOTA. Já foi explicado que a densidade do perispírito, se assim se pode dizer, varia de acordo com o estado dos mundos. 4 Parece que também varia, em um mesmo mundo, de indivíduo para indivíduo. 5 Nos Espíritos moralmente adiantados, é mais sutil e se aproxima da dos Espíritos elevados; nos Espíritos inferiores, ao contrário, aproxima-se da matéria e é o que faz que os Espíritos de baixa condição conservem por muito tempo as ilusões da vida terrestre. 6 Esses pensam e obram como se ainda fossem vivos; experimentam os mesmos desejos e quase que se poderia dizer a mesma sensualidade. Esta grosseria do perispírito, dando-lhe mais afinidade com a matéria, torna os Espíritos inferiores mais aptos às manifestações físicas. 7 Pela mesma razão é que um homem de sociedade, habituado aos trabalhos da inteligência, franzino e delicado de corpo, não pode suspender fardos pesados, como o faz um carregador. Nele, a matéria é, de certa maneira, menos compacta, menos resistentes os órgãos; há menos fluido nervoso. 8 Sendo o perispírito, para o Espírito, o que o corpo é para o homem e sua densidade estando em razão da inferioridade do Espírito, essa densidade substitui no Espírito a força muscular, isto é, dá-lhe, sobre os fluidos necessários às manifestações, um poder maior do que o de que dispõem aqueles cuja natureza é mais etérea. 9 Querendo um Espírito elevado produzir tais efeitos, faz o que entre nós fazem as pessoas delicadas: chama para executá-los um Espírito do ofício.


13º Se compreendemos bem o que disseste, o princípio vital reside no fluido universal; o Espírito tira deste fluido o envoltório semimaterial que constitui o seu perispírito e é ainda por meio deste fluido que ele atua sobre a matéria inerte. É assim?

“É. 2 Quer dizer: ele empresta à matéria uma espécie de vida factícia; a matéria se anima da vida animal. 3 A mesa, que se move debaixo das vossas mãos, vive como animal; obedece por si mesma ao ser inteligente. 4 Não é este quem a impele, como faz o homem com um fardo. Quando ela se eleva, não é o Espírito quem a levanta, com o esforço do seu braço: é a própria mesa que, animada, obedece à impulsão que lhe dá o Espírito.”


14º Que papel desempenha o médium nesse fenômeno?

“Já eu disse que o fluido próprio do médium se combina com o fluido universal que o Espírito acumula. 2 É necessária a união desses dois fluidos, isto é, do fluido animalizado e do fluido universal para dar vida à mesa. 3 Mas, nota bem que essa vida é apenas momentânea, que se extingue com a ação e, às vezes, antes que esta termine, logo que a quantidade de fluido deixa de ser bastante para a animar.”


15º Pode o Espírito atuar sem o concurso de um médium?

“Pode atuar à revelia do médium. 2 Quer isto dizer que muitas pessoas, sem que o suspeitem, servem de auxiliares aos Espíritos. Delas haurem os Espíritos, como de uma fonte, o fluido animalizado de que necessitem. 3 Assim é que o concurso de um médium, tal como o entendeis, nem sempre é preciso, o que se verifica principalmente nos fenômenos espontâneos.”


16º Animada, atua a mesa com inteligência? Pensa?

“Pensa tanto quanto a bengala com que fazes um sinal inteligente. 2 Mas, a vitalidade de que se acha animada lhe permite obedecer à impulsão de uma inteligência. 3 Fica, pois, sabendo que a mesa que se move não se torna Espírito e que não tem, em si mesma, capacidade de pensar, nem de querer.”


4 NOTA. Muito amiúde, na linguagem usual, servimo-nos de uma expressão análoga. Diz-se de uma roda, que gira velozmente, que está animada de um movimento rápido.


17º Qual a causa preponderante, na produção desse fenômeno: o Espírito, ou o fluido?

“O Espírito é a causa, o fluido o instrumento, ambos são necessários.”


18º Que papel, nesse caso, desempenha a vontade do médium?

“O de atrair os Espíritos e secundá-los no impulso que dão ao fluido.”


a — É sempre indispensável a ação da vontade?

“Aumenta a força, mas nem sempre é necessária, pois que o movimento pode produzir-se contra essa vontade, ou a seu malgrado, e isso prova haver uma causa independente do médium.”


2 NOTA. Nem sempre o contato das mãos é necessário para que um objeto se mova. 3 As mais das vezes esse contato só se faz preciso para dar o primeiro impulso; porém, desde que o objeto está animado, pode obedecer à vontade do Espírito, sem contato material. Depende isto, ou da potencialidade do médium, ou da natureza do Espírito. 4 Nem sempre mesmo é indispensável um primeiro contato, do que são provas os movimentos e deslocamentos espontâneos, que ninguém cogitou de provocar.


19º Por que é que nem toda gente pode produzir o mesmo efeito e não têm todos os médiuns o mesmo poder?

“Isto depende da organização e da maior ou menor facilidade com que se pode operar a combinação dos fluidos. 2 Influi também a maior ou menor simpatia do médium para com os Espíritos que encontram nele a força fluídica necessária. 3 Dá-se com esta força o que se verifica com a dos magnetizadores, que não é igual em todos. 4 A esse respeito, há mesmo pessoas que são de todo refratárias; 5 outras com as quais a combinação só se opera por um esforço de vontade da parte delas; 6 outras, finalmente, com quem a combinação dos fluidos se efetua tão natural e facilmente, que elas nem dão por isso e servem de instrumento a seu mau grado, como atrás dissemos.” (Vede aqui adiante o capítulo das Manifestações espontâneas.)


7 NOTA. Estes fenômenos têm sem dúvida por princípio o magnetismo, porém, não como geralmente o entendem. 8 A prova está na existência de poderosos magnetizadores que não conseguiram fazer que uma pequenina mesa se movesse e na de pessoas que não logram magnetizar a ninguém, nem mesmo a uma criança, às quais, no entanto, basta que ponham os dedos sobre uma mesa pesada, para que esta se agite. 9 Assim, desde que a força mediúnica não guarda proporção com a força magnética, é que outra causa existe.


20º As pessoas qualificadas de elétricas podem ser consideradas médiuns?

“Essas pessoas tiram de si mesmas o fluido necessário à produção do fenômeno e podem operar sem o concurso de outros Espíritos. 2 Não são, portanto, médiuns, no sentido que se atribui a esta palavra. 3 Mas, também pode dar-se que um Espírito as assista e se aproveite de suas disposições naturais.”


4 NOTA. Sucede com essas pessoas o que ocorre com os que podem operar com ou sem o concurso de Espíritos estranhos. (Veja-se, no capítulo dos Médiuns, o artigo relativo aos médiuns sonambúlicos.)


21º O Espírito que atua sobre os corpos sólidos para movê-los se coloca na substância mesma dos corpos, ou fora dela?

“Dá-se uma e outra coisa. 2 Já dissemos que a matéria não constitui obstáculos para os Espíritos. Em tudo eles penetram. 3 Uma porção do perispírito se identifica, por assim dizer, com o objeto em que penetra.”


[Ruídos.]


22º Como faz o Espírito para bater? Serve-se de algum objeto material?

“Tanto quanto dos braços para levantar a mesa. 2 Sabes perfeitamente que nenhum martelo tem o Espírito à sua disposição. 3 Seu martelo é o fluido que, combinado, ele põe em ação, pela sua vontade, para mover ou bater. 4 Quando move um objeto, a luz vos dá a percepção do movimento; quando bate, o ar vos traz o som.”


23º Concebemos que seja assim, quando o Espírito bate num corpo duro; mas como pode fazer que se ouçam ruídos, ou sons articulados na massa instável do ar?

“Pois que é possível atuar sobre a matéria, tanto pode ele atuar sobre uma mesa, como sobre o ar. 2 Quanto aos sons articulados, pode imitá-los, como o pode fazer com quaisquer outros ruídos.”


24º Dizes que o Espírito não se serve de suas mãos para deslocar a mesa. Entretanto, já se tem visto, em certas manifestações visuais, aparecerem mãos a dedilhar um teclado, a percutir as teclas e a tirar dali sons. Neste caso, o movimento das teclas não será devido, como parece, a pressão dos dedos? E não é também direta e real essa pressão, quando se faz sentir sobre nós, quando as mãos que a exercem deixam marcas na pele?

“Não podeis compreender a natureza dos Espíritos nem a maneira por que atuam, senão mediante comparações, que de uma e outra coisa apenas vos dão ideia incompleta, e errareis sempre que quiserdes assimilar aos vossos os processos de que eles usam. Estes, necessariamente, hão de corresponder à organização que lhes é própria. 2 Já te não disse eu que o fluido do perispírito penetra a matéria e com ela se identifica, que a anima de uma vida factícia? Pois bem! Quando o Espírito põe os dedos sobre as teclas, realmente os põe e de fato as movimenta. Porém, não é por meio da força muscular que exerce a pressão. Ele as anima, como o faz com a mesa, e as teclas, obedecendo-lhe à vontade, se abaixam e tangem as cordas do piano. 3 Em tudo isto uma coisa ainda se dá, que difícil vos será compreender: é que alguns Espíritos tão pouco adiantados se encontram e, em comparação com os Espíritos elevados, tão materiais se conservam, que guardam as ilusões da vida terrena e julgam obrar como quando tinham o corpo de carne. 4 Não percebem a verdadeira causa dos efeitos que produzem, mais do que um camponês compreende a teoria dos sons que articula. 5 Perguntai-lhes como é que tocam piano e vos responderão que batendo com os dedos nas teclas, porque julgam ser assim que o fazem. 6 O efeito se produz instintivamente neles, sem que saibam como, se bem lhes resulte da ação da vontade. O mesmo ocorre, quando se exprimem por palavras.”


7 NOTA. Destas explicações decorre que os Espíritos podem produzir todos os efeitos que nós outros homens produzimos, mas por meios apropriados à sua organização. 8 Algumas forças, que lhes são próprias, substituem os músculos de que precisamos para atuar, da mesma maneira que, para um mudo, o gesto substitui a palavra que lhe falta.


[Fenômenos aparentemente contrários às leis conhecidas da natureza.]


25º Entre os fenômenos que se apontam como probantes da ação de uma potência oculta, alguns há evidentemente contrários a todas as conhecidas leis da Natureza. Nesses casos, não será legítima a dúvida?

“É que o homem está longe de conhecer todas as leis da Natureza. 2 Se as conhecesse todas, seria Espírito superior. 3 Cada dia que se passa desmente os que, supondo tudo saberem, pretendem impor limites à Natureza, sem que por isso, entretanto, se tornem menos orgulhosos. 4 Desvendando-lhe, incessantemente, novos mistérios, Deus adverte o homem de que deve desconfiar de suas próprias luzes, porquanto dia virá em que a ciência do mais sábio será confundida. 5 Não tendes todos os dias, sob os olhos, exemplos de corpos animados de um movimento que domina a força da gravitação? Uma pedra, atirada para o ar, não sobrepuja momentaneamente aquela força? 6 Pobres homens, que vos considerais muito sábios e cuja tola vaidade a todos os momentos está sendo desbancada, ficai sabendo que ainda sois muito pequeninos.”


[O fluido universal é o principal agente das manifestações.]


75. Estas explicações são claras, categóricas e isentas de ambiguidade. 2 Delas ressalta, como ponto capital, que o fluido universal, onde se contém o princípio da vida, é o agente principal das manifestações, agente que recebe impulsão do Espírito, seja encarnado, seja errante. 3 Condensado, esse fluido constitui o perispírito, ou invólucro semimaterial do Espírito. 4 Encarnado este, o perispírito se acha unido à matéria do corpo; estando o Espírito na erraticidade, ele se encontra livre. 5 Quando o Espírito está encarnado, a substância do perispírito se acha mais ou menos ligada, mais ou menos aderente, se assim nos podemos exprimir. 6 Em algumas pessoas se verifica, por efeito de suas organizações, uma espécie de emanação desse fluido e é isso, propriamente falando, o que constitui o médium de influências físicas. 7 A emissão do fluido animalizado pode ser mais ou menos abundante, como mais ou menos fácil a sua combinação, donde os médiuns mais ou menos poderosos. 8 Essa emissão, porém, não é permanente, o que explica a intermitência do poder mediúnico.


76. Façamos uma comparação. Quando se tem vontade de atuar materialmente sobre um ponto colocado à distância, quem quer é o pensamento, mas o pensamento por si só não irá percutir o ponto; é-lhe preciso um intermediário, posto sob a sua direção: uma vara, um projétil, uma corrente de ar, etc. 2 Notai também que o pensamento não atua diretamente sobre a vara, porquanto, se esta não for tocada, não se moverá. 3 O pensamento, que não é senão o Espírito encarnado está unido ao corpo pelo perispírito e não pode atuar sobre o corpo sem o perispírito, como não o pode sobre a vara sem o corpo. 4 Atua sobre o perispírito, por ser esta a substância com que tem mais afinidade; o perispírito atua sobre os músculos, os músculos tomam a vara e a vara bate, no ponto visado. 5 Quando o Espírito não está encarnado, faz-se-lhe mister um auxiliar estranho e este auxiliar é o fluido, mediante o qual toma ele o objeto, sobre que quer atuar, apto a lhe obedecer à impulsão da vontade.


77. Assim, quando um objeto é posto em movimento, levantado ou atirado para o ar, não é que o Espírito o tome, empurre e suspenda, como o faríamos com a mão. 2 O Espírito o satura, por assim dizer, do seu fluido, combinado com o do médium, e o objeto, momentaneamente vivificado desta maneira, obra como o faria um ser vivo, com a diferença apenas de que, não tendo vontade própria, segue o impulso que lhe dá a vontade do Espírito.

3 Pois que o fluido vital, que o Espírito, de certo modo, emite, dá vida factícia e momentânea aos corpos inertes; 4 pois que o perispírito não é mais do que esse mesmo fluido vital, 5 segue-se que, quando o Espírito está encarnado, é ele próprio quem dá vida ao seu corpo, por meio do seu perispírito, 6 conservando-se unido a esse corpo, enquanto a organização deste o permite. Quando se retira, o corpo morre. 7 Agora, se, em vez de uma mesa, esculpirmos uma estátua de madeira e sobre ela atuarmos, como sobre a mesa, teremos uma estátua que se moverá, que baterá, que responderá com os seus movimentos e pancadas. Teremos, em suma, uma estátua animada momentaneamente de uma vida artificial. Em lugar de mesas falantes, ter-se-iam estátuas falantes. 8 Quanta luz esta teoria não projeta sobre uma imensidade de fenômenos até agora sem solução! Quantas alegorias e efeitos misteriosos ela não explica!


78. Os incrédulos ainda objetam que o fenômeno da suspensão das mesas, sem ponto de apoio, é impossível, por ser contrário à lei de gravitação. 2 Responder-lhes-emos que, em primeiro lugar, a negativa não constitui uma prova; em segundo lugar, que, sendo real o fato, pouco importa contrarie ele todas as leis conhecidas, circunstância que só provaria uma coisa: que ele decorre de uma lei desconhecida e os negadores não podem alimentar a pretensão de conhecerem todas as leis da Natureza.

3 Acabamos de explicar uma dessas leis, mas isso não é razão para que eles a aceitem, precisamente porque ela nos é revelada por Espíritos que despiram a veste terrena, em vez de o ser por Espíritos que ainda trazem essa veste e têm assento na Academia. 4 De modo que, se o Espírito de Arago, vivo na Terra, houvesse enunciado essa lei, eles a teriam admitido de olhos fechados; mas, desde que vem do Espírito de Arago, morto, é uma utopia. Por que isto? Porque acreditam que, tendo Arago morrido, tudo o que nele havia também morreu. 5 Não temos a presunção de os dissuadir; entretanto, como tal objeção pode causar embaraço a algumas pessoas, tentaremos dar-lhes resposta, colocando-nos no ponto de vista em que eles se colocam, isto é, abstraindo, por instante, da teoria da animação factícia.


[Aumento e diminuição de peso dos corpos.]


79. Quando se produz o vácuo na campânula da máquina pneumática, essa campânula adere com força tal ao seu suporte, que impossível se torna suspendê-la, devido ao peso da coluna de ar que sobre ela faz pressão. Deixe-se entrar o ar e a campânula pode ser levantada com a maior facilidade, porque o ar que lhe fica por baixo contrabalança o ar que, pela parte exterior, a comprime. Contudo, se ninguém lhe tocar, ela permanecerá assente no suporte, por efeito da lei de gravidade. Agora, comprima-se-lhe o ar no interior, dê-se-lhe densidade maior que a do que está por fora, e a campânula se erguerá, apesar da gravidade. Se a corrente de ar for violenta e rápida, a mesma campânula se manterá suspensa no espaço, sem nenhum ponto visível de apoio, à guisa desses bonecos que se fazem rodopiar em cima de um repuxo d’água. 2 Por que então o fluido universal, que é o elemento de toda a Natureza, acumulado em torno da mesa, não poderia ter a propriedade de lhe diminuir ou aumentar o peso específico relativo, como faz o ar com a campânula da máquina pneumática, como faz o gás hidrogênio com os balões, sem que para isso seja necessária a derrogação da lei de gravidade? Conheceis, porventura, todas as propriedades e todo o poder desse fluido? Não. Pois, então, não negueis a realidade de um fato, apenas por não o poderdes explicar.


80. Voltemos à teoria do movimento da mesa. Se, pelo meio indicado, o Espírito pode suspender uma mesa, também pode suspender qualquer outra coisa: uma poltrona, por exemplo. Se pode levantar uma poltrona, também pode, tendo força suficiente, levantá-la com uma pessoa assentada nela. 2 Aí está a explicação do fenômeno que o Sr. Home produziu inúmeras vezes consigo mesmo e com outras pessoas. Repetiu-o durante uma viagem a Londres e, para provar que os espectadores não eram joguetes de uma ilusão de ótica, fez no forro, enquanto suspenso, uma marca a lápis e que muitas pessoas lhe passassem por baixo. 3 Sabe-se que o Sr. Home é um poderoso médium de efeitos físicos. Naquele caso, era ao mesmo tempo a causa eficiente e o objeto.


81. Falamos, há pouco, do possível aumento de peso. Efetivamente, esse é um fenômeno que às vezes se produz e que nada apresenta de mais anormal do que a prodigiosa resistência da campânula, sob a pressão da coluna atmosférica. 2 Têm-se visto, sob a influência de certos médiuns, objetos muito leves oferecerem idêntica resistência e, em seguida, cederem de repente ao menor esforço. Na experiência de que acima tratamos, a campânula não se torna realmente mais nem menos pesada em si mesma; mas, parece ter maior peso, por efeito da causa exterior que sobre ela atua. O mesmo provavelmente se dá aqui. 3 A mesa tem sempre o mesmo peso intrínseco, porquanto sua massa não aumentou; porém, uma força estranha se lhe opõe ao movimento e essa causa pode residir nos fluidos ambientes que a penetram, como reside no ar a que aumenta ou diminui o peso aparente da campânula. 4 Fazei a experiência da campânula pneumática diante de um campônio ignorante, incapaz de compreender que o que atua é o ar, que ele não vê, e não vos será difícil persuadi-lo de que aquilo é obra do diabo.

5 Dirão talvez que, sendo imponderável esse fluido, um acúmulo dele não pode aumentar o peso de qualquer objeto. De acordo; mas notai que, se nos servimos do termo acúmulo, foi por comparação, não por que assimilemos em absoluto aquele fluido ao ar. 6 Ele é imponderável: seja. Entretanto, nada prova que o é. Desconhecemos a sua natureza íntima e estamos longe de lhe conhecer todas as propriedades. 7 Antes que se houvesse experimentado a gravidade do ar, ninguém suspeitava dos efeitos dessa mesma gravidade. 8 Também a eletricidade se classifica entre os fluidos imponderáveis; no entanto, um corpo pode ser fixado por uma corrente elétrica e oferecer grande resistência a quem queira suspendê-lo. Tornou-se, assim, aparentemente mais pesado. 9 Fora ilógico afirmar-se que o suporte não existe, simplesmente por não ser visível. O Espírito pode ter alavancas que nos sejam desconhecidas: a Natureza nos prova todos os dias que o seu poder ultrapassa os limites do testemunho dos sentidos.

10 Só por uma causa semelhante se pode explicar o singular fenômeno, tantas vezes observado, de uma pessoa fraca e delicada levantar com dois dedos, sem esforço e como se fosse uma pena, um homem forte e robusto, juntamente com a cadeira em que está assentado. 11 As intermitências da faculdade provam que a causa é estranha à pessoa que produz o fenômeno.


Abrir