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Esta nova obra é mais um passo avante nas consequências e aplicações
do Espiritismo. 2
Assim como seu título indica, ela tem por objeto o estudo de pontos,
até hoje, diversamente interpretados e comentados: A Gênese, os milagres
e as predições, em suas relações com as novas leis que decorrem
da observação dos fenômenos espíritas.
3
Dois elementos, ou, se o quiserem, duas forças regem o Universo: o elemento
espiritual e o elemento material; da ação simultânea desses dois princípios
nascem os fenômenos especiais, que são naturalmente inexplicáveis se
fizermos abstração de um dos dois, absolutamente como a formação da
água seria inexplicável se fizéssemos abstração de um dos seus dois
elementos constituintes: o oxigênio e o hidrogênio.
4
O Espiritismo, demonstrando a existência do mundo espiritual e suas
relações com o mundo material, dá a chave de uma imensidade de fenômenos
incompreendidos e, por isso mesmo, considerados como inadmissíveis por
uma certa classe de pensadores. 5
Esses fatos são abundantes nas Escrituras, e é por não conhecerem a
lei que os rege, que os comentadores dos dois campos opostos tornam
sem cessar ao mesmo círculo de ideias, uns fazendo abstração dos dados
positivos da ciência e os outros do princípio espiritual, não podendo
chegar a uma solução racional.
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Essa solução está na ação recíproca do Espírito e da matéria. 7
Ela tira, é verdade, à maioria desses fatos seu caráter sobrenatural;
mas qual é melhor: admiti-los como resultado das leis da Natureza, ou
lhes rejeitar tudo de fato ? 8
Sua rejeição absoluta resulta [na rejeição] daquela base mesma do edifício,
enquanto que sua admissão a esse título, não suprimindo senão os acessórios,
deixa essa base intacta. 9
É por isso que o Espiritismo conduz tanta gente à crença em verdades
que elas antes consideravam como utopias.
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Esta obra é, pois, como já o dissemos, um complemento das aplicações
do Espiritismo, de um ponto de vista especial. Os materiais se achavam
prontos, ou, pelo menos, elaborados desde longo tempo; mas, ainda não
chegara o momento de serem publicados. Era necessário, primeiramente,
que as ideias destinadas a lhes servirem de base houvessem atingido
a maturidade e, além disso, levassem em conta a oportunidade das circunstâncias.
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O Espiritismo não tem mistérios, nem teorias secretas; tudo deve ser
dito em plena luz do dia, a fim de que todos o possam julgar com conhecimento
de causa; cada coisa, entretanto, tem que vir a seu tempo, para vir
seguramente. 12
Uma solução dada à ligeira, antes da elucidação completa da questão,
seria mais uma causa de atraso que de avanço. 13
Na de que aqui se trata, a importância do assunto nos impunha o dever
de evitar qualquer precipitação.
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Antes de entrarmos em matéria, pareceu-nos necessário definir claramente
os papéis respectivos dos Espíritos e dos homens na elaboração da nova
doutrina; essas considerações preliminares, que a escoimam de toda ideia
de misticismo, fazem objeto do primeiro capítulo, intitulado: Caracteres
da revelação espírita. Pedimos séria atenção para esse ponto, porque,
de certo modo, aí está o nó da questão.
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Sem embargo da parte que incumbe à atividade humana na elaboração desta
doutrina, a iniciativa [da obra] pertence aos Espíritos, não constitui,
porém, a opinião pessoal de nenhum deles; ela é, e não pode deixar de
ser, a resultante do seu ensino coletivo e concordante. 16
Somente nesta condição, pode-se dizer a doutrina dos Espíritos,
doutro modo, não seria mais do que a doutrina de um Espírito,
e ela não teria senão o valor de uma opinião pessoal.
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Generalidade e concordância no ensino, tal é o caráter essencial da
doutrina, a condição mesma da sua existência, donde resulta que todo
princípio que ainda não haja recebido a consagração do controle da generalidade
não pode ser considerado como parte integrante dessa mesma doutrina,
mas como uma simples opinião isolada, da qual o Espiritismo não pode
assumir a responsabilidade.
18
Essa coletividade concordante da opinião dos Espíritos, passada; ao
demais, pelo critério da lógica, é o que faz a força da Doutrina Espírita
e lhe assegura a perpetuidade. 19
Para que ela mudasse, seria necessário que a universalidade dos Espíritos
mudasse de opinião e que eles viessem um dia dizer o contrário do que
eles disseram; 20
pois que ela tem sua fonte [de origem] no ensino dos Espíritos, para
que ela sucumbisse, seria necessário que os Espíritos deixassem de existir.
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É também o que fará que sempre prevaleça sobre os sistemas pessoais,
que não têm, como ela, suas raízes por toda parte.
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O Livro dos Espíritos não viu seu crédito se consolidar senão
porque ele é a expressão de um pensamento coletivo, geral. Em abril
de 1867, ele completou o seu primeiro período decenal; nesse intervalo,
os princípios fundamentais, cujas bases ele assentara, foram sucessivamente
completados e desenvolvidos, como resultado do ensinamento progressivo
dos Espíritos, mas nenhum recebeu desmentido da experiência; todos,
sem exceção, permaneceram de pé, mais vivazes do que nunca, enquanto
que, de todas as ideias contraditórias que alguns tentaram opor-lhe,
nenhuma prevaleceu, precisamente porque, em toda parte, o contrário
era ensinado. 23
Este é um resultado característico que nós podemos proclamar sem vaidade,
pois que jamais atribuímos a nós mesmos o mérito [de tal fato].
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Os mesmos escrúpulos havendo presidido à redação das nossas outras obras,
nós pudemos dize-las: segundo o Espiritismo, porque estávamos
certo da conformidade delas com o ensinamento geral dos Espíritos. 25
O mesmo sucede com esta, que podemos, por motivos semelhantes, dar como
complemento das precedentes, com exceção, todavia, de algumas teorias
ainda hipotéticas, que tivemos o cuidado de indicar como tais e que
não devem ser consideradas senão como simples opiniões pessoais, enquanto
não forem confirmadas ou contraditadas, a fim de que não pese sobre
a Doutrina a responsabilidade delas.
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Aliás, os leitores assíduos da Revista hão tido ensejo de notar,
em forma de esboços, a maioria das ideias que são desenvolvidas nesta
última obra, conforme havemos feito com as precedentes. 27
A Revista frequentemente é para nós um terreno de ensaio, destinado
a sondar a opinião dos homens e dos Espíritos sobre certos princípios,
antes de os admitir como partes constitutivas da Doutrina.