Revoluções
gerais ou parciais. (1, 2.) — Idade das montanhas.
(3.) — Dilúvio
bíblico. (4, 5.)
— Revoluções periódicas. (6-10.)
— Cataclismos futuros. (11-14.)
— Aumento ou diminuição do volume da Terra. (15.) |
1. — Os períodos geológicos marcam as fases do aspecto geral do globo, em consequência das suas transformações. Mas, com exceção do período diluviano, que se caracterizou por uma subversão repentina, todos os demais transcorreram lentamente, sem transições bruscas. Durante todo o tempo que os elementos constitutivos do globo levaram para tomar suas posições definitivas, as mutações houveram de ser gerais. Uma vez consolidada a base, só se devem ter produzido modificações parciais, na superfície.
2. — Além das revoluções gerais, a Terra experimentou grande número de perturbações locais, que mudaram o aspecto de certas regiões. Como no tocante às outras duas causas contribuíram para essas perturbações: o fogo e a água.
2 O fogo atuou produzindo: ou erupções vulcânicas que sepultaram, sob espessas camadas de cinzas e lavas, os terrenos circunjacentes, fazendo desaparecer cidades com seus habitantes; ou terremotos; ou levantamentos da crosta sólida, que impeliam as águas para as regiões mais baixas; ou o afundamento, em maior ou menor extensão, dessa mesma crosta, nalguns lugares, para onde as águas se precipitaram, deixando em seco outros lugares. Foi assim que surgiram ilhas no meio do oceano, enquanto que outras desapareceram; que porções de continentes se separaram e formaram ilhas que braços de mar, secados, ligaram ilhas e continentes.
3 Quanto à água, essa atuou, produzindo: ou a irrupção ou a retirada do mar nalgumas costas; ou desmoronamentos que, interceptando as correntes líquidas, formaram lagos; ou transbordamentos e inundações; ou, enfim, aterros nas embocaduras dos rios. Esses aterros, rechaçando o mar, criaram novos territórios. Tal a origem do delta do Nilo, ou Baixo Egito; do delta do Ródano, ou Camarga.
3. — Examinando-se os terrenos dilacerados pelo erguimento das montanhas e das camadas que lhes formam os contrafortes, possível se torna determinar-lhes a idade geológica. 2 Por idade geológica das montanhas, não se deve entender o número de anos que elas contam de existência, mas o período em que se formaram e, portanto, a relativa ancianidade que apresentam. Fora errôneo acreditar-se que semelhante ancianidade corresponde à elevação que lhes é própria, ou à natureza exclusivamente granítica que revelem, uma vez que a massa de granito, ao dar-se o seu levantamento, pode ter perfurado e separado as camadas superpostas.
3 Comprovou-se assim, por meio da observação, que as montanhas dos Vosges, da Bretanha e da Côte-d’Or, na França, que não são muito elevadas, pertencem às mais antigas formações. Datam, do período de transição, senão anteriores aos depósitos de hulha. O Jura se formou no meado do período secundário; é contemporâneo dos répteis gigantes. Os Pirineus se formaram mais tarde, no começo do período terciário. O Monte Branco e o grupo dos Alpes ocidentais são posteriores aos Pirineus e datam da metade do período terciário. Os Alpes orientais, que compreendem as montanhas do Tirol, são ainda mais recentes, porquanto só se formaram pelos fins desse mesmo período. Algumas montanhas da Ásia são mesmo posteriores ao período diluviano, ou lhe são contemporâneas.
4 Esses levantamentos hão de ter ocasionado grandes perturbações locais e inundações mais ou menos consideráveis, pelo deslocamento das águas, pela interrupção e mudança do curso dos rios. n
4. — O dilúvio bíblico, também conhecido pela denominação de grande dilúvio asiático, é fato cuja realidade não se pode contestar. 2 Deve tê-lo ocasionado o levantamento de uma parte das montanhas daquela região, como o do México. Corrobora esta opinião a existência de um mar interior, que ia outrora do mar Negro ao oceano Boreal, comprovada pelas observações geológicas. O mar de Azov, o mar Cáspio, cujas águas são salgadas, embora nenhuma comunicação tenham com nenhum outro mar; o lago Aral e os inúmeros lagos espalhados pelas imensas planícies da Tartália e as estepes da Rússia parecem restos daquele antigo mar. 3 Por ocasião do levantamento das montanhas do Cáucaso, posterior ao dilúvio universal, parte daquelas águas foi recalcada para o norte, na direção do oceano Boreal; outra parte, para o sul, em direção ao oceano Índico. Essas inundaram e devastaram precisamente a Mesopotâmia e toda a região em que habitaram os antepassados do povo hebreu. 4 Embora esse dilúvio se tenha estendido por uma superfície muito grande, é atualmente ponto averiguado que ele foi apenas local; que não pode ter sido causado pela chuva, pois, por muito copiosa que esta fosse e ainda que se prolongasse por quarenta dias, o cálculo prova que a quantidade d’água caída das nuvens não podia bastar para cobrir toda a terra, até acima das mais altas montanhas.
5 Para os homens de então, que não conheciam mais do que uma extensão muito limitada da superfície do globo e que nenhuma ideia tinham da sua configuração, desde que a inundação invadiu os países conhecidos, invadida fora, para eles, a Terra inteira. Se a essa crença aditarmos a forma imaginosa e hiperbólica da descrição, forma peculiar ao estilo oriental, já não nos surpreenderá o exagero da narração bíblica.
5. — O dilúvio asiático foi evidentemente posterior ao aparecimento do homem na Terra, visto que a lembrança dele se conservou pela tradição em todos os povos daquela parte do mundo, os quais o consagraram em suas teogonias. n
2 É igualmente posterior ao grande dilúvio universal que assinalou o início do atual período geológico. Quando se fala de homens e de animais antediluvianos, a referência é àquele primeiro cataclismo.
6. — Além do seu movimento anual em torno do Sol, origem das estações,
do seu movimento de rotação sobre si mesma em 24 horas, origem do dia
e da noite, tem a Terra um terceiro movimento que se completa em cerca
de 25.000 anos, ou, mais exatamente, em 25.868 anos, e que produz o
fenômeno denominado, em astronomia, precessão dos equinócios.
(Cap. V, n.º 11.)
2 Este movimento, que não se pode explicar em poucas palavras, sem o auxílio de figuras e sem uma demonstração geométrica, consiste numa espécie de oscilação circular, que se há comparado à de um pião a morrer, e por virtude da qual o eixo da Terra, mudando de inclinação, descreve um duplo cone cujo vértice está no centro do planeta, abrangendo as bases desses cones a superfície circunscrita pelos círculos polares, isto é, uma amplitude de 23 e meio graus de raio.
7. — O equinócio é o instante em que o Sol, passando de um hemisfério a outro, se encontra perpendicular ao equador, o que acontece duas vezes por ano, a 21 de março, quando o Sol passa para o hemisfério boreal, e a 22 de Setembro, quando volta ao hemisfério austral.
2 Mas, em consequência da gradual mudança na obliquidade do eixo, o que acarreta outra mudança na obliquidade do equador sobre a eclíptica, o momento do equinócio avança cada ano de alguns minutos (25 minutos e 7 segundos). A esse avanço é que se deu o nome de precessão dos equinócios (do latim præcedere, caminhar para diante, composto de præ, adiante e cedere, ir-se).
3 Com o tempo, esses poucos minutos fazem horas, dias, meses e anos, resultando daí que o equinócio da primavera, que agora se verifica no mês de março, em dado tempo se verificará em fevereiro, depois em janeiro, depois em dezembro. Então o mês de dezembro terá a temperatura de março e março a de junho e assim por diante, até que, voltando ao mês de março, as coisas se encontrarão de novo no estado atual, o que se dará ao cabo de 25.868 anos, para recomeçar indefinidamente a mesma revolução. n
8. — Desse movimento cônico do eixo, resulta que os pólos da Terra não olham constantemente os mesmos pontos do céu; que a Estrela Polar não será sempre estrela polar; que os pólos gradualmente se inclinam mais ou menos para o Sol e recebem dele raios mais ou menos diretos, donde se segue que a Islândia e a Lapônia, por exemplo, localizadas sob o círculo polar, poderão, em dado tempo, receber raios solares como se estivessem na latitude da Espanha e da Itália e que, na posição do extremo oposto, a Espanha e a Itália poderão ter a temperatura da Islândia e da Lapônia, e assim por diante, a cada renovação do período de 25.000 anos. n
9. — Ainda não puderam ser determinadas com precisão as consequências deste movimento, porque somente se há podido observar uma pequena parte da sua revolução. A respeito, pois, não há mais do que presunções, algumas das quais com caráter de probabilidade.
2 Essas consequências são:
1.º O aquecimento e o resfriamento alternativos dos pólos e, por conseguinte, a fusão dos gelos polares durante a metade do período de 25.000 anos e a nova formação deles durante a outra metade desse período. Resultaria daí não estarem os pólos condenados a uma perpétua esterilidade, cabendo-lhes gozar a seu turno dos benefícios da fertilidade.
2.º O deslocamento gradativo do mar, fazendo-o invadir pouco a pouco umas terras e pôr a descoberto outras, para de novo as abandonar, voltando ao seu leito anterior. Esse movimento periódico, indefinidamente renovado, constituiria uma verdadeira maré universal de 25.000 anos.
3 A lentidão com que se opera esse movimento do mar torna-o quase imperceptível para cada geração. Faz-se, porém, sensível ao cabo de alguns séculos. Nenhum cataclismo súbito pode ele causar, porque os homens se retiram, de geração em geração, à proporção que o mar avança, e avançam pelas terras donde o mar se retira. É a essa causa, mais que provável, que alguns sábios atribuem o afastamento do mar de certas costas e a invasão de outras por ele.
10. — O deslocamento demorado, gradual e periódico do mar é fato que a experiência comprova e numerosos exemplos confirmam, em todos os pontos do globo. Tem por efeito o entretenimento das forças produtivas da Terra. A longa imersão é para os terrenos um tempo de repouso, durante o qual eles recuperam os princípios vitais esgotados por uma não menos longa produção. Os imensos depósitos de matérias orgânicas, formados pela permanência das águas durante séculos e séculos, são adubações naturais, periodicamente renovadas, e as gerações se sucedem sem se aperceberem de tais mudanças. n
11. — As grandes comoções telúricas se têm produzido nas épocas em que a crosta sólida da Terra, pela sua fraca espessura, quase nenhuma resistência oferecia à efervescência das matérias em ignição no seu interior. Tais comoções foram diminuindo, à proporção que aquela crosta se consolidava. Numerosos vulcões já se acham extintos, outros os terrenos de formação posterior soterraram.
2 Ainda, certamente, poderão produzir-se perturbações locais, por efeito de erupções vulcânicas, da eclosão de alguns vulcões novos, de inundações repentinas de algumas regiões; poderão do mar surgir ilhas e outras ser por ele tragadas; mas, passou o tempo dos cataclismos gerais, como os que assinalaram os grandes períodos geológicos. 3 A Terra adquiriu uma estabilidade que, sem ser absolutamente invariável, coloca doravante o gênero humano ao abrigo de perturbações gerais, a menos que intervenham causas desconhecidas, a ela estranhas e que de modo nenhum se possam prever.
12. — Quanto aos cometas, estamos hoje perfeitamente tranquilizados com relação à influência que exercem, mais salutar do que nociva, por parecerem eles destinados a reabastecer os mundos, se assim nos podemos exprimir, trazendo-lhes os princípios vitais que eles armazenam em sua corrida pelo espaço e com o se aproximarem dos sóis. Assim, pois, seriam antes fontes de prosperidades, do que mensageiros de desgraças.
2 A natureza fluídica, já bem comprovada (Cap. VI, n.º 28 e seguintes), que lhes é própria afasta todo receio de choques violentos, porquanto, se um deles encontrasse a Terra, esta o atravessaria, como se passasse através de um nevoeiro.
3 Ainda menos de temer é a cauda que arrastam, visto que essa mais não é do que a reflexão da luz solar na imensa atmosfera que os envolve, tanto assim que se mostra constantemente dirigida para o lado oposto ao Sol, mudando de direção conformemente à posição deste astro. Essa matéria gasosa também poderia, em virtude da rapidez com que eles caminham, constituir uma espécie de cabeleira, semelhante à esteira deixada por um navio em marcha, ou à fumaça de uma locomotiva. 4 Aliás, muitos cometas já se têm aproximado da Terra, sem lhe causarem qualquer dano. Em virtude das suas respectivas densidades, a Terra exerceria sobre o cometa uma atração maior do que a dele sobre ela. Somente uns restos de velhos preconceitos podem fazer que a presença de um cometa inspire terror. n
13. — Deve-se igualmente lançar ao rol das hipóteses quiméricas a possibilidade do encontro da Terra com outro planeta. A regularidade e a invariabilidade das leis que presidem aos movimentos dos corpos celestes tornam carente de toda probabilidade semelhante encontro.
2
A Terra, no entanto, terá um fim. Como? Isso ainda permanece no domínio
das conjeturas; mas, visto estar ela ainda longe da perfeição que pode
alcançar e da vetustez que lhe indicaria o declínio, seus habitantes
atuais podem estar certos de que tal não se dará ao tempo deles. (Cap. VII,
n.º 48 e seguintes.)
14. — Fisicamente, a Terra teve as convulsões da sua infância; entrou agora num período de relativa estabilidade: na do progresso pacífico, que se efetua pelo regular retorno dos mesmos fenômenos físicos e pelo concurso inteligente do homem. 2 Está, porém, ainda, em pleno trabalho de gestação do progresso moral. Aí residirá a causa das suas maiores comoções. 3 Até que a Humanidade se haja avantajado suficientemente em perfeição, pela inteligência e pela observância das leis divinas, as maiores perturbações ainda serão causadas pelos homens, mais do que pela Natureza, isto é, serão antes morais e sociais do que físicas.
15. — O volume da Terra aumenta, diminui, ou permanece estacionário? Alguns, para sustentar que o volume da Terra aumenta, se fundam em que as plantas dão ao solo mais do que dele tiram, o que, se num sentido é exato, noutro não o é. As plantas se nutrem tanto, e até mais, das substâncias gasosas que haurem na atmosfera, quanto das que sugam pelas raízes. Ora, a atmosfera faz parte integrante do globo; os gases que a constituem provêm da decomposição dos corpos sólidos e estes, recompondo-se, retomam o que lhe haviam dado. É uma troca, ou, antes, uma perpétua transformação, de tal sorte que, operando-se o crescimento deles com o auxílio dos elementos constitutivos do globo, os despojos dos vegetais e dos animais, por muito consideráveis que sejam, não lhe aumentam de um átomo a massa. Se, por essa causa, a parte sólida do globo aumentasse de modo permanente, isso se daria à custa da atmosfera, que diminuiria de outro tanto e acabaria por se tornar imprópria à vida, se não recuperasse, pela decomposição dos corpos sólidos, o que perde pela composição deles.
2 Na origem da Terra, as primeiras camadas geológicas se formaram das matérias sólidas momentaneamente volatilizadas, por efeito da alta temperatura, e que, condensadas mais tarde pelo resfriamento, se precipitaram. Incontestavelmente, elas elevaram um pouco a superfície do solo, mas sem acrescentarem coisa alguma à massa total, pois que ali apenas havia um deslocamento de matéria. 3 Quando, expurgada dos elementos que continha em suspensão, a atmosfera se encontrou no estado normal, as coisas tomaram o curso regular em que depois seguiram. Hoje, a menor modificação na constituição da atmosfera acarretaria, forçosamente, a destruição dos atuais habitantes da Terra; mas, também é provável que novas raças se formassem noutras condições.
4 Considerada desse ponto de vista, a massa do globo, isto é, a soma das moléculas que compõem o conjunto de suas partes sólidas, líquidas e gasosas, é incontestavelmente a mesma, desde a sua origem. Se o globo experimentasse uma dilatação ou uma condensação, seu volume aumentaria ou diminuiria, sem que a massa sofresse qualquer alteração. Portanto, se a Terra aumentasse de massa, o fato seria efeito de uma causa estranha, pois que ela não poderia tirar de si mesma os elementos necessários ao seu aumento.
5 Há uma opinião segundo a qual o globo aumentaria de massa e de volume pelo afluxo da matéria cósmica interplanetária. Esta ideia nada tem de irracional, mas é por demais hipotética para ser admitida em princípio. Não passa de um sistema combatido por sistemas contrários, sobre os quais a Ciência ainda nada estabeleceu. Eis aqui, a tal respeito, a opinião do eminente Espírito que ditou os sábios estudos uranográficos insertos acima, no capítulo VI:
6 “Os mundos se esgotam pelo envelhecimento e tendem a dissolver-se para servir de elementos de formação a outros universos. Restituem pouco a pouco ao fluido cósmico universal do espaço o que dele tiraram para formar-se. Além disso, todos os corpos se gastam pelo atrito; o movimento rápido e incessante do globo através do fluido cósmico dá em resultado diminuir-se-lhe constantemente a massa, se bem que de quantidade inapreciável em determinado tempo. n
7 “A existência dos mundos pode, a meu ver, dividir-se em três períodos. 8 — Primeiro período: condensação da matéria, período esse em que o volume do globo diminui consideravelmente, conservando-se a mesma sua massa. É o período da infância. 9 — Segundo período: contração, solidificação da crosta; eclosão dos germes, desenvolvimento da vida até à aparição do tipo mais aperfeiçoado. Nesse momento, o globo está em toda a sua plenitude, é a época da virilidade; ele perde, mas muito pouco, os seus elementos constitutivos. 10 — À medida que seus habitantes progridem espiritualmente, passa ele ao período de decrescimento material; sofre perdas, não só em consequência do atrito, mas também pela desagregação das moléculas, como uma pedra dura que, corroída pelo tempo, acaba reduzida a poeira. Em seu duplo movimento de rotação e translação, ele entrega ao espaço parcelas fluidificadas da sua substância, até ao momento em que se completa a sua dissolução.
11 “Mas, então, como o poder de atração está na razão direta da massa, não digo do volume, diminuída a massa do globo, modificam-se as suas condições de equilíbrio no espaço. Dominado por planetas mais poderosos, aos quais ele não pode fazer contrapeso, resultam daí desvios nos seus movimentos e, portanto, também profundas mudanças nas condições da vida em sua superfície. 12 Assim, nascimento, vida e morte; ou infância, virilidade, decrepitude são as três fases por que passa toda aglomeração de matéria orgânica ou inorgânica; 13 indestrutível, só o Espírito, que não é matéria.” — (GALILEU, Sociedade Espírita de Paris, 1868.)
[1] O século passado registrou notável exemplo de um fenômeno desse gênero. A seis dias de marcha da cidade de México, existia, em 1750, uma região fértil e bem cultivada, onde davam em abundância arroz, milho e bananas. No mês de junho, pavorosos tremores de terra abalaram o solo, renovando-se continuamente durante dois meses inteiros. Na noite de 28 para 29 de setembro, violenta convulsão se produziu; um território de muitas léguas de extensão entrou a erguer-se pouco a pouco e acabou por alcançar a altitude de 500 pés, numa superfície de 10 léguas quadradas. O terreno ondulava, como as vagas do mar ao sopro da tempestade, milhares de montículos se elevavam e afundavam alternativamente; afinal, abriu-se um abismo de perto de 3 léguas, donde eram lançados a prodigiosa altura fumo, fogo, pedras esbraseadas e cinzas. Seis montanhas surgiram desse abismo hiante, entre as quais o vulcão a que foi dado o nome de Jorullo, que agora se eleva a 550 metros acima da antiga planície. No momento em que principiaram os abalos do solo, os dois rios Cuitimba e San Pedro, refluindo, inundaram toda a planície hoje ocupada pelo Jorullo; no terreno, porém, que sem cessar se elevava, outro sorvedouro se abriu e os absorveu. Os dois reapareceram mais tarde, a oeste, num ponto muito afastado de seus antigos leitos. (Louis Figuier, La Terre avant le déluge - Google Books , pág. 370.)
[2] A lenda indiana sobre o dilúvio refere, segundo o livro dos Vedas, que Brama, transformado em peixe, se dirigiu ao piedoso monarca Vaivaswata e lhe disse: “Chegou o momento da dissolução do Universo; em breve estará destruído tudo o que existe na Terra. Tens que construir um navio em que embarcarás, depois de teres embarcado sementes de todos os vegetais. Esperar-me-ás nesse navio e eu virei ter contigo, trazendo à cabeça um chifre pelo qual me reconhecerás.” O santo obedeceu; construiu um navio, embarcou nele e o atou por um cabo muito forte ao chifre do peixe. O navio foi rebocado durante muitos anos com extrema rapidez, por entre as trevas de uma tremenda tempestade, abordando, afinal, ao cume do monte Himawat (Himalaia). Brama ordenou em seguida a Vaivaswata que criasse todos os seres e com eles povoasse a Terra.
É flagrante a analogia desta lenda com a narrativa bíblica de Noé. Da Índia ela passara ao Egito, como uma multidão de outras crenças. Ora, sendo o livro dos Vedas anteriores ao de Moisés, a narração que naquele se encontra, do dilúvio, não pode ser uma cópia da deste último. O que é provável é que Moisés, que aprendera as doutrinas dos sacerdotes egípcios, haja tomado a estes a sua descrição.
[3] A precessão dos equinócios ocasiona outra mudança: a que se opera na posição dos signos do zodíaco. Girando a Terra ao derredor do Sol em um ano, à medida que ela avança, o Sol, cada mês, se encontra diante de uma constelação. Estas são em número de doze, a saber: o Carneiro, o Touro; os Gêmeos, o Câncer, o Leão, a Virgem, a Balança, o Escorpião, o Sagitário, o Capricórnio, o Aquário, os Peixes. São chamadas constelações zodiacais, ou signos do zodíaco, e formam um círculo no plano do equador terrestre. Conforme o mês do nascimento de um indivíduo dizia-se que ele nascera sob tal ou tal signo; daí os prognósticos da Astrologia. Mas, em virtude da precessão dos equinócios, acontece que os meses já não correspondem às mesmas constelações. Um que nasça no mês de julho já não está no signo do Leão, porém no do Câncer. Cai assim a ideia supersticiosa da influência dos signos. (Cap. V, n.º 12.)
[4] O deslocamento gradual das linhas isotérmicas, fenômeno que a Ciência reconhece de modo tão positivo como o do deslocamento do mar, é um fato material que apoia esta teoria.
[5] Entre os fatos mais recentes que provam o deslocamento do mar, podem citar-se estes: No golfo da Gasconha, entre o velho Soulac e a Torre de Cordouan, quando o mar está calmo, percebe-se no fundo da água trechos de muralha: são os restos da antiga e grande cidade de Noviomagus, invadida pelas ondas em 580. O rochedo de Cordouan, que se achava então ligado à margem, está agora a 12 quilômetros.
No mar da Mancha, sobre a costa do Havre, as águas dia a dia ganham terreno e minam as penedias de Saint-Adresse, que pouco a pouco desmoronam. A dois quilômetros da costa entre Saint-Adresse e o cabo de Hève, existe um banco que outrora se achava à vista e ligado à terra firme. Antigos documentos atestam que nesse lugar, por sobre o qual hoje se navega, existia a aldeia de Saint-Denis-chef-de-Caux. Tendo o mar invadido, no décimo quarto século, o terreno, a igreja foi tragada em 1378. Dizem que, com bom tempo, se lhe veem os restos no fundo do mar.
Em quase toda a extensão do litoral da Holanda, o mar só é contido a poder de diques, que de tempos a tempos se rompem. O antigo lago de Flevo, que se reuniu ao mar em 1225, forma hoje o golfo de Zuyderzée. Essa irrupção do oceano tragou muitas povoações.
Segundo isto, o território de Paris e da França toda seria de novo ocupado pelo mar, como já o foi muitas vezes, conforme o demonstram as observações geológicas. Então, as partes montanhosas formarão ilhas, como o são agora Jersey, Guernesey e a Inglaterra, outrora contíguas ao continente.
Navegar-se-á por sobre regiões que atualmente se percorrem de caminho de ferro; os navios aportarão a Montmartre, ao monte Valeriano, aos outeiros de Saint-Cloud e de Meudon; os bosques e florestas, agora lugares de passeio, ficarão sepultados nas águas, cobertos de limo e povoados de peixes, que substituirão as aves.
O dilúvio bíblico não pode ter tido essa causa, pois que foi repentina a invasão das águas e de curta duração a permanência delas, ao passo que, de outro modo, essa permanência houvera sido de muitos milhares de anos e ainda duraria, sem que os homens dessem por isso.
[6] O cometa de 1861 atravessou a órbita da Terra num ponto do qual esta se achava a uma distância de apenas 20 horas. A Terra esteve, portanto, mergulhada na atmosfera dele, sem que daí resultasse nenhum acidente.
[7] No seu movimento de translação em torno do Sol, a velocidade da Terra é de 400 léguas por minuto. Sendo de 9.000 léguas a sua circunferência, em seu movimento de rotação ao redor do seu eixo, cada ponto do equador percorre 9.000 léguas em 24 horas, ou 6 léguas e 3 deciavos por minuto.