O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão.
Doutrina espírita - 1ª parte.

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O Céu e o Inferno — 2ª Parte.

SUICIDAS.
(Idioma francês)

Capítulo V.

[Exemplo 5.]

DUPLO SUICÍDIO, “POR AMOR E POR DEVER”.

1. — É de um jornal de 13 de junho de 1862 a seguinte narrativa:

“A jovem Palmyre, modista, residindo com seus pais, era dotada de aparência encantadora e de caráter afável. Por isso, era, também, muito requestada a sua mão. Entre todos os pretendentes ela escolheu o senhor B… que lhe retribuía essa preferência com a mais viva das paixões. 2 Não obstante essa afeição, por deferência aos pais, Palmyre consentiu em desposar o senhor D…, cuja posição social se afigurava mais vantajosa àqueles, do que a do seu rival.

3 Os senhores B… e D… eram amigos íntimos, e posto não houvesse entre eles quaisquer relações de interesse, jamais deixaram de se avistar. O amor recíproco de B… e Palmyre, que passou a ser a senhora D… de modo algum se atenuara, e como se esforçassem ambos por contê-lo, aumentava-se ele de intensidade na razão direta daquele esforço. 4 Visando extingui-lo, B… tomou o partido de se casar, e desposou, de fato, uma jovem possuidora de eminentes predicados, fazendo o possível por amá-la; cedo, contudo, percebeu que esse meio heroico lhe fora inútil à cura. 5 Decorreram quatro anos sem que B… ou a senhora D… faltassem aos seus deveres. O que padeceram, só eles o sabem, pois D… que estimava deveras o seu amigo, atraía-o sempre ao seu lar, insistindo para que nele ficasse quando tentava retirar-se.

6 “Aproximados um dia por circunstâncias fortuitas e independentes da própria vontade, os dois amantes deram-se ciência do mal que os torturava e acharam que a morte era, no caso, o único remédio que se lhes deparava. Assentaram que se suicidariam juntamente, no dia seguinte, em que o senhor D… estaria ausente de casa mais prolongadamente. Feitos os últimos aprestos, escreveram longa e tocante missiva, explicando a causa da sua resolução: para não prevaricarem. Essa carta terminava pedindo que lhes perdoassem e, mais, para serem enterrados na mesma sepultura.

7 “De regresso a casa, o senhor D… encontrou-os asfixiados. Respeitou-lhes os últimos desejos, e, assim, não consentiu fossem os corpos separados no cemitério.”


2. — Sendo esta ocorrência submetida à Sociedade de Paris, como assunto de estudo, um Espírito respondeu:

2 “Os dois amantes suicidas não vos podem responder ainda. Vejo-os imersos na perturbação e aterrorizados pela perspectiva da eternidade. 3 As consequências morais da falta cometida lhes pesarão por migrações sucessivas, durante as quais suas almas separadas se buscarão incessantemente, sujeitas ao duplo suplício de se pressentirem e desejarem em vão.  4 Completa a expiação, ficarão reunidos para sempre, no seio do amor eterno. 5 Dentro de oito dias, na próxima sessão, podereis evocá-los. Eles aqui virão sem se avistarem, porque profundas trevas os separarão por muito tempo.”


1. Evocação da mulher. — Vedes o vosso amante, com o qual vos suicidastes? — R. Nada vejo, nem mesmo os Espíritos que comigo erram neste mundo. Que noite! Que noite! E que véu espesso me circunda a fronte!


2. Que sensação experimentastes ao despertar no outro mundo? — R. Singular! Tinha frio e escaldava. Tinha gelo nas veias e fogo na fronte! 2 Coisa estranha, conjunto inaudito! Fogo e gelo pareciam consumir-me! E eu julgava que ia sucumbir uma segunda vez!…


3. Experimentais qualquer dor física? — R. Todo o meu sofrimento reside aqui, e aqui… 2 Que quereis dizer por aqui, e aqui? — R. Aqui, no meu cérebro; aqui, no meu coração…

3 É provável que, visível, o Espírito levasse a mão à cabeça e ao coração.


4. Acreditais na perenidade dessa situação? — R. Oh! sempre! sempre! 2 Ouço às vezes risos infernais, vozes horrendas que bradam: “sempre assim!”


5. Pois bem: podemos com segurança dizer-vos que nem sempre assim será. Pelo arrependimento obtereis o perdão. — R. Que dizeis? Não ouço.


6. Repetimos que os vossos sofrimentos terão um termo, que os podereis abreviar pelo arrependimento, sendo-nos possível auxiliar-vos com a prece. — R. Não ouvi, além de sons confusos, mais que uma palavra. Essa palavra é: — graça! 2 Seria efetivamente graça o que pronunciastes? Falastes em graça, mas sem dúvida o fizestes à alma que por aqui passou junto de mim, pobre criança que chora e espera.

3 Uma senhora, presente à reunião, declarou que fizera fervorosa prece pela infeliz, o que sem dúvida a comoveu, e que de fato, mentalmente, havia implorado em seu favor a graça de Deus.


7. Dissestes estar em trevas e nada ouvir? — R. É-me permitido ouvir algumas das vossas palavras, mas o que vejo é apenas um crepe negro, no qual de vez em quando se desenha um semblante que chora.


8. Mas uma vez que ele aqui está sem o avistardes, nem sequer vos apercebeis da presença do vosso amante? — R. Ah! não me faleis dele. Devo esquecê-lo presentemente para que do crepe se extinga a imagem retratada.


9. Que imagem é essa? — R. A de um homem que sofre, e cuja existência moral sobre a Terra aniquilei por muito tempo.


3. — Da leitura dessa narrativa logo se depreende haver neste suicídio circunstâncias atenuantes, encarado como ato heroico provocado pelo cumprimento do dever. Mas reconhece-se, também, que, contrariamente ao julgado, longa e terrível deve ser a pena dos culpados por se terem voluntariamente refugiado na morte para evitar a luta; 2 a intenção de não faltar aos deveres era, efetivamente, honrosa, e lhes será contada mais tarde, mas o verdadeiro mérito consistiria na resistência, tendo eles procedido como o desertor que se esquiva no momento do perigo.

3 A pena consistirá, como se vê, em se procurarem debalde e por muito tempo, quer no mundo espiritual, quer noutras encarnações terrestres; pena que ora é agravada pela perspectiva da sua eterna duração. Essa perspectiva, aliada ao castigo, faz que lhes seja defeso ouvirem palavras de esperança que porventura lhes dirijam. 4 Aos que acharem esta pena longa e terrível tanto mais quanto não deverá cessar senão depois de várias encarnações, diremos que tal duração não é absoluta, mas dependente da maneira pela qual suportarem as futuras provações. Além do que, eles podem ser auxiliados pela prece. E serão assim, como todos, os árbitros do seu destino.  5 Não será isso, ainda assim, preferível à eterna condenação, sem esperança, a que ficam irrevogavelmente submetidos segundo a doutrina da Igreja, que os considera votados ao inferno e para sempre, a ponto de lhes recusar, com certeza por inúteis, as últimas preces?


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