1 Meus amigos: como é esplêndida esta nova vida! Semelhante a luminosa torrente, ela arrasta em seu curso imenso os Espíritos inebriados pelo infinito! 2 Passei das sombras da matéria à aurora brilhante que faz antever o Onipotente. Após a ruptura dos laços materiais, abrangeram meus olhos novos horizontes, e eu vivo e desfruto as maravilhas suntuosas do infinito. 3 Salvei-me, não pelo mérito dos meus serviços, mas pelo conhecimento do princípio eterno que me fez evitar as nódoas produzidas pela ignorância na pobre Humanidade. 4 A minha morte foi abençoada, apesar de os meus biógrafos, os cegos, a julgarem prematura! Lamentaram alguns escritos nascidos da poeira, e não compreenderam nem compreenderão o quanto o silêncio em torno do recém-fechado túmulo é útil à causa do Espiritismo. 5 A minha tarefa estava terminada; os meus predecessores seguiam na rota; eu atingira o apogeu no qual o homem, depois de dar o que de melhor possuía, não faria mais que recomeçar. 6 A minha morte reaviva a atenção dos letrados, encaminhando-a para a minha obra capital atinente à grande questão espírita que eles fingem desconhecer, mas que muito breve os empolgará. 7 Glória a Deus! Ajudado por Espíritos superiores, que protegem a nova doutrina, serei um dos exploradores que balizam o vosso roteiro.
Jean Reynaud.
(Paris; reunião familiar. Outra comunicação espontânea.)
O Espírito responde a uma reflexão sobre sua morte inesperada, em idade pouco avançada, o que a muita gente surpreendeu.
2 “Quem vos disse que a minha morte não seja, de futuro e por suas consequências, um benefício para o Espiritismo? 3 Notastes, meu amigo, a marcha que segue o progresso, a direção que toma a crença espírita? Primeiro que tudo, deu-lhe Deus as provas materiais: movimento de mesas, pancadas e toda sorte de fenômenos, para despertar a atenção. Era um como prefácio divertido. Os homens precisam de provas tangíveis para crer. 4 Agora é muito diferente o caso. Depois dos fatos materiais, Deus fala à inteligência, ao bom-senso, à razão fria; não são mais efeitos físicos, porém coisas racionais que devem convencer e congregar todos os incrédulos, mesmo os mais teimosos. 5 E isto é apenas o começo: Tomai bem nota do que vos digo: — toda uma série de fenômenos inteligentes, irrefutáveis, vão seguir-se, e o número já tão grande dos adeptos da crença espírita vai aumentar ainda. 6 Deus vai insinuar-se às inteligências de escol, às sumidades do espírito, do talento e do saber. Será como um raio de luz a expandir-se, a derramar-se por sobre a Terra inteira, qual fluido magnético irresistível, arrastando os mais recalcitrantes à investigação do infinito, ao estudo dessa admirável ciência que tão sublimes máximas nos ensina. 7 Vão todos grupar-se em torno de vós e, fazendo abstração do diploma do gênio, tornarem-se humildes e pequenos para aprender e para crer. Depois, mais tarde, quando estiverem instruídos e convencidos, servir-se-ão da sua autoridade e notoriedade para levar mais longe ainda, aos seus últimos limites, o fim que vos propusestes a regeneração da espécie humana pelo conhecimento racional e profundo das passadas e futuras existências. Eis aí a minha opinião sincera sobre o estado atual do Espiritismo.”
(Bordeaux.)
Evocação. — Acudo com prazer ao vosso chamado, senhora. Tendes razão; a perturbação espiritual não existe para mim (isso correspondia ao pensamento do médium); exilado voluntário, na Terra, onde devia lançar a primeira semente sólida das grandes verdades que neste momento envolvem o mundo, eu tive sempre a consciência da pátria espiritual e depressa me reconheci entre irmãos.
P. Agradeço a vossa presença, embora não creia que o simples desejo de conversar convosco determinasse a vossa vinda; deve haver necessariamente uma tão grande diferença entre nós, que só em considerá-la sinto-me possuído de respeito.
R. Minha filha, obrigado por essa boa ideia; entretanto, deveis saber também que por maior que seja a distância, em virtude da conclusão das provas mais ou menos felizes e prontamente terminadas, existe sempre um elo poderoso que nos liga — a simpatia — e esse elo vindes de o estreitar pelo vosso constante pensamento.
P. Posto que muitos Espíritos tenham explicado as suas primeiras sensações ao despertar poderíeis dizer-me o que experimentastes em tal conjuntura e como se operou a separação do vosso Espírito?
R. Igualmente qual com os outros. Senti o momento da partida que se aproximava; mais feliz, porém, que muitos, esse momento não me infundiu angústias, porque já lhe conhecia as consequências, conquanto fossem estas mais importantes do que o supunha. 2 O corpo é um estorvo às faculdades espirituais e, por maiores que sejam as luzes por ele conservadas, elas são mais ou menos empanadas ao contato da matéria. 3 Fechei os olhos na esperança de um despertar feliz e, se o sono foi breve, a admiração foi imensa. Os esplendores celestes, desenvolvidos aos meus olhos, pompeavam em toda a sua magnificência! A minha vista deslumbrada imergia na imensidão dos mundos cuja existência afirmara, bem como a sua habitabilidade. Era uma miragem a revelar e confirmar concomitantemente a justeza dos meus pensamentos. 4 O homem, por mais convencido que seja, quando fala tem, algumas vezes, a dúvida no íntimo do coração, desconfiando, senão da verdade que proclama, ao menos dos meios imperfeitos empregados para demonstrá-la. Convencido da verdade que insinuava, tive, muitas vezes, de dar combate a mim mesmo, ao desânimo de ver, de tocar por assim dizer a verdade, e não poder torná-la igualmente palpável aos que dela tanto precisam para prosseguir no caminho que lhes conviria.
P. Em vida professáveis o Espiritismo?
R. Há uma grande diferença em professar e praticar. 2 Muita gente professa uma doutrina, que não pratica; pois bem, eu praticava e não professava. 3 Assim como cristão é todo homem que segue as leis do Cristo, mesmo sem conhecê-lo, assim também podemos ser espíritas, acreditando na imortalidade da alma, nas reencarnações, no progresso incessante, nas provações terrenas — abluções necessárias ao melhoramento. Acreditando em tudo isso, eu era, portanto, espírita. 4 Compreendi a erraticidade, laço intermediário das reencarnações e purgatório no qual o Espírito culposo se despoja das vestes impuras para revestir nova toga, e onde o Espírito, em evolução, tece cuidadosamente essa toga que há de carregar no intuito de conservá-la pura. 5 Compreendi tudo isso, e, sem professar, continuei a praticar.
NOTA. — Estas três comunicações foram obtidas por três médiuns diferentes e estranhos entre si. Pela analogia dos pensamentos e forma da linguagem, podemos, ao menos como presunção, admitir a autenticidade. 2 A expressão: “tecer cuidadosamente a toga que há de carregar” é uma figura feliz que retrata a solicitude com que o Espírito em evolução prepara a nova existência conducente a um maior progresso do que o feito. Os Espíritos atrasados são menos meticulosos, e muita vez fazem escolhas desastradas, que os forçam a recomeçar.