O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão.
Doutrina espírita - 1ª parte.

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O Livro dos Espíritos — Livro III — Esperanças e consolações.

(1ª edição)
(Idioma francês)

Capítulo primeiro.


Perfeição moral do homem.

(Questões 453 a 458 a.)

453. Será intrinsecamente mau o princípio originário das paixões, embora esteja na Natureza? [Questão 907.]
“Não; a paixão está no excesso aliado à vontade, visto que o princípio que lhe dá origem foi posto no homem para o bem. O abuso que delas se faz é que causa o mal.”


Todas as paixões têm seu princípio num sentimento ou necessidade natural. O princípio das paixões não é, portanto, um mal, já que repousa sobre uma das condições providenciais de nossa existência. A paixão propriamente dita é o exagero de uma necessidade ou de um sentimento; está no excesso e não na causa, e este excesso se torna um mal quando tem como consequência um mal qualquer. Toda paixão que aproxima o homem da natureza animal afasta-o da natureza espiritual. Todo sentimento que eleva o homem acima da natureza animal denota predominância do Espírito sobre a matéria e o aproxima da perfeição.


454. O homem sempre poderia, por seus esforços, vencer suas más inclinações? [Questão 909.]
“Sim, e por vezes fazendo esforços bem pequenos. O que lhe falta é a vontade. Ah! como são poucos os que fazem esforços entre vós! Creio que o espírito do século vos domina em demasia.”


454 a. O homem pode achar nos Espíritos assistência eficaz para dominar suas paixões? [Questão 910.]
“Sim; se pedir a Deus e ao seu gênio bom, com sinceridade, por certo os Espíritos bons lhe virão em auxílio, porque essa é a missão deles.”


454 b. Não haverá paixões tão vivas e irresistíveis que a vontade seja impotente para vencê-las? [Questão 911.]
“Há muitas pessoas que dizem: Quero, mas sua vontade está apenas nos lábios. Querem, mas ficam muito satisfeitas que assim não seja. Quando o homem crê que não pode vencer suas paixões, é que seu Espírito nelas se compraz, em consequência de sua inferioridade. Aquele que procura reprimi-las compreende sua natureza espiritual. Vencê-las, para ele, é um triunfo do Espírito sobre a matéria.”


455. Qual a fonte primeira dos vícios do homem?
“Já o dissemos inúmeras vezes: o egoísmo; dele deriva todo o mal. O próprio egoísmo tem sua fonte na predominância da natureza animal sobre a natureza espiritual.” [Questão 913.]


O egoísmo gera o orgulho, a ambição, a cupidez, o ciúme, o ódio, a sensualidade e todas as paixões que degradam o homem e o afastam da perfeição moral.


456. Fundando-se o egoísmo no sentimento do interesse pessoal, parece bem difícil extirpá-lo inteiramente do coração do homem. Chegar-se-á a consegui-lo? [Questão 914.]
“Mais cedo do que imaginais; estamos trabalhando para isso.”


456 a. No entanto, longe de diminuir, o egoísmo cresce com a civilização, que, parece, o excita e o mantém. Como poderá a causa destruir o efeito? [Questão 916.]
“Quanto maior o mal, mais hediondo se torna. Era preciso que o egoísmo produzisse muito mal, para que se tornasse compreensível a necessidade de extirpá-lo.”


456 b. De que maneira se conseguirá extirpá-lo?
“À medida que se forem esclarecendo sobre as coisas espirituais, os homens darão menos apreço às coisas materiais; isso depende da educação. E, depois, é preciso que se reformem as instituições humanas que o mantêm e o excitam.”


456 c. Quais são, com esse objetivo, as reformas mais importantes que seriam convenientes introduzir nas instituições humanas?
“Trata-se de um ensinamento novo que te daremos; mas, repetimos, a Humanidade marcha para o progresso moral, a despeito das aparências, e o bem nascerá do excesso do mal. Deus olha por vós.”


Quando se houverem despojado do egoísmo que os domina, os homens viverão como irmãos, sem se fazerem mal algum, auxiliando-se reciprocamente pelo sentimento da solidariedade. Então o forte será o amparo e não o opressor do fraco, e não mais se verão homens a quem falte o necessário, porque todos praticarão a lei de justiça. Esse o reinado do bem, que os Espíritos estão encarregados de preparar. [Questão 916.]


456 d. Que devemos fazer, enquanto esperamos por essas reformas?
“Cada um deve concorrer para isso na medida de suas forças.
Quem quiser, desde esta vida, aproximar-se da perfeição moral, tem que expulsar do coração todo sentimento de egoísmo, pois o egoísmo é incompatível com a justiça, o amor e a caridade.”


457. Por que sinais se pode reconhecer num homem o progresso real que deve elevar seu Espírito na hierarquia espiritual? [Questão 918.]
“O Espírito prova sua elevação quando todos os atos de sua vida corpórea representam a prática da Lei de Deus, e quando sai da esfera das coisas materiais para penetrar na vida espiritual, que ele compreende antecipadamente.”


O verdadeiro homem de bem é o que pratica a lei de justiça, amor e caridade na sua maior pureza. Se interroga a própria consciência sobre os atos que praticou, perguntará se não transgrediu essa lei, se não fez o mal, se fez todo o bem que podia, se ninguém tem motivo para se queixar de seu egoísmo e de seu orgulho, enfim, se fez aos outros tudo quanto gostaria que os outros lhe fizessem.
Imbuído do sentimento de caridade e amor ao próximo, faz o bem pelo bem, sem esperar recompensa, e sacrifica seus interesses à justiça.
É bondoso, humanitário e benevolente para com todos, porque vê irmãos seus em todos os homens, sem distinção de raças nem de crenças.
Se Deus lhe concedeu o poder e a riqueza, considera essas coisas como UM DEPÓSITO, de que deve usar para o bem, e disso não se envaidece, por saber que Deus, que lhe deu tudo isso, também poderá retirá-los.
Se a ordem social colocou outros homens sob sua dependência, trata-os com bondade e benevolência, porque são seus iguais perante Deus. Usa de sua autoridade para lhes levantar o moral e não para os esmagar com seu orgulho.
É indulgente para com as fraquezas alheias, porque sabe que ele mesmo precisa da indulgência dos outros, lembrando-se destas palavras do Cristo: Aquele que estiver sem pecado atire a primeira pedra. ( † )
Não é vingativo; a exemplo de Jesus, perdoa as ofensas, para só se lembrar dos benefícios, pois sabe que será perdoado na medida em que houver perdoado. ( † )
Respeita, enfim, em seus semelhantes, todos os direitos que as leis da Natureza lhes concedem, como gostaria que respeitassem os seus.” 130


458. Podemos, em qualquer tempo, resgatar nossas faltas? [Questão 1000.]
“Sim, reparando-as. Mas não creiais que as resgateis por meio de algumas privações pueris, ou mediante doações póstumas, quando de nada mais precisais.”


458 a. Então não haverá nenhum mérito em assegurarmos, para depois de nossa morte, a emprego útil dos bens que possuímos? [Questão 1001.]
“Nenhum mérito não é bem o termo, pois isso sempre é melhor do que nada. O mal, porém, é que aquele que só faz doações depois de morto é quase sempre mais egoísta que generoso. Quer ter as honras do bem, sem o trabalho de praticá-lo.”


Só se repara o mal pela prática do bem, e a reparação não tem mérito algum se não nos atingir em nosso orgulho e em nossos interesses materiais.
De que serve, em nossa justificação, restituir após a morte bens mal adquiridos, quando não nos são mais úteis e deles já aproveitamos?
De que serve a privação de alguns prazeres fúteis ou de algumas superfluidades, se o mal que fizemos aos outros permanece de pé?
De que serve enfim nos humilharmos perante Deus, se conservamos nosso orgulho diante dos homens?



[130] N. T.: Mais desenvolvida e com ligeiras modificações, esta passagem foi inserida mais tarde em O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XVII, item 3, sob o título “O homem de bem”.


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