O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão.
Doutrina espírita - 1ª parte.

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O Livro dos Espíritos — Livro II — Leis morais.

(1ª edição)
(Idioma francês)

Capítulo IX.


VIII. Lei de igualdade.

Igualdade natural. — Desigualdade das aptidões. — Desigualdades sociais. — Desigualdade das riquezas. — Provas da riqueza e da miséria. — Pompas fúnebres. — Condição social da mulher. (Questões 403 a 417 a.)


403. Todos os homens são iguais perante Deus? [Questão 803.]
“Sim, todos tendem para o mesmo fim e Deus fez suas leis para todos. Frequentemente, dizeis: o Sol brilha para todos, e com isso enunciais uma verdade maior e mais geral do que pensais.”


Todos os homens estão submetidos às mesmas leis da Natureza. Todos nascem igualmente fracos, acham-se sujeitos às mesmas dores e o corpo do rico se destrói como o do pobre. Assim, Deus não concedeu superioridade natural a nenhum homem, nem pelo nascimento, nem pela morte; diante dele, todos são iguais.


404. A diversidade das aptidões entre os homens deriva do corpo ou do Espírito?
“De ambos. Muitas vezes a falta de aptidão é devida à imperfeição dos órgãos; pode ser também um Espírito inferior, ignorante, que ainda não se depurou.”


É pela diversidade das aptidões que cada um concorre para os desígnios da Providência, nos limites das forças físicas e intelectuais que lhe foram conferidas.


405. Por que Deus não concedeu as mesmas aptidões a todos os homens? [Questão 804.]
“Deus criou iguais todos os homens; a diferença entre eles está na boa ou má vontade com que agem, que é o livre-arbítrio; daí por que uns se aperfeiçoam mais depressa do que outros. Ademais, sendo todos os mundos solidários entre si, importa que os habitantes dos mundos superiores, que, na sua maioria, foram criados antes do vosso, venham habitá-lo, para vos dar o exemplo.”


405 a. Passando de um mundo superior para um mundo inferior, o Espírito conserva integralmente as faculdades adquiridas? [Questão 805.]
“Sim, já dissemos que o Espírito que progrediu nunca retrocede. Poderá escolher, no estado de Espírito livre, um envoltório mais embotado ou uma posição mais precária do que a que teve, mas tudo isso para lhe servir de ensinamento e ajudá-lo a progredir.”


Assim, a diversidade de aptidões entre os homens não provém da natureza íntima de sua criação, mas do grau de aperfeiçoamento a que tenham chegado os Espíritos encarnados neles. Deus, portanto, não criou faculdades desiguais, mas permitiu que Espíritos em graus diversos de desenvolvimento estivessem em contato, a fim de que os mais adiantados pudessem auxiliar o progresso dos mais atrasados e também para que os homens, necessitando uns dos outros, compreendessem a lei de caridade que os deve unir.


406. A desigualdade das condições sociais é uma lei da Natureza? [Questão 806.]
“Não; é obra do homem e não de Deus.”


406 a. Essa desigualdade desaparecerá algum dia? [Questão 806 a.]
“Sim; só as leis de Deus são eternas. Não vês a desigualdade diminuir pouco a pouco a cada dia? Desaparecerá quando o egoísmo e o orgulho deixarem de predominar, restando apenas a desigualdade do merecimento.”


407. Que pensar dos que abusam de sua superioridade para oprimir os fracos em benefício próprio? [Questão 807.]
“Merecem anátema. Ai deles! Serão oprimidos por sua vez e renascerão numa existência em que sofrerão tudo o que tiverem feito sofrer aos outros.”


408. A desigualdade das riquezas não tem sua origem na desigualdade das faculdades, em virtude da qual uns dispõem de mais meios de adquirir bens do que outros? [Questão 808.]
“Sim e não. Que dizes da astúcia e do roubo?”


408 a. Entretanto, a riqueza herdada não é fruto de paixões más. [Questão 808 a.]
“Que sabes a respeito? Busca a fonte de tal riqueza e verás.”


409. A igualdade absoluta das riquezas é possível? E já terá existido alguma vez? [Questão 811.]
“Não; não é possível.”


409 a. Que é que se opõe a isso?
“A diversidade das faculdades.”


409 b. No entanto, há homens que creem ser esse o remédio aos males da sociedade. Que pensais a respeito? [Questão 811 a.]
“São cultores de sistemas, ou ambiciosos e invejosos. Não compreendem que a igualdade com que sonham logo seria desfeita pela força das coisas. Combatei o egoísmo, que é a vossa chaga social, e não corrais atrás de quimeras.”


410. Se a igualdade das riquezas não é possível, sucederá o mesmo com o bem-estar? [Questão 812.]
“Não, mas o bem-estar é relativo; todos poderiam desfrutá-lo, se  se entendessem convenientemente. O verdadeiro bem-estar consiste em cada qual empregar seu tempo naquilo que lhe seja agradável, e não na execução de trabalhos pelos quais não sinta prazer algum. Como cada um tem aptidões diferentes, nenhum trabalho útil ficaria por fazer. Em tudo existe o equilíbrio; o homem é quem o perturba.”


410 a. Será possível que todos se entendam? [Questão 812 a.]
“Sim.”


410 b. Como?
“Praticando a lei de justiça.”


410 c. Por que há pessoas a quem falta o necessário?
“Porque o homem em geral foi sempre egoísta; e o preguiçoso, não podendo viver em completa ociosidade, busca e emprega todos os meios que lhe pareçam vantajosos para despojar o homem que trabalha. Este, por certo, não lhe recusaria o necessário, mas se revolta contra quem, sem nada fazer, açambarca todo o fruto de seu labor e o deixa morrer de fome, juntamente com a família.”


410 d. Há pessoas que, por culpa sua, caem na privação e na miséria. A sociedade pode ser responsabilizada por isso? [Questão 813.]
“Sim. Como já dissemos, muitas vezes a sociedade é a causa principal dessas faltas. Ademais, não lhe cabe velar pela educação moral de seus membros? Frequentemente, é a má-educação que falseia o julgamento das pessoas, em vez de sufocar suas tendências perniciosas.” [Questão 323.]


411. Por que Deus concedeu a uns a riqueza e o poder, e a outros a miséria? [Questão 814.]
“Para experimentá-los de modos diferentes. Além disso, como sabeis, essas provas foram escolhidas pelos próprios Espíritos, que, no entanto, nelas sucumbem com frequência.”


411 a. Qual das duas provas é mais perigosa para o homem, a da miséria ou a da riqueza? [Questão 815.]
“Ambas o são igualmente. A miséria provoca as queixas contra a Providência; a riqueza leva a todos os excessos.”


411 b. Se o rico está sujeito a maiores tentações, também não dispõe de mais meios para fazer o bem? [Questão 816.]
“Sim, mas é justamente o que nem sempre faz. Torna-se egoísta, orgulhoso e insaciável. Suas necessidades aumentam com a riqueza, e nunca julga ter o bastante para si mesmo.”


A alta posição do homem neste mundo e a autoridade sobre os semelhantes são provas tão grandes e tão arriscadas quanto a miséria, porque, quanto mais rico e poderoso é o homem, tanto mais obrigações tem a cumprir e tanto maiores são os meios de que dispõe para fazer o bem e o mal.
Deus experimenta o pobre pela resignação e o rico pelo emprego que dá aos seus bens e ao seu poder.
A riqueza e o poder geram todas as paixões que nos prendem à matéria e nos afastam da perfeição espiritual. [Questão 266.] Foi por isso que Jesus disse: “Em verdade vos digo que é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no reino dos céus.” [Mateus 19.23].


412. De onde nasce o desejo que o homem sente de perpetuar sua memória por meio de monumentos fúnebres? [Questão 823.]
“Derradeiro ato de orgulho.”


412 a. Entretanto, na maioria das vezes a suntuosidade dos monumentos fúnebres não se deve mais aos parentes do defunta, que lhe querem honrar a memória, do que ao próprio defunto? [Questão 823 a.]
“Orgulho dos parentes, desejosos de se glorificarem a si mesmos. Oh! sim, nem sempre é pelo morto que se fazem todas essas demonstrações, mas por amor-próprio e para o mundo.”


412 b. Reprovais, então, de maneira absoluta, as pompas fúnebres? [Questão 824.]
“Não; quando têm em vista honrar a memória de um homem de bem, são justas e dão bom exemplo.”


O túmulo é o ponto de reunião de todos os homens. Aí terminam implacavelmente todas as distinções humanas. É em vão que o rico tenta perpetuar sua memória por meio de faustosos monumentos: o tempo os destruirá, como ao seu próprio corpo; assim o quer a Natureza. A lembrança de suas boas e más ações será menos perecível do que seu túmulo. A pompa dos funerais não o limpará de suas torpezas, nem o fará subir um único degrau na hierarquia espiritual.


413. O homem e a mulher são iguais perante Deus e têm os mesmos direitos? [Questão 817.]
“Sim, foram criados para se amarem; contudo, foram os homens que fizeram as leis. Deus não deu a ambos o conhecimento do bem e do mal e a faculdade de progredir?”


413 a. De onde provém a inferioridade moral da mulher em certas regiões? [Questão 818.]
“Do domínio injusto e cruel que o homem assumiu sobre ela. É o resultado das instituições sociais e do abuso da força sobre a fraqueza.”


414. Com que fim a mulher, do ponto de vista físico, é mais fraca do que o homem? [Questão 819.]
“Para lhe determinar funções especiais. Cabe ao homem, por ser o mais forte, os trabalhos rudes; à mulher, os trabalhos leves; a ambos o dever de se ajudarem mutuamente a suportar as provas de uma vida cheia de amargor.”


414 a. A fraqueza física da mulher não a coloca naturalmente sob a dependência do homem? [Questão 820.]
“Como já dissemos, Deus deu a uns a força para protegerem o fraco, e não para o escravizarem.”


Deus apropriou o organismo de cada ser às funções que lhe cumpre desempenhar. Se deu à mulher menor força física, deu-lhe ao mesmo tempo maior sensibilidade, em relação com a delicadeza das funções maternais e com a fraqueza dos seres confiados aos seus cuidados.


415. As funções a que a mulher é destinada pela Natureza terão importância tão grande quanto as conferidas ao homem? [Questão 821.]
“Sim, e até maiores. É ela quem lhe dá as primeiras noções da vida.”


415 a. Por que a mulher, mesmo no estado de selvageria, é considerada como um ser inferior ao homem? 125
“Por causa de sua fraqueza física.”


416. Sendo os homens iguais perante a Lei de Deus, deverão sê-lo igualmente perante as leis humanas? [Questão 822.]
“O primeiro princípio de justiça é este: não façais aos outros o que não gostaríeis que vos fizessem.”


416 a. Sendo assim, uma legislação, para ser perfeitamente justa, deve consagrar a igualdade dos direitos do homem e da mulher? [Questão 822 a.]
“De direitos, sim; de funções, não. É preciso que cada um tenha um lugar determinado; que o homem se ocupe do exterior e a mulher do interior, cada um de acordo com sua aptidão.”


Para ser justa, a lei humana deve consagrar a igualdade dos direitos do homem e da mulher. Qualquer privilégio concedido a um ou a outro é contrário à justiça. A emancipação da mulher acompanha o progresso da civilização; sua escravização marcha de par com a barbárie.


417. Qual a origem dos privilégios consagrados pelas leis humanas?
“O egoísmo e o orgulho.”


417 a. Como poderá o homem ser levado a reformar suas leis? [Questão 797.]
“Isso ocorre naturalmente, pela força das coisas e pela influência das pessoas de bem que o guiam no caminho do progresso. O homem já reformou muitas leis, e ainda reformará muitas outras. Espera!”



[125] N. E.: Ver “Nota explictiva”, p. 551.


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