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ESDE — Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita — Programa Complementar

Módulo IV — Dos Médiuns

Roteiro 3


A influência moral do médium e do meio nas comunicações mediúnicas


Objetivo Geral: Favorecer o conhecimento das características do médium e da sua influência nas comunicações espíritas.

Objetivo Específico: Dizer em que consiste a influência moral do médium e do meio nas comunicações mediúnicas.



CONTEÚDO BÁSICO


  • O Espírito encarnado no médium exerce alguma influência sobre as comunicações que deva transmitir, provindas de outros Espíritos? Exerce, porquanto, se estes não lhe são simpáticos, pode ele alterar-lhes as respostas e assimilá-las às suas próprias ideias e a seus pendores; não influencia, porém, os próprios Espíritos, autores das respostas; constitui-se apenas em mau intérprete. Allan Kardec: O Livro dos Médiuns. Segunda Parte. Capítulo XIX, item 223, 7ª pergunta.

  • Será essa a causa da preferência dos Espíritos por certos médiuns? Não há outra. Os Espíritos procuram o intérprete que mais simpatize com eles e que lhes exprima com mais exatidão os pensamentos. Allan Kardec: O Livro dos Médiuns. Segunda Parte. Capítulo XIX, item 223, 8ª pergunta.

  • O desenvolvimento da mediunidade guarda relação com o desenvolvimento moral dos médiuns? Não; a faculdade propriamente dita se radica no organismo; independe do moral. O mesmo porém, não se dá com o seu uso, que pode ser bom, ou mau, conforme as qualidades do médium. Allan Kardec: O Livro dos Médiuns. Capítulo XX, item 226, 1ª pergunta.

  • Se o médium, do ponto de vista da execução, não passa de um instrumento, exerce, todavia, influência muito grande, sob o aspecto moral. Pois que, para se comunicar, o Espírito desencarnado se identifica com o Espírito do médium, esta identificação não se pode verificar, senão havendo, entre um e outro, simpatia e, se assim é lícito dizer se, afinidade. A alma exerce sobre o Espírito livre uma espécie de atração, ou de repulsão, conforme o grau da semelhança existente entre eles. Ora, os bons têm afinidade com os bons e os maus com os maus, donde se segue que as qualidades morais do médium exercem influência capital sobre a natureza dos Espíritos que por ele se comunicam. Se o médium é vicioso, em torno dele se vêm agrupar os Espíritos inferiores, sempre prontos a tomar o lugar aos bons Espíritos evocados. Allan Kardec: O Livro dos Médiuns. Segunda Parte. Capítulo XX, item 227.

  • Os Espíritos superiores procuram encaminhar para uma corrente de ideias sérias as reuniões fúteis?

    Os Espíritos superiores não vão às reuniões onde sabem que a presença deles é inútil. Allan Kardec: O Livro dos Médiuns. Capítulo XXI, item 231, 3ª pergunta.

  • Entretanto, os Espíritos superiores vão de boamente às reuniões pouco instruídas, mas onde há sinceridade de propósitos, ainda que os médiuns não ofereçam maiores recursos mediúnicos. Afastam-se, porém, dos grupos instruídos onde predominam a ironia, a vaidade e o orgulho. Allan Kardec: O Livro dos Médiuns. Capítulo XXI, item 231, 3ª pergunta.




SUGESTÕES DIDÁTICAS


Introdução:

  • Introduzir o assunto referindo-se à responsabilidade de todos aqueles que realizam trabalhos mediúnicos, quer sejam os médiuns propriamente ditos, quer sejam os demais participantes desses trabalhos. Ressaltar que, embora a faculdade mediúnica se radique no organismo e independa do moral, o mesmo não se dá com os resultados do seu exercício. Esses serão bons ou maus, de acordo com as qualidades morais de todos os integrantes do grupo mediúnico.


Desenvolvimento:

  • Em seguida, solicitar aos participantes que se dividam em cinco grupos, para a realização das seguintes tarefas:

    GRUPO 1. Leitura individual dos dois primeiros parágrafos do item 1 dos Subsídios, anotando-se os pontos significativos.

    GRUPO 2. Leitura individual da instrução do Espírito Erasto (item 1 dos Subsídios, 3º parágrafo), anotando-se os pontos significativos.

    GRUPO 3. Leitura individual do relato do Espírito André Luiz (item 1 dos Subsídios, 4º e 5º parágrafos), anotando-se os pontos significativos.

    GRUPO 4. Leitura individual do dois primeiros parágrafos do item 2 dos Subsídios, anotando-se os pontos significativos.

    GRUPO 5. Leitura individual dos relatos do Espírito André Luiz e da médium E. d’Espérance (item 2 dos Subsídios, 3º e 4º parágrafos), anotando-se os pontos significativos.

    TODOS OS GRUPOS: troca de ideias a respeito dos pontos assinalados; preparo de miniexposição sobre o assunto estudado; escolha do integrante do grupo que fará a exposição; apresentação do trabalho realizado pelo grupo.

  • Observação: serão colocados à disposição dos grupos recursos para o preparo da miniexposição, tais como: papel pardo ou cartolina; canetas hidrográficas de várias cores; papel; lápis/caneta; fita adesiva.

  • Ouvir a apresentação dos grupos, anotando, no quadro de giz ou flip-chart, alguns destaques, para posterior comentários.

  • Fazer a integração do assunto com base nos pontos destacados, esclarecendo eventuais dúvidas.


Conclusão:

  • Usar, para concluir a aula, a prece de Aniceto constante no anexo. Pedir a um dos participantes que a leia pausadamente, a fim de proporcionar a todos ensejo de reflexão sobre as ideias ali contidas.


Avaliação:

  • A aula será considerada satisfatória, se: a) os participantes realizarem corretamente as tarefas propostas para os grupos; b) ouvirem com atenção as exposições feitas e a leitura da Prece de Aniceto.


Técnica(s):

  • Exposição; trabalho em pequenos grupos; leitura.


Recurso(s):

  • Subsídios do roteiro; quadro de giz / flip-chart; papel pardo/cartolina; canetas hidrográficas de várias cores; papel; lápis/caneta; fita adesiva.



 

SUBSÍDIOS


1. Influência moral do médium nas comunicações mediúnicas

A influência moral do médium nas comunicações mediúnicas baseia-se, de um modo geral, na simpatia que ele sente pelos Espíritos comunicantes […] porquanto, se estes não lhe são simpáticos, pode ele alterar-lhes as respostas e assimilá-las às suas próprias ideias e a seus pendores; não influencia, porém, os próprios Espíritos, autores das respostas; constitui-se apenas em mau intérprete. (2) Sendo assim, os Espíritos naturalmente […] procuram o intérprete que mais simpatize com eles e que lhes exprima com mais exatidão os pensamentos. Não havendo entre eles simpatia, o Espírito do médium é um antagonista que oferece certa resistência e se torna um intérprete de má qualidade e muitas vezes infiel. (3) Portanto, embora a faculdade mediúnica se radique no organismo e independa do moral, o mesmo […] não se dá com o seu uso, que pode ser bom, ou mau, conforme as qualidades do médium. (4)

De fato, se […] o médium, do ponto de vista da execução, não passa de um instrumento, exerce, todavia, influência muito grande, sob o aspecto moral. Pois que, para se comunicar, o Espírito desencarnado se identifica com o Espírito do médium, esta identificação não se pode verificar, senão havendo, entre um e outro, simpatia e, se assim é lícito dizer se, afinidade. A alma exerce sobre o Espírito livre uma espécie de atração, ou de repulsão, conforme o grau da semelhança existente entre eles. Ora, os bons têm afinidade com os bons e os maus com os maus, donde se segue que as qualidades morais do médium exercem influência capital sobre a natureza dos Espíritos que por ele se comunicam. Se o médium é vicioso, em torno dele se vêm agrupar os Espíritos inferiores, sempre prontos a tomar o lugar aos bons Espíritos evocados. As qualidades que, de preferência, atraem os bons Espíritos são: a bondade, a benevolência, a simplicidade do coração, o amor do próximo, o desprendimento das coisas materiais. Os defeitos que os afastam são: o orgulho, o egoísmo, a inveja, o ciúme, o ódio, a cupidez, a sensualidade e todas as paixões que escravizam o homem à matéria. (5)

De todos esses defeitos, o que os Espíritos inferiores […] exploram com mais habilidade é o orgulho, porque é a que a criatura menos confessa a si mesma. O orgulho tem perdido muitos médiuns dotados das mais belas faculdades e que, se não fora essa imperfeição, teriam podido tornar se instrumentos notáveis e muito úteis, ao passo que, presas de Espíritos mentirosos, suas faculdades, depois de se haverem pervertido, aniquilaram-se e mais de um se viu humilhado por amaríssimas decepções. (6) Entretanto, o […] médium que compreende o seu dever, longe de se orgulhar de uma faculdade que não lhe pertence, visto que lhe pode ser retirada, atribui a Deus as boas coisas que obtém. Se as suas comunicações receberem elogios, não se envaidecerá com isso, porque as sabe independentes do seu mérito pessoal; agradece a Deus o haver consentido que por seu intermédio bons Espíritos se manifestassem. Se dão lugar à crítica, não se ofende, porque não são obra do seu próprio Espírito. Ao contrário, reconhece no seu íntimo que não foi um instrumento bom e que não dispõe de todas as qualidades necessárias a obstara imiscuência dos Espíritos atrasados. Cuida, então, de adquirir essas qualidades e suplica, por meio da prece, as forças que lhe faltam. (1)

Sobre o assunto, o Espírito Erasto dá-nos a seguinte instrução: Em tese geral, pode afirmar se que os Espíritos atraem Espíritos que lhes são similares e que raramente os Espíritos das plêiades elevadas se comunicam por aparelhos maus condutores, quando têm à mão bons aparelhos mediúnicos, bons médiuns, numa palavra. Os médiuns levianos e pouco sérios atraem, pois, Espíritos da mesma natureza; por isso é que suas comunicações se mostram cheias de banalidades, frivolidades, ideias truncadas e, não raro, muito heterodoxas espiriticamente falando. Certamente podem eles dizer, e às vezes dizem, coisas aproveitáveis; mas, nesse caso, principalmente, é que um exame severo e escrupuloso se faz necessário, porquanto, de envolta com essas coisas aproveitáveis, Espíritos hipócritas insinuam, com habilidade e preconcebida perfídia, fatos de pura invencionice, asserções mentirosas, a fim de iludir a boa-fé dos que lhes dispensam atenção. […] Onde, porém, a influência moral do médium se faz realmente sentir, é quando ele substitui, pelas que lhe são pessoais, as ideias que os Espíritos se esforçam por lhe sugerir e também quando tira da sua imaginação teorias fantásticas que, de boa-fé, julga resultarem de uma comunicação intuitiva. É de apostar se então mil contra um que isso não passa de reflexo do próprio Espírito do médium. Dá-se mesmo o fato curioso de mover se a mão do médium, quase mecanicamente às vezes, impelida por um Espírito secundário e zombeteiro. É essa a pedra de toque contra a qual vêm quebrar se as imaginações ardentes, por isso que, arrebatados pelo ímpeto de suas próprias ideias, pelas lentejoulas de seus conhecimentos literários, os médiuns desconhecem o ditado modesto de um Espírito criterioso e, abandonando a presa pela sombra, o substituem por uma paráfrase empolada. Contra este escolho terrível vêm igualmente chocar se as personalidades ambiciosas que, em falta das comunicações que os bons Espíritos lhes recusam, apresentam suas próprias obras como sendo desses Espíritos. (7)

Na dúvida, abstém-te, diz um dos vossos velhos provérbios. Não admitais, portanto, senão o que seja, aos vossos olhos, de manifesta evidência. Desde que uma opinião nova venha a ser expendida, por pouco que vos pareça duvidosa, fazei-a passar pelo crisol da razão e da lógica e rejeitai desassombradamente o que a razão e o bom-senso reprovarem. Melhor é repelir dez verdades do que admitir uma única falsidade, uma só teoria errônea. Efetivamente, sobre essa teoria poderíeis edificar um sistema completo, que desmoronaria ao primeiro sopro da verdade, como um monumento edificado sobre areia movediça, ao passo que, se rejeitardes hoje algumas verdades, porque não vos são demonstradas clara e logicamente, mais tarde um fato brutal, ou uma demonstração irrefutável virá afirmar vos a sua autenticidade. (7)

A par do ensino geral sobre este assunto, é importante ressaltar o trabalho específico de socorro aos Espíritos sofredores, no exercício do qual médiuns prestimosos doam os seus recursos mediúnicos em auxílio de Espíritos em nível evolutivo inferior ao seu. Não se trata aí do intercâmbio com Espíritos simpáticos ao médium, mas de tarefa de sacrifício por amor, supervisionada pelos Orientadores Espirituais.

O Espírito André Luiz traz-nos muitos desses exemplos, nos quais se verifica a influência moral dos médiuns no exercício da mediunidade. Podem-se, no entanto, destacar os casos das médiuns Eugênia e Celina, narrados no livro Nos Domínios da Mediunidade. Diz-nos o mencionado autor espiritual, reproduzindo palavras do mentor Áulus, acerca de determinada tarefa de Eugênia: É o fenômeno da psicofonia consciente ou trabalho dos médiuns falantes. Embora senhoreando as forças de Eugênia, o hóspede enfermo do nosso plano permanece controlado por ela, a quem se imana pela corrente nervosa, através da qual estará nossa irmã informada de todas as palavras que ele mentalize e pretenda dizer. Efetivamente apossa-se ele temporariamente do órgão vocal de nossa amiga, apropriando-se de seu mundo sensório, conseguindo enxergar, ouvir e raciocinar com algum equilíbrio, por intermédio das energias dela, mas Eugênia comanda, firme, as rédeas da própria vontade, agindo qual se fosse enfermeira concordando com os caprichos de um doente, no objetivo de auxiliá-lo. Esse capricho, porém, deve ser limitado, porque, consciente de todas as intenções do companheiro infortunado a quem empresta o seu carro físico, nossa amiga reserva-se o direito de corrigi-lo em qualquer inconveniência. Pela corrente nervosa, conhecer-lhe-á as palavras na formação, apreciando-as previamente, de vez que os impulsos mentais dele lhe percutem sobre o pensamento como verdadeiras marteladas. Pode, assim, frustrar-lhe qualquer abuso, fiscalizando-lhe os propósitos e expressões, porque se trata de uma entidade que lhe é inferior, pela perturbação e pelo sofrimento em que se encontra, e a cujo nível não deve arremessar se, se quiser ser-lhe útil. O Espírito em turvação é um alienado mental, requisitando auxílio. Nas sessões de caridade qual a que presenciamos, o primeiro socorrista é o médium que o recebe, mas, se o socorrista cai no padrão vibratório do necessitado que lhe roga serviço, há pouca esperança no amparo eficiente. O médium, pois, quando integrado nas responsabilidades que esposa, tem o dever de colaborar na preservação da ordem e da respeitabilidade na obra de assistência aos desencarnados, permitindo-lhes a livre manifestação apenas até o ponto em que essa manifestação não colida com a harmonia necessária ao conjunto e com a dignidade imprescindível ao recinto. (17)

A respeito da assistência mediúnica prestada por Celina, através do fenômeno da psicofonia sonambúlica, relata-nos André Luiz o seguinte exemplo: A nobre senhora fitou o desesperado visitante [Espírito desencarnado] com manifesta simpatia e abriu-lhe os braços, auxiliando-o a senhorear o veículo físico […]. Qual se fora atraído por vigoroso ímã, o sofredor arrojou-se sobre a organização física da médium, colando-se a ela, instintivamente. Auxiliado pelo guardião que o trazia, sentou-se com dificuldade, afigurando-se-me intensivamente ligado ao cérebro mediúnico. Se Eugênia revelava-se benemérita enfermeira, Dona Celina surgia aos nossos olhos por abnegada mãezinha, tal a devoção afetiva para com o hóspede infortunado. Dela partiam fios brilhantes a envolvê-lo inteiramente e o recém-chegado, em vista disso, não obstante senhor de si, demonstrava-se criteriosamente controlado. Assemelhava-se a um peixe em furiosa reação, entre os estreito limites de um recipiente que, em vão, procurava dilacerar. Projetava de si estiletes de trava, que se fundiam na luz com que Celina-alma o rodeava, dedicada. Tentava gritar impropérios, mas debalde. A médium era um instrumento passivo no exterior, entretanto, nas profundezas do ser, mostrava as qualidades morais positivas que lhe eram conquista inalienável, impedindo aquele irmão de qualquer manifestação menos digna. (18)


2. Influência moral do meio nas comunicações mediúnicas

O meio onde se encontra o médium também exerce influência nas manifestações mediúnicas, uma vez que todos […] os Espíritos que cercam o médium o auxiliam, para o bem ou para o mal. (8) Podem, no entanto, os Espíritos superiores, quando julgam necessário, vencer a influência negativa do meio. (9) Não comparecem, todavia, às reuniões onde sabem, de antemão, que a sua presença será inútil. Junto a pessoas pouco instruídas, mas sinceras, eles, de boa mente, se apresentam, ainda mesmo quando ali não encontram bons instrumentos mediúnicos. Não vão, porém, aos ambientes instruídos onde predomina a ironia. (10) Em tais meios, é necessário se fale aos ouvidos e aos olhos: esse o papel dos Espíritos batedores e zombeteiros. Convém que aqueles que se orgulham da sua ciência sejam humilhados pelos Espíritos menos instruídos e menos adiantados. (11)

Com efeito, fora […] erro acreditar alguém que precisa ser médium, para atrair a si os seres do mundo invisível. Eles povoam o espaço; temo-los incessantemente em torno de nós, [ao nosso lado, vendo-nos, observando-nos], intervindo em nossas reuniões, seguindo-nos, ou evitando-nos, conforme os atraímos ou repelimos. A faculdade mediúnica em nada influi para isto: ela mais não é do que um meio de comunicação. (12) De acordo com o que já foi dito a respeito das causas de simpatia e antipatia entre os Espíritos (roteiros 7 e 8 do Módulo 1 do Programa Complementar), […] facilmente se compreenderá que devemos estar cercados daqueles que têm afinidade com o nosso próprio Espírito, conforme é este graduado, ou degradado. […] Partindo deste princípio, suponhamos uma reunião de homens levianos, inconsequentes, ocupados com seus prazeres; quais serão os Espíritos que preferentemente os cercarão? Não serão de certo Espíritos superiores, do mesmo modo que não seriam os nossos sábios e filósofos os que iriam passar o seu tempo em semelhante lugar. Assim, onde quer que haja uma reunião de homens, há igualmente em torno deles uma assembleia oculta, que simpatiza com suas qualidades ou com seus defeitos, feita abstração completa de toda ideia de evocação. Admitamos agora que tais homens tenham a possibilidade de se comunicar com os seres do mundo invisível, por meio de um intérprete, isto é, por um médium; quais serão os que lhes responderão ao chamado? Evidentemente, os que os estão rodeando de muito perto, à espreita de uma ocasião para se comunicarem. Se, numa assembleia fútil, chamarem um Espírito superior, este poderá vire até proferir algumas palavras ponderosas, como um bom pastor que acode ao chamamento de suas ovelhas desgarradas. Porém, desde que não se veja compreendido, nem ouvido, retira-se, como em seu lugar o faria qualquer de nós, ficando os outros com o campo livre. (13) No entanto, nem […] sempre basta que uma assembleia seja séria, para receber comunicações de ordem elevada. Há pessoas que nunca riem e cujo coração, nem por isso, é puro. Ora, o coração, sobretudo, é que atrai os bons Espíritos. Nenhuma condição moral exclui as comunicações espíritas; os que, porém, estão em más condições, esses se comunicam com os que lhes são semelhantes, os quais não deixam de enganar e de lisonjear os preconceitos. Por aí se vê a influência enorme que o meio exerce sobre a natureza das manifestações inteligentes. (14)

O Espírito André Luiz, na obra Nos Domínios da Mediunidade, ao tratar de uma reunião de efeitos físicos para socorro a enfermos no Plano físico, refere-se ao comportamento negativo de alguns irmãos encarnados, desatentos aos altos objetivos da referida sessão: Alguns encarnados, como habitualmente acontece, não tomavam a sério as responsabilidades do assunto e traziam consigo emanações tóxicas, oriundas do abuso de nicotina, carne e aperitivos, além das formas-pensamentos menos adequadas à tarefa que o grupo devia realizar. (19) Prosseguindo, reproduz comentário do Assistente Áulus: A posição neuropsíquica dos companheiros encarnados que nos compartilham a tarefa, no momento, não ajuda. Absorvem-nos os recursos, sem retribuição que nos indenize, de alguma sorte, a despesa de fluidos laboriosamente trabalhados. (20) Em seguida, acrescenta o mencionado autor: Efetivamente, escuras emissões mentais esguichavam contínuas, entrechocando-se de maneira lastimável. Os amigos, ainda na carne, mais se nos figuravam crianças inconscientes. Pensavam em termos indesejáveis, expressando petições absurdas, no aparente silêncio a que se acomodavam, irrequietos. Exigiam a presença de afeições desencarnadas, sem cogitarem da oportunidade e do merecimento imprescindíveis, criticavam essa ou aquela particularidade do fenômeno ou prendiam a imaginação a problemas aviltantes da experiência vulgar. (20)

Em o livro No País das Sombras, a famosa médium de materializações Elizabeth d’Espérance refere-se a um fato ocorrido em uma de suas sessões mediúnicas, causado por um dos participantes da reunião, fato esse que lhe acarretou séria enfermidade física. São suas palavras: O triunfo que tinha coroado as nossas experiências havia-me, em grande parte, cegado acerca das condições exigidas para a produção das manifestações espíritas. Talvez que o mesmo se tivesse dado com os meus amigos. Inconscientemente ou, talvez, por intuição, havíamos adotado muitos dos meios necessários para sermos bem sucedidos, e o resultado parecia justificar a ideia que bastaria reunirmos toda a energia para obtermos o que desejávamos a respeito dos fenômenos. Como os fatos se produziam é o que não podíamos compreender. Sabíamos que a presença de certas pessoas os favorecia, ao passo que a de outras os contrariava […]. O nosso constante êxito foi para nós uma fonte de perigos. (15) continua adiante: Não sei como a sessão principiou; tinha visto Iolanda [Espírito materializado] colocar seu jarro no ombro e sair do gabinete. Mais tarde, entretanto, soube o que se passou. O que experimentei foi uma sensação angustiosa e horrível, como se me quisessem sufocar ou esmagar, como se eu fosse uma boneca de borracha violentamente apertada nos braços de uma pessoa. Depois, senti-me invadida pelo terror, constrangida pela agonia da dor julguei que ia perder a razão e precipitar me num abismo medonho, onde nada via, nada ouvia, nada compreendia, a não ser o eco de um grito penetrante que parecia vir de longe. Sentia-me cair, mas não sabia em que lugar. Tentava segurar me, prender me a alguma coisa, mas o apoio faltava-me; desmaiei, e só tornei a mim para estremecer de horror, com a ideia de haver recebido um golpe mortal. Os meus sentidos pareciam dispersos, e não foi senão aos poucos que pude concentrá-los suficientemente para compreender o que sucedera. Iolanda tinha sido agarrada por alguém, que a tomou por mim própria. Foi o que me contaram. Esse fato era tão extraordinário que, se me não achasse em tão penoso estado de prostração, eu teria rido, porém não pude pensar nem em mover me. Sentia que pouca vida restava em mim, e esse sopro de vida era para mim um tormento. A hemorragia pulmonar, que durante a minha estada no Sul fora aparentemente curada, reapareceu, e uma onda de sangue quase me sufocou. Dessa sessão resultou para mim uma longa e grave enfermidade, que fez demorar por muitas semanas a nossa partida da Inglaterra, pois que eu não podia ser transportada. (16)

Sendo assim, por tudo que foi exposto, evidencia-se, para todos aqueles que se dedicam ao trato da mediunidade, a necessidade de empreenderem os melhores esforços para a própria renovação moral, buscando, dia a dia, transformar as antigas imperfeições em valores positivos da alma, uma vez que, só desse modo, encontrarão a paz da consciência pela certeza do dever cumprido.



 

ANEXO I


Prece de Aniceto

(André Luiz)



 

ANEXO II


Prece para os médiuns



Referências Bibliográficas:

1. KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Tradução de Guillon Ribeiro. 124. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2004. Capítulo XXVIII, item 9, p. 398.

2. Idem - O Livro dos Médiuns. Tradução de Guillon Ribeiro. 74. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Segunda parte. Capítulo XIX, item 223 - 7ª pergunta, p. 270.

3. Id. - Item 223 - 8ª pergunta, p 270.

4. Id. - Capítulo XX, item 226 - 1ª pergunta, p. 283.

5. Id. - Item 227, p 287-288.

6. Id. - Item 228, p 288.

7. Id. - Item 230, p. 290-292.

8. Id. - Capítulo XXI, item 231 - 1ª pergunta, p. 294.

9. Id. - Item 231 - 2ª pergunta, p 294.

10. Id. - Item 231 - 3ª pergunta, p. 294-295.

11. Idem, ibidem - p. 295.

12. Id. - Item 232, p. 295.

13. Idem, ibidem - p. 295-296.

14. Id. - Item 233, p. 296.

15. D’ESPÉRANCE, E. No País das Sombras. 6. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1992. Capítulo XXI (Uma Experiência Amarga), p. 192-193.

16. Idem, ibidem - p. 194-195.

17. XAVIER, Francisco Cândido. Nos Domínios da Mediunidade. Pelo Espírito André Luiz. 31. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2004. Capítulo 6 (Psifoconia Consciente), p. 61-62.

18. Id. - Capítulo 8 (Psicofonia Sonambúlica), p. 33-84.

19. Id. - Capítulo 28 (Efeitos Físicos), p. 296.

20. Idem, ibidem - p. 306.


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