Roteiro 2
Mediunidade nas crianças
Objetivo Geral: Favorecer o conhecimento das características do médium e da sua influência nas comunicações espíritas.
Objetivos específicos: Reconhecer a inconveniência de se estimular o exercício da mediunidade nas crianças. — Indicar os procedimentos adequados ao atendimento das crianças portadoras de mediunidade.
CONTEÚDO BÁSICO
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Haverá inconveniente em desenvolver se a mediunidade nas crianças? certamente e sustento mesmo que é perigoso, pois esses organismo débeis e delicados sofreriam por essa forma grandes abalos, e as respectivas imaginações excessiva sobreexcitação. Assim, os pais prudentes devem afastá-las dessas ideias, ou, quando nada, não lhes falar do assunto, se não do ponto de vista das consequências morais. Allan Kardec: O Livro dos Médiuns. Capítulo XVIII, item 221, 6ª pergunta.
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Numa criança a faculdade se mostra espontânea, é que está na sua natureza e que a sua constituição se presta a isso. O mesmo não acontece, quando é provocada e sobreexcitada. Allan Kardec: O Livro dos Médiuns. Capítulo XVIII, item 221, 7ª pergunta.
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Em que idade se pode ocupar, sem inconvenientes, de mediunidade não há idade precisa, tudo dependendo inteiramente do desenvolvimento físico e, ainda mais, do desenvolvimento moral. Allan Kardec: O Livro dos Médiuns. Capítulo XVIII, item 221, 8ª pergunta.
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A prática do Espiritismo […] demanda muito tato, para a inutilização das tramas dos espíritos enganadores. Se estes iludem a homens feitos, claro é que a infância e a juventude mais expostas se acham a ser vítimas deles. Sabe-se, além disso, que o recolhimento é uma condição sem a qual não se pode lidar com Espíritos sérios. As evocações feitas estouvadamente e por gracejo constituem verdadeira profanação, que facilita o acesso aos Espíritos zombeteiros, ou malfazejos. Ora, não se podendo esperar de uma criança a gravidade necessária a semelhante ato, muito de temer é que ela faça disso um brinquedo, se ficar entregue a si mesma. Allan Kardec: O Livro dos Médiuns. Capítulo XVIII, item 222.
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São inúmeros os recursos de amparo às crianças portadoras de mediunidade: preces em favor dos Espíritos que delas tentam acercar-se; passes; frequência às aulas de evangelização; a oração, em conjunto, no lar, acompanhada de estudo do Evangelho.
SUGESTÕES DIDÁTICAS
Introdução:
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Comunicar aos participantes o tema e os objetivos da aula, chamando-lhes a atenção para a seriedade do assunto, já que aborda dois aspectos de capital importância para as famílias, para as casas espíritas, para a sociedade em geral: criança e mediunidade.
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Por meio da técnica tempestade cerebral, fazer a seguinte pergunta, escrevendo-a no quadro, ou apresentando-a em cartaz: Por que se pode dizer que é sério o assunto que envolve criança e mediunidade?
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Ouvir as respostas, registrando-as, de preferência, no quadro.
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Destacar, com a participação da turma, as respostas mais significativas, fazendo breves comentários.
Desenvolvimento:
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Solicitar aos alunos que leiam silenciosamente os Subsídios deste roteiro. Terminada a leitura, dividir a turma em cinco grupos, pedindo-lhes que escolham um coordenador e um relator.
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A seguir, propor às equipes a realização das seguintes atividades, tendo em vista os conteúdos de estudo, abaixo indicados para cada grupo:
— destacar e comentar os aspectos mais significativos do conteúdo de estudo que coube ao grupo;
— selecionar de dois a três desses aspectos e registrá-los em folha de cartolina / papel pardo, para posterior apresentação em plenária;
— colocar, no alto da folha, o título do item (ou subitem) estudado pelo grupo.
Grupo I: Parágrafos introdutórios dos subsídios e item 1 (Inconveniência e perigo no estímulo ao exercício da mediunidade nas crianças);
Grupo II: Item 2 (Mediunidade espontânea nas crianças);
Grupo III: Subitem 2.1 (A criança e os Espíritos protetores);
Grupo IV: Subitem 2.2 (A criança e os problemas mediúnicos);
Grupo V: Subitem 2.3 (Recursos de amparo às crianças portadoras de mediunidade).
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Pedir aos coordenadores que afixem na parede os resultados dos trabalhos, dispondo-os em ordem, formando um mural.
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Proceder à apresentação dos grupos, fazendo observações e comentários esclarecedores.
Conclusão:
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Fazer a integração do assunto, acompanhando, sequenciadamente, todos os passos mostrados no mural, estabelecendo relação com os objetivos da aula.
Avaliação:
Técnica(s):
Recurso(s):
SUBSÍDIOS
Ao tratar, em O Livro dos Médiuns, dos “inconvenientes e perigos da mediunidade”, Kardec indaga ao Espírito que o assistia naquela ocasião: Haverá inconveniente em desenvolver se a mediunidade nas crianças? (2) Em resposta, o Espírito diz, de modo incisivo: Certamente e sustento mesmo que é muito perigoso, pois que esses organismos débeis e delicados sofreriam por essa forma grandes abalos, e as respectivas imaginações, excessiva sobreexcitação. Assim, os pais prudentes devem afastá-las dessas ideias, ou, quando nada, não lhes falar do assunto, senão do ponto de vista das consequências morais. (2) Mais adiante o Codificador insiste: Há, no entanto, crianças que são médiuns naturalmente, quer de efeitos físicos, quer de escrita e de visões. Apresenta isto o mesmo inconveniente? Não; [responde o Espírito], quando numa criança a faculdade se mostra espontânea, é que está na sua natureza e que a sua constituição se presta a isso. O mesmo não acontece, quando é provocada e sobreexcitada. (3)
Posto isso, dois aspectos ficam evidentes, no que diz respeito à mediunidade nas crianças, vista sob a ótica da Doutrina Espírita: a inconveniência de se estimular o exercício da mediunidade na fase infantil e a manifestação espontânea dessa faculdade nos pequeninos.
1. Inconveniência e perigo no estímulo ao exercício da mediunidade nas crianças
Com efeito, se o exercício da mediunidade requer do próprio adulto disciplina, sintonia com os Espíritos superiores, meditação constante, estudo sério e continuado, como exigir que a criança — incapaz ainda de tantos rigores — a exercite de modo adequado? Educar a mediunidade tem o sentido de colocar-se na dependência magnética, mental e moral de Espíritos dos mais variados níveis evolutivos. Desse modo, sendo a criança inexperiente e possuindo um organismo frágil, fica necessariamente exposta aos efeitos de uma aproximação obsidiante. (9) Em relação a este assunto, Kardec diz o seguinte: A prática do Espiritismo […] demanda muito tato para a inutilização das tramas dos Espíritos enganadores. Se estes iludem a homens feitos, claro é que a infância e a juventude mais expostas se acham a ser vítimas deles. Sabe-se, além disso, que o recolhimento é uma condição sem a qual não se pode lidar com Espíritos sérios. As evocações feitas estouvadamente e por gracejo constituem verdadeira profanação, que facilita o acesso aos Espíritos zombeteiros, ou malfazejos. Ora, não se podendo esperar de uma criança a gravidade necessária a semelhante ato, muito de temer é que ela faça disso um brinquedo, se ficar entregue a si mesma. (5)
2. Mediunidade espontânea nas crianças
Se, em contrapartida, a mediunidade é espontânea na criança, fica claro conforme já foi dito anteriormente — que está na sua natureza e que a sua constituição se presta a isso. (4) Sendo assim, o que é natural tem um motivo a mais para ser tratado com naturalidade, segundo deduzimos das seguintes palavras do Espírito superior, dirigidas a Kardec: Nota que a criança, que tem visões, geralmente não se impressiona com estas, que lhe parecem coisa naturalíssima, a que dá muito pouca atenção e quase sempre esquece. Mais tarde, o fato lhe volta à memória e ela o explica facilmente, se conhece o Espiritismo. (4) É certo que, com o crescimento, a criança vai-se desligando pouco a pouco das injunções do mundo espiritual, passando a envolver-se mais efetivamente com as ocorrências do Plano físico e, como consequência, as manifestações mediúnicas podem escassear, (14) ressurgindo, principalmente, na adolescência, se ela tem um compromisso maior com a mediunidade.
Como exemplo de espontaneidade mediúnica nas crianças, vejamos o que se passou com o médium Francisco Cândido Xavier — segundo Ramiro Gama — , quando contava apenas sete anos de idade:
Entregue pelo pai aos cuidados da madrinha — após a desencarnação da genitora — , o menino Chico padecia muito com os maus tratos que daquela recebia. O que o consolava eram os momentos que passava junto a Maria João de Deus, sua mãe desencarnada, abrigado à sombra das bananeiras, no fundo do quintal. Numa dessas preciosas oportunidades, o menino, muito aflito, pediu ao bondoso Espírito que o retirasse da casa da madrinha. A mãe, em vista disso, receitou-lhe paciência e, confortando o filho, deu-lhe notícias do pedido que já havia feito a Jesus, no sentido de enviar um “anjo bom”, que tomasse conta dele e dos outros irmãos. Assim, cheio de esperanças, sempre que tinha oportunidade de estar com a mãe, Chico lhe perguntava sobre a chegada do “anjo”, ao que o Espírito serenamente respondia: Espere, meu filho!
Após algum tempo de viuvez, o senhor João Cândido Xavier, pai de Chico, resolveu casar-se em segundas núpcias com Cidália Batista, que logo reclamou os filhos de Maria João de Deus — inclusive o Chico — , que se encontravam espalhados por diversas casas. Ao ver a criança, Cidália não pôde esconder a amarga surpresa diante das inúmeras marcas estampadas em seu ventre, resultado das torturas causadas pela penetração de pontas de garfo. Assim, sob o impacto da emoção, beijou e abraçou o pequeno, que correspondeu totalmente aos gestos de carinho da bondosa senhora. Após esses instantes distinguidos pela ternura, a madrasta perguntou-lhe:
— Você sabe quem sou, meu filho?
O menino, prontamente, respondeu:
— Sei sim. A senhora é o anjo bom de que minha mãe já falou… (8)
2.1 As crianças e os Espíritos protetores
No prefácio da prece aos anjos guardiães e aos Espíritos protetores, capítulo XXVIII — Preces Espíritas — de O Evangelho segundo o Espiritismo, Kardec diz o seguinte: Todos temos, ligados a nós, desde o nosso nascimento, um Espírito bom, que nos tomou sob sua proteção. Desempenha, junto de nós, a missão de um pai para com seu filho: a de nos conduzir pelo caminho do bem e do progresso, através das provações da vida […]. (1) A criança é, desse modo, resguardada pela influência benéfica e controladora dos Espíritos protetores (13) (o caso do médium Francisco Cândido Xavier, supracitado, também é um exemplo do que estamos dizendo), deles recebendo intuições orientadoras e, não raro, avisos e recados aos familiares, a ela transmitidos através da vidência, da intuição ou de outras faculdades. (13)
É o que também podemos observar no seguinte relato da médium Yvonne A. Pereira: Aos quatro anos de idade já eu me comunicava com Espíritos desencarnados, através da visão e da audição: via-os e falava com eles. Eu os supunha seres humanos, uma vez que os percebia com essa aparência e me pareciam todos muito concretos, trajados como quaisquer homens e mulheres. Ao meu entender de então, eram pessoas da família, e por isso, talvez, jamais me surpreendi com a presença deles. Uma dessas personagens era-me particularmente afeiçoada: eu a reconhecia como pai e a proclamava como tal a todos os de casa, com naturalidade, julgando-a realmente meu pai e amando-a profundamente. Mais tarde, esse Espírito tornou-se meu assistente ostensivo, auxiliando-me poderosamente a vitória nas provações e tornando-se orientador dos trabalhos por mim realizados como espírita e médium. (11)
Nessas circunstâncias — estando a criança resguardada, controlada por seu Espírito protetor, ou anjo da guarda, segundo a compreensão da maioria das pessoas, e auxiliada por outros amigos espirituais que a amam — , não há o que temer, cabendo à família, em primeiro lugar, demonstrar tranquilidade, confiança nos desígnios superiores, facilitando, assim, a intervenção benéfica dessas entidades.
2.2 As crianças e os problemas mediúnicos
É oportuno considerar, no entanto, que, mesmo espontânea, nem por isso a faculdade mediúnica nas crianças deixa de ser, em muitos casos, dolorosa e preocupante. Em várias épocas da humanidade e nos quatro cantos do mundo, há notícias de famílias atormentadas pela presença de Espíritos, que se manifestam aos pequenos nas mais variadas formas, pelos diversos tipos de mediunidade, com os mais diferentes objetivos e intenções. O assunto é extremamente delicado, se considerarmos a dificuldade em se atinar com o que está ocorrendo com a criança, o que causa embaraço na busca de uma feliz solução para o caso, sobretudo se a família não tem conhecimento da Doutrina Espírita. É ainda Yvonne A. Pereira que, ao narrar suas próprias experiências com o fenômeno de desdobramento perispiritual, oferece um bom exemplo do assunto. São suas palavras: em verdade, já por essa época [a do fenômeno de desdobramento em corpo “astral”] eu não passava de uma criança infeliz, pois […] o sofrimento me acompanhava desde o nascimento, e eu sofria não só a saudade da minha existência anterior, da qual, lembrava, como ainda a insatisfação no ambiente familiar, que eu estranhava singularmente […]. Dentre as muitas angústias que então me afligiam, destacava-se o temor que eu experimentava por um dos meus irmãos, o qual, como sói acontecer entre proles numerosas, me surrava frequentemente por qualquer contrariedade durante nossas peraltices, fato que me pungia e aterrorizava muito, e que a minha talvez excessiva sensibilidade exagerava como se se tratasse de um martirológio por mim sofrido, tornando-me, então complexada no próprio lar paterno. (12)
Certa noite, inesperadamente, verificou-se o fenômeno de transporte em corpo astral [fenômeno de desdobramento perispiritual] com a característica de morte aparente […]. Sob a ação do fenômeno, vi-me no interior da igreja que eu amava, diante da imagem do “Senhor dos Passos”, como frequentemente acontecia […]. O familiar acima citado torturava-me então com os habituais maus tratos, espancando-me furiosamente, despedaçam-me as roupas e puxando-me os cabelos. Sentindo-me aterrorizada, como sempre, em dado momento apelei para o socorro do Senhor. Então, como que vi a imagem desprender se do andor, com a cruz nas costas, descer os degraus, estender as mãos livres para mim e dizer bondosamente.
— Vem comigo, minha filha… Será o único recurso que terás para suportar os sofrimentos que te esperam…
Aceitei a mão que se estendia, apoiei-me nela, subi os degrauzinhos da capela-mor… e de nada mais me apercebi, enquanto que a visão não foi jamais esquecida, constituindo antes grande refrigério para o meu coração, até hoje, sua lembrança.
Efetivamente, grandes provações e testemunhos, lágrimas ininterruptas, sem me permitirem um único dia de alegria neste mundo, se sobrepuseram no decurso da minha presente existência. Mas bem cedo eu me fortalecera para os embates, pois, naquela mesma idade, oito anos, li o primeiro livro espírita, uma vez que já lia correntemente, pela citada época. (13)
2.3 Recursos de amparo às crianças portadoras de mediunidade
Ainda com respeito à fala do Espírito superior sobre a questão do estímulo ao exercício da mediunidade nas crianças, colocada ao início dos Subsídios, queremos enfatizar o apelo feito à prudência dos pais, no sentido de afastar os filhos dessas ideias, de não lhes falar sobre o assunto, a não ser do ponto de vista das consequências morais. A esse sábio conselho, que encerra excelente recurso de amparo à criança — apresente ou não indícios de mediunidade — , podemos aditar outros, igualmente valiosos, dos quais a família não pode prescindir: prece em favor dos Espíritos que delas tentam acercar se; passes ministrados por companheiros responsáveis; frequência às aulas espíritas de Evangelho [Evangelização Espírita da infância], a fim de que possam, a pouco e pouco, ir assimilando noções doutrinárias compatibilizadas com sua idade. (10) É igualmente importante, para o equilíbrio dos familiares e da própria criança, a oração em conjunto no lar, com o objetivo de reunira família em torno dos ensinamentos evangélicos, à luz do Espiritismo, e sob a assistência dos Benfeitores Espirituais. (Folheto Evangelho no Lar, FEB) (7)
Se, repetindo o Eclesiastes, tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo propósito debaixo do céu (6); se os frutos precisam estar sazonados e maduros para serem colhidos e saboreados, assim também os pais da Terra, seguindo os ditames da própria Natureza, devem esperar a época oportuna para que os filhos exercitem a mediunidade, no cumprimento de deveres sagrados assumidos no mundo espiritual, antes de reencarnarem.
Referências Bibliográficas:
1. KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Tradução de Guillon Ribeiro. 124. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2004. Capítulo XXVIII, item 11, p. 398.
2. Idem - O Livro dos Médiuns. Tradução de Guillon Ribeiro. 74. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Segunda parte. Capítulo XVIII, item 221, pergunta 6ª, p. 265.
3. Id. - Pergunta 7ª, p. 265.
4. Idem, ibidem - p. 265-266.
5. Id. - Item 222, p. 266.
6. Bíblia. Português. A Bíblia de Jerusalém. Tradução de Samuel Martins Barbosa et. al. São Paulo: Edições Paulinas, 1981 (Eclesiastes, 3.1).
7. FEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRA. Folheto Evangelho no Lar.
8. GAMA, Ramiro. Lindos casos de Chico Xavier. 17. ed. São Paulo: LAKE, 1995. Segunda parte. O Anjo Bom, p. 39-40.
9. PERALVA, Martins. Mediunidade e Evolução. 8. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2000. Capítulo 38 (Mediunidade nas crianças), p. 137-138.
10. Idem, ibidem - p. 139.
11. PEREIRA, Yvonne A. Recordações da Mediunidade. 10. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2002. Capítulo 2 (Faculdade Nativa), p. 27.
12. Idem, ibidem - p. 30-31.
13. Idem, ibidem - p. 31-32.
14. PIRES, J. Herculano. Mediunidade. São Paulo: Paideia, 1986. Conceito de Mediunidade, p. 11.