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ESDE — Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita — Programa Complementar

Módulo I — Vida no Mundo Espiritual

Roteiro 3


Ensaio teórico das sensações e percepções dos Espíritos


Objetivo Geral: Propiciar conhecimentos da vida no Mundo Espiritual.

Objetivo Específico: Explicar as principais sensações e percepções dos Espíritos.



CONTEÚDO BÁSICO


  • O corpo é instrumento da dor. Se não é a causa primária desta é, pelo menos, a causa imediata. A alma tem a percepção da dor: essa percepção é o efeito. A lembrança que da dor a alma conserva pode ser muito penosa, mas não pode ter ação física. De fato; nem o frio, nem o calor são capazes de desorganizar os tecidos da alma, que não é suscetível de congelar se, nem de queimar se. […] Toda gente sabe que aqueles a quem se amputou um membro costumam sentir dor no membro que lhes falta. Certo que aí não está a sede, ou, sequer, o ponto de partida da dor. O que há, apenas, é que o cérebro guardou desta a impressão. Lícito, portanto, será admitir se que coisa análoga ocorra nos sofrimentos do Espírito após a morte. […] Liberto do corpo, o Espírito pode sofrer, mas esse sofrimento não é corporal, embora não seja exclusivamente moral, como o remorso, pois que ele se queixa de frio e calor. Também não sofre mais no inverno do que no verão: temo-los visto atravessar chamas, sem experimentarem qualquer dor. Nenhuma impressão lhes causa, conseguintemente, a temperatura. […] Sabemos que no Espírito há percepção, sensação, audição, visão; que essas faculdades são atributos do ser todo e não, como no homem, de uma parte apenas do ser; mas, de que modo ele as tem? Ignoramo-lo. […] Dizendo que os Espíritos são inacessíveis às impressões da matéria que conhecemos, referimo-nos aos Espíritos muito elevados, cujo envoltório etéreo não encontra analogia neste mundo. Outro tanto não acontece com os de perispírito mais denso, os quais percebem os nossos sons e odores, não, porém, apenas por uma parte limitada de suas individualidades, conforme lhes sucedia quando vivos [encarnados]. […] Eles ouvem o som da nossa voz, entretanto nos compreendem sem o auxílio da palavra, somente pela transmissão do pensamento. […] Pelo que concerne à vista, essa, para o Espírito, independe da luz, qual a temos. A faculdade de ver é um atributo essencial da alma, para quem a obscuridade não existe. É, contudo, mais extensa, mais penetrante nas mais purificadas. A alma, ou o Espírito, tem, pois, em si mesma, a faculdade de todas as percepções […]. Allan Kardec: O Livro dos Espíritos, questão 257 - comentário.




SUGESTÕES DIDÁTICAS


Introdução:

  • Apresentar, no início da reunião, o objetivo específico do tema, comentando-o rapidamente.


Desenvolvimento:

  • Propor à turma, em seguida, leitura silenciosa dos Subsídios deste roteiro.

  • Concluída a leitura, pedir a cada participante que, com base no texto, registre numa folha de papel duas ou três ideias que, efetivamente, traduzam sensações e percepções evidenciadas pelos Espíritos no além-túmulo.

  • Orientar a formação de pequenos grupos para a execução da seguinte tarefa:

    a) Discussão das ideias selecionadas por cada participante;

    b) Seleção ou integração dessas ideias, por consenso grupal;

    c) Registro das conclusões do trabalho em grupo, em transparência ou material semelhante;

    d) Indicação de um relator para apresentar as conclusões do trabalho;

    e) Apresentação, seguida de explicações, de cada ideia registrada pelo grupo.


Conclusão:

  • Emitir comentários sobre as conclusões apresentadas pelos relatores, fazendo os ajustes considerados importantes.


Avaliação:

  • O estudo será considerado satisfatório, se os participantes explicarem corretamente as principais sensações e percepções dos Espíritos desencarnados.


Técnica(s):

  • Exposição; estudo em pequenos grupos.


Recurso(s):

  • Subsídios deste roteiro; materiais utilizados para dinamizar as apresentações dos relatores dos grupos.



 

SUBSÍDIOS


Sensações e percepções dos Espíritos

Sofrem os Espíritos? Que sensações experimentam? Tais questões nos são naturalmente dirigidas e vamos tentar resolvê-las. Inicialmente devemos dizer que, para isso, não nos contentamos com as respostas dos Espíritos. De certa maneira, através de numerosas observações, tivemos que considerar a sensação com o fato. (6) Após essas considerações, registradas por Kardec na Revista Espírita de 1858, mês de dezembro, o Codificador pede ao Espírito São Luiz explicações sobre a penosa sensação de frio que um Espírito dizia sentir. Esse relato intrigou Kardec de tal forma que o levou a indagar de São Luiz: Concebemos os sofrimentos morais, como pesares, remorsos, vergonha; mas calor e frio, a dor física, não são efeitos morais; experimentariam os Espíritos tais sensações? (7) O Espírito, então, lhe respondeu com outra pergunta: Tua alma sente frio? Não; mas tem consciência da sensação que age sobre o corpo. (7) Refletindo sobre essas informações Kardec conclui: Disso parece resultar que esse Espírito de avarento não sentia frio real, mas a lembrança da sensação do frio que havia suportado e essa lembrança, tida por ele como realidade, tornava-se um suplício. (7) No entanto, o benfeitor espiritual enfatiza: É mais ou menos isso. Fique bem entendido que há uma distinção, que compreendeis perfeitamente, entre a dor física e a dor moral; não se deve confundir o efeito com a causa. (7)

Allan Kardec nos apresenta, com a lucidez que lhe é peculiar, a seguinte análise deste assunto, tão útil quanto necessário à prática mediúnica.

O corpo é o instrumento da dor. Se não é a causa primária desta é, pelo menos, a causa imediata. A alma tem a percepção da dor, essa percepção é o efeito. A lembrança que da dor a alma conserva pode ser muito penosa, mas não pode ter ação física. De fato, nem o frio, nem o calor são capazes de desorganizar os tecidos da alma, que não é suscetível de congelar se, nem de queimar-se. Não vemos todos os dias a recordação ou a apreensão de um mal físico produzirem o efeito desse mal, como se real fora? Não as vemos até causar a morte? Toda gente sabe que aqueles a quem se amputou um membro costumam sentir dor no membro que lhes falta. Certo que aí não está a sede, ou, sequer, o ponto de partida da dor. O que há, apenas, é que o cérebro guardou desta a impressão. Lícito, portanto, será admitir se que coisa análoga ocorra nos sofrimentos do Espírito após a morte. Um estudo aprofundado do perispírito, que tão importante papel desempenha em todos os fenômenos espíritas; nas aparições vaporosas ou tangíveis; no estado em que o Espírito vem a encontrar se por ocasião da morte; na ideia, que tão frequentemente manifesta, de que ainda está vivo; nas situações tão comoventes que nos revelam os dos suicidas, dos supliciados, dos que se deixaram absorver pelos gozos materiais; e inúmeros outros fatos, muita luz lançaram sobre esta questão, dando lugar a explicações que passamos a resumir. (1)

As sensações e percepções sentidas e relatadas pelos Espíritos são media­das pelo perispírito […], o princípio da vida orgânica, porém não o da vida intelectual, que reside no Espírito. É, além disso, o agente das sensações exteriores. No corpo, os órgãos, servindo-lhes de condutos, localizam essas sensações. Destruído o corpo, elas se tornam gerais. Daí o Espírito não dizer que sofre mais da cabeça do que dos pés, ou vice-versa. Não se confundam, porém, as sensações do perispírito, que se tornou independente, com as do corpo. Estas últimas só por termo de comparação as podemos tomar e não por analogia. Liberto do corpo, o Espírito pode sofrer, mas esse sofrimento não é corporal, embora não seja exclusivamente moral, como o remorso, pois que ele se queixa de frio e calor. Também não sofre mais no inverno do que no verão: temo-los visto atravessar chamas, sem experimentarem qualquer dor. Nenhuma impressão lhes causa, conseguintemente, a temperatura. A dor que sentem não é, pois, uma dor física propriamente dita: é um vago sentimento íntimo, que ó próprio Espírito nem sempre compreende bem, precisamente porque a dor não se acha localizada e porque não a produzem agentes exteriores; é mais uma reminiscência do que uma realidade, reminiscência, porém, igualmente penosa. Algumas vezes, entretanto, há mais do que isso, como vamos ver. (2)

Nos dias atuais, este assunto é de fácil assimilação, mesmo para o cidadão comum, devido ao progresso alcançado pelas ciências psíquicas no século vinte e no atual. Este fato, aliás, nos faz refletir sobre a incrível capacidade de análise de Kardec, pois sem contar com os conhecimentos que temos nos dias atuais, conseguiu compreender nitidamente o assunto. Continuando com as explicações, esclarece-nos o Codificador: Ensina-nos a experiência que, por ocasião da morte, o perispírito se desprende mais ou menos lentamente do corpo; que, durante os primeiros minutos depois da desencarnação, o Espírito não encontra explicação para a situação em que se acha. Crê não estar morto, por isso que se sente vivo; vê a um lado o corpo, sabe que lhe pertence, mas não compreende que esteja separado dele. Essa situação dura enquanto haja qualquer ligação entre o corpo e o perispírito. Disse-nos, certa vez, um suicida: “Não, não estou morto.” E acrescentava: “No entanto, sinto os vermes a me roerem.” Ora, indubitavelmente, os vermes não lhe roíam o perispírito e ainda menos o Espírito; roíam-lhe apenas o corpo. Como, porém, não era completa a separação do corpo e do perispírito, uma espécie de repercussão moral se produzia, transmitindo ao Espírito o que estava ocorrendo no corpo. Repercussão talvez não seja o termo próprio, porque pode induzirá suposição de um efeito muito material. Era antes a visão do que se passava com o corpo, ao qual ainda o conservava ligado o perispírito, o que lhe causava a ilusão, que ele tomava por realidade. Assim, pois, não haveria no caso uma reminiscência, porquanto ele não fora, em vida, roído pelos vermes: havia o sentimento de um fato da atualidade. Isto mostra que deduções se podem tirar dos fatos, quando atentamente observados. Durante a vida, o corpo recebe impressões exteriores e as transmite ao Espírito por intermédio do perispírito, que constitui, provavelmente, o que se chama fluido nervoso. Uma vez morto, o corpo nada mais sente, por já não haver nele Espírito, nem perispírito. Este, desprendido do corpo, experimenta a sensação, porém, como já não lhe chega por um conduto limitado, ela se lhe torna geral. Ora, não sendo o perispírito, realmente, mais do que simples agente de transmissão, pois que no Espírito é que está a consciência, lógico será deduzir se que, se pudesse existir perispírito sem Espírito, aquele nada sentiria, exatamente como um corpo que morreu. Do mesmo modo, se o Espírito não tivesse perispírito, seria inacessível a toda e qualquer sensação dolorosa. É o que se dá com os Espíritos completamente purificados. Sabemos que quanto mais eles se purificam, tanto mais etérea se torna a essência do perispírito, donde se segue que a influência material diminui à medida que o Espírito progride, isto é, à medida que o próprio perispírito se torna menos grosseiro. (3)

Dizendo que os Espíritos são inacessíveis às impressões da matéria que conhecemos, referimo-nos aos Espíritos muito elevados, cujo envoltório etéreo não encontra analogia neste mundo. Outro tanto não acontece com os de perispírito mais denso, os quais percebem os nossos sons e odores, não, porém, apenas por uma parte limitada de suas individualidades, conforme lhes sucedia quando vivos. Pode-se dizer que, neles, as vibrações moleculares se fazem sentir em todo o ser e lhes chegam assim ao sensorium commune, que é o próprio Espírito, embora de modo diverso e talvez, também, dando uma impressão diferente, o que modifica a percepção. Eles ouvem o som da nossa voz, entretanto nos compreendem sem o auxílio da palavra, somente pela transmissão do pensamento. Em apoio do que dizemos há o fato de que essa penetração é tanto mais fácil, quanto mais desmaterializado está o Espírito. Pelo que concerne à vista, essa, para o Espírito, independe da luz, qual a temos. A faculdade de ver é um atributo essencial da alma, para quem a obscuridade não existe. É, contudo, mais extensa, mais penetrante nas mais purificadas. A alma, ou o Espírito, tem, pois, em si mesma, a faculdade de todas as percepções. Estas, na vida corpórea, se obliteram pela grosseria dos órgãos do corpo; na vida extracorpórea se vão desanuviando, à proporção que o invólucro semimaterial se eteriza. (4)

Podemos, então, concluir com Kardec: Os Espíritos possuem todas as percepções que tinham na Terra, porém em grau mais alto, porque as suas faculdades não estão amortecidas pela matéria; eles têm sensações desconhecidas por nós, veem e ouvem coisas que os nossos sentidos limitados nos não permitem ver nem ouvir. Para eles não há obscuridade, excetuando-se aqueles que, por punição, se acham temporariamente nas trevas. (5)



Referências Bibliográficas:

1. KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Guillon Ribeiro. 85. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2004, questão 257, comentário, p. 165.

2. Idem, ibidem - p. 165-166.

3. Idem, ibidem - p. 166-167.

4. Idem, ibidem - p. 168.

5. Idem - O Que é o Espiritismo. Tradução de Guillon Ribeiro. 50. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2004. Capítulo II (Noções elementares de Espiritismo), item 17 (Dos Espíritos), p. 155.

6. Id. - Revista Espírita. Jornal de Estudos Psicológicos. Ano 1858. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. Poesias traduzidas por Inaldo Lacerda Lima. Rio de Janeiro: FEB, 2004. Ano I, dezembro de 1858, n.º 12, Item: Sensações dos Espíritos, p. 498.

7. Idem, ibidem - p. 499.


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