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ESDE — Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita — Programa Complementar

Módulo I — Vida no Mundo Espiritual

Roteiro 10


Escolha das Provas


Objetivo Geral: Propiciar conhecimentos da vida no Mundo Espiritual.

Objetivos específicos: Dizer em que consiste a escolha das provas, feita pelo Espírito antes de reencarnar. — Explicar como o Espírito se orienta na escolha das provas. — Correlacionar a prerrogativa da escolha das provas com o grau de adiantamento dos Espíritos.



CONTEÚDO BÁSICO


  • Quando na erraticidade, antes de começar nova existência corporal, tem o Espírito consciência e previsão do que lhe sucederá no curso da vida terrena?

    Ele próprio escolhe o gênero de provas por que há de passar e nisso consiste o seu livre-arbítrio. Allan Kardec: O Livro dos Espíritos, questão 258.

  • Do fato de pertencer ao Espírito a escolha do gênero de provas que deva sofrer, seguir-se-á que todas as tribulações que experimentamos na vida nós as previmos e buscamos?

    Todas, não, porque não escolhestes e previstes tudo o que vos sucede no mundo, até às mínimas coisas. Escolhestes apenas o gênero das provações. As particularidades correm por conta da posição em que vos achais; são, muitas vezes, consequências das vossas próprias ações. […] Os acontecimentos secundários se originam das circunstâncias e da força mesma das coisas. Previstos só são os fatos principais, os que influem no destino. […] Allan Kardec: O Livro dos Espíritos, questão 259.

  • Que é o que dirige o Espírito na escolha das provas que queira sofrer? Ele escolhe, de acordo com a natureza de suas faltas, as que o levem à expiação destas e a progredir mais depressa. Uns, portanto, impõem a si mesmos uma vida de misérias e privações, objetivando suportá-las com coragem; outros preferem experimentar as tentações da riqueza e do poder, muito mais perigosas, pelos abusos e má aplicação a que podem dar lugar, pelas paixões inferiores que uma e outros desenvolvem; muitos, finalmente, se decidem a experimentar suas forças nas lutas que terão de sustentar em contacto com o vício. Allan Kardec: O Livro dos Espíritos, questão 264.

  • A escolha da prova, entretanto, não tem caráter absoluto, uma vez que Deus […] pode impor certa existência a um Espírito, quando este, pela sua inferioridade ou má- vontade, não se mostra apto a compreender o que lhe seria mais útil, […]. Allan Kardec. O Livro dos Espíritos, questão 262a.




SUGESTÕES DIDÁTICAS


Introdução:

  • Realizar breve exposição sobre a escolha das provas, feita pelo Espírito antes de reencarnar.


Desenvolvimento:

  • Em seguida, dividir a turma em três grupos para a realização das tarefas abaixo especificadas:

    a) Cada grupo deve ler um dos tópicos dos Subsídios, trocar opiniões sobre o assunto e redigir um pequeno resumo, com base nas principais ideias aí desenvolvidas;

    b) Os participantes indicam um colega para ser o relator do grupo;

    c) Realiza-se, então, o rodízio dos relatores dos grupos, segundo esta ordem: 1 – 2 – 3 – 4;

    d) Cada relator lê, no grupo onde se encontra, o resumo elaborado por sua equipe. Se necessário, acrescenta outras informações, propostas no novo grupo;

    e) Os relatores continuam o rodízio, repetindo os passos anteriormente realizados, e retornam a seus grupos de origem.

  • Fazer a integração do assunto com base nos objetivos da aula, esclarecendo as possíveis dúvidas.

  • Observações:

    — Tempo para a realização das tarefas “a” e “b”: 20 minutos;

    — Tempo destinado a cada rodízio: 10 minutos.


Conclusão:

  • Concluir a aula destacando a importância da escolha das provas como manifestação do livre arbítrio, e que a liberdade dessa escolha está em consonância com as condições de fazer-se uma opção correta com vistas aos próprios interesses espirituais.


Avaliação:

  • O estudo será considerado satisfatório, se os participantes oferecerem contribuições significativas no trabalho em grupo.


Técnica(s):

  • Exposição; painel integrado.


Recurso(s):

  • Subsídios deste roteiro; lápis / papel.



 

SUBSÍDIOS


1. A escolha das provas: em que consiste

Segundo o Espiritismo, as tribulações da existência física não são impostas por Deus ao ser humano, uma vez que o próprio Espírito, na erraticidade, antes de reencarnar, […] escolhe o gênero de provas por que há de passar e nisso consiste o seu livre-arbítrio. (1) Contudo, nada […] ocorre sem a permissão de Deus, porquanto foi Deus quem estabeleceu todas as leis que regem o Universo. […] Dando ao Espírito a liberdade de escolher, Deus lhe deixa a inteira responsabilidade de seus atos e das consequências que estes tiverem. Nada lhe estorva o futuro; abertos se lhe acham, assim, o caminho do bem, como o do mal. Se viera sucumbir, restar-lhe-á a consolação de que nem tudo se lhe acabou e que a bondade divina lhe concede a liberdade de recomeçar o que foi mal feito. Demais, cumpre se distinga o que é obra da vontade de Deus do que o é da do homem. (2) Assim — dizem os Espíritos Superiores — , se […] um perigo nos ameaça, não fostes vós quem o criou e sim Deus. Vosso, porém, foi o desejo de a ele vos expordes, por haverdes visto nisso um meio de progredirdes, e Deus o permitiu. (2) Ensinam, ainda, os Instrutores da Humanidade que nem todas as tribulações experimentadas pelo Espírito encarnado foram por ele revistas: […] não escolhestes e previstes tudo o que vos sucede no mundo, até às mínimas coisas. Escolhestes apenas o gênero das provações. As particularidades correm por conta da posição em que vos achais; são, muitas vezes, consequências das vossas próprias ações. Escolhendo, por exemplo, nascer entre malfeitores, sabia o Espírito a que arrastamentos se expunha; ignorava, porém, quais os atos que viria a praticar. Esses atos resultam do exercício da sua vontade, ou do seu livre-arbítrio. Sabe o Espírito que, escolhendo tal caminho, terá que sustentar lutas de determinada espécie; sabe, portanto, de que natureza serão as vicissitudes que se lhe depararão, mas ignora se se verificará este ou aquele êxito. Os acontecimentos secundários se originam das circunstâncias e da força mesma das coisas. Previstos só são os fatos principais, os que influem no destino. Se tomares uma estrada cheia de sulcos profundos, sabes que terás de andar cautelosamente, porque há muitas probabilidades de caíres; ignoras, contudo, em que ponto cairás e bem pode suceder que não caias, se fores bastante prudente. Se, ao percorreres uma rua, uma telha te cair na cabeça, não creias que estava escrito, segundo vulgarmente se diz. (3)


2. Critérios utilizados na escolha das provas

Para proceder à escolha das provas por que há de passar, o Espírito se orienta pela […] natureza de suas faltas […]. (6) Desse modo, escolhe aquelas que o levem à expiação dessas faltas […] e a progredir mais depressa. Uns, portanto, impõem a si mesmos uma vida de misérias e privações, objetivando suportá-las com coragem; outros preferem experimentar as tentações da riqueza e do poder, muito mais perigosas, pelos abusos e má aplicação a que podem dar lugar, pelas paixões inferiores que uma e outros desenvolvem; muitos, finalmente, se decidem a experimentar suas forças nas lutas que terão de sustentar em contacto com o vício. (6) Se, ao contrário, apegados ainda aos desejos inferiores, os Espíritos escolhem um gênero de vida que lhes possibilite a satisfação desses desejos, nem por isso se afastarão dos efeitos dos seus atos. A prova vem por si mesma e eles a sofrem mais demoradamente. Cedo ou tarde, compreendem que a satisfação de suas paixões brutais lhes acarretou deploráveis consequências, que eles sofrerão durante um tempo que lhes parecerá eterno. E Deus os deixará nessa persuasão, até que se tornem conscientes da falta em que incorreram e peçam, por impulso próprio, lhes seja concedido resgatá-la, mediante úteis provações. (7)

Neste ponto é oportuno esclarecer que, embora, à primeira vista, possa parecer natural que o Espírito escolha provas menos dolorosas, tal fato não se dá com frequência, porque, logo […] que este se desliga da matéria, cessa toda ilusão e outra passa a ser a sua maneira de pensar. (8) Com efeito, sob […] a influência das ideias carnais, o homem, na Terra, só vê das provas o lado penoso. Tal a razão de lhe parecer natural sejam escolhidas as que, do seu ponto de vista, podem coexistir com os gozos materiais. Na vida espiritual, porém, compara esses gozos fugazes e grosseiros com a inalterável felicidade que lhe é dado entrever e desde logo nenhuma impressão mais lhe causam os passageiros sofrimentos terrenos. Assim, pois, o Espírito pode escolher prova muito rude e, conseguintemente, uma angustiada existência, na esperança de alcançar depressa um estado melhor, como o doente escolhe muitas vezes o remédio mais desagradável para se curar de pronto. (9) De igual modo, o Espírito pode, às vezes, enganar-se, e […] escolher uma [prova] que esteja acima de suas forças e sucumbir. Pode também escolher alguma que nada lhe aproveite, como sucederá se buscar vida ociosa e inútil. Mas, então, voltando ao mundo dos Espíritos, verifica que nada ganhou e pede outra que lhe faculte recuperar o tempo perdido. (11)

Desse modo, a […] doutrina da liberdade que temos de escolher as nossas existências e as provas que devamos sofrer deixa de parecer singular, desde que se atenda a que os Espíritos, uma vez desprendidos da matéria, apreciam as coisas de modo diverso da nossa maneira de apreciá-los. Divisam a meta, que bem diferente é para eles dos gozos fugitivos do mundo. Após cada existência, veem o passo que deram e compreendem o que ainda lhes falta em pureza para atingirem aquela meta. Daí o se submeterem voluntariamente a todas as vicissitudes da vida corpórea, solicitando as que possam fazer que a alcancem mais presto. Não há, pois, motivo de espanto no fato de o Espírito não preferir a existência mais suave. Não lhe é possível, no estado de imperfeição em que se encontra, gozar de uma vida isenta de amarguras. Ele o percebe e, precisamente para chegara fruí-la, é que trata de se melhorar. (10)


3. A prerrogativa da escolha das provas e suas limitações

A escolha das provas, como manifestação do livre-arbítrio, entretanto, não tem caráter absoluto, uma vez que Deus […] pode impor certa existência a um Espírito, quando este, pela sua inferioridade ou má-vontade, não se mostra apto a compreender o que lhe seria mais útil, e quando vê que tal existência servirá para a purificação e o progresso do Espírito, ao mesmo tempo que lhe sirva de expiação. (5)

Assim, pode-se dizer que as […] leis inflexíveis da Natureza, ou, antes, os efeitos resultantes do passado, decidem da reencarnação. O Espírito inferior, ignorante dessas leis, pouco cuidadoso de seu futuro, sofre maquinalmente a sua sorte […]. O Espírito adiantado inspira-se nos exemplos que o cercam na vida fluídica, recolhe os avisos de seus guias espirituais, pesa as condições boas ou más de sua reaparição neste mundo, prevê os obstáculos, as dificuldades da jornada, traça o seu programa e toma fortes resoluções com o propósito de executá-las. Só volta à carne quando está seguro do apoio dos invisíveis, que o devem auxiliar em sua nova tarefa. (12) Por outro lado, quando, em sua origem, o Espírito é ainda inexperiente para escolher adequadamente as provas da sua existência, Deus lhe supre a inexperiência, traçando-lhe o caminho que deve seguir […]. Deixa-o, porém, pouco a pouco, à medida que o seu livre-arbítrio se desenvolve, senhor de proceder à escolha e só então é que muitas vezes lhe acontece extraviar se, tomando o mau caminho, por desatender os conselhos dos bons Espíritos. (4) Ainda a propósito da questão da escolha das provas, são bastante elucidativos os comentários do instrutor Druso, trazidos por André Luiz no seguinte relato:

Há trinta anos, desfrutei o convívio de dois benfeitores, a cuja abnegação muito devo neste pouso de luz. Ascânio e Lucas, Assistentes respeitados na Esfera Superior, integravam-nos a equipe de mentores valorosos e amigos… Quando os conheci em pessoa, já haviam despendido vários lustros no amparo aos irmãos transviados e sofredores. Cultos e enobrecidos, eram companheiros infatigáveis em nossas melhores realizações. Acontece, porém, que depois de largos decênios de luta, nos prélios da fraternidade santificante, suspirando pelo ingresso nas Esferas mais elevadas, para que se lhes expandissem os ideais de santidade e beleza, não demonstravam a necessária condição específica para o voo anelado. Totalmente absortos no entusiasmo de ensinar o caminho do bem aos semelhantes, não cogitavam de qualquer mergulho no pretérito, por isso que, muitas vezes, quando nos fascinamos pelo esplendor dos cimos, nem sempre nos sobra disposição para qualquer vistoria aos nevoeiros do vale… Dessa forma, passaram a desejar ardentemente a ascensão, sentindo-se algo desencantados pela ausência de apoio das autoridades que lhes não reconheciam o mérito imprescindível. Dilatava-se o impasse, quando um deles solicitou o pronunciamento da Direção Geral a que nos achamos submissos. O requerimento encontrou curso normal até que, em determinada fase, ambos foram chamados a exame devido. A posição imprópria que lhes era característica foi carinhosamente analisada por técnicos do Plano Superior, que lhes reconduziram a memória a períodos mais recuados no tempo. Diversas fichas de observação foram extraídas do campo mnemônico, à maneira das radioscopias dos atuais serviços médicos no mundo e, através delas, importantes conclusões surgiram à tona… Em verdade, Ascânio e Lucas possuíam créditos extensos, adquiridos em quase cinco séculos sucessivos de aprendizado digno, somando as cinco existências últimas nos círculos da carne e as estações de serviço espiritual, nas vizinhanças da arena física; no entanto, quando a gradativa auscultação lhes alcançou as atividades do século XV, algo surgiu que lhes impôs dolorosa meditação… Arrebatadas ao arquivo da memória e a doer lhes profundamente no espírito, depois da operação magnética a que nos referimos, reapareceram nas fichas mencionadas as cenas de ominoso delito por ambos cometido, em 1429, logo após a libertação de Orleães, quando formavam no exército de Joana d’Arc… Famintos de influência junto aos irmãos de armas, não hesitaram em assassinar dois companheiros, precipitando-os do alto de uma fortaleza no território de Gâtinais, sobre fossos imundos, embriagando-se nas honrarias que lhes valeram, mais tarde, torturantes remorsos além do sepulcro. Chegados a esse ponto da inquietante investigação, pela respeitabilidade de que se revestiam foram inquiridos pelos poderes competentes se desejavam ou não prosseguir na sondagem singular, ao que responderam negativamente, preferindo liquidar a dívida, antes de novas imersões nos depósitos da subconsciência. Desse modo, em vez de continuarem insistindo na elevação a níveis mais altos, suplicaram, ao revés, o retorno ao campo dos homens, no qual acabam de pagar o débito a que aludimos. — Como? — indagou Hilário, intrigado. — Já que podiam escolher o gênero de provação, em vista dos recursos morais amealhados no mundo íntimo — informou o orientador — , optaram por tarefas no campo da aeronáutica, a cuja evolução ofereceram as suas vidas. Há dois meses regressaram às nossas linhas de ação, depois de haverem sofrido a mesma queda mortal que infligiram aos companheiros de luta no século XV. — E o nosso caro instrutor visitou-os nos preparativos da reencarnação agora terminada? — inquiri com respeito. — Sim, por várias vezes os avistei, antes da partida. Associavam-se a grande comunidade de Espíritos amigos, em departamento específico de reencarnação, no qual centenas de entidades, com dívidas mais ou menos semelhantes às deles, também se preparavam para o retorno à carne, abraçando, assim, trabalho redentor em resgates coletivos. — E todos podiam selecionar o gênero de luta em que saldariam as suas contas? — perguntei, ainda, com natural interesse. — Nem todos — disse Druso, convicto. — Aqueles que possuíam grandes créditos morais, qual acontecia aos benfeitores a que me reporto, dispunham desse direito. Assim é que a muitos vi, habilitando-se para sofrer a morte violenta, em favor do progresso da aeronáutica e da engenharia, da navegação marítima e dos transportes terrestres, da ciência médica e da indústria em geral, verificando, no entanto, que a maioria, por força dos débitos contraídos e consoante os ditames da própria consciência, não alcançava semelhante prerrogativa, cabendo-lhe aceitar sem discutir amargas provas, na infância, na mocidade ou na velhice, através de acidentes diversos, desde a mutilação primária até a morte, de modo a redimir se de faltas graves. (13)

Levando-se em conta tudo o que foi exposto, pode-se concluir que a prerrogativa de o Espírito escolher as provas da existência carnal está sempre em consonância com as suas condições de fazer uma escolha correta, com vistas aos próprios interesses espirituais.



Referências Bibliográficas:

1. KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Guillon Ribeiro. 84 ed. Rio de Janeiro: FEB, 2003. Questão 258, p. 171.

2. Idem - Questão 258a, p. 171.

3. Id. - Questão 259, p. 171-172.

4. Id. - Questão 262, p. 173.

5. Id. - Questão 262a, p. 173.

6. Id. - Questão 264, p.174.

7. Id. - Questão 265, p. 174.

8. Id. - Questão 266, p. 174.

9. Id. - Questão 266 - comentário, p. 174-175.

10. Idem, ibidem - p. 175.

11. Id. - Questão 269, p. 177.

12. DENIS, Leon. Depois da Morte. Tradução de João Lourenço de Souza. 22. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2002. Capítulo XLI, p. 247.

13. XAVIER, Francisco Cândido. Ação e Reação. Pelo Espírito André Luiz. 24. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2003. Capítulo 18, p. 247-249.


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