Roteiro 6
A prática mediúnica e a influência obsessiva
Objetivo específico: Identificar os processos de influência obsessiva que podem surgir na prática mediúnica.
SUBSÍDIOS
Prometendo-lhes liberdade, sendo eles mesmos servos da corrupção. Porque de quem alguém é vencido, do tal faz-se também servo. Pedro (2 Pedro, 2.19)
No primeiro programa deste Curso de Estudo e Prática da Mediunidade, módulo três, analisamos a obsessão, o processo obsessivo, o obsessor e o obsidiado, assim como os critérios espíritas da desobsessão. É importante rever esses conteúdos porque, no atual Roteiro, não pretendemos retomar o assunto, mas focalizá-lo no contexto das influências que acontecem na prática mediúnica.
1. A PRÁTICA MEDIÚNICA E A OBSESSÃO
Allan Kardec assinala que a obsessão «[…] é um dos maiores escolhos da mediunidade e também um dos mais frequentes. Por isso mesmo, não serão demais todos os esforços que se empreguem para combatê-la.» (6)
A obsessão simples acontece quando um Espírito malfazejo se impõe a uma J pessoa e se interfere nos atos comuns de sua existência. No caso do médium que trabalha num grupo mediúnico, o obsessor «[…] se imiscui, a seu malgrado, nas comunicações que ele recebe, o impede de comunicar com outros Espíritos e se apresenta em lugar dos que são evocados. […].» (1) A despeito do estudo e dos cuidados relacionados ao trato com os Espíritos, o médium pode «[…] ser enganado por um Espírito mentiroso. O melhor médium se acha exposto a isso, sobretudo, no começo, quando ainda lhe falta a experiência necessária. […] Pode-se, pois, ser enganado, sem estar obsidiado. A obsessão consiste na tenacidade de um Espírito, do qual não consegue desembaraçar-se a pessoa sobre quem ele atua.» (2)
Na obsessão simples, o médium sabe muito bem que se acha presa de um Espírito mentiroso e este não se disfarça; de nenhuma forma dissimula suas más intenções e o seu propósito de contrariar. O médium reconhece sem dificuldade a felonia e, como se mantém em guarda, raramente é enganado. Esse gênero de obsessão é, portanto, apenas desagradável e não tem outro inconveniente, além de opor obstáculo às comunicações que se desejara receber de Espíritos sérios ou dos afeiçoados. Podem incluir-se nesta categoria os casos de obsessão física, isto é, a que consiste nas manifestações ruidosas e obstinadas de alguns Espíritos, que fazem se ouçam, espontaneamente, pancadas ou outros ruídos. (2)
«A fascinação tem consequências muito mais graves. É uma ilusão produzida pela ação direta do Espírito sobre o pensamento do médium e que, de certa maneira, lhe paralisa o raciocínio, relativamente às comunicações. O médium fascinado não acredita que o estejam enganando: o Espírito tem a arte de lhe inspirar confiança cega, que o impede de ver o embuste […].» (3) Trata-se de uma situação estarrecedora, pois o médium realmente não consegue perceber o absurdo das ideias transmitidas pelo Espírito, «[…] ao ponto de o fazer achar sublime a linguagem mais ridícula.» (4) Ninguém esta isento da ação fascinante deste tipo de obsessor, pessoas cultas ou incultas. (4)
Compreende-se facilmente toda a diferença que existe entre a obsessão simples e a fascinação; compreende-se também que os Espíritos que produzem esses dois efeitos devem diferir de caráter. Na primeira, o Espírito que se agarra à pessoa não passa de um importuno pela sua tenacidade e de quem aquela se impacienta por desembaraçar-se. Na segunda, a coisa é muito diversa. Para chegar a tais fins, preciso é que o Espírito seja destro, ardiloso e profundamente hipócrita, porquanto não pode operar a mudança e fazer-se acolhido, senão por meio da máscara que toma e de um falso aspecto de virtude. […] Por isso mesmo, o que o fascinador mais teme são as pessoas que veem claro. Daí o consistir a sua tática, quase sempre, em inspirar ao seu intérprete o afastamento de quem que lhe possa abrir os olhos. (4)
Na subjugação o processo obsessivo é mais intenso. Diz respeito a «[…] uma constrição que paralisa a vontade daquele que a sofre e o faz agir a seu mau grado. Numa palavra: o paciente fica sob um verdadeiro jugo.» (5)
A subjugação pode ser moral ou corporal. No primeiro caso, o subjugado é constrangido a tomar resoluções muitas vezes absurdas e comprometedoras que, por uma espécie de ilusão, ele julga sensatas: é uma como fascinação. No segundo caso, o Espírito atua sobre os órgãos materiais e provoca movimentos involuntários. Traduz-se, no médium escrevente, por uma necessidade incessante de escrever, ainda nos momentos menos oportunos. […] Vai, às vezes, mais longe a subjugação corporal; pode levar aos mais ridículos atos. (5)
2. SINAIS REVELADORES DA OBSESSÃO NOS MÉDIUNS
Os médiuns obsidiados, tenham ou não mediunidade ostensiva, devem ser amparados pelos companheiros do grupo mediúnico do qual fazem parte. Nos casos de fascinação e subjugação, tais médiuns devem ser afastados da pratica mediúnica e encaminhados ao atendimento espiritual existente, usualmente, nas casas espíritas. É importante que cada caso seja analisado cuidadosamente porque, mesmo na obsessão simples, em que a lucidez mental está preservada, há casos que se aconselha o afastamento do médium das atividades mediúnicas. As situações mais graves devem «[…] ser tratados na órbita da psiquiatria, a fim de que a assistência médica seja tomada na medida aconselhável.» (9) Obviamente, cessadas as dificuldades, o trabalhador retorna às suas atividades no grupo mediúnico.
Allan Kardec apresenta os seguintes sinais reveladores de obsessão em companheiros da equipe mediúnica.
1º «Persistência de um Espírito em se comunicar, bom ou malgrado […].» (7) Independentemente do tipo de mediunidade (psicografia, psicofonia, audiência, vidência etc.), o médium passa a não ter controle sobre a própria mediunidade, deixando o Espírito se manifestar nos locais e momentos mais inoportunos.
2º « Ilusão que, não obstante a inteligência do médium, o impede de reconhecer a falsidade e o ridículo das comunicações que recebe.» (7)
3º «Crença na infabilidade e na identidade absoluta dos Espíritos que se comunicam e que, sob nomes respeitáveis e venerados, dizem coisas falsas ou absurdas.» (7)
4º «Confiança do médium nos elogios que lhe dispensam os Espíritos que por ele se comunicam.» (7)
5º «Disposição para se afastar das pessoas que podem emitir opiniões aproveitáveis.» (8)
6º «Tomar a mal a critica das comunicações que recebe.» (8)
7º «Necessidade incessante e inoportuna de escrever.» (8)
8º «Constrangimento físico qualquer, dominando-lhe a vontade e forçando-o a agir ou falar a seu malgrado.» (8)
9º «Rumores e desordens persistentes ao redor do médium, sendo ele de tudo a causa, ou o objeto.» (8)
Espíritos desarmonizados, ainda presos às sensações da matéria, têm como hábito identificar componentes da reunião mediúnica, aproximar-se deles e absorver as suas emanações vitais pelo conhecido processo de vampirização.
Pelo «[…] ímã do pensamento doentio descontrolado, o homem provoca sobre si a contaminação fluídica de entidades em desequilíbrio, capazes de conduzi-lo à escabiose e à ulceração, à dipsomania e à loucura, à cirrose e aos tumores benignos ou malignos de variada procedência, tanto quanto aos vícios que corroem a vida moral, e, através do próprio pensamento desgovernado, pode fabricar para si mesmo as mais graves eclosões de alienação mental, como seja as psicoses de angústia e ódio, vaidade e orgulho, usura e delinquência, desânimo e egocentrismo, impondo ao veículo orgânico processos patogênicos indefiníveis, que favorecem a derrocada ou a morte. Imprescindível, assim, viver em guarda contra as ideias fixas, opressivas ou aviltantes, que estabelecem, ao redor de nós, maiores ou menores perturbações, sentenciando-nos à vala comum da frustração. Toda forma de vampirismo está vinculada à mente deficitária, ociosa e inerte, que se rende, desajustada, às sugestões inferiores que exploram sem defensiva. Usemos, desse modo, na garantia de nossa higiene mento-psíquica, os antissépticos do Evangelho. Bondade para com todos, trabalho incansável no bem, otimismo operante, dever irrepreensivelmente cumprido, sinceridade, boa vontade, esquecimento integral das ofensas recebidas e fraternidade simples e pura, constituem o sustentáculo de nossa saúde espiritual. (11)
A mensagem introdutória deste Roteiro, de autoria do apóstolo Pedro, ( † ) se refere às influências espirituais que, ao surgirem em nossa existência, podem vir mascaradas de processo libertador. Emmanuel analisa com lucidez esta situação.
É indispensável desconfiar de todas as promessas de facilidades sobre o mundo. […] Em toda parte, existem discípulos descuidados que aceitam o logro de aventureiros inconscientes. É que ainda não aprenderam a lição viva do trabalho próprio a que foram chamados para desenvolver atividade particular. […] Não creias em salvadores que não demonstrem ações que confirmem a salvação de si mesmos. Deves saber que foste criado para gloriosa ascensão, mas que só é fácil descer. Subir exige trabalho, paciência, perseverança, condições essenciais para o encontro do amor e da sabedoria. Se alguém te fala em valor das facilidades, não acredites; é possível que o aventureiro esteja descendo. Mas quando te façam ver perspectivas consoladoras, através do suor e do esforço pessoal, aceita os alvitres com alegria. Aquele que compreende o tesouro oculto nos obstáculos, e dele se vale para enriquecer a vida, está subindo e é digno de ser seguido. (10)
Referências Bibliográficas:
1. KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. Tradução de Guillon Ribeiro. 77. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Capítulo 23, Item 238, p. 317-318.
2. Idem, ibidem - p. 318.
3. Idem - Item 239, p. 318.
4. Idem, ibidem - p. 319.
5. Idem - Item 240, p. 320.
6. Idem - Item 242, p. 321.
7. Idem - Item 243, p. 321.
8. Idem, ibidem - p. 322.
9. XAVIER, Francisco Candido e VIEIRA, Waldo. Desobsessão. Pelo Espírito André Luiz. 26. ed. Rio de Janeiro: 2005. Capítulo 24 (Médiuns esclarecedores), p. 100.
10. XAVIER, Francisco Candido. Caminho, verdade e vida. Pelo Espírito Emmanuel. 27. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Capítulo 99 (Prometer), p. 213-214.
11. Idem - Instruções psicofônicas. Por diversos Espíritos. Organizado por Arnaldo Rocha. 9. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Capítulo 34 (Parasitose mental), p. 160-161.